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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Hoje a meio da tarde, deitado ao sol do Alentejo, dei por mim a pensar que já estive em Nova Iorque, em Londres e em Madrid, três cidades que foram vitimas de atentados da Alqaeda.
Estive em Nova Iorque em 2007, era Dezembro, estava muito frio, não fui ao Ground Zero e não me lembro de ter pensado nos atentados. Em Madrid foi diferente, talvez porque fui com toda a família e cheguei de comboio à estação de Atocha, um dos locais onde explodiram as bombas. Não falamos do assunto, mas lembro-me de ter sentido um friozinho no estômago.. O mesmo friozinho que senti quando cheguei a Londres há uns dias e fui de metro do aeroporto para o Hotel e nos dias seguintes quando ia no metro e dava por mim a lembrar-me do assunto.
É verdade que não deixamos de viver, mas somos humanos e o que aconteceu nestas três cidades não deixa de nos marcar.
O Onze de Setembro para além do enorme número de vidas que ceifou, foi para todos nós o acordar para um mundo diferente, desde o fim da guerra fria que se vivia uma calma aparente. Os atentados acordaram-nos para a realidade e para guerras e receios diferentes.
Entretanto muitas coisas mudaram, de repente todos passamos a ser presumíveis terroristas com tudo o que isso significa: andar de avião é um suplício, visitar monumentos, museos e até igrejas implica quase sempre ser sermos vistos, revistados e vasculhados. Gastaram-se biliões de dólares em segurança, invadiram-se países, mudaram-se governos e regimes. Morreram perto de 3000 pessoas no dia 11 de Setembro de 2001, entretanto nas guerras geradas por esse dia, só americanos já morreram mais de 7000 soldados.Será que tudo isto nos faz sentir mais seguros?
A verdade é que não, como dizia alguém numa das muitas reportagens que vi ou li, andar numa cidade e ver soldados ou policias armados até aos dentes não nos faz sentir mais seguros, só nos recorda que o perigo é latente e que as ameaças podem vir de qualquer lado.
Um mundo seguro é aquele em que não são necessários policias armados até aos dentes, nem scanners corporais nos aeroportos, nem revistas nas entradas dos museus. A existência de tudo isto 10 anos depois da queda das torres só significa que todas as guerras, que todos os mortos que ocorreram entretanto, serviram para muito pouco, estamos muito longe, talvez cada vez mais longe, de ganhar a guerra ao terrorismo e ao terror que este semeia em todos nós.
Jorge Soares
Imagem do Público
justiçar - Conjugar
(justiça + -ar)
Hoje li algures uma frase lapidar:
"Dificilmente alguém não se lembrará onde estava no dia 11 de Setembro de 2001"
É verdade, eu lembro-me perfeitamente, estava a trabalhar e longe da televisão, fomos seguindo tudo pela internet, mas consigo recordar a maior parte do dia. Entretanto passaram 9 anos, e de uma certa forma o mundo mudou... é muito dificil perceber se foi para melhor ou para pior.
Esta semana deu para perceber que foi um dia que deixou marcas principalmente na sociedade americana, uma sociedade feita de muitas culturas, um autêntico arco iris humano onde de certeza é possível encontrar comunidades de imigrantes de absolutamente todos os países do mundo.
Primeiro foram as noticias sobre o rechaço à construção de uma mesquita em Nova York a poucas centenas de metros do Ground Zero, o lugar onde se deu o atentado, depois foi o aparecimento num lugar perdido do enorme mapa americano de um fanático que pretendia converter este dia no dia da queima do corão.
Não sei quantas mesquitas haverá em Nova Iorque, mas de certeza que serão muitas e haverá de certeza muitos milhares de fieis para elas. Toda esta polémica à volta do lugar de construção da nova Mesquita, tal como a louca ideia de queimar os livros do Corão, mostra que a sociedade americana ainda não curou as suas feridas e mostra sobretudo que não percebeu algo essencial, os atentados não são obra de uma religião, não são obra de um povo, são obra de um grupo de loucos fanáticos que se juntaram numa organização, a Al qaeda.
De resto a queima de símbolos não é nada original, quantas vezes já vimos serem queimadas bandeiras americanas, ou de Israel, há bem pouco tempo e após o aparecimento de cartoons que retratavam alá, a queima de bandeiras da Dinamarca. É evidente que esta ideia de queimar o Corão é resultado do fanatismo cego de alguém que procurava os seus 5 minutos de fama, é sem dúvida um acto idiota e que não fosse a aldeia global em que vivemos, não teria direito nem a um pé de página nas noticias do dia. Para mim foi estranho ver toda a repercussão que pode ter o acto de um louco. Manifestações de protesto em vários países que chegaram a causar mortos e a intervenção directa do próprio presidente americano Barack Obama. Curiosamente, não me lembro de manifestações nem preocupações do mesmo tipo quando são queimados ou destruídos símbolos ocidentais.
O 11 de Setembro deixou marcas evidentes, principalmente nos Estados Unidos, acredito que daqui a duas ou 3 gerações não será mais que uma data no calendário, tal como hoje é a data em que ocorreu Pearl Harbor ou a data do lançamento da primeira bomba atómica em Hiroshima no Japão. Entretanto, a sociedade Americana lambe as feridas que parece que tardam em cicatrizar, mas há algo que ninguém pode esquecer, os muçulmanos são parte dessa sociedade, uma parte enorme e importante, já era assim antes de 2001 e será-o cada vez mais.... e se há algo que esta sociedade sabe fazer, é aprender a viver com a sua história.
Jorge Soares
Imagem da internet
Tinha lido a noticia no Público, vai começar o julgamento do 11 de Setembro, ontem estávamos a jantar e a ver o telejornal e o assunto apareceu, por entre imagens dos ataques com os aviões a embater nas torres, falaram do mentor de toda a operação, da forma como estava preso em Guantanamo e de como foi interrogado e sujeito à tortura.
Por momentos arrependi-me de estar a ver aquilo, um gráfico animado mostrava como o homem foi sujeito dezenas de vezes a uma tortura em que é colocado de cabeça para baixo e como esta é submergida num recipiente cheio de agua, ...dezenas de vezes.
Tinha lido sobre a polémica que o julgamento está a causar nos Estados Unidos, há quem queira que os culpados sejam julgados e condenados, há quem simplesmente pretenda que se esqueça todo o assunto, há familiares que clamam por vingança e outros que simplesmente querem seguir em frente. Imagino que haverá muita gente com medo que se comece a puxar o fio e se destape a panela dos horrores, não sei se haverá muita gente com vontade de ouvir o que realmente se passa em Guantanamo. Como se pode julgar alguém com base em testemunhos obtidos por meio de tortura?, como se pode querer justiça quando se tratam seres humanos, por muito culpados que sejam, daquela forma?
Voltando ao dia de ontem, os meus filhos estavam à mesa, fiquei admirado porque não sabiam do que se estava a falar, mesmo a imagem dos aviões a entrar pelas torres, tão familiar para nós, para eles era algo novo... é claro que é natural, eles tinham pouco mais de um ano quando aquilo aconteceu... já passaram 9 anos....e dizem que por cá a justiça é lenta.
Depois, como explicamos a uma criança de 10 anos que há um sitio onde se colocam as pessoas de cabeça para baixo com esta dentro de um balde de água? Naquela imagem quem são os maus e quem são os bons? Como explicamos que aquilo se passou no país onde supostamente se defende a democracia no mundo?, como explicar algo em que eu próprio me recuso a acreditar?
Se eu já não consigo entender quem são os bons e quem são os maus, como posso explicar?
Jorge Soares