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Alguém me deixou o seguinte comentário no Post "Quem se importa com os professores?":

 

"... a verdade, é que somos nós, os alunos de 12º ano, que vamos ficar extremamente prejudicados, porque uma greve a um exame de Português significa que todos os prazos vão ter que ser adiados, inclusive as datas de colocações na universidade e o início do ano lectivo para os alunos do primeiro ano de faculdade. Para não falar de que as próprias greves às avaliações já vão ser um enorme problema, porque os alunos devem ir todos a exame sem ter a nota, e depois? E aqueles que depois do exame feito descobrem que afinal não tinham nota e o exame é anulado? Esteve o aluno a perder tempo a estudar para um exame que não lhe vai contar para nada quando podia ter estado a estudar para outros?
Estas greves vão ser portanto, brincar com o nosso futuro, o futuro daqueles que são o próprio futuro da país."


Eu cheguei a Portugal em 89, vinha para entrar na faculdade, já ninguém se lembra mas o ano lectivo de 89-90 começou em Janeiro de 1990, foi sair do ano novo para as inscrições na faculdade, se não me engano quem corrigia as provas de acesso estava em greve e portanto não havia notas para ninguém .. nem entrada na faculdade... como era muito tempo sem fazer nada, arranjei emprego...  

 

Reparem, não estamos a falar de duas semanas de atraso num exame, estamos a falar de quase seis meses de atraso... se isso teve influência no meu futuro?, teve, é claro que teve, aqueles meses a trabalhar foram muito importantes para decidir o que queria fazer na vida.. e ainda hoje é isso que faço.... e sim, de Janeiro a Julho deram-se dois semestres nas faculdades, e não me lembro de ouvir queixas por isso.

 

Hoje ao ouvir os comentários de pais e alunos, quase todos contra a greve e contra os professores, dei por mim a pensar em como é estranha a vida.. as pessoas acham que adiar duas semanas um exame porque os professores decidiram lutar pelos seus direitos é um atentado ao seu futuro.. as pobres criancinhas ficam com os planos de estudo estragados... estiveram a estudar para nada....

 

Então mas espera aí, eles estão à semanas a estudar e só porque adiam o exame duas semanas ficam com a vida estragada... então mas o que estudaram nos últimos dias esvazia-se se o exame não for hoje?.. fantástico.

 

É incrível como neste país as pessoas olham para o lado e esquecem tudo quando se sentem prejudicadas, de repente parece que todo o mundo menos  os professores esqueceu o estado lastimável em que está a nossa educação. Falta de segurança nas escolas, excesso de alunos nas turmas, falta de materiais, falta de dinheiro para aquecimento, salas em que chove lá dentro por falta de manutenção, escolas com cartões nas janelas porque não há dinheiro para vidros, etc, etc, etc... Tudo isso passa para segundo plano quando as criancinhas do 12º ano não podem fazer o exame no dia que estava marcado... fantástico.

 

E hoje pelos vistos valeu tudo, como li algures professores a  vigiarem exames para os quais não estavam preparados ; colaborarem em ilegalidades sem fim..trancarem as portas das salas para os alunos não saírem..e outros não entrarem...começaram os exames com 15 minutos de atraso...houve tolerância de 40 minutos..foram para refeitórios onde estavam 70 alunos...alguns vigilantes eram formadores dos Cursos Cef, de culinária...coadjuvante não existia..falavam com os alunos para os incentivar a continuarem...não se lembraram que estavam a ignorar um principio básico...a equidade.


Pelos vistos basta as pessoas se sentirem atingidas para esquecerem que os problemas que existem na educação nos afectam a todos de uma forma ou outra, não, não são os professores os únicos a serem afectados, porque todos temos filhos, irmãos, sobrinhos, amigos, conhecidos... que ou são alunos ou professores e é o futuro de todos eles que está em risco e é por esse futuro que se fazem greves... onde anda a consciência cívica deste povo?

 

Jorge Soares

publicado às 22:42


44 comentários

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De Bento Norte a 18.06.2013 às 22:55

Por exemplo o salto gigante na escolaridade está na razão inversa da educação cívica. Não se pode ter tudo não é? O desenvolvimento é como uma caminhada que começa sempre no primeiro passo.
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De Jorge Soares a 18.06.2013 às 23:22

Pois, mas entre ter tudo e não ter nada... acho que prefiro a situação actual, foi por existir muita educação cívica no passado que vivemos 40 anos de costas para o mundo e que foi preciso o homem cair da cadeira para que mudasse algo neste pais?

A minha mãe também acha que escola era no tempo dela em que se aprendia a tabuada à base de reguada, e ela tem muito orgulho porque sabia os rios de cor ... mas curiosamente é da mesma altura em que 80% dos portugueses que chegavam à tropa não sabiam o nome do presidente da república, muito menos qual era a capital da Bélgica ou da Holanda.. para que é que isso servia?, importante mesmo eram os caminhos de ferro de Angola.

Já aqui escrevi sobre isso, cada vez que alguém me diz que as condições quando eu andei na escola eram melhores que as de agora eu passo-me... porque não há comparação possível.

Jorge Soares
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De Bento Norte a 19.06.2013 às 08:46

Eu nem sequer coloco a questão da preferência, dado que a aceitação do que temos é uma inevitabilidade. Só que existem muitas feridas para por o dedo com tanta coisa para melhorar ou corrigir. Quanto à cadeira do outro, o nosso mérito não estará em esperar que eles caiam, mas com a nossa opinião e participação cívica contribuir para que ervas daninhas não se perpetuem no poder. Não podemos utilizar a liberdade ao desbarato e ajoelhar de medo num estalar de dedos. Ou a inversa. E atenção, com o devido respeito tenho que lhe dizer que não fui eu que disse que no antigamente as condições eram melhores. Li outro dia uma máxima que dizia mais ou menos isto: "Um povo que não sabe ou não quer encarar o seu passado histórico pode estar condenado a repeti-lo". Aceite os meus cumprimentos.
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De António Manuel Dias a 19.06.2013 às 09:28

Acho que está a confundir educação cívica com medo da autoridade.
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De Bento Norte a 19.06.2013 às 10:10

António Manuel Dias acha que eu não percebo, acha que eu confundo, acha que eu não faço ideia. E para concluir de forma brilhante também acha que eu confundo educação com medo da autoridade. Se o seu argumento se baseia em diminuir e adjectivar com defeitos quem troca opiniões consigo fica aqui terminada a conversa.
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De Cristina Lopes a 19.06.2013 às 21:10

E o primeiro passo é a educação cívica em casa. Sem essa, não há nível de escolaridade que lhe valha, pois a educação (cívica ou não) nao é exclusivo da escola.
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De Bento Norte a 19.06.2013 às 22:13

Cristina Lopes, aplaudo de pé o seu comentário.

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