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Barquinhos de papel num país sem remos

por Jorge Soares, em 28.11.13

Estaleiros

Imagem do Público 

 

Depois da festa que foi o anuncio de que alguém ia ficar com uns estaleiros que há muito estavam parados, agora Viana do castelo teve um presente de natal envenenado. Ao contrário do que se estava à espera, a Martifer não ficou com a empresa dos estaleiros, ficou sim com os terrenos onde estão os estaleiros e pretende ficar com o negocio que por lá se faz.

 

Tenho estado com alguma atenção às noticias e sinceramente custa-me entender como é que há tanta gente surpreendida com este desfecho, desde o inicio dos anos 90 que a construção naval se mudou de armas e bagagens para o oriente. A Coreia, Taiwan e a China controlam a tecnologia e os preços, são eles que constroem praticamente tudo o que se mexe em mar alto, dificilmente alguém consegue fazer mais rápido, mais barato e melhor que eles.

 

Desde há muito que o único cliente a sério dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo era o estado, ora estando o estado falido, sem rumo e sem remos, para que servem uns estaleiros com uma estrutura estatal que dificilmente conseguem ser competitivos frente à tecnologia e preços que chegam do Oriente e até dos países do Norte da Europa? 

 

Chavez era amigo do Sócrates e além disso já morreu, além de que não se esperam mais favores Bolivarianos, não sei se Nicolás Maduro terá vontade e/ou dinheiro para pagar uns asfalteiros que teimam em não sair do papel e que mesmo que se cheguem a construir, são sérios candidatos a juntar-se na doca de Lisboa ao Ferry que ia para os Açores e que espera por melhores ofertas.

 

Entendo o desespero dos trabalhadores e da restante população de Viana do Castelo, acho terrível que as coisas tenham terminado assim, mas num país sem dinheiro e sem rumo, a menos que se reconvertam para a construção de barquinhos de papel e botes a remo, não há forma de manter abertos os estaleiros.

 

E agora vou fazer futurologia,  ao contrário do que dizia à pouco Paulo Portas, não acredito que o projecto da Martifer saia alguma vez do papel, é que dizem as notícias que os supostos 400 postos de trabalho dependem das encomendas, quais encomendas? Vamos ver quanto demora até haver o primeiro projecto imobiliário naqueles terrenos.

 

Jorge Soares

publicado às 22:26


22 comentários

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De Equipa SAPO a 29.11.2013 às 08:38

Bom dia,
este post está em destaque na área de Opinião do SAPO.
Cumprimentos,
Ana Barrela - Portal SAPO
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De Jorge Soares a 29.11.2013 às 19:35

Obrigado Ana

Jorge Soares
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De energia-a-mais a 29.11.2013 às 13:25

Sem querer ser muito parva, não seria melhor investigar como é que um negócio em que o estado recebe (na melhor das hipóteses, se o contrato for até ao final) uns 7 milhões de euros e paga, para fechar os postos de trabalho mais de 30 milhões, avança? quem decide avançar um negocio destes? se um país está a tentar relançar as suas pescas e tem um saber-fazer reconhecido na área da construção naval, isto não é mais um contra-senso?

Teresa
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De Jorge Soares a 29.11.2013 às 14:04

Teresa, concordo plenamente que é necessário investigar os contornos deste negócio, acho que para além do que dizes seria bom esclarecer se há alguma salvaguarda que obrigue a Martifer a concretizar mesmo os projectos e como será o estado ressarcido no caso, que para mim é mais que certo, da não concretização de nada do que foi acordado.

Não sei se realmente estaremos empenhados em relançar as pescas, além disso, as pescas são um negocio privado, vou-te colocar um exercício simples:

Imagina que és uma armador ou uma empresa de pesca e precisas de encomendar um barco, se te apresentassem o mesmo Barco construído em Viana do Castelo por 1 milhão de Euros e com entrega daqui a um ano, ou na Koreia por metade do preço e com entrega daqui a 3 ou 4 meses, qual compravas?

isto é a realidade do que acontece na industria naval actual e é por isso que os estaleiros vão encerrar de qualquer forma.

Jorge Soares
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De Makiavel a 29.11.2013 às 16:02

É de exercícios simples que se vai envenenando a opinião pública.
Sugiro que escreva um livro com o título Engenharia Naval para Tótós.
Com que então os orientais fazem em 4 meses e por metade do preço o que em Portugal se faz num ano. O senhor a exportar demagogia e o deficit externo português desaparecia.
Este caso faz-me lembrar o caso da Sorefame. Passámos para um novo patamar: de jobs for the boys passámos para businesses for the boys.
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De Jorge Soares a 29.11.2013 às 16:50

Não opercebi o último parágrafo... acho que me está a conotar com algo que definitivamente não é possível.

Quanto ao resto, cada um acredita no que quer, acha mesmo que conseguimos ter construção naval em Portugal e concorrer com os Koreanos... está à espera de quê para abrir uns estaleiros?

Jorge Soares
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De Makiavel a 29.11.2013 às 19:09

O meu último parágrafo era apenas um comentário à veia privatizadora deste governo: em vez de empregos, agora arranjam-se negócios para os amigos. Nada de pessoal. Quanto ao resto, fiquei a saber que, em matéria de construção naval, a questão situa-se entre conseguir ou não conseguir competir com coreanos. Tenha dó.
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De Jorge Soares a 29.11.2013 às 19:22

Não, evidentemente não se resume tudo a isso, mas..., do que eu disse no post, há algo que não seja verdade?

É ou não verdade que desde há quase 20 anos os estaleiros praticamente só tinham um cliente?, é ou não verdade que há anos que tirando as encomendas do El comandante Chavez, não há encomendas?, é ou não verdade que é a oriente que está a construção naval mundial?

Jorge Soares
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De José a 30.11.2013 às 08:39

Na verdade um dos principais construtores navais continua a ser a Noruega. Também é verdade (conheço pessoas que trabalharam na área, na Holanda) que os portugueses continuam a ser considerados os trabalhadores mais competentes nessa área (o problema, é que não têm forma de trabalhar em Portugal).
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De Jorge Soares a 01.12.2013 às 23:28

É verdade, temos excelentes profissionais, mas a verdade é que há muito que o estaleiro não tem clientes para além do estado,... e não há como dar volta a isso.

Jorge Soares
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De Anónimo a 30.11.2013 às 22:20

O problema não é se se diz verdade ou não. O problema é que conclusöes é que se pretende tirar com ela. E as suas conclusöes são de uma demagogia básica. Se os coreanos são líderes na construção naval, então porque raio a Noruega e a Holanda continuam a construir navios? E a moeda deles é forte e as condiçöes laborais são civilizadas.
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De Jorge Soares a 01.12.2013 às 23:26

E por acaso, tirando a parte em que acho que a Martifer nunca vai contratar mais que meia dúzia de gestores, eu tirei alguma conclusão?, eu limitei-me a constatar factos, e os factos dizem que temos uns estaleiros que não tem clientes, que tem competência técnica, que tem mão de obra qualificada, mas não tem clientes.. ou isso não é verdade?

E não tem clientes porquê? há muita gente no mundo que precisa de barcos, porque é que não os compram cá?

A pesca em Portugal é um negocio privado, de certeza que há armadores que precisam de barcos, porque não os compram cá?

É na resposta a estas questões que está o problema, é só pensar no assunto.

Jorge Soares
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De Horacio a 29.11.2013 às 16:15

Infelizmente as encomendas não vão aparecer porque no oriente os trabalhares recebem um "salario" de escravo.Em tempos um amigo meu (dono de uma pme) esteve de visita uma fabrica de uma grande multinacional ligada ao ramo de televisões e telemoveis, o que os chineses dizeram querem trabalhar 12 e 14 horas por dia porque não sabem o que fazer no tempo livre, segundo eles moram a 1000 e 2000 kms de casa por isso dorme na fabrica vivem na fabrica, só vão a casa um fds por mês. O que a União Europeia e EUA tem que fazer e regular os produtos vindos dessa zona do planeta(claro que isso vai aumentar os preços) porque senão daqui a 10 anos a economia UE/USA esta morta.
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De :P a 30.11.2013 às 05:49

Pois claro! Tal como se impede (ou tenta) o comércio dos diamantes e do ouro " de sangue" da mesma maneira se deveria proceder em relação a produtos com origem na "escravatura com salário".

Notícia com 2 anos : " trabalhadores do sector têxtil paquistanês em greve por melhoria de salários ", e acrescentava a notícia que a média dos salários naquele sector no Paquistão (com o qual a UE celebrou um acordo qualquer recentemente) - DEZANOVE euros, que presumo semanais.

Documentário sobre aluna brilhante de uma aldeia chinesa - a aldeia da rapariga quotizou-se para pagar os estudos da rapariga, a quantia alcançada foi de VINTE euros.

Com condições destas até eu, que não tenho jeito para o negócio, seria um empresário de sucesso.

Mas pronto, a Louis Vuiton precisa de vender a multimilionários novos ricos orientais e sem a Louis Vuiton a vida não tem sentido.
Quem diz LV diz Audi, Porsche, Mercedes, VW e tutti quanti que, suspeito, deve ser quem mexe os cordelinhos que fazem mover as Merkel e os Durão Barroso deste mundo.
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De Jorge Soares a 01.12.2013 às 23:32

Infelizmente tudo isso é verdade, mas é este o mundo em que vivemos, poderíamos estar aqui horas a discutir sobre formas de taxar e combater as importações de países em que estas coisas acontecem.. mas não nos ia levar a lado nenhum, porque já passamos essa fase e além disso, temos empresas que exportam e muitas delas exportam com base no salário mínimo mais barato da comunidade....

Jorge Soares
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De poetazarolho a 29.11.2013 às 16:23

“Pirataria”

Faz barquinhos de papel
Este país à deriva
Porquê tanto escarcel
Vem política restritiva

Tão restritiva asfixia
Até a construcção naval
Que não voltará um dia
A fazer-se em Portugal

Mete água a embarcação
Tem o casco perfurado
Foi alvo de pirataria

Atacaram a tripulação
Sacaram-lhe o ordenado
Foi um saque à luz do dia.
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De Maria da Luz Castro a 29.11.2013 às 17:25

Muito bom seria encomendas nos estaleiros e um blog sem erros ortográficos.

Muito mal se escreve neste país!
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De Jorge Soares a 29.11.2013 às 19:36

Não sei o que uma coisa tem a ver com a outra, mas agradeço na mesma o comentário e o reparo... prometo ter mais atenção no futuro para que me possa visitar sem ficar escandalizada.

Já agora, sobre o que eu digo no post, tem alguma opinião que possa partilhar comigo e os leitores do blog?

Jorge Soares
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De José C. M. Velho a 30.11.2013 às 00:05

Não é inexorável o encerramento dos Estaleiros Navais de VCT. Aliás, a comoparação com o Oriente é possível para todas as áreas da economia, por esse ponto de vista poderiamos fechar todas as empresas do país e, consequentemente, estranha-se o interesse da Martifer por atividade sem qualquer futuro. Não, não é inexorável o fim daqueles estaleiros, os únicos restantes em portugal, um país que todos unanimemente afirmam ter que voltar a voltar-se para o Mar. Esta opinião do Nosso Mar é agora transversal a toda a sociedade, estamos até empenhados em aumentar a nossa zona marítima. Assim, sendo sim inexorável a nossa viragem ao mar, compete ao Estado Português e ao executivo deste Estado empreender todas as iniciativas para tornar Portugal um país virado para o mar e dele retirar lucro. Um Governo com projeto para o futuro, pensaria naqueles estaleiros como uma aposta para esta viragem, para esse futuro que teremos que viver. Os Estaleiros navais, não constróiem apenas barcos em concorrência com os coreanos ou estranhos negócios com o falecido Chavez. Os estaleiros também fazem reparações de navios, também fazem manutenção de embarcações e seus motores e também podem utilizar as suas tão grandes instalações para diversificar a atividade e construir grandes estruturas na área da metalomecânica, aliás, é esta a anunciada intenção da Martifer, aliás é intenção da Martifer retirar lucro dos estaleiros, no entanto, é intenção do governo, desembaraçar-se de um problema de forma rápida, irrefletida e irresponsável, pois, mais uma vez, jogam com o nosso dinheiro para, irresponsavelmente, perdê-lo. Mais valia que pegassem no nosso dinheiro e o jogassem num casino, preferia, pois desta forma ainda tinha uma leve esperança de ganhar algum, agora desta forma, não tenho nehuma esperança, só tenho uma certeza: está tudo perdido. A única esperança que me resta e me alumia o dia-a-dia é a de esperar que o povo português, mais uma vez, demonstre que a sua paciência tem limites e que é chegado o momento de mudar, não só as moscas, mas mudar a própria merda, porque até aqui só se têm mudado as moscas e o resultado está a vista; cada vez estamos piores, retocedemos civilizacionalmente e o rumo ao futuro que deveríamos prosseguir é hoje visto como uma loucura descabelada que nos tolhe o presente, quando é precisamente o contrário. Temos que fazer algo, mas algo mais profundo, necessitamos uma mudança mais radical e ousada, determinada, um novo abril, antes mesmo do junho de 2014, mas desta vez, por favor, que seja sem essa mariquice das flores vermelhas e que de vermelho tenha apenas o sangue que manche a calçada à portuguesa. É isto um apelo à violência em democracia? É sim senhor e é urgente.
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De José a 30.11.2013 às 08:36

Abstraindo de todas as considerações económicas, qualquer Estado-Nação com águas territoriais (que, supostamente, deve proteger) deve ter uma fábrica de munições e uns estaleiros navais. Assim, em situações de emergência o país não tem de recorrer tanto a terceiros (ou a contratações privadas, que em situação de emergência serão sempre danosas para o país).
Ora, atualmente Portugal não tem nem fábrica de munições (o Cavaco destruiu-a) nem estaleiros navais (o Passos Coelho está a destruí-la). É impressão minha ou foram sempre governos do PSD que asseguraram que Portugal não voltaria a ter capacidade interna de se defender? Isto já dava umas condenações por alta traição, mas continuando o raciocínio...
Não tendo Portugal capacidade de se defender, não sei como terá sequer a marinha portuguesa capacidade para impedir que embarcações de pesca espanhola entrem na nossa Zona Económica Exclusiva (ZEE) e pesquem nas nossas águas, acabando por prejudicar os pescadores portugueses que ainda restam.

Já agora, se querem rentabilizar os estaleiros, que tal o Estado (através da CGD) financiar novas empresas pesqueiras portuguesas, aumentando os postos de trabalho em algumas cidades do litoral afetadas pelo desemprego, aumentando a produtividade nacional e obrigando a que essas novas empresas encomendem as embarcações aos estaleiros navais? Seria uma melhor forma de rentabilizar o espaço (e se calhar com novas encomendas até se criaria mais postos de trabalho em Viana do Castelo). Claro que com isso os ministros não se preocupam, aumentar as exportações de peixe, de conservas!? Para quê? Isso não serve para nada... Criar postos de trabalho em setores produtivos!? Bolas, os novos trabalhadores ainda se sindicalizavam e depois tínhamos novos problemas com os sindicatos... Não, mais vale estarmos e continuarmos falidos.
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De golimix a 30.11.2013 às 20:25

Não sei como anda o mundo da construção naval, e se a nossa é melhor ou pior que a de Koreanos. E se a nossa tecnologia não vale nenhum.

O que sei é vão existir mais famílias em desespero por lá....
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De Jorge Soares a 01.12.2013 às 23:35

É verdade e tal como digo no post isso é lamentável, mas também não é viável termos uns estaleiros com 600 trabalhadores que não tem nada para fazer...

Jorge

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