Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
Dizem?
Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Disseram.
Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.
Por quê
Esperar?
Tudo é
Sonhar.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Desculpem lá, mas hoje não há opiniões... vou ali pensar numas respostas e já volto!
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Chove? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia ?
Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...
E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...
E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.
Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuro, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...
Fernando Pessoa
Imagem minha do Momentos e olhares
Viver
Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?
E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?
Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projecto de abri-la
sem haver outro lado?
O projecto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?
Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?
Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'
A vida são muitas coisas, muitas escolhas, muitos caminhos cruzados, muitas oportunidades perdidas, muitas outras agarradas com ambas as mãos... mas no fim, tudo se resume a Somos o que vivemos.
Setúbal, Outubro de 2010
Jorge Soares
Ser criança
Ser criança
é ter esperança
É ter a alegria
de viver o mundo.
É ter uma chave
uma chave para o futuro.
É viver no mundo de imaginação.
É encarar o mundo,
é tê-los nas mãos.
É olhar o mundo
de maneira diferente.
É sonhar é viver ,
É ser diferente.
Raquel Soares
10 anos
Imagem minha do Momentos e olhares
A mulher
Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
Florbela Espanca
Setúbal
Março de 2010
Jorge Soares
... nós é que insistimos em a complicar!!!!!!!!
Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
Fernando Pessoa
Imagem minha do Momentos e Olhares
Nascemos para amar; a humanidade
Vai tarde ou cedo aos laços da ternura:
Tu és doce atractivo, ó formusura,
Que encanta, que seduz, que persuade.
Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão n’alma se apura
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.
Qual se abismou nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos descorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.
Amor ou desfalece, ou pára, ou corre,
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.
(Bocage in "Obra Poética" 1997)
Patos Mandarim no Jardim do Bonfim
Setúbal
Dezembro de 2009
Jorge Soares
Fotografia minha de Momentos e olhares
DA MINHA ALDEIA vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.
Alberto Caeiro, em "O Guardador de rebanhos"
Parque Moilinológico de Ul, Ul, Oliveira de Azemeis, Aveiro
Apr 4, 2009, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 100 Exposição: 1/125 seg. Abertura: 11.0 Extensão focal: 26mm
Imagem Minha retirada de Momentos e olhares
Com um lindo salto
Lento e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pisa e passa
Cuidadoso, de mansinho
Pega e corre, silencioso
Atrás de um pobre passarinho
E logo pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
Se num novelo
Fica enroscado
Ouriça o pêlo
Mal humorado
Um preguiçoso
É o que ele é
E gosta muito
De cafuné
E quando à noite
Vem a fadiga
Toma seu banho
Passando a língua pela barriga.
Vinicius de morais
Um gato na Baixa de Setúbal
Jorge Soares
Mar 28, 2009, Câmara: SONY DSLR-A350,ISO: 200,Exposição: 1/1600 seg.,Abertura: 5.6,Extensão focal: 200mm, Flash: Não
Fotografia minha de Momentos e olhares
Solidão
Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso
Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio
É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou
Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna
Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Nov 9, 2008, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 320, Exposição: 1/320 seg.,Abertura: 5.6,Extensão focal: 200mm
Fim de tarde de Novembro na praia do Meco,
Sesimbra, Setúbal
Novembro de 2008