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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Na estrada que vai da Bemposta para Oliveira de Azemeis e que passa por Palmaz, antes de chegar ao cruzamento para Alviães, há uma quinta com castanheiros, disse há, porque ela ainda lá está, é um lugar de uma beleza rara com uma vista incrível sobre a Ria de Aveiro, que vai desde o farol da Barra até o Furadouro. Uns metros mais acima havia um terreno com dois castanheiros de melhor qualidade, as castanhas eram maiores, assim como o muro que era necessário subir para lá chegar.
Não consigo precisar que idade teria na altura, imagino que 7 ou 8 anos, a minha idade da liberdade. Tínhamos aulas de manhã e tirando uma ou outra ajuda no amanho dos campos, a tarde era por nossa conta, andávamos livres por ali. No Outono era certo e sabido que as incursões aos castanheiros eram obrigatórias.
O grupo era o do costume, o Quim Faianca, o meu primo Rogério e eu, a estratégia também era mais ou menos a do costume e já utilizada muitas vezes por outros reguilas de ocasião. Alguém levou os sacos plásticos no bolso, entramos pela parte de trás, onde está a capela do São Gonçalo, fizemos uma surtida pelos ouriços espalhados pelo chão e saímos pela parte da frente, directamente para a estrada, sacos na mão bem pesados das castanhas.
Correu bem a coisa, entramos e saímos sem que ninguém desse por nós. Já na estrada passamos pelos outros castanheiros, como a coisa estava a correr bem, decidimos brincar com a sorte, afinal ali as castanhas eram maiores.... com maior (eu) ou menor dificuldade (eles), lá subimos mais um muro e toca a apanhar mais castanhas.
Estávamos tão concentrados na apanha e nos ouriços que nem demos pela chegada do Mário dos pés tortos, o caseiro do terreno, que de repente desata a gritar connosco, larápios de ocasião. O homem tinha os pés tortos, mas ou porque estava muito perto, ou porque estávamos mesmo distraídos, quando demos por ele estava em cima de nós, arrancamos a correr..... eu sempre fui lento, e com o saco na mão ainda mais, parece que me estou a ver, quando achei que estava quase a ser caçado, larguei o saco e as castanhas e só parei em casa, nem me lembro como saltei o alto muro.
O homem ficou com as castanhas e passado um ou dois dias já a minha mãe sabia a historia, à custa de que as castanhas não eram todas dali lá me safei da coça... mas ainda hoje não posso ver o raio do homem dos pés tortos, que não tinha nada que ficar com as castanhas que eram da outra quinta.
Jorge
PS:Fotografia minha, vista do são Gonçalo para a Ria, do lado direito estão os castanheiros... que ainda existem