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Educação - Trabalhar para o ranking

por Jorge Soares, em 07.05.15

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Imagem de aqui

 

Não sei quando começou, mas pelo menos desde que a R. está no liceu de Setúbal, todos os anos no mês de Maio a disciplina Moral organiza com um grupo de alunos um fim de semana de acampamento na serra da Arrábida. Arranjam tendas, sacos cama, tudo o que é necessário, metem os miúdos num autocarro e rumam à zona de Picheleiros.

 

Durante o fim de semana os miúdos tem que montar as tendas, organizarem-se para cozinhar, fazer caminhadas pela serra, .. tudo isto com o objectivo de promover o convívio e a camaradagem.

 

Este ano a actividade estava marcada para o primeiro fim de semana de Maio, os miúdos já se estavam a organizar e a contar com mais um fim de semana de convívio, até que de repente tudo foi cancelado.

 

O director do liceu proíbe durante o terceiro período qualquer actividade organizada, mesmo que seja ao fim de semana... isto porque os miúdos tem é que se concentrar em estudar para tirar boas notas para o Ranking... .. sim, foi esta a explicação dada pela docente de moral aos miúdos.

 

Curiosamente parece que no inicio do ano quando a turma da R esteve até Novembro sem professora de matemática  o senhor não tinha essa preocupação, nem a teve quando na reunião do fim do primeiro período os pais nos indignamos com o facto de a turma ter tido menos de metade das aulas de matemática e exigimos saber o que faria o liceu para compensar essas aulas.... após consulta com a direcção resposta da directora de turma foi que não se podia fazer nada.

 

Sempre achei que o Ranking das escolas era uma enorme estupidez porque  compara realidades que dificilmente são comparáveis. Como se pode comparar uma escola com umas dezenas de alunos com uma com milhares? Como se pode comparar uma escola do Restelo com uma da Cova da Moura? Ou uma de Campo de Ourique com uma de um qualquer concelho do interior onde os miúdos por vezes demoram horas a chegar da aldeia onde vivem à escola?

 

Curiosamente na ultima reunião com os pais uma das coisas de que a directora de turma se queixou foi da falta de espírito de grupo da turma, houve inclusivamente uma mãe que sugeriu que se encontrasse a forma deles se encontrarem e conviverem fora da escola... alguém devia falar disso ao senhor director, há coisas mais importantes que os rankings, queremos que a escola forme pessoas, cidadãos, não máquinas.

 

Jorge Soares

publicado às 22:21

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Imagem de aqui

 

Boa tarde,

Antes de mais, gostaria de deixar bem claro que não tenho como intenção apontar o dedo a ninguém, nem julgar, nem reclamar. Apenas gostaria de partilhar convosco a minha experiência e, quem sabe, talvez um dia possa ajudar alguém para que não aconteça com mais ninguém o que nos aconteceu.

 

O meu filho, depois de 10 anos de muita luta, foi finalmente diagnosticado com Síndrome de Asperger, em Dezembro passado. Sempre tivemos muitos problemas com ele e, principalmente a escola, devido ás suas dificuldades na interacção social.

 

O inicio deste ano escolar foi particularmente difícil. Mudou de ciclo e, como tal, de escola e de DT - tudo coisas que por si só já são complicadas. O pior foi o Director de Turma que mudou. O do ano passado era um anjo vindo do Céu para o orientar e ajudar. Ele sentiu muito essa "perda". A nova DT é uma pessoa muito agressiva, fria e sem qualquer paciência para alguém como o meu filho.

 

Fizemos várias reuniões com a escola, sozinhos e com a presença de uma psicóloga privada que contratámos, já que o SNS achou que ele não carecia de acompanhamento, com o intuito de pedir ajuda para ele - para os consciencializar para as dificuldades dele e a necessidade de uma abordagem um pouco diferente, mas a escola recusou veementemente em aceitar que ele tinha sequer qualquer dificuldade ou problema! Tinha no seu Plano de Educação Individual as adequações que o serviço de Educação Especial achou conveniente e mais nada. No ponto de vista da escola, tratava-se de um miúdo preguiçoso e pouco disciplinado, mas que de resto era tão normal e adaptado como qualquer outro aluno, e a carga negativa foi fulminante desde o primeiro dia.

 

Pedimos para valorizarem o positivo. A resposta foi um ataque brutal a TUDO de negativo. Implicaram porque não fazia os TPC. Pedimos ajuda para ele os fazer na escola, pois em casa, na cabeça dele, não era lugar para fazer as coisas da escola. A escola recusou. A disgrafia dele mantinha-se acentuada. Pedimos á escola que o deixassem entregar trabalhos em suporte digital (no PC). A escola recusou. Ele, ao abrigo do artigo 3/2008 deveria de estar numa turma de tamanho reduzido. Foi recusado e ele integrou numa turma de quase 30, incluindo alunos repetentes e destabilizadores.

 

O resultado do primeiro período foi uma desgraça. Teve 3 negas. Fiquei aterrada, pois ele é aluno de inteligência acima da média que nunca tinha tido notas semelhantes a estas. Falámos com ele e resolvemos fazer um acordo e um esforço para melhorar. Sem qualquer ajuda ou envolvimento da escola, ele no final do segundo período tinha subido de 3 negas para apenas 1 e ainda teve 5 quatros! Subimos todos aos céus de felicidade. A resposta da escola foi considerar que ele tinha tido apenas uma "ligeira melhoria" e que iria manter a imposição total do seu cumprimento com todos os projectos propostos.

 

No inicio do 3º período tudo piorou dramaticamente. O meu filho estava desanimadissimo com a reacção da escola ao seu esforço monumental. Na 6ª Feira passada, depois de mais uma reclamação da escola por ter TPCs inacabados/mal feitos aconteceu o que não desejo a NINGUÉM neste mundo. O meu filho acabou por pôr termo á vida. Tinha 14 anos.

 

Sabíamos que ele estava sob uma pressão desumana por parte da escola mas nunca, NUNCA em mil vidas nada os levou a pensar que isto seria sequer ponderável.

 

Portanto, deixo aqui um apelo para TODOS os professores e pais deste país e deste mundo. A vida de uma criança é o nosso maior tesouro. Por favor, NUNCA desvalorizem um pedido de ajuda de uma mãe. Não há NINGUÉM neste mundo que conheça melhor o seu filho do que ela. Se ela acha que precisa de ajuda, ajudem. Mas ajudem de coração. Nem que seja por indulgência, porque a dor que uma mãe sente ao perder um filho por quem pediu ajuda a tantas pessoas, tantas vezes e com toda a força que tem é algo que é indescritível.

 

Não aceito que qualquer situação politica justifique a falta de humanidade que hoje se vive diariamente nas nossas escolas e na nossa sociedade, sob desculpa de "cortes" e "crises" e afins. Somos humanos. Os nossos filhos são o nosso futuro. Professores e pais deviam de ser uma equipa, não inimigos.

 

Apelo, de coração destroçado, para que algo ou alguém mude a mentalidade de quem tem o poder de alterar mentalidades para que as nossas crianças deixem de ser consideradas um fardo que têm de ser educadas, e que passem a ser vistas como seres que carecem de orientação de quem já viveu o suficiente para os poder ENSINAR. Respeito, consideração, compaixão - são coisas que se ensinam em casa, é verdade - mas que devem de ser reforçados na escola. Lamento profundamente que hoje em dia isto puro e simplesmente não acontece.

 

Desejo a todos muita paz e todas as bênçãos do Alto e o meu muito obrigado por me ter sido permito este desabafe.

 

Ana Sheila Martins na página do Facebook Asperger Portugal

publicado às 22:31

O que significa o cravo vermelho?

por Jorge Soares, em 26.04.15

cavaco.jpg

 

Imagem do Público

 

Reza a história que no dia 25 de Abril de 1974 a revolução estragou o negócio à vendedora de cravos do Rossio, esta vendo que estes iam murchar, decidiu oferecer um a cada militar dos que estavam a fazer a revolução e que por ali passavam... e foi assim que o 25 de Abril ficou conhecido para o mundo como a revolução dos cravos.

 

Na sexta ao almoço chamou-me a atenção ver que Cavaco Silva fazia o seu último discurso como presidente da república nas cerimónias do 25 de Abril sem  um cravo na lapela e comentei o facto com a família.

 

Fiquei mais ou  menos chocado quando a R. que ainda por cima adora história e tira sempre excelentes notas nessa disciplina me perguntou:

 

-O que é que significa o cravo vermelho?

 

Considero o gesto de Cavaco Silva quase uma afronta, não só a quem fez a revolução que nos devolveu a todos a liberdade de pensar e de termos opinião, como a todo o povo português. Mas confesso que me assusta mais a forma como nos últimos 40 anos temos tratado o assunto.

 

É verdade que o facto de a minha filha não saber identificar o símbolo da revolução, também é culpa minha, é em casa que devemos transmitir os princípios, mas este não deveria ser um assunto que se dá na escola? Ela teve história até ao nono ano,  sempre foi uma excelente aluna nessa disciplina e a verdade é que esse capítulo tão importante da nossa história, quase lhe passou ao lado, porque raramente falaram disso nas aulas e quando o fizeram foi sempre ao de leve.

 

A mim o gesto de Cavaco Silva não me estranha, sempre olhei para ele como o menos democrático de todos os políticos que nos governaram nos últimos 40 anos, por ele e por mais alguns como ele, essa parte da nossa história era simplesmente apagada... assim como o tem sido nas aulas de história que foram dadas aos nossos filhos nos últimos 40 anos.

 

O cravo é o símbolo de uma revolução pacífica que devolveu a democracia ao país após muitos anos de fascismo e de falta de liberdade, não deveria ser um símbolo político, devia ser transversal e servir para que no futuro ninguém esqueça porque é que essa revolução foi feita... há quem queira que essa parte da nossa história seja esquecida....  talvez porque um povo ignorante da sua história é mais fácil de subjugar e de enganar.

 

Jorge soares

publicado às 22:41

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Imagem do Facebook

 

"Amanhã começa a minha dor de cabeça...estou com uma ansiedade que dá cabo de mim! Correram tão bem as férias! Passeou com o pai, passeou com a mãe, foi à feira, foi ao circo, correu, andou de bicicleta, jogou à bola, brincou com os vizinhos, com a prima, brincou com os cães, teve um aniversário de um amiguinho, dormia ate às 10h, 10.30h da manhã, n houve um castigo, n houve uma palmada...tentei que ele se esquece que a escola ia começar (andou a ultima semana a falar nisso e que não queria ir).... Andou tão bem o meu menino, tão feliz e eu feliz também! Agora estou eu aqui sozinha a remoer"

 

Desabafo no Facebook de uma mãe de uma criança com TDAH 

 

Durante as férias dei por mim a pensar assim mais que uma vez, pensamentos que não servem de muito, nem a mim nem a esta mãe, nem a todas as outras mães e pais de crianças com hiperactividade ou outros transtornos do mesmo tipo. Não há forma de que eles não voltem para a escola, e infelizmente cada vez me convenço mais que a maioria das escolas não sabe ou não quer saber lidar com estas crianças.

 

Algures no meio dos muitos pensamentos e constatações dei por mim a pensar qual será a solução, não é fácil retirar conclusões, para mim há uma que é evidente o meu filho está na escola errada... Não é difícil chegar a esta conclusão, mas o pensamento seguinte levou-me a um beco sem saída.... e haverá uma certa?

 

Para mim faz todo o sentido que a escola seja inclusiva, todas as crianças são diferentes, os nossos filhos só são mais diferentes, mas juro que há alturas que dou por mim a pensar se isso será mesmo possível, se a instituição em si, os professores, os responsáveis, querem realmente isso? É que muitas vezes o que sentimos é que é mais fácil excluir que integrar e que há muito boa gente que em lugar de ajudar complica com o intuito de se verem livres de crianças difíceis e pais exigentes.

 

Num dos comentários ao texto acima alguém deixou o seguinte:

 

"Hoje, meu filho com TDAH chega da aula e me diz que o professor o colocou virado para parede em pé"

 

e alguém a seguir disse o seguinte:

 

"Fizeram isso ao meu filho durante o 1ºano e o 1º período do 2º, até os colegas me contarem"

 

Estamos em 2015, colocar os alunos contra a parede era algo que se fazia algures nos anos 70 quando eu andei na escola. Eu e muitos outros pais já ouvimos e sentimos mais que uma vez que há por aí muitos professores que acham que a hiperactividade é um mito inventado pelos pais que não sabem educar os seus filhos, mas juro que não pensei que fosse possível em 2015 colocar as crianças de castigo contra a parede, pelos vistos há por aí muitos professores que continuam a viver nos anos 70. A maioria das crianças com TDAH tem enorme problemas de auto-estima, será que estes professores pararam para pensar que com isto só pioram a situação?

 

Jorge Soares

publicado às 21:25

Hiperactividade - Sou um PHDA…

por Jorge Soares, em 19.03.15

 

As coisas não andam nada fáceis por estes lares, tudo o que já aconteceu com o N. desde Setembro até agora, dava para muitos posts... dava para um livro sobre a hiperactividade... a escola... os colégios, ... vai de aí e se calhar dá mesmo, quem sabe e não é desta que o blog passa para o papel e o escrevo ... ainda estamos em Março e tenho a certeza que vão haver mais capítulos... espera-se um final feliz.... talvez.

 

Entretanto hoje encontrei o seguinte texto neste blog, um texto que deveria ser de leitura obrigatória para todas as pessoas que de alguma forma lidam com crianças com PHDA... leiam e reflictam.

 

Sou um PHDA…

Se não sabe o que é, continue a ler…

 

PHDA é Perturbação de Hiperactividade e Deficit de Atenção. Sim, sou um daqueles tipos que não consegue ficar quieto nem estar muito tempo a fazer a mesma coisa. Sabem, um daqueles que passou a porra da infância a levar chapadas porque não se portava bem. Não que as chapadas resolvessem fosse o que fosse, era mais para aliviar quem as dava que para ajudar quem as recebia. No meu tempo, ah a velhice começa com estas palavras, não havia Ritalinas e Concertas e quejandos, não, o que havia e de sobra era palmadas, chapadas e promessas de sovas de cinto. A única real diferença é que as Ritalinas e afins têm uma duração maior.

 

Entretanto lá cresci. Agora, dizem, sou um adulto e as chapadas são outras.

 

Entretanto vou lendo por todo o lado que SE os PHDAs SE mantivessem atentos eram os maiores da cantareira… De uma das vezes deu-me para responder assim:

 

“Ela não é má aluna… se estivesse concentrada na escola seria até excelente…”

 

No meu entender, muito pessoal entenda-se, é este a base do problema da maioria dos pais de PHDAs, o SE.

 

Meus caros/as, não há nenhum SE. A única coisa a fazer é ajustar as expectativas. Pois, eu também vivia melhor SE me saísse o EuroMilhões. Como diz a vox populi, SE a minha avó não tivesse morrido ainda hoje estava viva.

 

Vejo este problema continuamente, seja aqui, em conversas no café, nas reuniões com os professores, em todo o lado. Sempre o malfadado SE. Os nossos filhotes não têm culpa das expectativas que colocámos neles. Não têm a obrigação de cumprir os sonhos de ninguém a não ser os deles, não têm de ser melhores que ninguém a não ser eles mesmos. No entanto, avaliamo-los segundo critérios que não são justos para eles. SE estivesse atento era o melhor aluno, SE escrevesse de forma que se lesse copiava tudo do quadro, SE decorasse a tabuada tinha boas notas, SE estivesse quieto não incomodava ninguém. Já todos dissémos e pensámos isto, somos TODOS culpados.

 

O facto é só um, eles não vão ficar mais atentos, eles não vão escrever melhor, não vão decorar e não vão ficar quietos. E não vão porque não querem, apenas porque não podem. É o mesmo que agora alguém vos exigisse que mudassem a cor dos olhos ou a altura das pernas.

 

Ajustem as vossas expectativas ao que os vossos adorados “diabinhos” SÃO, não o que alguém desejaria que ele/a fosse, seja quem for esse alguém.

 

Entendam que eles têm limites, entendam que eles têm capacidades, respeitem ambas.

 

Vamos por os “peixes” a nadar e deixar as árvores para os “macaquinhos”, tá bem?

 

Sempre a mesma treta, sempre a mesma conversa… SE o meu gato fosse um cão, ladrava.

 

Vamos lá a ver se a gente se entende, é muito bonito dizer, ah e tal SE fosses mais alto não eras tão baixo, pois como SE fosse eu que mandasse no crescimento das pernas. É exactamente o mesmo com os PHDA, nós não fazemos como os outros, PORQUE não somos como os outros. Não se trata de educação, não se trata sequer de medicação, os nossos cérebros, excelentes diga-se, trabalham de maneira diferente. Não, não servimos para tarefas repetitivas, não, não somos bons para decorar resmas de papel (se fosse para decorar eram de uso único), não, não somos capazes de estar anos a fazer o mesmo. Mas, dêm-nos uma tarefa criativa, dêm-nos espaço e liberdade para melhorar os processos repetitivos, dêm-nos liberdade de consulta em vez de nos pedirem que decoremos, e vão ver a diferença.

 

Em vez de nos exigirem que sejamos o que nunca seremos, dêm-nos antes espaço para sermos o que somos e adoramos ser.

publicado às 22:03

 

 

Disclaimer - Para quem aqui vem à espera de encontrar um daqueles artigos que dizem que a hiperactividade é uma invenção dos médicos e da industria farmacêutica, pode voltar por onde veio, a hiperactividade é uma doença real e infelizmente afecta mesmo muitas crianças.

 

Quem me costuma ler sabe que cá em casa temos um hiperactivo, que apesar de ser seguido e tratado desde os três anos de idade, sofre todos os dias o facto de ter uma doença que influência o seu comportamento, as suas capacidades de aprendizagem e a forma como se relaciona com a família, a escola e o mundo em geral.

 

Num mundo que cada vez mais vive de normas e padrões, um criança que por um ou outro motivo foge ao que se considera "normal" não tem um caminho fácil, ora o N. sofre de Hiperactividade, défice de atenção e dislexia.

 

O facto de ter sido diagnosticado ainda antes de entrar para a escola não ajudou grande coisa, infelizmente há, principalmente nas escolas, muita gente no mundo que acredita que sabe mais que médicos e especialistas e acha que tudo isto não passa de falta de educação e que tudo se resolve com palmadas, castigos, recados nas cadernetas ...  enfim. É triste mas a quantidade de professores que pensa assim é assustadora e muitas vezes para além de tornarem um inferno a estada das crianças na escola, tornam muito complicada a relação entre a escola e os pais.

 

Felizmente esta é uma doença para a que há medicação, mas convém lembrar que estas doenças não tem cura, a medicação normalmente ajuda a atenuar os sintomas, mas não cura. Uma criança  com hiperactividade vai ser um adulto com hiperactividade, e esta é uma realidade que temos que aprender a aceitar e com a que temos que aprender a viver.... cada dia é um novo desafio e cada dia aprendemos um pouco mais.

 

Mas se uma criança hiperactiva é um problema, um adolescente hiperactivo é como uma bomba relógio sempre prestes a explodir... 

 

A adolescência do N. não tem sido nada fácil, e também não tem sido nada fácil acertar com as doses certas da medicação. Por um lado os comprimidos fazem com que seja mais fácil a concentração e a atenção nas aulas, por outro lado há os efeitos secundários, que variam de organismo para organismo mas que no caso do N influenciam o apetite, o sono e especialmente o humor.

 

Nós verificamos que quando toma a medicação, e ao contrário do que acontece nas férias em que não toma, fica muito mais irritadiço e volátil, reagindo de forma abrupta e com forte oposição quando questionado ou contrariado.

 

Depois de vários episódios cá em casa e na escola, em conjunto com o especialista que o segue, decidimos que íamos retirar uma parte da medicação e optar por um tratamento alternativo sugerido pelo médico.

 

A mudança foi da noite para o dia, em lugar de um adolescente irascível e resmungão passamos a ter um jovem que não classificaríamos de normal, mas que pelo menos anda muito mais bem disposto e sem estar em constante oposição.

 

Curiosamente os primeiros a queixar-se do novo N. foram os professores, antes tinham um miúdo que reagia mal à autoridade mas que pelo menos aparentava estar atento nas aulas, agora tem um jovem menos irascível, mais bem disposto, mas que tem muitas mais dificuldades em estar atento e seguir a aula.... curiosamente e apesar das queixas anteriores, os professores parece que preferem a versão com medicação.

 

Eu confesso que tive muitas duvidas sobre qual seria a melhor estratégia, mas a minha meia laranja usou lógica simples para me convencer: Ninguém vai preso por estar desatento e bem disposto nas aulas, mas pode ir se num dos momentos de impulsividade agredir alguém à sua volta.

 

É claro que a falta de atenção nas aulas pode ter consequências ao nível do aproveitamento escolar, mas não é nada que não se supere com trabalho, dele, da escola e nosso, assim haja vontade... 

 

Como disse acima, a hiperactividade é uma doença com a que ele e nós temos que aprender a viver, há dois ou três anos atrás seria impensável retirarmos a medicação, nós não dávamos a medicação nas férias e sinceramente havia anos em que a meio das férias dávamos por nós a desejar que os tempo passasse rápido para voltarmos aos comprimidos e à "paz" que estes traziam... mas isso era válido na altura com uma criança daquela idade, agora com um adolescente a realidade é outra e a forma de a encarar também será outra.

 

Jorge Soares

publicado às 23:21

 Imagem de aqui

 

Já lá vai um tempo, por isso a maioria nem se lembrará do caos que foi a colocação de professores no inicio de este ano lectivo. A minha filha mais velha, que está no 10 ano no liceu de Setúbal esteve, quase até ao inicio de Novembro à espera que fosse colocada a professora de matemática (ver este post, ou este, ou este, ou este), na semana passada foi a reunião de avaliação do primeiro periodo dos pais com a directora de turma.

 

Estava tudo a correr muito bem, a julgar pelo que a senhora contou esta deve ser a melhor turma do país e arredores, aplicados e bem comportados, até que uma das mães reparou no detalhe das aulas de matemática, então era assim:

 

Aulas previstas: 76

Aulas ministradas: 43

 

A professora de matemática que foi colocada no fim de Outubro,  pouco mais deu que metade das aulas, é mais que evidente que não vai ser possível cumprir o programa e uma das encarregadas de educação queria saber o que estava a escola a pensar fazer para resolver o assunto.

 

A conversa foi quase surreal, a escola não está a pensar fazer nada, além do evidente atraso na matéria, há alguns alunos com dificuldades de aprendizagem na disciplina e estão planeadas aulas de apoio. É claro que aulas de apoio não tem nada a ver com aulas de compensação, e eu fiz ver isso à directora de turma, sem deixar de recordar que o  ministro Crato se tinha comprometido em que todos os alunos teriam as devidas aulas de compensação para recuperar o tempo perdido.

 

Não, ela não tinha ouvido nada disso, não estavam planeadas aulas de compensação para a turma, nem há plano algum para recuperar o tempo perdido. Segundo ela a escola tinha planeado aulas de compensação para os alunos do nono ano, que tem exame obrigatório no fim do ano lectivo, mas desistiu da ideia, porque além de que é muito complicado conjugar horários, como as aulas não são obrigatórias os alunos não aparecem.

 

E é isto, felizmente na turma da minha filha só faltou colocar um professor, mas há turmas no Liceu de Setúbal e um pouco por todo o país em que faltaram quatro, cinco e até mais professores, turmas em que se deu metade das aulas previstas e pelos vistos, ninguém além de dois ou três pais e encarregados de educação, se preocupa com o assunto. 

 

Uma vez mais ficamos a saber o que vale a palavra do ministro e dos funcionários do ministério da educação, senhor ministro, quando há uns tempos  falava de aulas de recuperação para todos os alunos, estava a falar de quê?

 

Jorge soares

publicado às 23:06

bebes terroristas

 

Imagem de aqui

 

A noticia é do Público e começa assim:

 

"O Governo britânico, chefiado pelo conservador David Cameron, tem preparado um projecto de lei que pretende que os professores, incluindo os educadores de infância, detectem se há crianças nas suas salas que correm o risco de serem seduzidas pelo terrorismo.

O documento que menciona os infantários acompanha a Lei Anti-Terrorismo e Segurança preparada pelo Home Office (ministério do interior) e está no Parlamento, diz o jornal The Telegraph. Nele, os infantários e outros lugares onde se educam crianças de pouca idade (amas, por exemplo) são identificados como alvos, a par das restantes escolas e universidades."

 

É nestas alturas que sabemos que os terroristas estão a ganhar a guerra, quando um governo democrático decide que professores e educadores devem fazer de espiões é porque deixou de acreditar que esses mesmos professores são capazes de formar cidadãos íntegros e respeitadores.

 

Eu concordo que é na escola que se deve começar a combater o terrorismo, mas não é de certeza colocando marcas nos jovens que se consegue isso, é com educação e princípios democráticos sólidos. Converter professores em espiões só vai servir para que os jovens deixem de confiar definitivamente nestes e se neguem a aceitar o que eles transmitem, isso sim vai contribuir para que os jovens estejam mais vulneráveis e influenciáveis por quem os tenta desviar dos caminhos da liberdade e democracia.

 

Já agora, como é que se detecta que uma criança de cinco anos tem tendências terroristas ou está próxima de ser seduzida pelo terrorismo? Será que a minha mais nova passava no teste?

 

É com leis como estas que se dão armas a quem tenta influenciar os jovens ocidentais e é por governos como este que há tantos jovens ingleses a combater pelo estado islâmico na Síria e no Iraque, disso eu não tenho dúvida nenhuma.

 

Jorge Soares

publicado às 22:28

escola.png

 

Imagem do Sol

 

A noticia é do Sol e começa assim: 

 

A escola Gracemor Elementary School, no Kansas, EUA, está a ser alvo de duras críticas. Em causa está o castigo que foi aplicado a Dakota Nafzinger. Este de menino de 8 anos nasceu com uma doença chamada Anoftalmia Bilateral. Ou seja, Dakota nasceu sem os dois olhos. A bengala que usava – que, segundo o site da Fox, era propriedade da escola – foi lhe retirada depois de alegadamente ter batido noutra criança no autocarro da escola.

 

É verdade que uma criança é uma criança e que não é por ser cega que esta deve deixar de ser castigada, mas convenhamos que há castigos e castigos, nenhum de nós consegue sequer imaginar o que é enfrentar o mundo sem o poder ver, sem ter a percepção do que nos rodeia. Ninguém imagina o que esta criança  tem que enfrentar todos os dias para se poder movimentar num  mundo que no geral foi pensado para quem consegue ver.

 

O motivo que levou Dakota a bater no seu colega de viagem não está explicado em nenhuma das várias noticias sobre este assunto que li em sites americanos, mas lutas entre crianças de oito anos é a coisa mais normal do mundo, Retirar a bengala a uma criança cega é a mesma coisa que retirar os olhos a uma criança que veja, o que imagino que não passará pela cabeça de ninguém.... espero.

 

Mas mais triste que a noticia, é ler alguns comentários no site do SOL, há gente que deve ter estopa em lugar de cérebro.. de certeza absoluta.

 

Jorge Soares

publicado às 22:48

escola2.jpg

 

Imagem do DN

 

Tenho seguido com alguma atenção as noticias sobre a a suposta proibição de que se fale português nas escolas do Luxemburgo.

 

Logo da primeira vez que ouvi a noticia na televisão estava com a minha filha R. e a surpresa e curiosidade dela fiquei sem resposta, o único que me lembrei é que e que lhe expliquei foi que  luxemburguês é uma língua em vias de extinção e haveria por parte das autoridades escolares alguma vontade de a proteger... não faz muito sentido.

 

Depois dei por mim a pensar, eu emigrei em criança, tinha 10 anos quando cheguei a Caracas, não falava uma palavra de castelhano, passado um mês entrei para a escola pública e a verdade é que raramente voltei a falar português, na escola, na rua com amigos, incluindo os portugueses, até em casa com o meu irmão, sempre falei castelhano...  se calhar será também muito por isso que sempre fui bom aluno e que sempre me integrei completamente até ao ponto de para quem não me conhecia, passar sempre por venezuelano e nunca por estrangeiro.

 

É evidente que estamos a falar de um país diferente, de uma cultura diferente e de formas de integração completamente diferente e opostas. Na Venezuela todos nos sentíamos venezuelanos e sempre nos sentimos completamente integrados no país e na cultura... o que a julgar pelo que tenho visto e ouvido, nem sempre acontece com quem emigra para o Luxemburgo e outros países da Europa.

 

De tudo o que ouvi, o que mais impressão me fez foi o seguinte:

"Para o presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), a proibição pode levar também a um sentimento de desvalorização da língua materna"

 

Língua materna? Será que alguém parou para penar o que será a língua materna para uma criança que viveu a maior parte da sua vida num país estrangeiro? Será que é mesmo o português?

 

De novo posso falar por mim, passados dois ou três anos de viver em Caracas a minha língua materna era o castelhano, era nessa língua que eu tinha que estudar, namorar, viver... é evidente que continuava a ler e a falar português quando era necessário, mas a minha língua não era nem podia ser o português.

 

Quando aos vinte anos voltei para Portugal, a minha língua passou naturalmente a ser o português, passados dois ou três meses até aos "ãos" me tinha habituado .. e a vida seguiu em frente.

 

Sinceramente não entendo toda esta polémica, acho que no Luxemburgo se as crianças não estão numa escola bilingue, se são avaliadas em luxemburguês, faz todo o sentido que falem na língua da escola e percebo perfeitamente que os professores não gostam e/ou não queiram, ter no meio das aulas crianças a falar entre si numa língua que na maior parte dos casos nem eles nem as restantes crianças entendam.

 

É evidente que há aqui excesso de zelo quando se proíbe também no recreio, mas para ser sincero, eu não vejo vantagem nenhuma que as crianças que vivem no centro da Europa não tenham como língua principal outra qualquer que não o português, queiram os pais ou não, a verdade é que na sua grande maioria é lá e não cá que eles vão ter que se desenvencilhar na vida... e para vir cá nas férias, o português que se fala em casa basta e sobra.

 

Jorge Soares

publicado às 22:45


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