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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
...há neste mundo mais medo de coisas más
que coisas más propriamente ditas..
Há pouco no telejornal foi noticia uma manifestação onde umas dezenas de pessoas algures em Lisboa, mostravam cartazes e gritavam consignas contra a entrada de refugiados em Portugal.. Para além dos slogans mais ou menos racistas e xenófobos, o jornalista tentou fazer as pessoas falarem do que estavam ali a fazer, em vão, todos repetem as mesmas frases feitas, mas ninguém consegue ir mais além e formular duas ou três ideias.
Esta manifestação não me estranha, a extrema direita nacionalista, racista e xenófoba existe em Portugal e até tem um partido que concorre em todas as eleições, felizmente não são mais que aquelas poucas dezenas.
Para ser sincero a mim tem-me chocado muito mais ver pessoas que conheço há anos, com as que já falei muitas vezes, a publicar ou partilhar no Facebook posts contra os refugiados, contra o islão, contra a emigração...
De vez em quando o assunto vem à baila nas conversas do dia a dia e para grande espanto meu a maioria das pessoas ainda que não expresse directamente, parece de uma ou outra forma ser contra o acolhimento de refugiados em Portugal.
Em comum há sempre duas coisas, a situação do país e o medo ao que possa vir, e não vale a pena explicar que não são 5 ou seis mil pessoas que irão fazer a diferença na economia portuguesa, ou que os terroristas ou já cá estão ou se quiserem vir não vão atravessar desertos e arriscar-se a morrer nas travessia do mediterrâneo, aliás, o que temos vistos é que há portugueses a ir combater na Síria e no Iraque ao lado do estado islâmico e esses vão para lá de avião.
Não percebo bem porquê nem desde quando, mas pelos vistos para o português médio, Sírio é sinónimo de terrorista e mesmo que venha com a mulher e os filhos pequenos, continua a ser terrorista e só pode vir para cá causar problemas.
O mais estranho é que esta conversa parece ser transversal a toda a sociedade portuguesa, porque ouvi o mesmo medo em pessoas de todas as classes sociais e níveis de instrução.
Estas conversas deixa-me sempre triste e irritado, primeiro porque há pessoas que me causam uma enorme decepção, porque na maior parte dos casos são pessoas com as que de uma ou outra forma trato há anos e parece que afinal não as conhecia. Por outro lado a tristeza é muito maior porque é de seres humanos que estamos a falar e parece que a maioria desta gente os preferia ver a morrer já seja na miséria ou nas guerras civis dos seus países de origem.
Dizia Mia Couto há dois ou três anos no Estoril que ...há neste mundo mais medo de coisas más que coisas más propriamente ditas... nestas alturas percebemos o alcance das palavras do grande escritor Moçambicano.
Quanto a mim, há pessoas que para as quais não voltarei a olhar da mesma forma, sempre tive mais ou menos a noção que o povo português é na sua génese racista e xenófobo, já não devia ser apanhado de surpresa, mas confesso que não tinha a noção de que somos tão medrosos e vivemos com tantos fantasmas à nossa volta.
Se puderem vão ler o texto de Mia Couto sobre o Medo, aqui
Jorge Soares