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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
De entre o que restou do edifício Rana Plaza, no Bangladesh, foram até agora retirados mais de 900 corpos, mas ninguém consegue prever quantos mais estarão ainda por descobrir, calcula-se que estariam perto de 5000 pessoas no edifício e ainda falta chegar aos pisos inferiores.
Também não há certezas, mas suspeita-se que para além da construção deficiente, terá sido a trepidação causada pelos gigantescos geradores que mantinham as três fábricas de roupa a funcionar, o que terá causado o desabamento do edifício.
O Bangladesh é neste momento a última paragem da globalização, depois do Vale do Ave, de Taiwan, da Malasia, da China, a procura dos preços mais baixos chegou ao Bangladesh. As três fábricas , há quem fale em cinco, que se diz existiam no edifício, produziam roupa para grandes marcas Europeias como a Primark ou a Mango. Mas estas são só um exemplo, porque nas centenas que nascem como cogumelos por todo o país produz-se roupa e outros artigos para a grande maioria das marcas mais conhecidas.
O Bangladesh é o país com o menor salário mínimo do mundo, perto de 29 Euros por mês, mas há quem ganhe metade disto por 12 ou mais horas de trabalho ao dia nas piores condições possíveis. É também frequente a existência de trabalho infantil.
O negócio dos texteis movimenta mais de quinze mil milhões de Euros todos os anos e gera lucros astronómicos, mas tudo isto é feito à custa do trabalho quase escravo de muita gente.
As grandes marcas tem muita preocupação com os volumes de vendas e os lucros, mas pouco ou nada se preocupam com o preço que paga a população dos paises mais pobres para que se possa produzir a custos tão baixos . Era bom que a sociedade que tanto consome tivesse a noção da realidade que está por trás dos seus caprichos mais mundanos.
As muitas centenas de vidas que se perderam na queda do edifício no Bangladesh são o preço social da roupa barata, um preço demasiado alto que milhares tem que pagar para que uns poucos ganhem muito dinheiro e todo o mundo possa presumir de andar bem vestido.
A fotografia é de Taslima Akhter e revela um abraço de um homem e de uma mulher congelado pela derrocada do edifício Rana Plaza, ao Bangladesh chegou o último abraço da globalização.
Jorge Soares