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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
É uma notícia que é recorrente, foi em Fevereiro de 2010 que escrevi o Post, Em Portugal há quem morra de solidão, na altura tinham sido encontradas mortas 9 pessoas que viviam sós, passaram dois anos e o que constatamos é que nada mudou, hoje a noticia fala de 10 idosos encontrados mortos em apenas seis dias..
Vivemos tempos estranhos, nunca como agora as pessoas estiveram tão próximas umas das outras, por muito grande que seja a distancia física, nunca foi tão fácil comunicarmo-nos com quem está longe, as redes sociais acercaram-nos das pessoas e do mundo. A grande maioria de nós comunica todos os dias com dezenas, centenas e até milhares de estranhos... o messenger, o Facebook, os blogs.... colocam-nos à distância de um clik de milhares de pessoas... e, também falo por mim, quantas vezes falamos com as pessoas mais próximas de nós?
Acredito que muitas vezes as pessoas estejam sós porque foi isso que escolheram para as suas vidas, mas o facto de escolherem estar sós não deveria significar que tenham que estar esquecidas... e o que vemos é que há muita gente esquecida... esquecida pelos seus, esquecida por quem está à volta..esquecida pelo mundo. Parece que quando alguém deixa de ser produtivo, passa a ser dispensável, peso morto para o mundo.
Quando ouço noticias destas o primeiro que penso é "onde anda a família destas pessoas?", acredito que um ou outro não a tenha, mas são centenas, milhares de pessoas sós, a maioria terá filhos, netos, irmãos... alguma vez teve amigos, ninguém vive uma vida inteira na solidão, de uma ou outra forma terá deixado a sua marca no mundo, porquê terminam assim?, abandonados por todos?
Acredito sinceramente que o estado podia fazer algo mais para evitar que estas coisas aconteçam... mas este é um daqueles casos em que não acho que seja o estado a falhar... quem falha somos todos nós, falhamos como seres humanos e como sociedade.
Pense lá, quando foi a última vez que falou com os seus?.. não haverá alguém que até sabemos que está só e a quem poderíamos dar uma palavra de conforto?
«Morrer é só não ser visto.»
A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
Fernando Pessoa
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Stou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
(Notícias Ilustrado, n.º 29, 30 de Dezembro de 1928)
Serra da Estrela, Dezembro de 2010
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Chove. É dia de Natal
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa
Imagem Minha do Momentos e Olhares
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Somos o que vivemos...
Algures numa praia de Portugal
Outubro de 2010
Jorge Soares
Imagem Minha do Momentos e Olhares
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa, "Cancioneiro"
Este é mesmo um sino da minha aldeia... está no portão da casa dos meus pais quase escondido pela enorme roseira que passa em arco por cima do portão... num fim de tarde de verão, ficou assim... a contraluz.
Alviães, Palmaz, Oliveira de Azeméis
Agosto de 2010
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
– Casava com um homem cego
E ia morar para a Estrela.
Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria a tua mãe?
– (Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.
E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida
No sentido de morrer?
– Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia?
– Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.
Álvaro de campos
Jorge Soares
Imagem Minha do Momentos e Olhares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Sim, talvez tenham razão.
Talvez em cada coisa uma coisa oculta more,
Mas essa coisa oculta é a mesma
Que a coisa sem ser oculta.
Na planta, na árvore, na flor
(Em tudo que vive sem fala
E é uma consciência e não o com que se faz uma consciência),
No bosque que não é árvores mas bosque,
Total das árvores sem soma,
Mora uma ninfa, a vida exterior por dentro
Que lhes dá a vida;
Que floresce com o florescer deles
E é verde no seu verdor.
No animal e no homem entra.
Vive por fora por dentro
É um já dentro por fora,
Dizem os filósofos que isto é a alma
Mas não é a alma: é o próprio animal ou homem
Da maneira como existe.
E penso que talvez haja entes
Em que as duas coisas coincidam
E tenham o mesmo tamanho.
E que estes entes serão os deuses,
Que existem porque assim é que completamente se existe,
Que não morrem porque são iguais a si mesmos,
Que podem mentir porque não têm divisão [?]
Entre quem são e quem são,
E talvez não nos amem, nem nos queiram, nem nos apareçam
Porque o que é perfeito não precisa de nada.
Alberto Caeiro
Pequena papoila que cresceu entre as pedras da calçada portuguesa
Setúbal Abril de 2010
Jorge Soares
Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
— Tirava os brincos do prego,
Casava c'um homem cego
E ia morar para a Estrela.
Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
— (Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.
E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida
No sentido de morrer?
— Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia?
— Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.
Comunicado pelo Engenheiro Naval
Sr. Álvaro de Campos em estado
de inconsciência
alcoólica
Imagem Minha do Momentos e Olhares
Há dias assim, não me saem as palavras, eu ia falar do natal em Nova Iorque.. ou do que dele passei.. mas por mais voltas que lhe dê, não sai, fica para outro dia... depois do natal talvez. Amanhã vou seguir as palavras do poeta e tentar comprovar que é verdade, lá para norte é melhor... Este ano o natal no Alentejo foi mais cedo, de modos que vai haver menos Kms, amanhã rumo a Oliveira de Azeméis e depois do natal uns dias em Seia. Desejo a todos um feliz natal, cheio de gente, de alegria, de prendas, de comida, de tudo o que mais desejarem... cuidado com os excessos.. mas a alegria nunca fez mal a ninguém, divirtam-se.
Chove. É dia de Natal
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa
Jorge Soares