Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




As memórias do meu avô ferreiro

por Jorge Soares, em 27.10.08

Ferreiro

 

 

Parece que o post de ontem deixou muita gente a salivar por morangos, como dizia a Mieepe, falta muito para a primavera, e para os morangos, mas eu vou continuar com as minhas memórias...e com a casa dos meus avós.

 

Por debaixo do quarto onde nasci ficava a oficina do meu avô, uma forja, uma bigorna, muitos martelos, barras de aço e uma pia com água onde era arrefecido o ferro incandescente. O meu avô era ferreiro. Não sei se alguma vez terá feito ferraduras, imagino que sim, mas não foi no meu tempo. Lembro-me sim de que fazia foucinhas, podões, machados, e que reparava enxadas partidas, forquilhas sem dentes e  panelas de ferro. Aquelas panelas de três pés que vemos nos desenhos animados e nos filmes, o meu avô reparava-as.

 

A oficina era um lugar luminoso, tinha uma janela enorme, e lembro-me de ir lá muitas vezes, o meu avô deixava-me dar ar à forja, eu pegava nas duas pontas de madeira, apertava com força e ficava feliz por ver a chama subir e os carvões ficarem vermelhos incandescentes. O metal era colocado ao fogo até que ficava num vermelho vivo, colocado sobre a bigorna e martelado, de novo colocado no calor da forja e de novo martelado,até que ganhava a forma desejada.

 

Tenho a certeza que se procurar bem, em casa dos meus pais ainda há alguma foucinha com a marca do meu avô, e que o podão que me deixou a cicatriz na mão há trinta anos atrás e que continua a servir para cortar a lenha para a lareira, tem essa marca.

 

O tempo passa e com as pessoas morrem as profissões, ferreiros, carvoeiros, tanoeiros, barqueiros, amoladores, aguadeiros, cesteiros, moleiros, sapateiros, cantoneiros, caldeireiros, cadeireiros,.... são tudo profissões que já existiram, que foram úteis, e que morreram. O meu pai é mecânico...será que os meus netos vão saber o que era um mecânico?

 

Jorge

PS:imagem retirada da internet

PS2:Tudo isto vem a propósito deste post da Perfume e do seu avô carvoeiro.

 

 

publicado às 22:13


8 comentários

Sem imagem de perfil

De Maria Eugénia Pinto a 28.10.2008 às 11:04

Sou "uma menina da cidade". Mas, curiosamente as minhas melhores memórias de infância são as passadas nas férias nas aldeias dos meus pais (perto de Braga). Ao fundo da quinta que era do meu avô paterno corre o rio Homem. Em cada margem existe dois moinhos (hoje recuperados e transformados em casa de férias de alguém!). As pessoas íam lá entregar o milho para ser moído para fazer o pão. E, das lembranças mais vivas que tenho é a de ir com os meus irmãos e os filhos da moleira entregar a farinha às pessooas em cima de uma mula! E, como esta tantas outras tão boas!
Obrigada por me fazeres recordar!!!!
Beijo
Imagem de perfil

De Jorge Soares a 30.10.2008 às 22:14

Olá

Todos temos recordações de infância, é bom recordar, significa que vivemos.

beijinho
Jorge
Sem imagem de perfil

De Miepeee a 28.10.2008 às 14:51

Eh la fui mencionada no post , uma honra sem duvida :)
Nao creio que os nossos netos tenham a possibilidade de ver um ferreiro trabalhar, mas mecanicos penso que vao sempre haver, afinal cada vez existem mais carros e como tal temos que os levar as oficinas. No entanto ha outras profissoes que praticamente desapareceram, ja ninguem ve o oleiro, o carvoeiro, o sapateiro (esta quase em vias de extincao), entre outras.
Tem graca que ainda existe a profissao do meu avo que era guarda freio nos electricos da Carris.
Beijinhos.
Imagem de perfil

De Jorge Soares a 31.10.2008 às 20:50

Na verdade é uma honra ter-te por cá.

Não sei não, acho que no futuro quem vai tratar dos carros são os eng. Informáticos e os electrótécnicos.

Mas Guarda freios parece que vai haver :-)

Beijinho
Jorge




Sem imagem de perfil

De João Martins a 30.12.2008 às 03:22

Olá a todos,

E cá ando eu outra vez às tantas da manhã à procura de referências a ferreiros em vez de estar a trabalhar :)

Hoje encontro-me numa de "fazer publicidade" - só espero que não seja inapropriado, mas não resisti em responder a este comentário em particular.

"Nao creio que os nossos netos tenham a possibilidade de ver um ferreiro trabalhar"

Se eu puder ter alguma coisa a ver com o assunto, estará errada! Tenho de concordar que Portugal, no que toca a artesanato, e, em particular, ao ferro forjado, está num estado lastimável.

No entanto, "lá fora" já se vive um autêntico renascimento desta arte, com organizações concorridas como a British Artist Blacksmith's Association (BABA) e a Artist Blacksmith's Association of North America (ABANA), ambas com acrónimos particularmente engraçados na nossa língua ;) Uma pesquisa rápida no google deverá levar-vos aos sites respectivos, caso estejam interessados.

Agora a parte da publicidade... para tentar colmatar esta falha, esta inexistência de "ponto de encontro", criei há algum tempo (nem sei quanto!), um fórum online sobre o assunto, que se encontra em www.ferroforjado.org/forum/. Infelizmente, devido a deveres académicos, não tenho tempo para perseguir estas minhas inclinações, quer metendo as mãos à obra com martelo e tenazes, quer dinamizando mais o fórum, que está muito vazio e parado.

Escrevo isto na esperança que alguém que venha dar a esta página procurando por "ferro forjado" na internet tenha mais algum sítio onde se dirigir e encontrar com pessoas de interesses similares.

Penso que já me estou a alongar um pouco, portanto fico-me por aqui. Espero ter deixado alguma esperança no que toca à manutenção destas artes! Ainda por aí há, nestas novas gerações, algumas almas perdidas que procuram reavivar, reviver, e redescobrir o artesanato tradicional...

Espero não ter maçado ninguém, e que não me tenha intrometido demasiado. Escusado será também dizer que gostei muito do post original :)

Sinceramente,
João Martins

P.S: ah, e já agora, se por acaso se quiser desfazer de alguma "tralha de ferreiro" que esteja a ocupar espaço... ;)

Um feliz ano novo para todos!
Imagem de perfil

De DyDa/Flordeliz a 28.10.2008 às 21:22

O Jorge está nostálgico e não tarda nada fala do cheirinho a canela ou do aroma da resina das pinhas assadas abertas ao calor da lareira.
É! Vem ai o Natal amiguinho!...
Já agora te digo que o meu avó era:
Empregado fabril;barbeiro; tocava clarinete além de gostar de um copito de "clarete". E no Natal era ele quem fazia as rabanadas e a minha mãe fala que eram deliciosas.
Imagem de perfil

De Jorge Soares a 31.10.2008 às 20:54

Olá

O teu avô era cá dos meus... o homem dos sete ofícios..... mas amiga, para os meus lados o aroma da resina só se for dos potes dos resineiros... que me consta que o meu pai ainda foi... essa das pinhas assadas... não conhecia... mas lembro-me dos tartulhos assados na brasa com umas pedras de sal... conheces?
Beijinho
Jorge
Sem imagem de perfil

De Diogo a 31.10.2010 às 21:30

Ferreiro e uma profissão quase "esquecida".
Ainda bem que encontrei este Blog. Posso te dizer que nem imaginas sequer a Precisão e experiência necessária para forjar Aço, da forma Correcta, e também Temperalo no Carvão a Olho nu.

Estou a Falar do que sei, sou Ferreiro(Tempos Livres), provavelmente um dos Poucos em Portugal. New Gen,Visto que tenho 21 Anos.

Pessoalmente ainda não consigo controlar a temperatura ideal de forja nem de temperamento a Olho e tenho de Usar um imen, sim...

O Aço quando aquece aquilo que nos chamamos temperatura não-magnética esta na temperatura ideal para Forja ou Endurecimento.

Eu poderia ficar Aqui a falar e falar acerca da Profissão mas só vos ia dar uma Seca.Se alguém precisar de saber alguma coisa pode perguntar.

Cumprimentos

Comentar post



Ó pra mim!

foto do autor


Queres falar comigo?

Mail: jfreitas.soares@gmail.com






Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2009
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2008
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2007
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D