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Conto, Fado de Coimbra

por Jorge Soares, em 08.09.12
Rosa branca

Imagem minha do Momentos e Olhares


Rosália tinha dezoito anos quando foi violada. Andava a apanhar lenha para casa num pinhal perto de Coimbra, quando um resineiro a agarrou. Mesmo que gritasse, de nada serviria, no ermo onde andava. Nunca contou a ninguém; guardou a mágoa para si.


Fernanda, filha de Rosália, tinha vinte anos quando foi violada. Era camareira num hotel de Coimbra; o patrão encurralou-a num dos quartos do terceiro andar, ameaçando-a de morte se gritasse. Não fez queixa dele, com receio da exposição pública. Guardou a revolta para si.


Vanessa, filha de Fernanda, tinha vinte e um anos quando foi violada. Era estudante universitária em Coimbra; foi atacada por um colega do mesmo curso, ao anoitecer, e obrigada a entrar numa casa em obras sob a ameaça de uma faca. Não teve oportunidade de denunciar o atacante porque ele cortou-lhe a garganta no estertor final da violação.


O acontecimento comoveu toda a cidade e milhares de pessoas acompanharam a rapariga à última morada. Há muito que não se via tão deslumbrante mar de lenços brancos a acenar. Na hora da despedida, Coimbra tem sempre mais encanto.


Joaquim


Retirado de Samizdat

publicado às 21:49


5 comentários

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De Luis C a 09.09.2012 às 11:35

De facto existem pessoas sem nível, que por politiquices , ressabiagem, inveja, falta do que fazer, desdém, falta de informação, crítica destrutiva ou apenas movida por um sentimento de ignorância e ódio, falam mal de cidades. Mas ainda bem que os crimes que mencionou só acontecem em Coimbra, significa que no resto do país é só paz, amor e tranquilidade.
Enfim, se a burice pagasse imposto, há muito que o país tinha saído da crise.
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De Jorge Soares a 09.09.2012 às 22:51

Não fui eu que escrevi.. mas sinto-me na obrigação de esclarecer, o texto é um conto, não tem a ver com a cidade em si e sim com a violência sobre as mulheres que é recorrente no nosso país, tem a ver com a forma como nós como sociedade olhamos para o tema e para a forma como tantas vezes fechamos os olhos à existência destas coisas.

Jorge Soares
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De Luisa a 09.09.2012 às 11:58

Tão romântico este texto ...até me deu vontade de chorar!
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De Jorge Soares a 09.09.2012 às 22:52

É mesmo, um texto que nos deveria deixar a reflectir.

Jorge
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De Kok a 10.09.2012 às 12:32

Quando os valores sociais deixam de ter valor sendo atropelados indiscriminadamente e cada vez com mais intensidade, é indício de uma sociedade doente que vai perdendo o "norte" em meandros de injustiças, de obscuridades, de deseducação, onde a brutalidade ganha forma e formas cada vez mais violentas. Sejam elas físicas ou psíquicas!
E é neste meio que o medo se instala ao ponto das vítimas decidirem calar em vez de gritar. Também porque a regra é menos de apoio a quem sofre do que a quem faz sofrer!
Só assim se entende que nem uma, nem outra, tenham denunciado a violação. E o fim sendo trágico não é propriamente surpreendente!


1 abraço!

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