
Nos últimos dias e a propósito de casamentos, tem-se falado muito de descriminação no nosso país, infelizmente a descriminação não se esgota nos casamentos, vai muito mais além, aliada desta vez à ignorância.
Este post da Sonia chamou-me a atenção para esta noticia do Publico. Já aqui tinha falado sobre isto, a minha opinião não mudou entretanto, vou copiar aqui o post que fiz no dia 20 de Novembro do ano passado.... as minhas desculpas a quem já o leu.
O caso do dia é a sentença que dá razão a um Hotel no despedimento de um cozinheiro simplesmente porque era HIV - positivo, isto apesar de todas os pareceres científicos que dizem que a probabilidade de alguém apanhar o vírus através do seu contagio, andar na mesma ordem de grandeza que a de se ganhar o Euromilhões.
Isto tudo fez-me recordar uma pessoa que conheci por acaso e de maneira efémera, há muitos anos atrás.
Algures no ano 1992 ou 93, estava eu na loja da Valentim de Carvalho no Rossio... acho que já não existe, e acercou-se a mim um jovem, teria mais ou menos a minha idade, tinha um alicate e arame de cobre na mão, enquanto falava ia moldando o arame. Disse o nome, e que era portador do HIV, falou-me do vírus, e das dificuldades que sentia, ele e os portadores, para poder viver na nossa sociedade.
No fim da conversa, ele tinha moldado um quebra-cabeças de arame, e disse-me que era para mim, não custava nada, mas que agradecia se eu o pudesse ajudar com algum dinheiro, não era fácil a vida para ele, não conseguia arranjar emprego.
Eu era um estudante deslocado em Lisboa e sem muitas posses, ofereci-lhe 500 Escudos, e algumas palavras, para a média eu era uma pessoa informada sobre o assunto, disse-lhe isso e algumas outras coisas, lembro-me de no fim lhe ter apertado a mão e senti que ele ficou surpreendido, comovido, percebi que ele não estava à espera de aquele aperto de mão.
Ora isto foi em 1992 ou 93, na altura não existia a informação que existe agora, não sei o que terá acontecido com aquele ser humano, como não sei o que aconteceu com o quebra-cabeças de arame, de vez em quando lembro-me dele. Estamos em 2007, passou muito tempo, vivemos na era da informação, do google, todos deveríamos saber que o HIV é só mais um vírus, como é possível que três juízes dêem uma sentença destas?
E já agora, o que é que estes juízes acham que esta pessoa deve fazer para viver?, ir pela rua com arame de cobre e um alicate a fazer quebra cabeças?
Justiça, procura-se!
Jorge
PS:imagem retirada da internet