por Jorge Soares, em 08.09.12
Rosália tinha dezoito anos quando foi violada. Andava a apanhar lenha para casa num pinhal perto de Coimbra, quando um resineiro a agarrou. Mesmo que gritasse, de nada serviria, no ermo onde andava. Nunca contou a ninguém; guardou a mágoa para si.
Fernanda, filha de Rosália, tinha vinte anos quando foi violada. Era camareira num hotel de Coimbra; o patrão encurralou-a num dos quartos do terceiro andar, ameaçando-a de morte se gritasse. Não fez queixa dele, com receio da exposição pública. Guardou a revolta para si.
Vanessa, filha de Fernanda, tinha vinte e um anos quando foi violada. Era estudante universitária em Coimbra; foi atacada por um colega do mesmo curso, ao anoitecer, e obrigada a entrar numa casa em obras sob a ameaça de uma faca. Não teve oportunidade de denunciar o atacante porque ele cortou-lhe a garganta no estertor final da violação.
O acontecimento comoveu toda a cidade e milhares de pessoas acompanharam a rapariga à última morada. Há muito que não se via tão deslumbrante mar de lenços brancos a acenar. Na hora da despedida, Coimbra tem sempre mais encanto.
Joaquim