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Símbolos

por Jorge Soares, em 15.08.12

Símbolos

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Simbolos

 

Símbolos? Estou farto de símbolos... 
Mas dizem-me que tudo é símbolo, 
Todos me dizem nada. 
Quais símbolos? Sonhos. — 
Que o sol seja um símbolo, está bem... 
Que a lua seja um símbolo, está bem... 
Que a terra seja um símbolo, está bem... 
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa, 
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas, 
Para o azul do céu? 
Mas quem repara na lua senão para achar 
Bela a luz que ela espalha, e não bem ela? 
Mas quem repara na terra, que é o que pisa? 
Chama terra aos campos, às árvores, aos montes, 
Por uma diminuição instintiva, 
Porque o mar também é terra... 
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo... 
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra, 
Mas neste poente precoce e azulando-se 
O sol entre farrapos finos de nuvens, 
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado, 
E o que fica da luz do dia 
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina 
Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou? 
Símbolos? Não quero símbolos... 
Queria — pobre figura de miséria e desamparo! — 
Que o namorado voltasse para a costureira. 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

 

Covent Garden, Londres

Agosto de 2011

Jorge Soares

publicado às 17:35

Todos os Caminhos me Servem

por Jorge Soares, em 13.08.12

Todos os Caminhos me Servem

Imagem minha do Momentos e Olhares 

 

Todos os Caminhos me Servem


Todos os caminhos me servem. 
Em todos serei o ébrio 
cabeceando nas esquinas. 
Uma rua deserta e o hálito 
das pessoas que se escondem, 
uma rua deserta e um rafeiro 
por companheiro. 

Ó mar que me sacode os cabelos 
que mulher alguma beijou, 
lágrimas que os meus olhos vertem 
no suor dos lagares, 
que uma onda vos misture 
e vos leve a morrer 
numa praia ignorada. 

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

 

No caminho de Santiago entre as praias do Arenal de Moris e Esparsa

Astúrias, Agosto de 2011

Jorge Soares


publicado às 17:28

À Beira de Água

por Jorge Soares, em 12.08.12

À Beira de Água

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Estive sempre sentado nesta pedra

escutando, por assim dizer, o silêncio.

Ou no lago cair um fiozinho de água.

O lago é o tanque daquela idade

em que não tinha o coração

magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,

dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,

tão feito de privação.) Estou onde

sempre estive: à beira de ser água.

Envelhecendo no rumor da bica

por onde corre apenas o silêncio.

 

Eugénio de Andrade

 

Rio Sualón, Vegadeo, Astúrias

Agosto de 2011

Jorge Soares

publicado às 17:27

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,

Imagem minha do Momentos e Olhares 

 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 


Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ... 


Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não pensar...

 

Alberto Caeiro in Guardador de rebanhos

 

Praia La Isla, Colunga, Astúrias, Espanha

Agosto de 2011

Jorge Soares

publicado às 17:26

Ausência

por Jorge Soares, em 10.08.12

Ausência

Imagem minha do Momentos e Olhares 

 

Ausência
 

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida 
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. 
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados 
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. 
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. 
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. 
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. 
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. 
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. 
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. 
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. 
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. 
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. 
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. 
  

MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.

 

 

La Concha de Artedo, Astúrias, Espanha

Agosto de 2011

Jorge Soares

publicado às 17:24

Quando for grande vou ser, quero ser ....

por Jorge Soares, em 04.08.12

Quando eu for grande

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Quando for grande vou ser, quero ser um realejo
Ter um pedaço de terra, fogo que salta ao braseiro
Dormir no fundo da serra, quero ser um realejo

Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... do realejo

Quando for grande vou ser, quero ser um realejo
Ter um burro viola e cão, chamar a Dança dos Sapos
Correr com a bola na mão, quero ser um realejo

Quando for grande vou ser, quero ser um realejo
Colher amêndoa em telhados, dar banana às andorinhas
Dobrar o cabo do Mundo, quero ser um realejo

Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... realejo
Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... realejo

Quando for grande vou ser, quero ser um realejo
Ter um burro viola e cão, chamar a Dança dos Sapos
Correr com a bola na mão, quero ser um realejo

Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... realejo
Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... realejo

 

José Afonso

 

Ouvir aqui na voz de João Afonso

 

La Isla, Astúrias, Espanha

Agosto de 2011

Jorge Soares

publicado às 17:13

O melhor dia do Verão .. foi em Outubro

por Jorge Soares, em 06.10.11

Praia do Carvalhal

 

Ontem a meio da tarde o aspecto da praia do Carvalhal era o que se vê ali na fotografia, calor, a água a uma temperatura que nem no verão é normal por estas bandas, a praia cheia, os dois restaurantes cheios durante toda a tarde e até ao pôr do sol.

 

Saimos de casa por volta da hora do almoço, o objectivo era apanhar o Ferry Boat e ir fazer um picnic já no Alentejo junto à praia, a fila de  carros para apanhar o barco já chegava até ao Jardim da Beira Mar, pelo que foi necessário mudar de planos e ir à volta pela estrada.

 

Chegados ao Carvalhal o parque de estacionamento estava completamente cheio e a praia era um mar de guarda sois... foi uma tarde de praia como deve ser, só faltaram mesmo as bolas de berlim (alô vendedores de bolas de berlim, estão a perder a melhor parte do verão)

 

Pena que com a praia cheia não existam nesta altura nadadores salvavidas, felizmente o mar estava muito calmo e propicio ao banho sem grandes perigos.

 

Como os dias são curtos voltamos a Setúbal já era noite cerrada, esta vez pelo barco, mas tendo em conta que são quase 20 Euros pelo carro mais a família numerosa, fiquei a pensar se não tinha sido mais inteligente e mais barato voltar pela estrada.

 

Já estive a olhar para o site da metereologia, este fim de semana há mais... e viva o verão em Outubro

 

Jorge Soares

publicado às 22:09

Acampar nas Astúrias: Camping Arenal de Moris

por Jorge Soares, em 14.09.11

Praia do Arenal de Moris

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

No verão, quando a maioria do povo ruma a Sul, ao calor e à confusão, nós colocámos a tenda e os sacos cama no carro e rumámos a norte, rumo ao clima temperado e às paisagens verdes do Norte de Espanha.

 

Já não me lembro quem era a personagem, foi num programa de rádio daqueles onde a conversa se mistura com a boa música e na altura aquela frase fez todo sentido para mim: "As Astúrias são o paraíso, é a Suíça sem os suíços..." eu acrescentaria.. e sem os preços da Suiça... para além de que tem a vantagem que dá para ir de carro e tem dos melhores parques de campismo que já conheci.

 

Entre os muitos em que já estive, o Arenal de Moris será talvez o  mais organizado e profissional em que já estive. Está a 200 metros de uma praia fantástica, tem uma excelente piscina,  um parque infantil,  um óptimo bar e restaurante com uma esplanada enorme, um supermercado com tudo o que é necessário aos campistas... É super organizado, apesar do espaço enorme das parcelas, somos instruídos na forma como devemos colocar a tenda de forma a garantir a nossa privacidade e a dos vizinhos. As casas de banho são amplas e em número mais que suficiente de modo a que nunca existam filas ou confusão. Além disso estão SEMPRE imaculadamente limpas

 

Será talvez dos poucos sítios em que já estive em que no fim de Agosto montamos a tenda na relva em lugar de num terreiro... relva que daria inveja a muitos campos de futebol, tal a forma como é tratada e aparada.

 

Tem o senão de não estar perto de nenhuma grande cidade, mas isso garante que a praia normalmente é só para os campistas e que estamos rodeados de verde e tranquilidade. De resto, Ribadesella fica a uns 15 Kms e os Picos de Europa ali mesmo ao lado.

 

É claro que o clima do Norte de Espanha não é o mais apropriado para quem gosta de muito calor, a temperatura normal anda à volta dos 25 graus ...e claro, chove, mas a chuva faz parte, aquela paisagem verde só é possível com ela. Ao contrário do que as pessoas pensam, a água do mar nas Astúrias não tem nada a ver com a nossa da costa ocidental, este ano e apesar de que o verão foi chuvoso, a água estava normalmente a 23 graus. As praias tem menos ondulação que as nossas e com a maré baixa deixam-se ver areais enormes que convidam ao passeio e ao banho.

 

Em resumo, um parque de campismo excelente para quem não gosta  de muito calor e gosta de paz e tranquilidade.

 

Jorge Soares

publicado às 22:18

À noite há fadas pelo céu...

por Jorge Soares, em 09.08.11

O céu pintado pelas nuvens em Cambados

 

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

À noite,

Há fadas pelo céu,

Gigantes como eu,

Cuidado!

Há sombras na janela,

Peter Pan dança na estrela,

Não acordes na viagem.

Conta-me uma história

De tesouros e luar,

És capitão da Areia,

E pirata de Alto Mar

Agora,

As cortinas têm rostos,

São fantasmas bem-dispostos,

Cuidado!

O Super-homem está a caminho,

Traz o Panda e o Soldadinho,

Fecha os olhos e verás.

Às vezes

Há dragões que têm medo

E é esse o seu segredo,

Cuidado!

Vivem debaixo da cama,

Brincam com o Homem-aranha,

Vais levá-los no teu sono.

Conta-me uma história

De tesouros e luar,

És capitão da areia,

E pirata de alto mar

Conta-me uma história

Onde eu entro devagar,

És capitão da areia

Diz-me onde me vais levar

 

Pedro Abrunhosa

Capitães da Areia

Ouvir aqui

 

 

Cambados, Galiza, Espanha

Agosto de 2010

publicado às 12:13

No entardecer de um dia de Verão.. sobre a areia, Playa Montalvo

 

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

No entardecer dos dias de Verão, às vezes, 
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece 
Que passa, um momento, uma leve brisa... 
Mas as árvores permanecem imóveis 
Em todas as folhas das suas folhas 
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão, 
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria... 
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem! 
Fôssemos nós como devíamos ser 
E não haveria em nós necessidade de ilusão ... 
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida 
E nem repararmos para que há sentidos ... 
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo 
Porque a imperfeição é uma cousa, 
E haver gente que erra é original, 
E haver gente doente torna o Mundo engraçado. 
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos, 
E deve haver muita cousa 
Para termos muito que ver e ouvir ... 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

 

Fim de tarde de um daqueles dias de verão .....

 

Playa Montalvo, Portonovo, Galiza

Agosto de 2010

Jorge Soares

publicado às 12:11


Ó pra mim!

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