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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
As couves para o jantar do natal são plantadas mais ou menos pelo São Martinho, a minha mãe semeava o leirão no fim de Setembro, se o ano fosse bom e a geada não as queimasse, para o São Martinho estavam em condições de serem colhidas e plantadas na horta. Ela semeava sempre um leirão a mais com a ideia de as ir vender.
De Alviães a Telhadela é mais ou menos uma hora de caminho a pé, por entre pinheiros e eucaliptos, o velho caminho de terra segue a encosta do rio Caima até que já à vista das primeiras casas o atravessa pela velha ponte.
Eu devia ter uns 5 anos, a minha mãe acordou-me de madrugada, muito antes do sol nascer, o velho cesto com as couves arrancadas à terra na tarde anterior estava pronto. Um pouco de agua para que arrebitassem, cesto à cabeça, e fizemos-nos ao caminho. Noite escura como breu por entre os montes, sem luz nem lanterna, lá fomos andando, sem medos que eram outros tempos.
A seguir à ponte e antes das primeiras casas havia um bosque de castanheiros, estávamos quase a chegar, de repente por entre o mato ouvimos um ruído, o meu coração acelerou mas não dei parte de fraco:
-Mãe, não tenhas medo, eu estou aqui contigo!
Chegamos às primeiras casas com a aurora, em menos de nada todas as couves estavam vendidas e um punhado de escudos estava bem guardado, quando voltamos a passar pelos castanheiros já o sol se levantara e as castanhas eram visíveis dentro dos ouriços. Nessa altura o cesto que havia sido das couves molhadas, passou a ser das castanhas para o magusto.
Agora ninguém vai a Telhadela a pé, imagino que o caminho terá sido invadido pelas silvas e o mato, já ninguém vende couves num cesto à cabeça e já não restam meninos valentes.
Jorge
PS:Imagem retirada da internet