Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem de aqui
Ultimamente cá por casa fala-se muito da emigração, um destes dias após mais uma das reportagens num dos noticiários a R. perguntou:
-Nós também temos que emigrar?
-Esperemos que não, o teu pai já emigrou duas vezes e não me parece que tenha gostado lá muito.
A resposta da P. deixou-me a pensar, não tinha olhado para o assunto desta forma, para os meus pais foi emigrar e regressar, para mim foi mesmo emigrar duas vezes, e atrevo-me a dizer que a segunda vez, quando vim para Portugal, foi muito mais dolorosa que a primeira... e se houve alguma vez que me senti estrangeiro e fora de lugar foi quando cheguei a Lisboa.
Há pouco no programa Linha da frente no canal 1, mostraram os primeiros dias de um casal jovem que decidiu emigrar para Londres. Uma reportagem interessante sobre uma realidade que se calhar escapa a muita gente.
Foi interessante ver como a abordagem inicial dos jovens passava por manter distância da comunidade portuguesa, eles queriam fazer amigos sim, mas não portugueses. No fim quando já começavam a desesperar porque atá as coisas mais básicas, como arranjar um local decente onde dormir, podem ser complicadas para quem cai de pára-quedas num sitio, foram precisamente os contactos portugueses quem lhes foi facilitando as coisas, e foi graças a dicas de outros portugueses que arranjaram casa e emprego.
A casa era um pequeno anexo sem casa de banho, sem janelas e sem televisão e que mesmo assim custava mais ao mês que um apartamento grande por cá. Seria interessante ver quantos dos jovens que agora emigram aceitariam viver por cá numa casa como aquela, ou arranjar um emprego qualquer a ganhar pouco mais de 7 Euros à hora...
A meio da reportagem entrevistaram o responsável de uma agência de emprego, foi a primeira vez que ouvi de outra pessoa algo que eu já disse algumas vezes e que por norma irrita quem me ouve, "Se os portugueses aceitassem em Portugal os empregos que aceitam cá e a trabalhar as horas que trabalham cá, não precisavam de emigrar".
Toda a reportagem me fez lembrar a forma como vi chegar à Venezuela há 25 ou 30 anos muita gente, a imagem da emigração que eu guardo, desde os meus país a familiares e conhecidos é esta. Por vezes ouço as pessoas falarem e fico a pensar que há muita gente que acha que a emigração é seguir o El Dorado, que se chega a um sitio qualquer se mostra o titulo universitário e se abrem todas as portas... era bom que tivessem a noção de que a realidade é mais parecida com o que vimos hoje. A diferença que vemos no cartoon é a realidade à saída de Lisboa, em muitos casos não haverá assim tanta diferença à chegada ao destino e muita gente termina mesmo a fazer o que faziam os emigrantes de há umas décadas.
Jorge Soares