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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
A semana passada (neste post) falei de uma criança de 12 anos que estava grávida após uma violação por parte do padrasto. A menina estava no hospital de Santa Maria à espera que fosse tomada a decisão sobre se o melhor para ela era abortar ou não. Decisão que foi tomada no dia do post e que supostamente não seria divulgada de modo a preservar a sua privacidade. É claro que passadas poucas horas o Correio da Manhã, que evidentemente não se preocupa minimamente com essa coisa das privacidades, mesmo quando se trata de um caso de uma criança, anunciava ao mundo que a decisão tinha sido pelo aborto.
Tudo isto deixou-me a pensar, a ministra da justiça tem feito uma enorme campanha a favor da existência de uma lista de pedófilos que poderá ser consultada por polícias e pais. Para que queremos uma lista de pedófilos se claramente não conseguimos actuar onde e quando realmente é preciso? Vejamos o caso desta criança:
Aos seis anos houve a suspeita e uma denuncia de abusos por parte deste mesmo padrasto, denuncia que não deu em nada.
Não sei se antes ou depois, a criança esteve três anos institucionalizada alegadamente porque a família era disfuncional não conseguia tratar dela.
Depois deste tempo, alguém, imagino que um um juiz em resultado de avaliações da segurança social, resolveu que ela podia voltar para a família.
O resultado dessa (triste e infeliz decisão) foi que a partir dos 10 anos ela foi continuamente abusada e violada por parte de um membro dessa família e terminou por engravidar aos 12 anos.
A ministra preocupa-se em referenciar os pedófilos e em criar uma lista que não percebo bem para o que vai servir, todos os estudos nacionais e internacionais mostram que na sua grande maioria, tal como aconteceu neste caso, os abusos partem de pessoas do ambiente familiar ou próximas deste e que geralmente não estão referenciadas em lado nenhum nem tem antecedentes.
A ministra da justiça deveria preocupar-se em saber porque é que esta criança foi entregue pelo estado que a tinha à sua guarda numa instituição, a "uma família desestruturada e que sobrevive graças ao apoio de terceiros".
Em lugar de inventar listas de pedófilos, a ministra deveria tentar perceber porque é que esta criança que desde os seis anos estaria sinalizada por possíveis abusos, estava desde os 10 a ser abusada e violada pelo padrasto com quem vivia e ninguém foi capaz de dar por nada, não fosse ela ter engravidado quem sabe até quando continuariam.
A ministra deveria tentar perceber porque é que estes casos acontecem, porque é que as comissões de protecção de menores não funcionam, porque é que morrem às mãos dos seus familiares crianças que na maior parte dos casos até estavam sinalizadas...
A lista de pedófilos parece ser a forma fácil e demagógica chamar a atenção em ano de eleições, mas como se viu nas ultimas semanas, há coisas bem mais importantes para se resolver.
E já agora a ministra da justiça, o ministro da saúde e a procuradora geral da república deveriam tentar explicar-nos a todos como é que o Correio da manhã publica desta forma uma noticia que supostamente estaria protegida pela privacidade de uma criança de 12 anos.
E se tivessem todos vergonha?
Jorge Soares