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Tony quer morrer e não o deixam

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Não vos posso dizer a paz de espírito que teria só por saber que eu posso decidir sobre a minha vida, em vez de ser o Estado a dizer-me o que eu devo fazer – nomeadamente continuar vivo, independentemente da minha vontade”.

“Não posso coçar-me se tiver comichões, não posso assoar-me e só posso comer se for alimentado como um bebé – só que nunca irei passar a comer sozinho, ao contrário do bebé (Tony Nicklinson)

 

Tentemos imaginar que de um dia para o outro ficamos literalmente presos dentro do nosso corpo, o mundo à nossa volta, as pessoas que que amamos, as coisas de que gostamos, tudo continua lá, mas nós não conseguimos mais que olhar, não podemos tocar, não podemos comer, não conseguimos sequer sentir, só olhar e pensar.

 

É esta a situação do Tony desde que em 2005 sofreu um AVC, está completamente paralisado sem sequer conseguir falar, só consegue comunicar com o mundo graças a um software especial que consegue ler os seus olhos. Depende completamente das pessoas à sua volta para conseguir continuar a viver. 

 

Tony simplesmente decidiu que isso não é vida, que  o seu estado actual e o sofrimento que este lhe causa não é justo nem digno, portanto o Tony quer morrer, exige que o deixem morrer.

 

Tal como na maioria dos paises, no reino Unido a eutanásia e o suicidio assistido são ilegais, no seu estado  o Tony sozinho não consegue por fim à sua vida, portanto ele decidiu levar o caso até ao supremo tribunal e implora que o deixem morrer com a dignidade que ele já não tem em vida.

 

De toda a noticia, para além do estado e da lucidez do Tony chamou-me a atenção a seguinte frase do médico que lhe salvou a vida quando ele teve o AVC:

 

"...quando fui informado que ele estava vivo, fiquei surpreendido mas também triste. Não desejaria ao meu pior inimigo que ele ficasse vivo nestas circunstâncias durante tantos anos"

 

Só pensar na situação deste homem é aterrador, eu não me consigo imaginar a viver assim, o direito à vida há muito que está consagrado e é um dado adquirido, mas será que aquilo que o Tony tem é realmente vida? Será que como sociedade e como seres humanos temos o direito de obrigar alguém a passar assim o resto dos seus dias? Será que em casos como este a morte digna e sem sofrimento não deveria também ser um direito?

 

Jorge Soares

publicado às 21:48


17 comentários

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De lagoa_azul a 21.06.2012 às 19:31

Olá Jorge,

Entendo que, nunca é de ânimo leve que se toma una decisão dessas, por isso concordo que em determinadas situações se deveria proporcionar essa opção a quem a toma. Até porque essas pessoas não vivem, sobrevivem de forma artificial, e de tal forma é o sofrimento em que estão que preferem o descanso, e só não avançam com o ato porque fisicamente não conseguem.

Os avanços da medicina proporcionam uma esperança de sobrevivência muito maior por meios artificiais, é valido que se faça este debate. Nestes casos limite não deveria imperar os moralismos e fanatismos de convicções tantas vezes baseadas em transmissão de valores religiosos e outros, até porque se à pessoa for retirado o suporte básico de vida, o que impera é a lei da sobrevivência, em que os mais fortes sobrevivem e os mais fracos são eliminados da cadeia.


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De Jorge Soares a 25.06.2012 às 23:19

Olá

Tal como ficou implícito no comentário do médico que transcrevo no post, nem sempre salvar uma vida é o melhor para quem se salva...

Jorge
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De Marta M a 21.06.2012 às 21:59

Jorge:
Este é um assunto que nos bate fundo e faz reflectir.
Muito.
Com as devidas ressalvas e diferentes mecanismos de segurança, não tenho dúvidas que a decisão deveria ser respeitada e proporcionada a quem a deseja.
Leu o "Escafandro e a Borboleta" de Jean-Dominique Bauby?É uma perspectiva completamente distinta, mas também legítima . A situação pessoal é a mesma e o livro é autobiográfico e pró-vida -sempre.
A vida sempre depende do nosso olhar também...
Um abraço
Marta M
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De golimix a 22.06.2012 às 08:42

Olá!
Fiquei curiosa com o livro Marta, obrigada pela referência.
Beijinhos
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De Jorge Soares a 25.06.2012 às 23:20

Não li mas fiquei curioso Marta...

Haverá de certeza muitos pontos de vista e todos serão válidos, mas a questão que se coloca é, e se fossemos nós, queríamos viver assim?

Jorge
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De DyDa/Flordeliz a 22.06.2012 às 13:22

Penso que já abordei este assunto contigo várias vezes.
É o meu maior pesadelo - Não ter capacidade de decisão. Não ser autónoma. Ser obrigada a comer, dormir, respirar enquanto as horas passam iguais... à espera de...
À espera de nada, porque quando o veredicto está traçado, não há reversão.
Eu queria ter direito à opção. Assusta-me não o poder fazer.

Portanto: Para mim faz sentido o direito de querer ou não viver artificialmente.

Fiquei sem saber o que pensas sobre o assunto.
És a favor ou contra que te deixem escolher?

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De Jorge Soares a 25.06.2012 às 23:22

Eu penso sempre, e se fosse eu?, o que preferia? amiga, é claro que só passando pelas coisas podemos saber o que sentimos, mas hoje eu digo que deveriam respeitar a opinião do senhor, porque ninguém pode ser obrigado a simplesmente existir.

Jorge
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De golimix a 22.06.2012 às 17:12

Muitas questões... esperemos nunca ter que lhes responder na primeira pessoa.
Jorge não se isso será vida, assim como também não sei se será vida a de alguém com uma certa idade em se prolonga a sua estadia com entubações, algaliações, escaras múltiplas e numa agonia até que o seu corpo deixe de resistir, e essas pessoas têm a vantagem de, provavelmente, já não pensarem no seu estado e muitas não terem consciência de como estão, mas o certo é que sofrem. Pois é a vida depende muito do nosso olhar...
Conheces Stephen Hawking? Este senhor só mexe um dedo e foi ficando progressivamente pior, e já editou montanhas de livros e continua a contribuir para a sociedade.
Não sei se a decisão tomada assim, nesse estado, será completamente isenta, completamente livre, e nem sei o que eu faria ou teria vontade de fazer, o mais certo seria querer deixar de existir, mas... partir também é difícil. Assim como é difícil tomar a decisão de deixar que outro de suicide perante a nossa assistência. Muito complicado de facto.
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De Jorge Soares a 25.06.2012 às 23:25

Stephen Hawking é um caso muito especial, porque o seu estado foi mudando ao longo da sua vida, apesar de tudo ele conseguiu viver e utilizar a sua mente brilhante para fazer mexer o mundo... mas ele sabe que mais tarde ou mais cedo vai chegar a um estado em que nem a sua mente brilhante o vai ajudar...

Não acredito que alguém como ele não tenha previsto esse momento e não tenha tomado medidas.... veremos como evoluem as coisas.

Jorge
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De Sofia a 22.06.2012 às 19:16

É algo que penso que nos atormenta a todos. Chegar a um ponto em que já não nos valemos por nós mesmos, sentir que somos um fardo e não ter o poder de decidir sobre o nosso futuro.
Acima de tudo é uma decisão dele e por mais dolorosa que seja, deveria ser respeitada.
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De Jorge Soares a 25.06.2012 às 23:25

Olá

Pois, respeito pelo desejo de quem não quer sofrer mais...


Jorge
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De momentosdisparatados a 23.06.2012 às 07:03

Bom dia Jorge
Em primeiro lugar quero desejar os parabéns por mais um aniversario. Que conte muitos...com saúde.
Quanto a este post ...a minha forma de pensar sobre a vida e a morte mudaram completamente desde que fui trabalhar com idosos. Anteriormente achava que tudo era preferível do que morrer, hoje já não penso assim.
E ai está um exemplo de que há pessoas que estão vivas sem viverem.
Bom fim de semana
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De Jorge Soares a 25.06.2012 às 23:26

Olá

Nada como vermos as coisas de perto para termos a perspectiva certa...

Obrigado pelos bons desejos

Jorge
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De energia-a-mais a 25.06.2012 às 12:29

Olá Jorge. Esse é um assunto que me arrepia. Acho que que qualquer que seja a nossa opinião ela será sempre «superficial» a não ser (e esperamos todos que nunca seja) vista por dentro - em nós ou em alguém que nos seja próximo. Porque nesses casos, tenho a certeza, saberiamos o que fazer convictos na nossa legitimidade, que estaríamos a fazer o melhor.
Por mim o respeito pela Vida é essencial e apenas o próprio tem legitimidade para decidir como a vai respeitar

Teresa
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De Jorge Soares a 25.06.2012 às 23:27

Olá Teresa, e neste caso em que o próprio pede que o deixem morrer em paz?

Jorge
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De Kok a 25.06.2012 às 18:14

Tenho dúvidas. Mas também tenho certezas!
Tenho a certeza que não quereria ficar totalmente na dependência de terceiros, para todas as funções a que o estar vivo obrigam!
Tenho dúvidas sobre a minha decisão se alguma vez estiver em tais circunstâncias.
Se para mim não sei, como posso opinar para outros?
Só me permito dizer que: deve ser respeitada a decisão de quem está em tais condições!

1 abraço!
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De Jorge Soares a 25.06.2012 às 23:28

Nada como pensarmos, o que faria eu neste caso...

Nem mais

Jorge

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