Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
O Dia Nacional do Pijama® é um dia solidário feito por crianças que ajudam outras crianças.
Neste dia, as crianças até aos 6 anos (este ano, alargado também a um número limitado de crianças do 1º ciclo), nas escolas e instituições participantes, de todo o país, vêm vestidas de pijama para a escola e passam, assim, o dia, em atividades educativas e divertidas, até regressarem a casa.
O Dia Nacional do Pijama® realiza-se a 20 de novembro de cada ano.
Este é um dia em que as crianças pequenas lembram, anualmente, a todos que "uma criança tem direito a crescer numa família".
O Dia Nacional de Pijama® é uma iniciativa e marca registada da Mundos de Vida®.
Só agora percebi que devia ter feito este post há um mês atrás, até porque a Mundos de Vida faz parte dos meus contactos no Facebook e de certeza que isto me passou pela frente... mas a mensagem deve ter passado, porque um destes dias a D. chegou a casa com um folheto que lhe deram lá na escola, há pelo menos uma escola em Setúbal.
Chamo a atenção para a mensagem no Vídeo, há mais de 9000 crianças institucionalizadas em Portugal, crianças que merecem toda a atenção que lhes pudermos dar, a Mundos de vida tem feito um trabalho excepcional em prol das crianças que estão ao seu cuidado, nomeadamente através do programa de acolhimento familiar e do seu programa Loja de abraços.
Jorge Soares
Quantas famílias sabem que perto de sua casa existem crianças em instituições que podiam crescer melhor numa família, onde pudessem receber um beijo de bons-dias, ter quem lhes lesse uma história, junto à cama, ao deitar, ou lhes desse, simplesmente, um abraço quando lhes dói a barriga ou arranham o joelho?
Todos nós precisamos de assumir um compromisso claro e firme para uma progressiva diminuição do número de crianças que vivem em instituições.
Desde há mais 20 anos que a situação no nosso país é anacrónica, comparada com a maioria dos países europeus.
Em Portugal, 95% das crianças vivem em instituições (são 8.500 em todo o país), realidade muito diferente do que acontece nos países europeus vizinhos. No nosso país, apenas 5% das crianças separadas temporariamente dos seus pais vivem com famílias de acolhimento, quando em Espanha são 32%, em França 61%, subindo para 72% em Inglaterra.
Este grave problema, em Portugal, até hoje parece não ter ainda roubado o sono a ninguém.
Como escreveu Jesus Palácios, um grande perito internacional, nos centros de acolhimento, as crianças acabam por se tornar invisíveis. E neles acabam por passar muitos anos da sua infância e adolescência. E quanto mais tempo, as crianças passam nas instituições, mais difícil é encontrar-lhes uma alternativa familiar e mais danos acumulam. Infelizmente, ainda hoje muitos entram pequeninos e são logo institucionalizados, permanecendo nos centros boa parte da sua infância, senão toda.
Ou será que, num país tão solidário como PORTUGAL, não existem famílias de acolhimento dispostas a que, já no próximo ano, seja possível que nenhuma criança menor de três anos tenha de passar uma única noite numa instituição, como já acontece em muitos países europeus e em comunidades da vizinha Espanha?
Em Portugal, estas famílias existem, mas é preciso querer e saber procurá-las, cativá-las, prepará-las, apoiá-las e fazer com que a sua experiência seja satisfatória. Para as crianças implicadas, com certeza será.
Então, porque é que há tantas e tantas crianças a viver em instituições?
Isto acontece – também ocorreu, no passado, noutros países - porque apesar da colocação de crianças em instituições ser a medida menos recomendável, ao mesmo tempo, é a mais fácil de gerir. É muito mais simples construir e contratar profissionais para centros de acolhimento do que procurar famílias adequadas e apoiá-las eficazmente. Mas o mais fácil para o Estado nem sempre é o mais conveniente. E quando falamos de crianças que tiveram experiências familiares muito adversas, e que necessitam de vivências reabilitadoras e terapêuticas, a institucionalização é sem dúvida a solução menos desejável. O risco vivido na família biológica é substituído pelos riscos inerentes à institucionalização, que são tantos e cientificamente documentados e que afetam sobretudo o desenvolvimento emocional e a saúde mental, mas também o rendimento escolar e a integração social presente e futura. As instituições não são as causadoras destes problemas, no entanto, também não servem para resolvê-los, contribuindo, não raras vezes, para o seu agravamento.
Haverá quem pense que a melhor solução (acolhimento familiar) é muito mais cara do que a situação menos desejável (institucionalização), para acolher a criança até que regresse para junto dos seus pais. Mas é justamente o contrário. Uma criança num centro de acolhimento é muito mais dispendiosa (mais do dobro do custo) para o Estado. Não se devem promover acolhimentos familiares apenas porque são mais baratos, mas a verdade é que colocar as crianças numa instituição é a alternativa menos desejável e é também a mais cara. Por isso, também não existem desculpas financeiras, para se mudar esta situação, em Portugal, de uma forma muito mais decidida, agora que estamos quase a chegar aos 25 anos da Convenção Internacional dos Direitos da Criança.
Nos últimos seis anos, provamos que é possível, em Portugal, encontrar alternativas familiares, para as crianças que têm de viver separadas temporariamente dos seus pais, por decisão da Comissão de Proteção ou do Tribunal.
A experiência na MUNDOS DE VIDA tem sido extraordinariamente positiva, já encontramos e formamos mais de 90 famílias de acolhimento.
A Beatriz e mais 8.500 crianças, que vivem em instituições, podem ter esperança. Os portugueses são um dos povos mais solidários do mundo. Vamos continuar a trabalhar para que as crianças em Portugal tenham "direito a crescer numa família".
Neste momento, decorre a Campanha Procuram-se Abraços 2013 que visa encontrar mais Famílias de Acolhimento para Crianças, em 10 concelhos dos distritos de Braga e do Porto.
Se gostava de ser família de acolhimento ou de saber mais sobre este tema, visite o site www.mundosdevida.pt, envie um simples email para mundosdevida@mundosdevida.pt ou telefone para 252499018.
OBRIGADO.
Retirado do Facebook
Imagem do Facebook
"Esta é a imagem da campanha "Procuram-se Abraços" 2013 da MUNDOS DE VIDA. Em outdoors, em folhetos, em spots nas rádios e através de vídeos, está na rua, durante dois meses, nos concelhos de Maia, Vila do Conde, Póvoa, Trofa, Santo Tirso, V, N. de Famalicão, Guimarães, Vizela, Barcelos e Esposende. Se gostava de ser família de acolhimento ou de saber mais sobre este tema, visite o site www.mundosdevida.pt, envie um email para mundosdevida@mundosdevida.pt ou telefone para 252499010. Em Portugal, 8.500 crianças vivem em instituições, muitas poderiam crescer melhor no seio de uma família de acolhimento como a sua."
Há coisas que realmente fazem a diferença, esta campanha é uma dessas coisas, porque pode realmente fazer a diferença para muitas crianças que não tendo como projecto de vida a adopção, podem desta forma vir a ter um lugar onde viver fora das instituições e uma família que lhes possa dar o amor a atenção e o carinho que merecem como qualquer outra criança.
Para as pessoas que não vivem nos concelhos em que trabalha a Mundos de Vida mas que tem o desejo de ser famílias de acolhimento, podem dirigir-se à segurança social da sua área de residência e manifestar a sua vontade, há muitas crianças noutras instituições por todo o país que também esperam por amor e carinho.
Por fim, nunca está demais recordar, as famílias de acolhimento não se podem candidatar à adopção e por lei o acolhimento ésempre temporário.
Vejam o Vídeo
Jorge Soares
A propósito do post de ontem e do caso em que o tribunal mandou retirar sete dos dez filhos, por primeira vez fui expulso de um grupo do Facebook, alguém me inscreveu num grupo que pretende que os filhos sejam devolvidos à mãe. Tentei explicar que o que esteve por trás da retirada não foi o facto de a mãe não ter querido laquear as trompas e sim os restantes factores... mas não vale a pena, as pessoas olham para o que querem ver..e quando ficaram sem argumentos para me contradizer, expulsaram-me. Gostava de saber se quem quer que devolvam as crianças, também vai arranjar um emprego para a mãe e uma creche para as filhas e netos da senhora?.. sim, porque entretanto, hoje numa das noticias diziam que uma das filhas, uma criança com13 anos, já tinha tido um filho.
Tenho uma pergunta para o mundo, o que é que é preferível, que juízes e segurança social pequem por excesso e retirem as crianças às famílias mesmo que depois se prove que estas conseguem mudar e as possam receber de volta, ou que pequem por defeito e depois as crianças apareçam a boiar no rio Douro vitimas de negligência e maus tratos como já aconteceu?
Jorge Soares
O apadrinhamento civil nasceu há um ano atrás, ante a impossibilidade de fazer a justiça, a segurança social e o acolhimento funcionar a uma só voz e em prol dos benefícios das crianças, o Estado decidiu tirar um coelho da cartola, uma solução que fica a meio entre o acolhimento familiar e a adopção, que não é nem carne nem peixe e que supostamente deveria funcionar como a solução milagrosa para esvaziar os centros de acolhimento.
Vamos lá esclarecer umas coisas, em primeiro lugar e ao contrario daquilo que podemos ler na comunicação social, isto não é adopção, adoptar é ter um filho, nosso..e só nosso, um filho que leva os nossos apelidos, que é criado por nós segundo os nossos princípios, as nossas ideias, as nossas crenças. Apadrinhar não é isso, nem tem nada a ver com isso. Acreditem em mim, quem adopta é egoísta e não quer partilhar os seus filhos com ninguém, muito menos com famílias biológicas. Conheço muita gente que já adoptou ou que quer adoptar, até hoje, não encontrei uma única dessas pessoas que estivesse disposta a apadrinhar uma criança nestas condições.
Depois há muitas coisas por explicar, é suposto ser uma medida definitiva, a criança é entregue a alguém que passa a ser a nova família, mas o que acontece se um dia a família biológica decidir que quer o seu filho de volta?, como se vai gerir o conflito?, o que acontece se simplesmente a nova família decide ir viver para outra cidade, ou para outro país, não pode?, como se garante o acesso da família biológica à criança? colocam um processo em tribunal a exigir que o filho fique?.. mais processos em tribunal? Há muitas perguntas sem resposta, além disso devemos recordar que estamos a falar de crianças que foram retiradas muitas vezes à força a famílias disfuncionais... não precisamente de pessoas normais e cumpridoras da lei..se o fossem as crianças não estariam entregues ao estado.
Curiosamente esta semana o apadrinhamento foi noticia em toda a comunicação social, será que o foi porque alguém se fez estas perguntas?, algum jornalista leu a lei e decidiu questionar sobre tudo isto? Claro que não, foi noticia porque alguém se lembrou de que a lei não diz explicitamente que os casais de pessoas do mesmo sexo não podem apadrinhar. E claro, apareceram logo os arautos da defesa da moral e dos bons costumes a iniciar uma nova cruzada em favor das pobres crianças que vão ser obrigadas a levar com dois pais ou duas mães... É o país que temos, com tantos buracos na lei.. eles só viram o mais pequeno de todos. Raio de gente.
No meio de tudo isto achei engraçado que há quem pense que isto só funcionaria se o estado pagasse o serviço aos padrinhos... então e porque não pagar a quem adopta?... e a todos os pais? ou ser padrinho é mais difícil que ser pai?
Jorge Soares
Imagem da internet
Ontem estive umas horas no Stand da associação Meninos do Mundo na Natalis, apesar de que a feira estava morta, para um Sábado à noite havia pouquíssima gente, um Stand onde se fala de adopção chama sempre a atenção.
Já quase ao fim da noite e talvez porque o Meu N. e as duas miúdas da João pintavam a manta por ali à volta, acercou-se uma senhora e perguntou se tínhamos muitas crianças ao nosso cuidado. Desfeita a confusão, a Meninos do Mundo é uma associação de apoio à adopção e não tem instituições com crianças, a conversa foi mais ou menos assim:
-Eu tenho 3 sabe?
-3, ... 3 crianças adoptadas?
-Sim, .. bom, adoptadas não, elas estão comigo, elas foram retiradas à mãe e estavam numa associação, como éramos os únicos que as visitávamos e eu disse que as queria, o tribunal entregou-mas.
A senhora, que já tinha um filho, tem à sua guarda 3 irmãos, sendo que a criança mais velha tem 13 anos e a mais nova 7...e tem um filho de 10 anos. As crianças estão à sua guarda há mais de dois anos. Não eram da sua família, eram crianças que ela conhecia e que se não fosse por ela estariam de certeza absoluta institucionalizadas e possivelmente separadas, dada a diferença de idades. Como as crianças lhe foram entregues à sua guarda e não como família de acolhimento, ela não tem direito a nenhum apoio do estado e todos os gastos de todos os tipos são por sua conta.
Ela veio ter connosco porque precisava de informação, quer aquelas crianças mas não sabe o que fazer. A verdade é que não pode fazer muito, a mãe mantém o contacto, aparece de vez em quando, isto faz com que o tribunal não mude a medida de protecção, o mais certo é que as crianças passem o resto do tempo até serem maiores de idade com ela, porque mesmo que a mãe deixe de aparecer, e as crianças vão para adopção, numa situação como estas a segurança social deverá dar primazia à família com quem elas vivem, até porque com a idade delas, nunca haverá outros candidatos para estes três irmãos.
Há pessoas que tem o coração do tamanho do mundo, dizia-me a senhora que gostava de dar muitas coisas às crianças, não pareceu que passassem necessidades, mas com 4 filhos e como ela dizia, não há idas ao circo ou férias, mas eu vi nos olhos dela que trocava tudo isso por aquelas crianças de muito bom grado.
Bem haja para quem tem esta capacidade de amar.
Jorge Soares
Imagem da internet
Cá por casa para além das noticias pouco se vê a televisão generalista portuguesa, deve ser por isso que o programa me passou ao lado, o comentário do Pedro hoje à tarde chamou a minha atenção para o assunto e lá fui ao site da SIC e pude ver o programa.
Fiquei chocado com tudo o que é ali mostrado, é chocante ver que há crianças que estão no centro de acolhimento há 6, 7, 12 anos, entraram para ali crianças e vão sair adultos, por muito bom que seja o lar, por muito boa intenção que pareçam ter as pessoas, a verdade é que aquelas crianças cresceram e viveram longe do carinho de uma família e como pudemos ver em mais que um dos testemunhos, isso deixa marcas.
Está claro que há algo de errado com tudo isto, como é possível que uma criança que entra para um centro de acolhimento com um ano, continue lá aos 10? Quantos anos são necessários para que se conclua que não vai haver volta atrás e que deve ser encontrado um projecto de vida que não passe por famílias que não aparecem?
No encontro nacional de adopção da semana passada Fernanda Salvaterra, responsável pelas equipas de adopção de Lisboa, dizia a propósito da integração de crianças nas famílias adoptivas, que conseguiam saber à partida se a integração ia ser mais fácil ou mais difícil de acordo com a instituição de onde elas vinham, isto porque há instituições que preparam as crianças para a adopção e outras que por um motivo ou outro não o fazem.
É claro que a instituição retratada na reportagem não prepara as crianças para a adopção, o caso que apresentaram ali é gritante, levar uma criança a uma esplanada e apresentar-lhe duas pessoas que supostamente irão ser os seus pais, assim, sem preparar a criança previamente, só pode resultar em fracasso. O que a mim me pareceu é que esta instituição não tem uma equipa preparada para enfrentar estas situações, não prepara as crianças, quando falamos de crianças a boa vontade não chega, é necessário que existam equipas profissionais e preparadas para preparar as crianças para a sua vida futura, já seja o regresso à família ou a ida para a adopção.
Outra coisa que me chocou foi a forma como as crianças foram apresentadas na reportagem, perfeitamente identificáveis, não sei quem deu a autorização, mas duvido que o tribunal, o verdadeiro responsável como foi dito várias vezes, tenha autorizado isto, até porque a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei: 147/99 de 01 de Setembro, artigo 90º, número 1) diz o seguinte:
1 - Os órgãos de comunicação social, sempre que divulguem situações de crianças ou jovens em perigo, não podem identificar, nem transmitir elementos, sons ou imagens que permitam a sua identificação, sob pena de os seus agentes incorrerem na prática de crime de desobediência.
Eu sei que estas reportagens são importantes para chamar a atenção das pessoas para o que verdadeiramente se passa com as crianças, sei que esta reportagem fez mais para chamar a atenção que mil posts meus, mas era mesmo necessário mostrar as caras das crianças?
Jorge Soares
Retirada de aqui
Recebi as perguntas por mail há bastante tempo, a publicação foi sendo adiada, saiu este Sábado na Revista Ns do DN e Jornal de Noticias, o link está aqui para quem quiser ler, como há sempre muito mais a dizer e eu disse muito mais, deixo aqui as perguntas que me foram enviadas pela jornalista e as minhas respostas.
Não gostei do titulo... mas também não tenho nada de gostar.
- No seu caso específico, que razões o levaram a abraçar esta problemática das adopções e do direito de todas as crianças a um lar de amor?
Sou pai adoptivo e biológico e neste momento candidato à adopção, o meu primeiro processo foi à mais de 10 anos e na altura sentimos muita falta de informação e de apoio. Um processo de adopção é sempre doloroso, a maior parte do tempo existe um enorme vazio e sentimos a falta de podermos partilhar com outras pessoas. Após a adopção o sentimento mudou, mas o vazio continuava ali, a necessidade de sentir apoio e de partilhar com outras pessoas que estivessem ou tivessem passado pelo mesmo que nós mantinha-se. Com o tempo criamos um grupo de discussão, o grupo nós adoptamos e foi como uma bola de neve que foi crescendo, fiz parte do grupo que organizou os dois primeiros encontros nacionais de adopção, ambos em Setúbal, e a proximidade com pais e candidatos fez com que interiorizasse a problemática da adopção nas suas várias vertentes.
- Sendo o acolhimento familiar de crianças uma medida que pressupõe o seu bem-estar e a vontade de ajudá-las em primeiro lugar, como se explica que haja tantos casos (e tão fortemente mediáticos) de disputas com os pais biológicos?
Na verdade não há assim tantos casos, não faço ideia quantas crianças existirão em acolhimento, mas dois ou três casos não são muitos casos, para mais que os dois mais mediáticos, o da Esmeralda e o da Alexandra, são casos que passaram ao lado da segurança social e não são casos de acolhimento. Passaram à margem da lei e por isso se tornaram casos judiciais e depois em casos mediáticos por força da cobertura jornalística a que foram sujeitos... e diga-se de passagem que eu acho que a comunicação social fez um péssimo trabalho em ambos os casos.
- O que funciona mal no sistema que permite que tais situações aconteçam?
Nestes casos o que funcionou mal foram as pessoas que subverteram todo o processo, se as crianças tivessem sido entregues à Protecção de Menores em lugar de a casais que não estavam habilitados para os receberem, nada disto tinha acontecido. O acolhimento familiar está legislado e funciona, o que acontece é que muitas vezes as pessoas utilizam esquemas para tentar abreviar os processos de adopção, e depois utilizam a comunicação social para chamarem a atenção para situações que nunca deveriam ter existido.
- Uma vez que os laços afectivos de quem acolhe pelas crianças são inevitáveis, faz sentido que a lei não abra caminho para a adopção por parte das famílias de acolhimento interessadas em ficar com a criança? Mesmo nos casos em que a alternativa é o regresso à instituição ou a uma família biológica que venha a revelar-se incapaz de tratar convenientemente d@ filh@?
É preciso entender que as crianças que vão para acolhimento são as que não tem como projecto de vida a adopção, se o objectivo final fosse a adopção, elas não passariam por famílias de acolhimento, iriam directamente para a adopção e para uma família que as desejasse e que estivesse disposta a dar amor e carinho. Se vão para acolhimento é porque o tribunal entende que não serão adoptadas, se tivermos em conta este princípio, a pergunta nem faz sentido. Por outro lado, as famílias de acolhimento são informadas desde o inicio qual a situação da criança e do facto que não a vão poder adoptar, as pessoas vão para o acolhimento conhecendo todos os factos. O que acontece é que há muita gente que tenta utilizar o acolhimento como um método rápido para a adopção, acham que todas as crianças que vão para acolhimento são crianças que foram abandonadas e maltratadas, evidentemente isto não é verdade, há muita gente que passa por dificuldades e prefere entregar os seus filhos ao estado a que estes passem necessidades.. e há quem refaça a sua vida.
Nos casos em que a família não consegue refazer a sua vida, as crianças vão para adopção e há muitíssimos candidatos disponíveis, pessoas que foram avaliadas e aprovadas como aptas, o que não aconteceu com as famílias de acolhimento.
- A legislação portuguesa relativa ao acolhimento familiar temporário está ao nível da de outros países com realidades semelhantes?
Eu não conheço a legislação dos outros países, mas não acho que a legislação portuguesa esteja errada, o que está errado é muitas vezes a mentalidade das pessoas, que tentam a todo custo subverter as leis em seu favor.
- O que precisava de mudar para garantir uma maior prática de acolhimento familiar (e por conseguinte uma menor institucionalização), uma preparação suficiente das famílias que recebem as crianças e um acompanhamento adequado de todos os casos?
Há muitas coisas a mudar, mas eu nem acho que o problema esteja no acolhimento familiar, em primeiro lugar haveria que mudar os juízes, a maioria dá uma clara primazia ao biológico, a tendência é dar oportunidades aos pais, espera-se sempre que estes recuperem, dão-se todas as oportunidades aos pais e à família biológica e nenhuma às crianças, entretanto estas esperam anos, vão crescendo em centros de acolhimento sem conhecer o carinho de uma família, sem amor. Quando finalmente alguém decide que não vai haver recuperação, a criança perdeu uma parte da sua vida e já tem 7 ou 8 anos, com essa idade já não há quem a queira. Por outro lado muitos centros de acolhimento não tem equipas capazes para encaminhar os processos, mesmo que as famílias não apareçam, as crianças não são sinalizadas, há centros de acolhimento em Portugal de onde nunca saiu uma criança para adopção, as crianças representam um rendimento mensal muito alto e nem sempre se pensa primeiro no bem estar delas.
Sou presidente e um dos fundadores da Missão Criança, uma associação que tem por objectivo precisamente a defesa destas crianças.
- E em relação à adopção: porque é que a maioria dos processos acaba por se revelar tão complicada em Portugal?
Na verdade os processos não são complicados, um processo de adopção é muito simples, basicamente respondemos a um questionário e participamos me 3 entrevistas, o problema é que em Portugal há muitos mais candidatos que crianças para adoptar, das 11000 crianças entregues ao estado só perto de mil tem como projecto de vida a adopção, logo, existem tempos de espera muito longos, porque há poucas crianças e muitos candidatos.
- Conhece algum caso específico em que a família de acolhimento temporário se dê bem com a biológica em nome do bem-estar primeiro da criança?
Não, conheço muitos famílias que adoptaram ou que pensam adoptar, mas não conheço famílias de acolhimento.
- Como é que se poderia, de forma efectiva e célere, garantir o delinear de um projecto de vida adequado para cada criança?
Teria que se pensar sempre em primeiro lugar na criança, e não na família biológica.
- No caso da Esmeralda a decisão do tribunal foi a mais acertada, tendo em conta o equilíbrio da menina e o facto de ter sido a família de acolhimento a criá-la nos primeiros cinco anos de vida (uma idade decisiva)? E no caso da pequena Alexandra, a menina russa?
No caso Esmeralda existiram muitas decisões dos tribunais, a primeira foi quando a criança tinha 8 meses, se em lugar de criar uma guerra na justiça, tivessem entregue a criança nessa altura, a sua pergunta nem se colocava. O problema é que aquela família tentou por todos os meios contrariar a lei e os tribunais, só eles são culpados de que a situação se tenha arrastado. Eles só ficaram com a criança até aos cinco anos porque nunca cumpriram a lei e as ordens do tribunal. É evidente que com 5 anos a criança sofreu, mas de quem foi a culpa?
No caso da Alexandra nunca existiu abandono, eu vi a entrevista que a família deu à RTP e o que foi dito ali mostrou que a mãe esteve sempre presente, as leis existem para defender as crianças.
Estes casos constituem precedentes que podem ser muito graves, porque podem dar a ideia de que basta arranjarmos alguém que nos dê uma criança para ela ser nossa e isto pode abrir caminho a muitos esquemas, inclusivamente ao tráfico de crianças, eu sou candidato à adopção, no primeiro processo esperei 3 anos, neste estou à espera há um ano, se alguém me disser que um caso como o da Esmeralda passa a ser legal, vou ali à esquina, levo um maço de notas e arranjo alguém que me dê uma criança, ou mando vir uma de uma favela do Brasil, ou arranjo uma prostituta Russa que tenha uma para mim... é muito mais fácil e mais rápido que aturar assistentes sociais e estar anos à espera que o telefone toque... é preciso ver que estes casos são muito perigosos para o futuro da adopção em Portugal... por isso sim, eu acho que em ambos os casos a justiça esteve bem.
Jorge Soares