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Onde anda o bom senso na educação em Portugal?

por Jorge Soares, em 05.05.13

Exame do 4º ano

Imagem do Público 

 

Um destes dias numa mesa de família, descobri que além dos avós, eu era o único que era do tempo do exame da 4ª classe, foi em 1978 e deve ter sido algo importante porque passado este tempo todo eu ainda me lembro. Exame escrito na sala do andar de cima da escola Soares Bento em Palmaz e exame oral na mesma sala, eu sozinho sentado frente a uma mesa com 4 professores, dois dos quais nunca tinha visto na vida... 

 

Eram definitivamente outros tempos, para muitos dos meus colegas aquele exame representava o fim da sua vida escolar, era o tempo em que ter a 4ª classe significava ter instrução. Desde a primeira classe aos seis anos que eu ia a pé para a escola, verão ou inverno, a quase dois kms, o ciclo era na vila, a 10 kms, eu tinha 10 anos e apanhava o autocarro todos os dias, sozinho, saia na estação de camionagem e caminhava até à escola.

 

Faz-me alguma confusão a imprtância que este ano se quer dar a este exame, afinal serve para quê? Há dois anos não havia exame, cá em casa decidimos que o N. ia repetir o 4º ano e foi o cabo dos trabalhos convencer a professora, a escola e o agrupamento, eles não queriam por nada, mesmo quando concordavam que ele não estava preparado. O que vai mudar com o exame? Quem reprovar vai repetir o ano? É claro que não. Vamos ficar a saber mais sobre a preparação dos alunos? Tenho sérias dúvidas.

 

O facto de obrigarem os alunos a irem fazer exame a outra escola é só uma tentativa do ministro Nuno Crato e do ministério da educação de dar importância a um exame que na realidade não serve para nada.

 

Mas o cúmulo do ridículo foi atingido esta semana quando ficamos a saber que os alunos vão assinar um “termo de responsabilidade” em como não utilizam telemóveis nos exames.

 

Isto é mesmo a sério? Estamos a falar de crianças de 9 e 10 anos, quantas delas vão entender o que estão a assinar? Que eu saiba sempre foi proibido copiar nos exames, nós sabíamos isso e nunca foi necessário assinar o que quer que fosse, qual é a diferença entre sabermos que não podemos copiar e que não se pode utilizar o telemóvel? Porque é que num caso bastam os avisos dos professores e noutro é necessário fazer crianças de 10 anos assinarem um documento?

 

Não sei quem terá sido o iluminado que se lembrou de tal coisa, podemos olhar para isto de muitas formas, mas ou alguém está a querer mostrar serviço, ou já não se confia na autoridade do professor para se fazerem cumprir as regras dentro da sala. Imaginemos que há um aluno a copiar e outro a utilizar o telemóvel, haverá alguma diferença no comportamento do professor? Ambos os testes serão anulados, mas será que no caso do telemóvel vai ser utilizada a assinatura para colocar a criança em tribunal?

 

Numa altura em que muitas famílias não conseguem alimentar os seus filhos, porquê criar mais um problema de transportes para a deslocação das crianças para sedes do agrupamento? Nesse dia milhares de crianças não vão ter aulas porque a sua escola vai estar ocupada com o exame,  que farão os pais que ainda tem emprego com essas crianças?

 

Numa altura em que em muitas escolas não há dinheiro para tirar fotocopias e até já se pede aos alunos para levarem o papel higiénico de casa, porquê fazer as crianças irem fazer exames a outras escolas? Porque gastar-se mais dinheiro em vigilância de exames? E para que gastar muito dinheiro em resmas de papel numa declaração que na realidade não serve para absolutamente nada?

 

Onde anda o bom senso na nossa educação?

 

Jorge Soares

publicado às 23:14


20 comentários

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De Kok a 06.05.2013 às 15:15

Òh Jorge diz-me lá com sinceridade: queres mesmo que faça um comentário a este teu post?
E que o faça sem soltar umas estrondosas gargalhadas?
É que sendo assim não tenho condições para comentar.
Só se for mais tarde depois de me refazer da "emoção" que me provoca a ideia de ver exigir aos miúdos de 8 ou 9 anos a assinatura (certamente que: por sua honra), de um termo de responsabilidade.
Se isto não é um quadro de revista à portuguesa, não sei o que possa ser!

Akele abraço pah!

§-ò Crato, quem te ouviu (como crítico e comentador televisivo), e quem te vê agora...
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De Jorge Soares a 07.05.2013 às 23:17

Olha que isto não é para rir.. é mesmo para chorar... acho eu.

Jorge
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De Visitante a 06.05.2013 às 17:12

Muito bom, comédia escrita é do melhor! Quem disse que "mais vale uma imagem que mil palavras"?
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De Jorge Soares a 07.05.2013 às 23:18

Sorry mas não percebi...

Jorge
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De Olga Cardoso Pinto a 06.05.2013 às 18:32

Já fiz essa pergunta uma data de vezes ... mas não adianta nada, cada experiência que fazem da educação é uma estupidez maior que a anterior e os alunos, professores e pais é que são os prejudicados nisto tudo.
Um pais que trata tão mal a educação e saúde revela a inteligência dos governantes, nem a crise justifica tamanha asnice!

Parabéns pelo conteúdo do seu blog.
Olga
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De Jorge Soares a 07.05.2013 às 23:21

Há coisas que só tem mesmo justificação na falta de bom senso das pessoas.

Obrigado pela visita e pelo simpático comentário

Jorge
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De golimix a 06.05.2013 às 19:42

Começo a pensar que esta gente só tem ideias na casa de banho!

É cada iluminação....
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De Jorge Soares a 07.05.2013 às 23:22

Estás a admitir que eles tem ideias?.. isto são coisas que alguém lhes sussurra ao ouvido.. só pode.

Jorge
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De golimix a 08.05.2013 às 13:30

Alguém verde e que tem pouco cérebro e um só olho... só pode mesmo!
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De sentaqui a 06.05.2013 às 20:44

Eu também fico abismada com tanta falta de bom senso e despesismo.
Em anos anteriores fazia-se este exame, não para avaliar os alunos e sim a escola, já que não tinha influência nenhuma no resultado final do aluno. Este ano já conta e a nota é somada aos restantes resultados.
Isto é mais um show para mostrar que estão realmente preocupados com a qualidade da educação neste país, mas não é com disparates destes que se chega a algum lado e vai tudo continuar na mesma. Uma autêntica fantochada é o que é
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De Jorge Soares a 07.05.2013 às 23:38

Eu não sou contra o exame contar para a nota, tenho duvidas que sirva para algo, mas pronto, o que acho é que não era necessário este formalismo todo e sobretudo, o gasto extra que ele significa. As avaliações devem ser vistas como algo normal, fazem parte do percurso escolar, para que este barulho todo?

Jorge
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De miilay a 06.05.2013 às 23:51

Amigo, tens toda a razão, e ainda à pouco falava com alguém que amanhã estará a coordenar os exames e é tal a burocracia, que anda tudo estoirado e para os alunos o que irá adiantar no seu sucesso??? talvez ,melhor ,tenho a certeza que como tu e eu, lembraremos sempre este dia de exame. Cada um à sua época.
Ai, ai o telemóvel, e a assinatura, do termo de responsabilidade.
Devíamos exigir aos membros do Governo ,assim um termo de responsabilidade, em que não se iriam enganar nas contas!
Um abraço
miilay
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De Jorge Soares a 07.05.2013 às 23:40

Olá

É verdade que para nós era um momento marcante, ams eram outros tempos, eu acho que as avaliações devem ser vistas como algo normal, algo que faz parte do percurso escolar, para que todo este formalismo?

Jorge
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De miilay a 06.05.2013 às 23:51

Amigo, tens toda a razão, e ainda à pouco falava com alguém que amanhã estará a coordenar os exames e é tal a burocracia, que anda tudo estoirado e para os alunos o que irá adiantar no seu sucesso??? talvez ,melhor ,tenho a certeza que como tu e eu, lembraremos sempre este dia de exame. Cada um à sua época.
Ai, ai o telemóvel, e a assinatura, do termo de responsabilidade.
Devíamos exigir aos membros do Governo ,assim um termo de responsabilidade, em que não se iriam enganar nas contas!
Um abraço
miilay
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De Miguel a 07.05.2013 às 08:12

E não se lembrou de perguntar qual a razão que têm os alunos da primária para serem diferentes e fazerem agora os exames, podiam perfeitamente fazê-los em junho como todos os outros alunos. Assim, podia-se deslocar professores de fora para as escolas e já não havia tantos problemas.
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De Jorge Soares a 07.05.2013 às 23:41

Ora aí está uma boa pergunta, até porque em muita escolas está-se longe de se ter terminado o programa.

Jorge
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De Cristina M. a 07.05.2013 às 20:54

Quem reprovar, repete o ano, obviamente. Claro que muito mais se pode dizer sobre este assunto, mas quem reprova (e não é quem tira 2 no exame), repete o ano.

Quanto à deslocação para as escolas sede, para além do esforço de dar importância aos exames, julgo que, terá a ver com dinheiro. Feitas as contas, deve sair mais barato!

A questão do telemóvel é ridícula, claro. Assim como impedir um professor de ficar a vigiar se tiver filhos ou sobrinhos a realizar o exame ainda que noutro agrupamento pois poderia telefonar à criança.
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De Jorge Soares a 07.05.2013 às 23:42

Olá Cristina

Tens a certeza?, quer dizer que aquela ideia de que as criancinhas não podem ficar retidas já está ultrapassada? quer dizer que agora quando uns pais decidem que o filho não está preparado já não são necessárias guerras com a escola?

Jorge
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De Cristina M. a 08.05.2013 às 22:35

O quero dizer é que quem reprovar repete o ano. É isso que quer dizer reprovar.

É claro que há formas de diminuir o risco de reprovação provocada por uma má nota no exame, mas alunos com notas para passar à tangente, podem efectivamente reprovar em consequência de um exame mal sucedido. Talvez isso não aconteça este ano pois o exame conta apenas 25% mas a tendência é para aumentar esta percentagem. E estou convencida que a tendência é também a de caminhar para um ensino elista, orientado para os melhores (considerando determinados tipos de objectivos, claro) e para uma lógica de avaliação centrada em exames que excluirão muitos mais do que acontece agora.
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De S a 08.05.2013 às 12:02

Bom dia Jorge e Comentadores!
Engracado como a mesma situacao pode ser vista de angulos tao diferentes.
Semanas antes deste noticia sobre o "termo de responsabilidade" eu tinha pedido - apenas por piada - a uma crianca da familia para assinar uma "declaracao" jurando que ia manter uma promessa que tinha quebrado no passado. Acho que e' uma licao que ensinaria o valor da palavra escrita, o valor vinculativo de assinar o nome sob uma declaracao de honra. Foi demais ver o empenho e orgulho com que ela -que mal sabe escrever- assinou o seu nome sob a "promessa" e como se refere ao papel que assinou cada vez que a sua conviccao "vacila".
Quando dias apos li esta noticia achei-a muito interessante e consigo efectivamente ver o valor da mesma. Nao sera a unica forma de ensinar o que e' a honra e a palavra a criancas pequenas mas e' uma forma "tangivel" de o demonstrar.
Quando nem os candidatos a juristas honram o codigo de nao "copiar", quando tantas criancas quebram as regras das escolas por nao distingurem o que que e' regra do que e' opcional, achando que "nao faz mal" contornar as mesmas, nao me choca nada que lhes seja pedido o acto "simbolico" de assinar um termo de responsabilidade que pretende apenas isso mesmo simbolizar um compromisso e ensinar o valor da palavra.
Conseguem ver as coisas deste angulo tambem ou estarei completamente errada?

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