Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
O episódio de que falei neste post, que envolveu Dani Alves, uma banana e adeptos do Villareal de Espanha, saldou-se com uma multa de 7000 Euros ao Villareal e tudo continuou como se nada tivesse acontecido. de tal forma que na semana a seguir registou-se um novo caso de racismo envolvendo Pape Diop, jogador do levante e adeptos do Atlético de Madrid que imitavam macacos cada quando o jogado Senegalês do Levante.
Sei que há quem ache que tudo isto não passa de actos isolados praticados por dois ou três adeptos e que os clubes não devem ser punidos, concordo que isto é obra de alguns anormais, mas não concordo que os clubes não sejam responsabilizados, porque acho que estes não fazem o suficiente para evitar que os episódios se repitam.
E também não é com multas de 7000 Euros que estes vão reagir, o valor é ridiculo e a mensagem que passa é que não há uma vontade real para se resolver o problema e a prova é que esta semana em Itália o episódio da banana voltou a repetir-se uma vez mais. Esta vez foram os adeptos do Atalanta em Itália que atiraram duas bananas na direcção do guineense Kévin Constant e do holandês Nigel de Jong, ambos do Milan.
O futebol é um desporto de milhões e só existe porque existem futbolistas, sem eles não há clubes e não há adeptos, 7000 Euros de multa é um insulto da federação espanhola a Dani Alves, e um convite aos anormais que insultam jogadores só porque eles tem cor de pele diferente.
A verdade é que enquanto a Fifa , a Uefa e as federações fingem que se preocupam, estas coisas repetem-se quase todas as semanas e não vale a pena que se inunde a internet e as redes sociais com gente a comer bananas, não é assim que se vai resolver o problema, o problema só se vai resolver quando todo o mundo, para além de quem sofre na pele os insultos em cada jogo, tenha uma vontade real e tome acções reais para o resolver.
Digamos todos não ao racismo em qualquer situação.
Jorge Soares
Imagem do El Pais
Não é a primeira vez, não é a segunda, não será de certeza a última, Dani Alves jogador de futebol do Barcelona, foi uma vez mais vitima de um acto de racismo durante o jogo da sua equipa contra o Villareal. Quando o jogador Brasileiro se preparava para chutar um canto, alguém lhe atirou uma banana.
Dani não se deu por entendido, pegou na fruta, descascou-a, deu uma dentada, atirou o resto para fora da linha do campo e continuou o jogo como se nada. Tudo isto aconteceu debaixo do olhar atento do fiscal de linha que estava a meio metro do jogador.
O jogo, continuou e tudo isto só se tornou noticia porque alguém reparou nas imagens na televisão e fez eco das mesmas nas redes sociais, um enorme eco que chegou um pouco a todo o mundo por via de muitos jogadores de futebol principalmente brasileiros, talvez os que mais sofram com actos como este um pouco por toda a Europa.
Há quem ache o gesto de Dani Alves a melhor forma de combater o sucedido e o racismo no futebol, talvez seja verdade, a questão é que este tipo de situações acontece com muita frequência na maioria dos campeonatos europeus. Já vimos situações como estas ou parecidas nos campeonatos na Espanha, na Itália, na França, na Inglaterra, um pouco por todo o lado e a verdade é que raramente vemos ou ouvimos falar das consequências para adeptos ou clubes.
Já vimos jogadores destroçados a querer abandonar o campo lavados em lágrimas, jogadores que se insurgem, jogadores que simplesmente ignoram, o que não vimos foram as consequências para quem assim se comporta e para os clubes que mais não seja com o seu silêncio, as patrocinam.
Não fossem as imagens da televisão e uma vez mais nada teria acontecido, Dani Alves tentou seguir em frente, como de certeza o terá feito em muitas outras ocasiões, o problema é que muitas vezes há muita gente que tenta ignorar estas coisas e elas ficam sempre impunes... como o teria ficado esta se a televisão não estivesse lá.
De resto as palavras de Dani Alves são elucidativas sobre o que se passa no campeonato espanhol:
Ignorar o assunto não vai resolver a questão, Dani Alves teve uma resposta rápida e talvez irreflectida, mas o que dizer do árbitro assistente que assistiu a tudo impávido e sereno e nada fez? Eu acho que o jogo deveria ter sido interrompido, deveria ter ficado por ali e o Villareal punido com uma pena a sério.
Esta vez foi uma banana, muitas vezes são cânticos ou gritos racistas entoados por dezenas ou centenas de aficionados, como já aconteceu em Milão ou no Santiago Bernabéu do Real Madrid, ou no Vicente Calderón do Atlético de Madrid, na Inglaterra já aconteceu que há quem insulte os jogadores da sua própria equipa... já alguém ouviu falar de algum clube derrotado devido a uma situação destas?
É preciso mais que campanhas de marketing e bandeirinhas contra o racismo, são precisas acções sérias e um verdadeiro empenho por parte de clubes e instituições oficiais, está mais que visto que o que se tem feito até agora não serviu de nada.
Imagem do El Pais
É a liga das estrelas, a liga dos recordes, a liga dos 91 milhões de Cristiano Ronaldo, dos 90 de Bale, dos 100 (??) de Neymar que já levaram ao afastamento do cargo ao presidente culé... a verdade é que tal como por cá e como em muitos outros países, a Liga Espanhola é cada vez mais a dos (muito) ricos, contra os remediados.
Desde há anos que a grande maioria dos clubes espanhóis, clubes que participam na liga dos milhões, estão falidos, na sua grande maioria vão vivendo do que vão conseguindo sacar ao estado, já seja pela via das regiões autónomas ou das autarquias ... o problema é que o estado espanhol está tão ou mais falido que os clubes e a teta secou, o que deixou muitos dirigentes a ver como o enorme buraco em que estão enterrados está cada vez maior.
Hoje por primeira vez um jogo não aconteceu porque ao contrário do que costuma acontecer, por lá e principalmente por cá, os jogadores não foram nem em conversas nem em ameaças e recusaram-se a continuar a participar na farsa. Sem receber à meses, entraram em campo equipados, juntaram-se no centro e quando o árbitro apitou para o inicio do jogo, simplesmente não se mexeram.. passados poucos segundos o jogo foi suspenso.
O futebol é uma industria que movimenta milhões, mas tal como no resto da sociedade, os milhões estão quase todos nos bolsos dos mesmos e cada vez é maior o fosso entre clubes ricos como o Real Madrid e o Barcelona, e o resto, que na sua grande maioria estão cada vez mais endividados... e no fim quem termina por pagar a factura são os futebolistas que vão saltando de clube em clube e em muitos casos nunca vêem a cor do dinheiro.
Todos temos a imagem do jogador de futebol que ganha e gasta milhões, isso representa uma minoria e para quase todos os outros os salários não são grande coisa, sobretudo se tivermos em conta que eles tem uma carreira que termina no máximo aos 35 anos... isto quando conseguem receber algum.
Hoje em Santander os jogadores mostraram ao mundo que o rei vai nú, veremos quanto tempo demora a acontecer por cá onde vai tudo nu.
Jorge Soares
Imagem do Público
Tudo aconteceu há precisamente 11 anos, a 13 de Novembro de 2002 o Prestige, um cargueiro carregado com 77 mil toneladas de fuelóleo, foi apanhado por uma tempestade e sofre um rombo no casco. Tudo isto aconteceu em frente às costas da Galiza muito perto de terra. As autoridades espanholas decidiram não autorizar o barco a chegar a um dos seus portos e este andou seis dias á deriva até que se afundou e levou para o fundo do mar o que ainda restava de fuelóleo... e pelo que se sabe, continua a verter petróleo para o mar.
A maior parte das pessoas já nem se lembrará da enorme tragédia ambiental que assolou toda a costa do mar cantábrico desde a Galiza até às costas francesas, eu, que costumo passar férias no Norte de Espanha, todos os anos recordo a tragédia, é impossível não recordar porque mesmo passados todos estes anos é possível observar uma camada de petróleo negro nas rochas da maioria das praias e alcantilados.
Lembro-me perfeitamente que em 2005 em França nas praias de Arcachon, perto de Bordéus, era possível encontrar na areia bolachas de petróleo endurecido.
Na altura o facto de se ter obrigado o barco a ir para o mar em lugar de para um porto onde a fuga de petróleo poderia ter sido controlada e limitada, foi objecto de uma enorme polémica. Quanto a mim terá sido esta decisão a culpada pela enorme tragédia ambiental da que a costa demorará décadas a recuperar... além de que mais tarde ou mais cedo o casco do barco afundado irá ceder e ainda restam muitas toneladas de petróleo que se irá espalhar-se pelo mar e eventualmente chegar á costa.
Hoje ficamos a saber que após todo este tempo que não há responsáveis por tudo isto, ninguém sabe qual a causa do que aconteceu no barco e não há responsabilidades pelas decisões tardias ou erradas que levaram a que este andasse 6 dias a verter petróleo para o mar até que se afundou com o que restava da sua carga.
Na Espanha como tantas vezes acontece por cá, a culpa morreu solteira e no fim, quem pagou as favas foram os pescadores, o turismo e claro, a natureza.
Era bom que estas coisas não acontecessem de novo no futuro, mas não é de certeza com decisões como esta que isso se irá conseguir.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Há pouco no telejornal da RTP uma reportagem falava dos 21 mortos e mais de mil feridos durante o período de regresso das férias, como todos os anos os acidentes contam-se aos milhares, este ano foram mais de 2700. Há quem culpe a qualidade das estradas e dos carros, isso seria no passado, posso garantir que as nossas estradas e autoestradas, tal como a maioria dos carros que nelas circulam, não ficam nada a dever às de Espanha ou da França.
Este ano durante as férias fiz 4440 kms na estrada: Setúbal - Bragança, Bragança - Vitória, no País Vasco, Vitória - Poitiers, na França , Poitiers- Paris. O regresso foi mais ou menos a mesma coisa.
Exceptuando uns 70 Kms entre a fronteira de Quintanilha e Zamora, todo este percurso é feito por auto-estradas e é incrível como basta atravessarmos a fronteira para notarmos uma enorme diferença de comportamento na estrada. No lado Português se formos a cumprir o limite de velocidade somos ultrapassados até pelos camiões, em Espanha e na França, já seja nas autovias ou nas auto-estradas, raramente vemos alguém a exceder o limite de velocidade.
Em Espanha ainda vemos alguns (poucos) aceleras, em França em todo o trajecto entre Biarritz e Paris, a única vez que vi alguém em grande excesso de velocidade eram dois carros com matricula portuguesa que iam juntos e pelos vistos a picar-se, nas imediações de Bordéus.
Mais de metade dos carros que circulavam pelas auto-estradas francesas tinham matricula estrangeira: belgas, holandeses, ingleses, alemães, polacos, mas absolutamente todo o mundo cumpria os limites, já fossem os 130 das auto-estradas pagas ou os 110 das gratuitas.
A maior parte dos estrangeiros quando chega a Portugal diz que por cá se conduz mal e sem respeito pelas leis, eu também achava que era exagero, mas cada vez que vou para fora fico convencido que não senhor, não é exagero nenhum.
O mais curioso é que nem em Espanha nem em França vemos mais fiscalização nas estradas que por cá, em toda a travessia de Espanha, quer para um lado quer para o outro não vi uma única brigada de transito, em França vi uma no último dia, estava parada numa entrada para a auto-estrada.
Como explicamos esta falta de respeito pelas regras de trânsito e de civismo na estrada que pelos vistos nos torna tão diferentes dos restantes povos europeus?
Curioso mesmo é que depois de ter feito milhares de kms sem ver um francês em excesso de velocidade, já em Portugal na A25 e depois na A1, era ver os carros com matricula francesa em altíssimas velocidades... os nossos emigrantes que lá fora se comportam direitinho, mal entram no país voltam às origens e esquecem que há leis para cumprir e que deve haver civismo na estrada.
Jorge Soares
Imagem do Público
As imagens captadas por uma das câmaras de segurança da linha são arrepiantes, e mais se pensarmos que ali, naqueles poucos segundos, quase num abrir e piscar de olhos se perderam 80 vidas.
Desde o inicio que foi claro que o motivo do desastre foi o excesso de velocidade com que o comboio que saia da linha de alta velocidade e entrava na linha normal, abordou a curva. A velocidade máxima aconselhada para aquele local era de 80 Kms por hora, segundo o maquinista, iria a mais de 180. Uma velocidade de tal forma excessiva que fez com que um dos vagões literalmente voasse para fora da linha e fosse parar a um terreno que estava a mais de cinco metros de altura.
Resta saber o que fez com que isto pudesse acontecer, na Espanha as linhas de alta velocidade contam com inúmeros sistemas de segurança que em principio deviam impedir que este tipo de acidentes acontecessem, o facto de naquele local já estarmos muito próximos da estação, a menos de 4 kms, faz com que o controlo dos comboios seja completamente manual, cabendo ao maquinista controlar a velocidade de aproximação.
Não era a primeira vez que este maquinista ali passava, há mais de um ano que ele conduzia estes comboios nesta linha, ele conhecia perfeitamente o local e sabia de certeza que aquela velocidade era excessiva, terá sido de certeza um erro humano a causar a tragédia, mas que tipo de erro humano consegue explicar tamanha irresponsabilidade?
O senhor gabava-se no Facebook de conduzir o comboio a 200 Kms por hora, o que nem é assim tão estranho, estamos a falar de um comboio de alta velocidade, o TGV espanhol, em muitos troços das linhas de alta velocidade essa é a velocidade normal, mas será que existe alguém tão irresponsável que sabendo que leva nas suas mãos as vidas de centenas de pessoas se atreve a deliberadamente ir a 190 Kms por hora numa zona de 80? Errar é humano, mas a irresponsabilidade neste caso pode ser um crime muito grave.
A meio da tarde o André sugeria que este tipo de acidentes constitui um bom argumento para que no futuro os transportes públicos sejam completamente automáticos, concordo, nada evitará que este tipo de acidentes aconteça, até porque sempre haverá falhas de material, mas retirar a variável "erro humano" do sistema tornará de certeza as viagens mais seguras.
Vídeo do desastre:
Erro humano de certeza, mas o que terá levado a esse erro trágico e fatal?
Jorge Soares
Imagem de aqui
Em Montserrat, uma pequena localidade perto de Valência, Espanha, a crise levou a que a autarquia retirasse os fundos para o transporte escolar, como a necessidade aguça o engenho, um grupo de mães decidiu despir-se de preconceitos e literalmente, despiram-se para aparecerem num calendário erótico e assim recolherem o dinheiro suficiente para garantir que os seus filhos não tivessem de ir a pé para a escola.
Começou por ser uma forma de chamar a atenção para a forma como o estado estava a cortar nos fundos para a educação, mas a verdade é que neste momento as senhoras já conseguiram garantir o aluguer de um autocarro para os próximos 3 meses e as expectativas são que desta forma se consiga pagar o transporte para o ano inteiro.
Por cá há quem se dispa em manifestações contra a crise... mas há sem dúvida iniciativas muito mais inteligentes.
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Os homens não se medem pelos poemas que leram, mas talvez fosse melhor. O que é a fita métrica comparada com algo intenso? Há poemas que explicam trinta graus de uma vida e poemas que são um ofício de demolição completa: o edifício é trocado por outro, como se um edifício fosse uma camisa. Muda de vida ou, claro, muda de poema.
Imagem minha do Momentos e Olhares
Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.
Eugénio de Andrade
Rio Sualón, Vegadeo, Astúrias
Agosto de 2011
Jorge Soares