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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem da minha meia laranja tirada com o telemóvel
A canoagem é um dos desportos familiares preferidos cá em casa, desde que experimentamos no Tejo num percurso de Constância a Vila Nova da Barquinha, ficamos fans, e desde então já tínhamos experimentado nas Astúrias, em Caminha e em Ponte de Lima....
No Parque de campismo em Couhé havia uns folhetos de percursos num dos rios ali perto, como não havia muito mais para fazer além de pescar, decidimos ir experimentar.
Em França todo o mundo fala francês, mas muito pouca gente fala outra coisa qualquer, pelo que não foi muito fácil entendermo-nos com o jovem da empresa de canoagem... O folheto com os percursos mostrava umas paisagens bonitas, com fotografias do rio... Havia várias opções, dos 4 aos 12 kms, nós escolhemos o percurso de 7 kms que era o que passava junto ao castelo...
No folheto havia uma caricatura de uma canoa a descer uma cascata, lá tentamos indagar meio em francês, meio em Inglês, sobre a dificuldade do percurso. Que não, não tinha dificuldade nenhuma, as crianças podiam ir sozinhas sem problemas.
No dia a seguir à hora combinada lá estávamos nós. Meteram as canoas num atrelado, a nós e a outro casal numa carrinha e arrancamos com o condutor.
Uns kms mais acima, tiraram-se as canoas do atrelado, o condutor ajudou a mete-las na água, meteu-se na carrinha e foi-se embora... Nas outras vezes em que tínhamos feito canoagem, éramos nós e muitas outras pessoas e claro, um ou dois guias que nos acompanhavam durante todo o percurso... aqui éramos nós e o rio.
Uma das características do rio é que tinha imensos braços diferentes, de vez em quando chegávamos a uma encruzilhada e lá havia que escolher entre a direita ou a esquerda.. numa dessas escolhas deixámos de ver o casal que nos acompanhava e só os voltámos a ver uns kms mais abaixo.. mas já lá iremos.
De vez em quando o rio tinha uns pequenos saltos, 15 ou 20 cms e aumentava a velocidade da corrente, mas nada de especial.. A dada altura chegámos à zona que se vê ali na fotografia, um lugar muito bonito com duas pontes, o castelo e as margens floridas. Passámos a primeira ponte, admirámos o castelo e atacamos a segunda ponte.
Normalmente o N. que é o mais afoito, ia à frente.. de repente demos por ele todo alvoroçado a voltar para trás... a seguir à ponte havia uma queda de água com mais de 1 metro de altura... ele apercebeu-se e conseguiu voltar para trás, entretanto a R. que ia pelo outro arco da ponte já não conseguiu travar e além disso entrou na queda de lado. Ouvimos um grito e alguém a cair à água.
Conseguimos parar a nossa canoa antes da queda de agua.. da parte debaixo a R. tentava segurar a dela e gritava que a pangaia (o remo) e os chinelos, tinham ido na corrente.
Como não havia forma de voltar para trás, a solução era descermos as outras duas canoas à mão.. fiquei da parte de cima da queda de água e estava a descer a primeira canoa, de repente senti que a pedra em que estava apoiado se desfazia debaixo dos meus pés e no segundo a seguir dei por mim da parte de baixo e com a água quase até ao pescoço.. mas não larguei a canoa.
Estávamos nós a descer as canoas quando apareceu o outro casal, que entrou com a canoa a direito na queda de água e com um ar entre o divertido e o aterrorizado, desceu a grande velocidade.. incólume, não consegui evitar aplaudir.
Felizmente a seguir o rio voltava a ter pouca corrente e conseguimos recuperar os chinelos e a pangaia levados pela corrente
Mais abaixo mais uma encruzilhada e mais uma escolha... umas centenas largas de metros mais à frente no lugar onde devia estar o rio havia uma casa, ao lado havia uma comporta que servia de represa. No quintal da casa estava uma senhora e por entre gestos conseguimos perceber... uns metros atrás, junto à margem havia um pequeno cais de cimento e uma seta a indicar o caminho das canoas... pelo cimento. Uns metros ao lado corria outro braço de rio.
O caminho era por ali, depois de carregarmos as canoas à mão de um rio para o outro.
Mais um bom bocado a remar e numa curva do rio havia outra ponte com vários arcos... felizmente aqui conseguimos ouvir a água a cair do outro lado, escolhemos um dos arcos, colocamos as canoas o mais a direito possível e esta vez conseguimos todos passar sem ninguém ir à água.
Com isto tudo já estávamos há mais de duas horas no rio, para além da aparição esporádica do outro casal, não tínhamos visto mais ninguém. Depois de uma passagem complicada por um sitio com muita corrente em que a nossa canoa ficou presa numa rocha saliente, decidimos parar um bocado numa ilha de areia entre duas curvas do rio.
Alguém tinha vontade de fazer chichi, chegou-se à margem e estava aliviar-se ali mesmo... em duas horas não tínhamos visto ninguém no rio... naquele preciso momento apareceram dois grupos de canoas, um que vinha a descer e outro a subir o rio.... é preciso pontaria.
Havia mais que contar.. mas o texto já vai largo.. felizmente desde ali até à meta as quedas de água não tinham mais que 30 cms de altura e tirando o excesso de velocidade que se atingia a seguir, a coisa fez-se.
Chegamos ao fim divertidos... mas a pensar se aquilo era o fácil que até as crianças podiam ir sozinhas, como seria a versão complicada da coisa?
Jorge Soares