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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
Simbolos
Símbolos? Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo,
Todos me dizem nada.
Quais símbolos? Sonhos. —
Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem...
Que a terra seja um símbolo, está bem...
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas,
Para o azul do céu?
Mas quem repara na lua senão para achar
Bela a luz que ela espalha, e não bem ela?
Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
Chama terra aos campos, às árvores, aos montes,
Por uma diminuição instintiva,
Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,
Mas neste poente precoce e azulando-se
O sol entre farrapos finos de nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina
Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou?
Símbolos? Não quero símbolos...
Queria — pobre figura de miséria e desamparo! —
Que o namorado voltasse para a costureira.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Covent Garden, Londres
Agosto de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Todos os Caminhos me Servem
Todos os caminhos me servem.
Em todos serei o ébrio
cabeceando nas esquinas.
Uma rua deserta e o hálito
das pessoas que se escondem,
uma rua deserta e um rafeiro
por companheiro.
Ó mar que me sacode os cabelos
que mulher alguma beijou,
lágrimas que os meus olhos vertem
no suor dos lagares,
que uma onda vos misture
e vos leve a morrer
numa praia ignorada.
Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"
No caminho de Santiago entre as praias do Arenal de Moris e Esparsa
Astúrias, Agosto de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.
Eugénio de Andrade
Rio Sualón, Vegadeo, Astúrias
Agosto de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro in Guardador de rebanhos
Praia La Isla, Colunga, Astúrias, Espanha
Agosto de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.
La Concha de Artedo, Astúrias, Espanha
Agosto de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Quando for grande vou ser, quero ser um realejo
Ter um pedaço de terra, fogo que salta ao braseiro
Dormir no fundo da serra, quero ser um realejo
Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... do realejo
Quando for grande vou ser, quero ser um realejo
Ter um burro viola e cão, chamar a Dança dos Sapos
Correr com a bola na mão, quero ser um realejo
Quando for grande vou ser, quero ser um realejo
Colher amêndoa em telhados, dar banana às andorinhas
Dobrar o cabo do Mundo, quero ser um realejo
Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... realejo
Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... realejo
Quando for grande vou ser, quero ser um realejo
Ter um burro viola e cão, chamar a Dança dos Sapos
Correr com a bola na mão, quero ser um realejo
Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... realejo
Carteiro em bicicleta leva recados de amor
Vem o sono com a música ao som do... realejo
José Afonso
Ouvir aqui na voz de João Afonso
La Isla, Astúrias, Espanha
Agosto de 2011
Jorge Soares
Ontem a meio da tarde o aspecto da praia do Carvalhal era o que se vê ali na fotografia, calor, a água a uma temperatura que nem no verão é normal por estas bandas, a praia cheia, os dois restaurantes cheios durante toda a tarde e até ao pôr do sol.
Saimos de casa por volta da hora do almoço, o objectivo era apanhar o Ferry Boat e ir fazer um picnic já no Alentejo junto à praia, a fila de carros para apanhar o barco já chegava até ao Jardim da Beira Mar, pelo que foi necessário mudar de planos e ir à volta pela estrada.
Chegados ao Carvalhal o parque de estacionamento estava completamente cheio e a praia era um mar de guarda sois... foi uma tarde de praia como deve ser, só faltaram mesmo as bolas de berlim (alô vendedores de bolas de berlim, estão a perder a melhor parte do verão)
Pena que com a praia cheia não existam nesta altura nadadores salvavidas, felizmente o mar estava muito calmo e propicio ao banho sem grandes perigos.
Como os dias são curtos voltamos a Setúbal já era noite cerrada, esta vez pelo barco, mas tendo em conta que são quase 20 Euros pelo carro mais a família numerosa, fiquei a pensar se não tinha sido mais inteligente e mais barato voltar pela estrada.
Já estive a olhar para o site da metereologia, este fim de semana há mais... e viva o verão em Outubro
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
No verão, quando a maioria do povo ruma a Sul, ao calor e à confusão, nós colocámos a tenda e os sacos cama no carro e rumámos a norte, rumo ao clima temperado e às paisagens verdes do Norte de Espanha.
Já não me lembro quem era a personagem, foi num programa de rádio daqueles onde a conversa se mistura com a boa música e na altura aquela frase fez todo sentido para mim: "As Astúrias são o paraíso, é a Suíça sem os suíços..." eu acrescentaria.. e sem os preços da Suiça... para além de que tem a vantagem que dá para ir de carro e tem dos melhores parques de campismo que já conheci.
Entre os muitos em que já estive, o Arenal de Moris será talvez o mais organizado e profissional em que já estive. Está a 200 metros de uma praia fantástica, tem uma excelente piscina, um parque infantil, um óptimo bar e restaurante com uma esplanada enorme, um supermercado com tudo o que é necessário aos campistas... É super organizado, apesar do espaço enorme das parcelas, somos instruídos na forma como devemos colocar a tenda de forma a garantir a nossa privacidade e a dos vizinhos. As casas de banho são amplas e em número mais que suficiente de modo a que nunca existam filas ou confusão. Além disso estão SEMPRE imaculadamente limpas
Será talvez dos poucos sítios em que já estive em que no fim de Agosto montamos a tenda na relva em lugar de num terreiro... relva que daria inveja a muitos campos de futebol, tal a forma como é tratada e aparada.
Tem o senão de não estar perto de nenhuma grande cidade, mas isso garante que a praia normalmente é só para os campistas e que estamos rodeados de verde e tranquilidade. De resto, Ribadesella fica a uns 15 Kms e os Picos de Europa ali mesmo ao lado.
É claro que o clima do Norte de Espanha não é o mais apropriado para quem gosta de muito calor, a temperatura normal anda à volta dos 25 graus ...e claro, chove, mas a chuva faz parte, aquela paisagem verde só é possível com ela. Ao contrário do que as pessoas pensam, a água do mar nas Astúrias não tem nada a ver com a nossa da costa ocidental, este ano e apesar de que o verão foi chuvoso, a água estava normalmente a 23 graus. As praias tem menos ondulação que as nossas e com a maré baixa deixam-se ver areais enormes que convidam ao passeio e ao banho.
Em resumo, um parque de campismo excelente para quem não gosta de muito calor e gosta de paz e tranquilidade.
Jorge Soares
Imagem Minha do Momentos e Olhares
À noite,
Há fadas pelo céu,
Gigantes como eu,
Cuidado!
Há sombras na janela,
Peter Pan dança na estrela,
Não acordes na viagem.
Conta-me uma história
De tesouros e luar,
És capitão da Areia,
E pirata de Alto Mar
Agora,
As cortinas têm rostos,
São fantasmas bem-dispostos,
Cuidado!
O Super-homem está a caminho,
Traz o Panda e o Soldadinho,
Fecha os olhos e verás.
Às vezes
Há dragões que têm medo
E é esse o seu segredo,
Cuidado!
Vivem debaixo da cama,
Brincam com o Homem-aranha,
Vais levá-los no teu sono.
Conta-me uma história
De tesouros e luar,
És capitão da areia,
E pirata de alto mar
Conta-me uma história
Onde eu entro devagar,
És capitão da areia
Diz-me onde me vais levar
Pedro Abrunhosa
Capitães da Areia
Cambados, Galiza, Espanha
Agosto de 2010
Imagem Minha do Momentos e Olhares
No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Fim de tarde de um daqueles dias de verão .....
Playa Montalvo, Portonovo, Galiza
Agosto de 2010
Jorge Soares