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«Que escrever quando os olhos ainda se enublam de lágrimas de emoção, e o peito ainda palpita com a vibração da anciedade enorme que o agitou durante estes dias de gloria e de tragedia? Quem viveu esses dias inolvidaveis, unicos da vida, não julga possivel traduzil-os ainda na expressão mais bella e mais sentida da palavra humana.».

 

O texto acima foi tirado do jornal que está na imagem e que data de 5 de outubro de 1910, à luz do que todos aprendemos na escola há uma série de erros, a mim na Escola primária Soares Bastos ensinaram-me que ansiedade é com s e que em português não há palavras com dois ll como bella, glória é com acento e tragédia também... mas aposto que se for falar com a avó da minha meia laranja ela me vai dizer que não, que a ela na escola lhe ensinaram que era assim que se escreviam essas palavras....

 

Se não me engano depois do dia em que aquele texto foi escrito já se fizeram pelo menos 3 acordos ortográficos, e com eles muitas coisas mudaram. A julgar pelo que fui lendo hoje nos blogs e no Facebook, parece que todas as pessoas que eu conheço vão continuar a escrever como lhes ensinaram na escola... porque assim é que está bem e não andamos atrás dos brasileiros.... Tenho mesmo que ir falar com a Dona Alice a Bragança, será que quando se fizeram os acordos anteriores as pessoas também juraram que iam continuar a escrever enublam, anciedade, gloria, traduzil-os, bella?

 

Talvez porque durante uma boa parte da minha vida a minha língua foi outra, eu não sou capaz de olhar para este acordo como algo errado, basta olhar para o texto acima para percebermos que as línguas são algo vivo que vai evoluindo com o mundo, com o tempo ganham-se palavras, perdem-se outras, mudam-se formas, mudam-se letras, adoptam-se termos.... faz parte da evolução, faz parte da sobrevivência não só da língua e até do povo em que ela se sustenta.

 

Curiosamente as línguas que não mudam com o tempo chamam-se línguas mortas... por algo será.

 

A partir de amanhã é obrigatório passar a utilizar o novo acordo, parece que há por aí muito resistente e vai haver muita gente a escrever com erros... será que se tivessem nascido antes de 1920 continuariam a escrever Pharmacia?

 

Jorge Soares

 

PS:Pessoal dos blogs do SAPO, percebo que sejam contra, mas de certeza que há quem queira passar a utilizar o acordo, não acham que pelo menos deveriam dar-nos a hipótese de escolher o novo dicionário? Obrigado!

publicado às 21:34


24 comentários

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De Inês a 13.05.2015 às 11:38

Venho a este cantinho de vez em quando porque gosto do que escreve (independentemente de concordar ou discordar). O que é certo é que nunca comentei. Hoje olhe, apetecee-me. ):
Concordo com o que diz mas, ... enquanto não me explicarem porque é que facto passa a ser fato (então não são só as consoantes mudas que se eliminam'?) e cor-de-laranja deixa de ter os hífens e cor-de-rosa os mantem (!!), continuare a escrever como me ensinaram. Para além disto, um acordo pressupõe que as partes concordam. O que se sabe é que quase ninguém concorda e só Portugal e Brasil é que vão para a frente com o AO. Então e os outros países falantes de português, que era suposto assinarem o acordo? Não interessam? Não têm uma palavra a dizer? Não me parece que as coisas estejam lá muito bem. Beijinhos. Inês
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De Cristina a 13.05.2015 às 12:13

Facto continua a ser facto (tal como 'contacto'). Aliás, fica com dupla grafia. Quanto ao cor-de-rosa e cor-de-laranja, não faço a mínima ideia.
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De Jorge Soares a 13.05.2015 às 23:29

Olá

É bom saber que há quem goste do que escrevo

E não, não temos que estar sempre de acordo, um dos motivos que me leva a escrever é mesmo esse, debater ideias, porque é da troca de ideias que sai o conhecimento.

Acho que já responderam às questões, de todos modos não é verdade que os outros países não tenham assinado o acordo, todos assinaram, acontece que há alguns que ainda não o puseram em prática, mas não tenhamos duvidas, quando estiver em pleno no Brasil e em Portugal, o resto dos países irá atrás, até porque os livros imprimem-se é nestes dois países.

Jorge

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De João Costa a 13.05.2015 às 12:11

A explicação para o cor-de-rosa e cor de laranja está aqui http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=29674

Quanto ao facto/fato, há aí um ideia errada, em Portugal "facto" no novo acordo mantém o "c", porque o mesmo é pronunciado, e o Brasil mantém a grafia "fato" por não dizerem o "c". Há algumas palavras que mantém a dupla grafia para os dois países e a palavra facto/fato é uma delas.
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De CM a 13.05.2015 às 12:25

Já tinha passeado pelo seu blog, mas hoje tive mesmo de vir comentar.. Concordo consigo que as línguas evoluem, acho bem.. Quando essa evolução se dá como se deram os últimos 3 acordos.. Deram-se no "interior da origem da língua" (se é que me faço entender) e não se tratam de importações de grafias e termos de línguas de provêm da original. O chamado português do Brasil é isso mesmo, uma derivação da língua original.. Na minha opinião a ter de existir uma uniformização, então todas as comunidades falantes de português deveriam optar pelo português de Portugal.. A origem... Qualquer dia estamos a dizer equipe em vez de equipa e esporte em vez de desporto.. Mas esta é apenas a minha opinião, e vale o que vale!
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De Manuel a 13.05.2015 às 15:35

É isso mesmo!
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De Jorge Soares a 13.05.2015 às 23:31

O objectivo deste acordo é mesmo esse, não pode haver um Português de Portugal e outro do Brasil, tem que haver um português universal e isso só pode acontecer se nos pusermos de acordo... se não o fizermos pode ter a certeza que no futuro só vai haver um português do Brasil e algures num canto da Europa haverá um punhado de resistentes que falarão um dialecto antigo.

Jorge Soares
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De Luís a 13.05.2015 às 13:44

Há algo que me preocupa, não é o perder da origem das palavras, mas sim o sentido das mesmas.

Por exemplo palavras como "pára", que irá perder o sentido, passando para "para".

Supondo que numa transcrição de uma escuta, às tantas um arguido diz "Para aí!!!". Estará ele a incitar a acção ou contra a mesma?
Teremos de ouvir a escuta? e se a gravação ficar danificada ou se perder?
Os advogados podem usar a transcrição, ou a língua portuguesa deixa de ser suficientemente viável para ser usada como prova?

Já não basta a língua se encher de estrangeirismos, com falsos sentidos, que também irá perder o seu próprio sentido? Caminhamos para uma língua útil apenas verbalmente, deixando a sua utilidade escrita?

Faz sentido perder o c de acção, é uma confusão para os estrangeiros que querem aprender português, pois não têm de ler o c.
Não faz sentido facto perder (não irá perder), pois em Portugal não há "paletó".

Volto a referir, cuidado com o sentido, a utilidade da língua e precisão do significado da mesma. Para interpretação dúbia, já bastam as leis que o legislador teima em escrever de forma pouco clara.
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De Ana Perry a 13.05.2015 às 14:11

Boa tarde, eu não consigo concordar com este acordo e a verdade é que acho que já não sei escrever!

Em relação ao que escreveu sobre fazer sentido tirar o c da palavra acção, eu aprendi que esse c existe (tal como noutras palavras) para abrir a vogal que o antecede uma vez que em português não se usa a dupla acentuação (salvo raras as excepções).
Não consigo mesmo concordar com nenhuma das alterações deste acordo que me parece ter razões puramente económicas e nada relacionado com a evolução de uma língua.
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De golimix a 13.05.2015 às 14:54

Devo ser das poucas a concordar contigo. E a malta da SAPO devia ter issoem conta. Aliás meu caro amigo, tal como já disse, lá para o meu canto, e em vários locais hoje, a língua portuguesa é mais assassinada com a substituição por palavras em Inglês do que com este acordo ortográfico.

Não consigo entender a confusão....
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De Janeka a 13.05.2015 às 15:12

Já tinha publicado este texto noutro lugar, versando o mesmo tema, mas não resisto repeti-lo agora.

Existe imensa gente no Brasil, onde vivo por temporadas, que defende a inevitável absorção de expressões estrangeiradas, sobretudo os novos anglicismos da moda, porque os idiomas, são vivos, plásticos, permeáveis, em suma, sujeitos a influências, transformações, etc e tal... argumentando ainda que, numa relação coloquial, o que realmente importa, é que a gente se entenda, sem preconceitos.
Até há bem pouco tempo, pensei que talvez tivessem razão. Não quero ser considerado um velho intolerante, e decidi deixar-me ir com a corrente, escrevendo num português de cá e de lá, que já não sabia como considerar correto, até ao dia em que o meu telemóvel pifou definitivamente.

Como não é possível imaginar a vida sem este artefato, do qual nos tornamos completamente dependentes, corri até ao XÓPI (1) para comprar um novo. No ESTANDJI (2) duma marca conhecida, escolhi um modelo bonitinho, capaz de fazer uma lista de coisas que a gente nunca usa, mas, que afinal também dava para telefonar. A moça que me atendeu, apontou-me a particularidade de ser do tipo ESLÁIDJI (3). Desculpe. Não entendi... ESLÁIDJI !!! Repetiu ela com alguma soberba, olhando de lado para o pobre imbecil, seguramente ignorante do idioma inglês, mas, complacente, ainda se dignou explicar que a tampinha deslizava, tapando, ou mostrando o marcador... Ah, entendi... qual é o preço? Momentinho, é só consultar aqui o LÉPI TÓPI , (ou NÓTJI BUQUI)(4) . Custava 800 reais, o que não era caro, mas só não o era, porque se vendia maciçamente, certamente graças a uma boa campanha de MARQUITJI (5) Negócio fechado. Hora do almoço e com fome, decidi comer alguma coisa. As opções gastronômicas numa coisa como um XÓPI, não são muitas, e o remédio foi abancar num FÉSTJI FUDJI (6) ( juro que não estou escrevendo malcriadices), e pedi um BIGI MÉQUI (7), do que me arrependi assim que esta substância me caiu no estomago, porque o meu sistema digestivo a rejeitou como alimento não grato. Um suposto VIPI (8) como eu nunca deveria ter cometido este tipo de sacrilégio. FÉSTJI FUDJI, definitivamente não é FÉCHON (9) e pode literalmente empurrar o nível de qualquer um pelo escoadouro. Vagamente atordoado e tentando reter a ingrata refeição no bucho, sai dali correndo. Fui buscar o carro no Parki (10) e saí. Á laia de despedida, uma voz metálica ainda me atormentou na cancela automática, com um “ Insira aqui seu TIQUITJI (11) obrigado e volte sempre”. Decididamente, voltar não era o que tinha em mente. Na verdade, com a raiva acometida por estas modernices, o que me apetecia era regredir, enfiar-me numa caverna e voltar aos grunhidos ancestrais e puros da nossa origem simiesca.

Nota do tradutor: (1)- Shopping = Centro comercial, (2) – Stand = Banca de representações. (3) – Sliding = deslizante (4) – Lap Top ou Note Book = Computador portátil. (5) – Marketing = Promoção publicitária. (6) – Fast food = Comida rápida. (7) – Big Mac = Grande Merda (8) – Vip = Abreviativo de Very Important Person, um adjetivo geralmente mal aplicado em pessoas com muita fachada, mas pouco conteúdo. (9) – Fashion =sofisticado (10) – Parking = Lugar de estacionamento (11) - Ticket = Cartão ou bilhete.
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De Jorge Soares a 13.05.2015 às 23:33

Acho que está a confundir coisas diferentes, uma coisa é a forma e o sotaque que se fala em alguns lugares do Brasil e até de Portugal... há pessoas que falam mal em todos os lados... outra é a língua oficial.

Jorge Soares
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De Janeka a 15.05.2015 às 00:24

Olá Jorge,
Não estou confundindo nada. Isto foi só uma brincadeira, mas na verdade, começam com o sotaque errado, que acaba por ser adoptado na escrita, como o termo TIME (do inglês team), que os brasileiros usam para equipa, e neste caso, conseguem a proeza de corromper dois idiomas, o nosso (deles) e o inglês. E por aí vai...
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De Manuel a 13.05.2015 às 15:40

Portanto, como a Língua Inglesa não é submetida a este tipo de "acordos" acéfalos, é uma língua morta...
Os argumentos dos acordistas fazem cada vez menos sentido.
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De Jorge Soares a 13.05.2015 às 23:35

Quem disse que para o inglês não existem estes acordos?, é claro que existem, tal como para o Espanhol... são é mais pacíficos...

Jorge Soares
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De Maria Alfacinha a 13.05.2015 às 16:37

Felizmente não estamos todos de acordo ou o amarelo desaparecia do mapa :-)
Francamente acho que é uma perda de tempo alterar uma ortografia quando ninguém se preocupa em entender, falar e (neste caso) escrever correctamente. Grande parte das pessoas, estou convencida, nem nunca abriram um dicionário...
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De golimix a 13.05.2015 às 22:10

Por acaso gosto imenso do amarelo 😉
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De Maria Alfacinha a 14.05.2015 às 09:32

Também eu! :-)
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De Anonimo a 13.05.2015 às 17:47

O acordo parece que esta a criar desacordos em algumas mentes, mas nos temos que ver a língua portuguesa por uma perspectiva internacional da língua. O português por si so ficaria reduzidíssimo a uns escassos milhões se esquecêssemos o português que derivou do português original. Sem os países que falam português, imaginemos que os países colonizados passavam a falar outra língua, (os ingleses formaram uma commwealth com os seus antigos países colonizados), a expressão do português europeu a nível internacional e em instituições internacionais ficaria reduzidíssimo, para encontrar muitas traduções encontram-se em brasileiro e não em português europeu. O interesse de facto seria uniformizar esta língua falada em diferentes países de modo a que cada uma não começasse a autonomizar-se mas sim uniformizar-se numa única. Claro que há sempre quem venha com o renegar a língua de camoes mas os factos são factos e ou nos cingimos então a nossa pequenez linguística ou promovemos e comungamos de uma comunidade internacional que tem por base uma mesma linguagem.

Outro problema é se as pessoas vao agora escrever por decreto porque este assim obriga, claro que não, eu vou escrever como aprendi, alias a lei não obriga ninguém a escrever pelo novo acordo a não ser funcionários públicos, instituições, escolas, alunos mas o resto pode escrever pela moda antiga, se for num computador o corrector faz o trabalho mas manualmente sigo a grafia mental na qual fui educado, já as crianças na escola ai sim começa-se um processo de base e a medida que as gerações mais antigas desaparecem as novas gerações já escrevem automaticamente pela nova grafia.
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De Marquês Barão a 13.05.2015 às 21:41

E os que sempre foram analfabetos, antigos e modernos, vão junto para a fogueira?

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