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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
Desiguais as contas:
para cada anjo, dois demónios.
Para um só Sol, quatro Luas.
Para a tua boca, todas as vidas.
Mulher passeia na areia molhada da Praia do Meco
Sesimbra, Julho de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
LA mariposa volotea
y arde —con el sol— a veces.
Mancha volante y llamarada,
ahora se queda parada
sobre una hoja que la mece.
Me decían: —No tienes nada.
No estás enfermo. Te parece.
Yo tampoco decía nada.
Y pasó el tiempo de las mieses.
Hoy una mano de congoja
llena de otoño el horizonte.
Y hasta de mi alma caen hojas.
Me decían: —No tienes nada.
No estás enfermo. Te parece.
Era la hora de las espigas.
El sol, ahora,
convalece.
Todo se va en la vida, amigos.
Se va o perece.
Se va la mano que te induce.
Se va o perece.
Se va la rosa que desates.
También la boca que te bese.
El agua, la sombra y el vaso.
Se va o perece.
Pasó la hora de las espigas.
El sol, ahora, convalece.
Su lengua tibia me rodea.
También me dice: —Te parece.
La mariposa volotea,
revolotea,
y desaparece.
Algures perto do mar nas Astúrias
Agosto de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Não o Sonho
Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.
Manuel António Pina, in "Atropelamento e Fuga"
Imagem minha do Momentos e Olhares
PEDAÇOS DE MIM
Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos
Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão
Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci
Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante
Já
Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas
Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar
Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei
Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.
Martha Medeiros
Fim de uma tarde de Outono no Parque Urbano de Albarquel
Setúbal, Outubro de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.
Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.
Natália Correia - de Poemas (1955)
O Sado, o Rio Azul
Setúbal, Junho de 2010
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Dizer que sim à vida
Dizer que não à morte
Dizer na despedida
Que o tempo é o mais forte
Dizer que sim à vida
Dizer que não à morte
Jogar na despedida
A carta que é a sorte
Dizer a toda a gente
Que o amor de repente
Entrou no nosso jogo
Dizer a toda a gente
Que o nosso corpo é quente
A nossa boca ardente
E a nossa alma fogo...
E se não for verdade
Tudo o que nós dizemos
Tudo o que nós sentimos
Também não é saudade
Por isso é que nos rimos
José Carlos Ary dos Santos
Setúbal, Maio de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga, Diário XIII
Troia, Novembro de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Évora
Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas ... Ruas frades
Pedindo em triste penitência a Deus
Que nos perdoe as míseras vaidades!
Tenho corrido em vão tantas cidades!
E só aqui recordo os beijos teus,
E só aqui eu sinto que são meus
Os sonhos que sonhei noutras idades!
Évora! ... O teu olhar ... o teu perfil ...
Tua boca sinuosa, um mês de Abril,
Que o coração no peito me almoroça!
... Em cada viela o vulto dum fantasma ...
E a minh'alma soturna escuta e pasma ...
E sente-se passar menina e moça ...
Florbela Espanca
Évora, Março de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Adeus
É um adeus ...
Não vale a pena sofismar a hora!
É tarde nos meus olhos e nos teus ...
Agora,
O remédio é partir discretamente,
Sem palavras,
Sem lágrimas,
Sem gestos.
De que servem lamentos e protestos
Contra o destino?
Cego assassino
A que nenhum poder
Limita a crueldade,
Só o pode vencer a humanidade
Da nossa lucidez desencantada.
Antes da iniquidade Consumada,
Um poema de líquido pudor,
Um sorriso de amor,
E mais nada
Miguel Torga
Uma solitária folha de cerejeira que resistiu mesmo até aos últimos dias do Outono.
Portalegre
Dezembro de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Outro natal,
Outra comprida noite
De consoada Fria,