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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Nasci numa aldeia do distrito de Aveiro, num tempo em que se nascia em casa com uma parteira por obstetra, noutro tempo... agora muito distante.
A minha casa era num lugar donde a escola ficava a um Quilometro e meio, mais coisa menos coisa, e desde os seis anos, lá ia eu, a pé para a escola, todos os dias. Acompanhado pela chuva do Outono, a geada do Inverno ou o calor do verão, uma parte pela estrada, outra pelos atalhos que cruzavam pinhais e campos numa vã tentativa de encurtar caminhos.
Um dia, andaria eu na terceira classe, eu o Quim Faianca, meu colega de caminho, descobrimos um novo atalho, que passando por entre campos de milho e batatais, encurtava duas ou três curvas ao caminho. A meio, na separação de dois terrenos, havia um medronheiro, naquele dia coberto de flores brancas. Na altura nem reparamos, mas de vez em quando lá passávamos, e pouco a pouco as flores foram passando a pequenas bolinhas verdes, que com o tempo passariam a bolas amarelas já rosáceas a meio da primavera, que mais tarde passariam a um vermelho vivo no inicio do verão e por fim a vermelho escuro, quase cor de vinho... quando as aulas estavam prestes a terminar.
Nós íamos passando por lá, um dia sim outro não, até que um dia reparamos que os melros e os pardais começavam a assentar arraiais na árvore em busca de um festim de frutos doces. Nesse dia, decidimos que estava na altura e na volta para casa... paramos lá.
O Quim, muito mais afoito a essas coisas que eu, subiu à pequena árvore, eu fiquei cá em baixo, comi todos os que estavam ao alcance da minha mão... e depois, ele ia atirando dos que estavam lá em cima. Há medida que íamos comendo, íamos ficando mais barulhentos, mais faladores, até que de repente, num movimento mal calculado a um caxo de medronhos mais distante, o Faianca estatelou-se no chão...e eu, após uns segundos de silêncio, desatei ás gargalhadas...... Ri feito doido, sem conseguir parar e a olhar para ele. Ele olhou para mim, levantou-se e riu comigo.
Depois disto, não consigo recordar muito mais, sei que fizemos o restante caminho até casa entre sorrisos e tropeções... e que cheguei a casa e a sentia às voltas, em lugar de ir almoçar, fui directo à casa de banho..... e despejei o estômago até à bílis... E consigo recordar uma enorme dor de cabeça que me acompanhou o resto do dia... e de que só passados quase 20 anos desenjoei dos medronhos e pude voltar a comer um!
Jorge
PS:Imagens retiradas da internet