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Adopção:Os olhos do nosso filho

por Jorge Soares, em 16.04.08
bebe


Ontem recebi no meu email este poema que foi escrito por alguém que está a passar por um processo de adopção, alguém que espera e desespera por um filho, alguém que tem muito amor para dar.

Os olhos do nosso filho

Os olhos do nosso filho
São ainda de cor incerta
Não sei sequer se existem
Vão ser de Deus uma oferta

Existem na minha alma
Cravados no meu semblante
Os olhos do nosso filho
Que teve nascer errante

Foste esculpido a preceito
Nas entranhas de outro ser
Não vais sorver do meu peito
Este meu longo querer

E nestas voltas da vida
Cuidou-te Deus sem saber
Para que não herdes no sangue
Este meu estéril sofrer

Não vais nascer de mim
De outro ventre virás
Mas filho da minha alma
Tão amado serás!

E nesta triste incerteza
Me pergunto em desalento
Já nascente de alguém?
Ou é Deus que te traz?

Ala dos Reis

 

A dor de se querer ter um filho e não se conseguir é algo que não se consegue explicar, de inicio vamos tendo desilusões, depois começa o sofrimento, ver passar o tempo, ouvir as pessoas a perguntar:

-Então, é para quando?
-Quando vamos ter um neto?
-Então, e filhos?

Respondemos às pessoas com um sorriso de circunstância e sofremos em silêncio. lembro-me de ir pela rua, olhar os casais com bebés e pensar: E eu? porque é que eu não tenho direito?. Chega uma altura em que começa a ser doloroso ver crianças na rua. E depois há as expectativas das pessoas que estão à nossa volta, as lágrimas em casa cada vez que aparece um novo período , as lágrimas em silêncio na nossa solidão. Com o tempo, os meses transformam-se em anos e a tristeza em resignação. Nós decidimos que não íamos continuar com dor, e não íamos seguir a via sacra dos tratamentos, decidimos partir para a adopção.

No fundo, mudamos a expectativa, as coisas deixam de depender de nós e passam a depender de outras pessoas, processos longos, morosos, complicados, muitas vezes inumanos ...e novas expectativas, e novas esperas. O Poema traduz um pouco do que é querer ser pai adoptivo, traduz a espera desesperante por um telefonema, por uma noticia, saber que o nosso filho poderá estar neste momento nos braços de alguém. Cada pessoa é diferente, mas atrevo-me a dizer que os pensamentos são comuns..será que o meu filhos já nasceu?..será que está bem?, será .......

Eu sou uma pessoa que não crio expectativas da vida, a maior parte do tempo limito-me a viver, um dia de cada vez, só crio expectativas com as pessoas, por norma entrego-me de alma e coração às pessoas de quem gosto...e dos meus filhos.

Sei que uma boa parte dos leitores chegam ao blog à procura de informação sobre adopção, a todos eles, a todos os que estão, ou vão passar por isto, deixo uma palavra de carinho e  de força, não desistam, não deixem de acreditar.

Jorge
PS:Imagem retirada da internet
PS2.No blog está o meu email, ali do lado esquerdo, está o endereço da associação Bem me queres, não duvidem em pedir ajuda.

publicado às 22:42


16 comentários

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De xana a 16.04.2008 às 23:47


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De Jorge Soares a 16.04.2008 às 23:51



Beijinhos Xana

Jorge
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De S@rit@ a 17.04.2008 às 12:39

Acho que realmente conseguiste explicar de forma simples o processo de sofrimento que é denominador comum a todas as pessoas que não conseguem ter filhos :)
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De Jorge Soares a 17.04.2008 às 20:49

Olá

Nem sempre conseguimos entender os designios da natureza... só tentei transmitir o que me passou pela alma quando li o poema.

Beijinho Sarita e obrigado pelos teus simpáticos comentários.
Jorge
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De duas ideias a 17.04.2008 às 13:58

É por tu seres assim que eu venho cá, só um coração aberto e generoso consegue transmitir este tipo de emoções.
Senhor "piroso" ; aceite a vénia da Cometa.

P.S Piroso = Pessoa que admiramos.
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De Jorge Soares a 17.04.2008 às 20:53

Olá

Hummmmm... ok.... de vez em quando... ainda fico sem jeito..... como agora... :-)

Obrigado por tão simpáticas palavras.

Jorge
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De c911eutopias a 17.04.2008 às 18:41

Um tema a divulgar sem medos, ou tabus. Excelente post , desde a escolha da foto ate ao ps2 . Abraços
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De Jorge Soares a 17.04.2008 às 20:56

Olá

É isso mesmo, um tema a tratar sem tabus....

Obrigado pela visita e pelo comentário
Abraço
Jorge
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De Miss Pepper a 17.04.2008 às 18:52

Já falamos sobre o assunto e tu sabes como me sinto em relação a essas coisas.

Xinhus!
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De Jorge Soares a 17.04.2008 às 20:57

Olá amiga.

:-)

Sim, eu sei.....

Beijinho
Jorge
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De mimi a 18.04.2008 às 12:08

Olá Jorge,
Sem querer comentar sobre o processo de adopção, que em Portugal ainda está longe de ser minimamente eficaz e humanizado, queria falar sobre o poema que adorei e me comoveu.
Bjs
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De Jorge Soares a 18.04.2008 às 18:57

Olá

É o poema é tocante..... mesmo muito.

Obrigado pela visita

Jorge
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De Teresa a 20.04.2008 às 22:19

Não sei bem que dizer, gostei do post...gosto da tua forma de ajudar e apoiar os outros que também passam pelo mesmo...as tua palavras dão força.

Não sei se um dia poderei ter filhos de forma natural (algo sobre o qual escreverei um dia um post, quando me sentir preparada...) e não sei se será coincidência ou se é o destino teres-te "cruzado" comigo mesmo sendo aqui neste mundo paralelo...isto é um desabafo, mas senti necessidade de escrever isto. Beijinho***

E devo dizer que me pareces ser um Homem com H grande, é bom haver gente como tu no mundo.
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De Jorge Soares a 20.04.2008 às 23:02

Amiga

Quem ficou sem saber o que dizer... fui eu.

Simplesmente tento ser eu mesmo...sempre.

Obrigado pelas tuas simpáticas palavras...e espero que saibas que tens aqui um amigo... mesmo que seja neste mundo paralelo.

Besos
Jorge
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De P. a 21.04.2008 às 11:50

Parece que de vez em quando tenho que provar que venho ler isto...:)
Aproveito para dizer...que gosto sempre muito...MAs como ´há muiiiito tempo que conheço os teus dotes de escrita, eles não me supreendem...
Isso nãos ignifica que a admiração não seja sempre muita.
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De P. a 21.04.2008 às 21:39

Eu nunca deixarei de acreditar...E espero também nunca desistir...Por muito dificil que seja o caminho..por muitas pedras que ele tenha e por muitas lagrimas que tenha que chorar. Há sorrisos e olhares que compensam todas as lagrimas e todos os tombos no caminho cheio de pedras...

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