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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Hoje à tarde no Rádio Clube o tema era a violência familiar, somos um país estranho, por um lado somos pioneiros e dos povos que aderem mais rapidamente a algumas coisas, o multibanco, a internet, o telemóvel, por outro lado há coisas que não mudam, e temas que são tabu.
Todos ouvimos falar das vitimas de carjacking, ou do aumento da criminalidade, mas ninguém ouviu falar das 48 mulheres que morreram assassinadas durante o ultimo ano. 48 mulheres é quase uma por semana. Pessoas que morrem por vezes de forma brutal e macabra, mas que por algum motivo estranho não aparecem na abertura do telejornal, ou nas primeiras páginas dos jornais.... parece que há casos em que nos limitamos a olhar para o lado.
Morreram duas pessoas em assaltos de carjacking e estivemos dias, semanas a ouvir falar do assunto, morre uma mulher por semana vitima da violência familiar..... e ninguém ouve nada sobre o assunto... alguém me explica o que é que se passa?
A propósito do meu post de sexta sobre os comentários de Dom José Policarpo, dizia a minha amiga Flor o seguinte.
"Queimada Viva" é um livro que li que me chocou pela brutalidade e falta de dignidade pelo ser humano (neste caso a mulher).
Este relato é feito na primeira pessoa. Não é um crime do passado. É dos nossos dias (como muitos que não tiveram a sorte "se se pode chamar de sorte a sobreviver depois de ser queimado vivo por um familiar" de passarem até nós)!
Não li o livro, acredito que reflicta alguns casos reais, há uma ou duas semanas atrás li uma reportagem no Diário de Noticias sobre a violência familiar em Portugal, havia 4 ou 5 relatos impressionantes, deixo aqui uma parte de um deles:
Numa discussão meses antes, o marido de Célia matou o cão e disse-lhe que era para não a matar a ela. Mas avisou-a de que seria tão fácil fazê-lo como fez com o animal. Ela já tinha escondido facas, já se escondera com os filhos, mas não descobriu a arma que ele guardava no quarto. No dia 17 de Outubro de 2000, ele não veio jantar. Ela só teve tempo de "arrumar a cozinha e tratar dos três filhos". O homem chegou e mandou-os para a cama. A filha mais nova viu o pai pegar na arma e gritou: "Não mates a mãe, não mates a mãe!" Nada o demoveu. Disparou três tiros sobre a mulher, que "perdeu os sentidos".
Isto não é algo que saiu de um livro, é algo que saiu da vida real, algo que se passou no nosso país, com pessoas reais, na reportagem não dizia, mas imagino que seriam católicas e casadas pela igreja.
Não faço ideia de quantos casamentos interreligiosos haverá por ano em Portugal, imagino que muito poucos, e entre católicos e muçulmanos haverá no máximo um ou dois, somos um povo racista...essas coisas ainda não acontecem.
Sei sim que durante o ano passado morreram 48 mulheres vitimas da violência, atendendo às estatisticas, 95% dessas mulheres seriam católicas e de certeza casadas pela lei da igreja, e disso não ouvi a o cardeal falar, bem pelo contrário, a igreja continua a ser contra o divorcio, continua a achar que a mulher deve ser submissa e aguentar, como sempre aguentou. Em suma, a igreja é cúmplice e fala de coisas que não interessam a ninguém, de coisas que só contribuem para acirrar os ânimos, mas não fala daquilo que realmente interessa..do que realmente se passa no país.
Jorge
PS:imagem retirada da internet