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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
O texto seguinte foi retirado do Energia a mais, é a carta de uma mãe para a escola do seu filho, é um texto duro, é comprido e custa a ler... a mim custou-me, no fim ficou-me uma sensação de revolta, tristeza e muita raiva... há coisas que esta mãe conta que já aconteceram com o meu filho, de algumas já falei aqui... outras ainda não aconteceram... mas podem muito bem acontecer....
Tenho imenso respeito por quem quem é professor, mas há coisas que não tem nome...
«Carta à escola e professores do meu filho, A.(...)
Estou desiludida, triste e magoada com a forma como alguns professores têm tratado o meu filho dentro da escola.
Sempre fui defensora dos professores, afinal são eles que nos ensinam a ser adultos, que ensinam os futuros políticos, engenheiros, doutores, carpinteiros, electricistas e todas essas profissões tão dignas que farão com que o nosso mundo funcione e melhor…
Eu tive professores assim, que me faziam sentir feliz e segura dentro da escola, que me motivavam e elogiavam, que salientavam os meus pontos positivos e ajudavam a aceitar e ultrapassar os negativos…
Que tinham como objectivo a inclusão, o respeito mútuo mas acima de tudo o amor pelo ensino e pelos seus alunos, o prazer de ensinar e a capacidade de fazer a diferença.
Quando o meu filho iniciou a vida escolar fiquei feliz, ele sempre foi um menino inteligente e perspicaz…muito activo, é verdade, mas sempre com resultados excelentes…talvez porque também teve o privilégio e a sorte de ter professores excelentes!
Sempre senti que havia algo de diferente com o André, nunca o escondi e várias vezes pedi ajuda à escola e aos professores para estarem atentos e verem se viam o mesmo que eu, tanto é que o André teve a sua primeira avaliação psicológica na escola aos 8 anos e a partir daí nunca mais deixei de tentar “descobrir” o que se passava com o meu filho!
Desde que iniciou o segundo ciclo tudo se complicou…passou a ser mais ansioso, desorganizado e desmotivado, auto-estima baixa, crises de choro, acompanhadas muitas vezes de cólicas, vómitos e até diarreia!
Na minha inocência de mãe, achava que eram apenas desculpas para não ir à escola e sempre, repito : SEMPRE o obriguei a ir à escola, mesmo quando ele me liga da casa de banho da escola a chorar e a implorar: “ Mãe, por favor tira-me daqui, tu não sabes o que seu sofro!” – nunca o fui buscar e, apesar de ficar arrasada por dentro e com o meu coração apertado, sempre o obrigo a ir à aula e lhe desligo o telefone…
Agora dou por mim a pensar que contribuí para isto tudo, que não protegi devidamente o meu filho!
Outras mães teriam ido imediatamente à escola, discutiam com os professores e protegiam os seus filhos…eu não, limitei-me a acreditar que ele era o culpado de tudo – pois a verdade é que ele não consegue mesmo estar quieto e assumo que se me faz perder a mim a cabeça, melhor fará perder a cabeça de quem não o “pariu” como eu e não o ama como eu, de quem não se habituou já a ser mais tolerante como eu…venceu-me pelo cansaço…admito…
Tantos recados na caderneta, tantas queixas do A., SEMPRE O A.
Eu própria acabei por permitir que o rotulassem…porque não gritei, não briguei, não o defendi, não exigi!
Mas eu não sabia tudo, ele não me conta, podem não acreditar, mas como ele acha que eu estou sempre “do lado dos professores”, deixou de me contar…e como a primeira vez que eu reclamei em relação ao Senhor Professor de Música, ele ainda foi mais penalizado, humilhado e maltratado na sala de aula, passando a ter sempre negativa, independentemente daquilo que faça na aula a ir mais vezes para a rua ou simplesmente a não o deixarem entrar na aula, ficando à porta um tempinho e só entrando mais tarde que os colegas, vai-se lá saber porquê! Sei estas coisas porque os colegas me contam…
Então deixei de ir à escola, impotente e com a esperança que ele recuperasse o interesse que tinha tão grande em aprender. Sim, ele ADORAVA a escola, absorvia tudo…e era feliz lá.
Agora não é, tem sofrido humilhações e maus tratos psicológicos, situações graves que o têm afectado imenso, que o fazem sofrer e estar revoltado…perdeu a confiança e eu também.
Era suposto o meu filho estar em segurança dentro da escola, não ser vítima de ninguém, muito menos de professores!
Era suposto eu estar despreocupada e não ter necessidade de escrever esta carta à escola a pedir, como MÃE : POR FAVOR, NÂO MALTRATEM O MEU FILHO!!
Não o vou permitir mais, nunca o devia ter permitido! Mas como podia eu saber? Como podia eu imaginar sequer que um professor, neste caso até são mais iria discriminar desta forma o meu filho?
Então fala-se tanto de EDUCAÇÃO INCLUSIVA e estão a excluir o meu filho?
Apenas porque não o compreendem? Porque não sabiam lidar com a situação? Porque ele é diferente e dá mais “trabalho” que os outros?
O Professor de EVT dava-lhe sempre 2, agora passou para 1 ?!
Ele tem os trabalhos na pasta, eu até acho que estão muito bons tendo em conta a dificuldade que ele tem a nível de motricidade e destreza manual, que é típico em crianças com PHDA (hiperactividade com défice de atenção)…
1 é para quem não faz NADA! 1 é para lhe dizer tu não vales nada, para o desmotivar e lhe “destruir” a auto-estima! 1 é para o chumbar!
Não vou permitir…CHEGA! O ano passado foi igual com EVT e Musica, teve sempre 2 e no final do ano passou com 3! Para quê? Porque o maltrataram o ano todo para depois lhe darem o 3?
Nem merece nota pelo esforço? Por tentar? Até lhe deram negativa em trabalhos que fez comigo!
Considero isso um “ataque” ao meu filho e agora, depois de tantos relatórios e psicólogos, sim, porque o meu filho anda no psicólogo, eu ainda não desisti dele, nem vou desistir ao contrário do que estes professores fizeram, depois de toda esta caminhada venho a saber que afinal o meu filho sofre de maus tratos na escola?
Também fiquei a saber o nome do problema dele PHDA…afinal o meu filho não é um mal-educado, afinal e não sou “uma tonta que devia dar mais educação ao meu filho em vez de tanto mimo”, como disse a professora de Inglês/Português…
Afinal estávamos TODOS errados…também assumo a minha culpa, pois fiz muita asneira antes de descobrir o que passa com o meu filho, mas também fiz uma promessa: Vou fazer tudo o que me for possível para que ele volte a ser feliz na escola e a recuperar o gosto por aprender que ele tinha.
Mas para isso preciso de ajuda, não posso andar a medicar o meu filho e ir às consultas de psicologia se depois o continuarem a maltratar na escola.
Senhora professora de EVT: NÂO QUERO mais o meu filho na arrecadação a fazer cópias e tabuadas! De pé, encostado ao lavatório toda a aula? Quem lhe deu esse direito? E ainda foi dizer ao meu filho que quer marcar um dia para falarmos sobre o facto de a senhora achar que o meu filho não FAZ NADA nas aulas de EVT?
Ainda pretende assustá-lo mais? Porquê? Decidiu entrar em “guerra” com uma criança?
É ridículo…ele tem 11 anos e os professores supostamente são os adultos dentro da sala de aula e como tal devem ser os primeiros a dar o exemplo, a mostrarem valores…como podem exigir respeito de uma criança depois de o maltratarem e de o humilharem?
Se ele está a fazer cópias e tabuadas é normal que não faça trabalhos de EVT…Mas marque o dia que eu terei muito gosto em ir visitar a arrecadação para ver como a senhora teve a coragem de humilhar e descriminar o meu filho dessa forma! Uma professora? Se os professores de EVT não estão em condições psicológicas de dar aulas que metam baixa ou atestado e que fiquem o lugar disponível para professores interessados em ensinar!
Estes professores têm prejudicado a vida e a saúde do meu filho, ao ponto de ele vomitar e ter cólicas antes destas aulas!
Agora já têm um diagnóstico, agora cabe a vocês senhores professores decidirem se vão continuar a prejudicar o meu filho ou se aceitam que erraram, como eu também já aceitei. Se estão dispostos a começar de novo e a colaborarem na minha luta pela recuperação da felicidade e auto-estima do meu filho e ajudá-lo a acreditar que os professores não vão voltar a tratá-lo mal.
Apenas pretendo saber: o meu filho está realmente seguro na vossa escola? Acho que ele merece um pedido de desculpas por parte destes professores e merece ser avaliado correctamente e com justiça, pois existe muita diferença entre os “favoritos” e os “indesejados” e uma coisa eu garanto : não o vou permitir mais!
O meu filho merece uma avaliação justa e merece ser bem tratado dentro da escola e a partir do momento em que foram informados do diagnóstico dele tinham “obrigação moral” de olharem para as avaliações dele e verem o tão injustos que têm sido, tanto no desempenho escolar, como no comportamento, pois ele não está quieto porque não consegue mesmo, se bem que agora que está medicado e tenho a certeza que isso já está a mudar!
Tirem o rótulo ao meu filho de mal-educado, não o descriminem mais e por favor ajudem-me a faze-lo feliz e a voltar a acreditar que as pessoas erram, mas que também assumem que erraram e sabem pedir desculpa por isso…
Apenas quero agradecer à professora e directora de turma F. R., pois sei que nunca desistiu do A., ele respeita-a, confia em si e vê-a como uma amiga.
Agradecer também à Psicóloga P. P. que apesar de tanto trabalho tem sido o meu apoio.
Obrigada!
(...), 7 de Março de 2012»