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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
No outro dia estava a partilhar umas fotografias com a Flor e quando ela viu esta, a conversa foi mais ou menos assim:
- E o que é esta coisa laranja? - Pergunta a Dona Flor.
-Uma cabaça
-Na na, uma cabaça é aquela que se seca para fazer de odre do vinho
-Sim, isso é uma cabaça, mas esta também é, de outro tipo, mas é cabaça.
-na na, cabaço, ou abóbora!
-Também, mas também é uma cabaça, nunca ouviste falar da Cabaça menina?
A conversa prolongou-se e a Flor até escreveu este post, onde há cabaças e chilas, e eu fiquei a pensar em como há palavras que ficam, porque apesar de eu ter saído há 30 anos da terrinha, há palavras que continuam comigo, palavras que só ouvi lá e que me trazem recordações de sabores, de cores, palavras que me fazem sentir de lá, palavras minhas.
Quando eu era pequeno mais ou menos nesta época depois das primeiras chuvas, ia aos tartulhos com o meu pai, que abríamos e assávamos na brasa de alguma borralheira.. era só juntar umas pedras de sal, uma delicia.
A minha mãe fazia o estrugido com o unto que ficava dos rejões e tapava a panela com o testo. O meu irmão gostava do pão trigo barrado com unto, mas eu preferia a trigamilha com pêssegos carecas, ou o pão de Ul com uvas maduras.
No natal a minha mãe fazia bilharacos de cabaça menina, são deliciosos com canela, mas eu prefiro as rabanadas de vinho tinto, feitas de cacetes duros que o padeiro traz na semana anterior.
Ainda hoje quando vou de visita à terrinha, gosto de beber o vinho americano por uma malga de caldo, mas dispenso sempre o caldo de couves que o meu pai prefere com arroz. O que não dispenso é a chouriça feita com a carne da matança do porco e que eu acompanho com a melhor broa de milho. E para sobremesa ou para o lanche, regueifa com marmelada e queijo.
Há uns anos, já eu namorava com a P., fomos a Braga e no bom Jesus havia um letreiro que dizia, "É proibido calcar a relva"... tive que ir buscar um dicionário para lhe mostrar que calcar existe mesmo...
É isso, há palavras que nos beijam...e nos deixam um aroma de frescura. Agora desculpem lá se nada disto faz sentido, mas apeteceu-me despejar as palavras, e atrás delas vieram as nostalgias, os aromas e os sabores... se não perceberam nada.... devem ser do Sul.
Se forem para os lados de Oliveira de Azeméis, não deixem de provar o pão de UL, a Regueifa e a chouriça.... com vinho americano.
Jorge
PS:Imagem minha.. é uma cabaça menina.