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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Pontos de vista
Até à semana passada o Brasil era o exemplo acabado de uma economia em crescimento acelerado, um exemplo de crescimento sustentado cheio de projectos e desejoso de mostrar ao mundo como é capaz de organizar tudo e mais alguma coisa.
Bastou um aumento de poucos cêntimos nos transportes públicos para que emergisse uma realidade bem diferente, há uma enorme franja da população a quem todo este crescimento e prosperidade tarda a chegar. É verdade que a economia cresce a olhos vistos, mas também é verdade que este crescimento tarda em chegar aos mais pobres, aos trabalhadores, às favelas.
O país tem-se esforçado em mostrar ao mundo que consegue ser organizado, esforça-se por dar nas vistas, organiza cimeiras do meio ambiente, este ano é a Copa Federação, em 2014 será o mundial de futebol, em 2016 serão os jogos Olímpicos. No fim tudo isto se traduz em muitos milhares de milhões em investimento e terá de certeza um enorme retorno para a economia do país, mas para os mais pobres é dinheiro que se gasta e que a eles não lhes traz benefícios imediatos.
Os enormes e modernos estádios de futebol são construídos com vista previligiada para as enormes favelas onde milhões de pessoas tentam sobreviver no meio de uma enorme violência e insegurança, sem escolas suficientes, sem cuidados básicos de saúde, sem serviços básicos, sem transportes públicos, sem nada.
O Brasil é um país em crescimento acelerado, tão acelerado que no fim se traduz numa enorme desigualdade social, em quanto a classe média melhora o seu nível de vida a olhos vistos, os mais pobres continuam pobres e sem sentir em nada as melhorias que os governantes não se cansam de vender ao mundo.
O Brasil é um país com enormes dores de crescimento, após dias e dias de manifestações com transmissão directa para todo o mundo por parte das centenas de jornalistas que estavam no país para cobrir a taça das federações em futebol, o governo tentou salvar a face voltando atrás com os aumentos dos transportes... mas era tarde, porque na realidade não é disso que se trata, trata-se sobretudo de uma luta contra a desigualdade, uma luta por uma distribuição equitativa dos benefícios, por uma utilização mais justa dos recursos, uma luta dos mais pobres para que alguém perceba que eles existem
Jorge Soares