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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Ionline
Eu tinha lido algures que logo após a saída do Relvas do governo, o Gaspar tinha decretado que não havia mais dinheiro para o Impulso Jovem, por um lado achei mal, todos os programas de incentivo ao emprego são necessários, por outro lado tinha esperança que a falta de dinheiro fizesse o cromo do Miguel Gonçalves sair de cena ... pelos vistos ainda não se acabou o dinheiro.
Bom, o Miguel voltou à carga e como seria de esperar, voltou em grande, está visto que com ele não há meias medidas, senão vejamos:
“Muitos dos desempregados não querem trabalhar ou são maus a fazê-lo”
E não, a frase não foi tirada do contexto, toda a entrevista é neste tom. Para o Miguel a falta de emprego é um mito, a falta de oportunidades de trabalho para uma grande parte dos jovens licenciados, um mito. Há neste momento empresas que se aproveitam da situação e exploram os jovens?, outro mito..
Para o Miguel o problema do país não é a falta de emprego, é a falta de vontade e iniciativa das pessoas, que não arranjam emprego porque não são o suficientemente persistentes, não aceitam mudar de ramo, não aceitam fazer ou aprender outras coisas, em suma.. a solução para o desemprego é dos desempregados. Essa é que é a grande diferença. E, se calhar, pode chocar dizer isto, mas muitos dos que estão desempregados, estão desempregados porque, ponto número um, não querem trabalhar e, ponto número dois, são maus a fazê-lo.
Outra pérola:
Nas universidades, o que vês é que as pessoas estão com muito medo, porque vêem demasiada televisão.
O que significa isso?
Que as pessoas estão com medo porque pensam que não há trabalho. É mentira, há muito trabalho disponível.
Um dos problemas do Miguel, é que ele ainda não percebeu a diferença entre um nicho, que é onde está o mercado da sua empresa e a vida dele, e o resto do mundo. Outro grande problema do Miguel é que ele ainda não percebeu que quando estamos a falar da população de um país e da economia de mercado, não se pode generalizar.
É evidente que há uma ponta de verdade em tudo o que ele diz, é claro que todos conhecemos desempregados que não abdicam de receber o subsidio de desemprego para irem trabalhar. Todos conhecemos pessoas que não trabalham porque não querem ou não lhes apetece, todos conhecemos pessoas que se acomodam e não são o suficientemente pró-activas na procura do emprego... mas em Portugal a taxa de desemprego vai a caminho dos 20%, e dizer que 20% da população activa não trabalha porque não quer, não é só uma generalização absurda, é uma falta de respeito para as milhares de pessoas que querem alimentar os seus filhos e por mais que se esforcem, não conseguem encontrar um emprego nem a vender pipocas.
O desemprego entre os jovens licenciados anda perto dos 40%, o Miguel diz que isso acontece porque todos esses milhares de jovens são preguiçosos e não batem às portas suficientes... era bom que alguém explicasse ao Miguel que não há neste momento portas suficientes neste pais para que tantos jovens possam bater, porque a austeridade não sabe abrir portas, só sabe encerrar empresas.
Com tudo isto, com tanta conversa e autoconfiança o Miguel só me faz lembrar aqueles pregadores das igrejas americanas, aqueles que se os deixassem seriam capaz de convencer a mãe de deus a mudar de religião e claro, a pagar o dizimo. Não sei se ele será ou não religioso, mas de algo não há dúvida, para vender banha da cobra ele tem jeito... não é à toa que o Relvas o contratou.
O maior problema do Miguel é que ele acredita no que diz... e portanto não há forma de se convencer que este país não está para conversas destas.
Jorge Soares