Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
Tal como expliquei no outro dia no post "As vidas não se deixam a meio", estivemos em Cabo Verde para mais um passo do já longo processo de adopção da D.
Apesar dos vários posts que já aqui escrevi sobre o assunto ou talvez graças a eles, continuo a receber muitos mails e comentários aos posts com perguntas de quem olha para Cabo Verde como uma alternativa aos demorados processos nacionais.
Já aqui falei sobre os processos de adopção neste país, foi neste post cuja leitura recomendo, mesmo a quem não está interessado em adoptar..
Como também já disse antes, Cabo Verde adoptou a convenção de Haia a 1 de Janeiro de 2010, o processo da D. entrou em tribunal em Dezembro de 2009 e por aquilo que vou sabendo, terá sido ela a última criança a vir para Portugal. Com a adopção da convenção de Haia as regras mudaram e é suposto que após a reorganização política, social e judicial, os processos fiquem muito parecidos com o que são por cá.
Como sei que há muita gente interessada, questionei o nosso advogado sobre este assunto e a resposta foi muito clara. Desde 2010 que não há adopção em Cabo Verde, as palavras dele foram que as autoridades políticas e judiciárias não são favoráveis à adopção internacional e portanto as coisas continuam mais ou menos como no inicio de 2010.
Sei que há muita gente que continua a enviar processos para Cabo Verde, na minha opinião estas pessoas deverão continuar a apostar na adopção nacional e noutros países, nos próximos tempos dificilmente serão adoptadas mais crianças em Cabo Verde.
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Depois de quase três anos, fomos buscar a D. em Fevereiro de 2010, voltamos a Cabo Verde para finalmente sermos ouvidos pelo juiz do processo de adopção.
Por cá queixamo-nos da lentidão da nossa justiça, mas tudo na vida é relativo, e se por cá é lento, em Cabo Verde as coisas medem-se de outra forma, e apesar de que nesta altura já a nossa filha viveu mais tempo cá connosco que lá no lugar onde nasceu, a verdade é que para todos os efeitos legais, ela continua a ter outros pais.
Por muito que se diga que pai é quem cria e quem ama, a verdade é que para o estado Português e para todos os estados e todas as suas burocracias, o que conta é o que diz no passaporte...e acreditem, conta mesmo muito.
Por exemplo, mesmo que a nossa segurança social tenha toda a documentação do tribunal de Cabo Verde e já tenha feito toda a avaliação social do processo, o SEF não quer saber disso para nada, porque mesmo que todo o mundo saiba que estes processos nos tribunais de Cabo Verde demoram anos, as crianças vem com um visto de 3 meses, renováveis por mais 3, e por mais 3... e por muito que os funcionários do SEF sejam simpáticos e cheios de boa vontade, a verdade é que cada três meses lá temos que ir nós e a criança fazer as filas e passar pelo menos uma manhã com toda a burocracia e a papelada...e pelo que sei temos sorte, porque há quem veja o visto negado e tenha filhos ilegais até que finalmente as coisas se resolvam.
E andamos nisto há três anos e quem sabe por quanto tempo mais teremos que andar, porque irmos a um tribunal de luxo rodeado de miséria numa terriola perdida no mapa, para assinarmos um papel que diz que sim, que nós queremos mesmo adoptar uma criança que só nos conhece a nós como pais, foi só mais um pequeno passo... e faltam muitos outros pequenos passos que quem sabe quando serão dados..
E não importa muito que o que esteja em causa seja o bem estar de uma criança, porque os estados, as instituições, os juízes, os funcionários, os advogados, não querem saber dessas coisas...
Das duas vezes que estive em Cabo Verde fiquei com a sensação que aquele é um país com um povo cheio de bondade e simpatia, mas é um país em que tudo parece ficar a meio, parece que de tão lento que as coisas funcionam, algures no processo alguém se esquece do objectivo inicial e as coisas ficam por ali... deve ser por isso que há tantas casas a meio construir, a meio rebocar, a meio pintar...
Para ser sincero, de vez em quando acordo a pensar que um destes dias alguém se esquece que há um processo de adopção que está a meio e tudo fica assim ... para sempre... e não adianta gritar com o advogado, ou o juiz, porque depois de esquecido, não há volta a dar... fica assim, a meio, como a maioria das casas do país, a meio construir , com o aço à vista, e sem telhado.
espero que eles saibam que as crianças não são casas e as vidas não se deixam a meio ....
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Já passou um ano, a D. é a cada dia que passa uma miúda mais alegre e bem disposta, esteja em casa ou na rua, ela canta e dança o tempo todo. Para além disso, durante um ano não teve uma única constipação e com três anos é de longe a mais arrumada, obediente e educada dos três.. mesmo tendo os outros 10 anos.... para uma criança que mudou de mundo de um dia para o outro, não podia haver melhor adaptação.
Durante este último ano foram muitos os mails que recebi de pessoas interessadas em adoptar em Cabo Verde, já aqui falei sobre os processos de adopção neste país, foi neste post cuja leitura recomendo, mesmo a quem não está interessado na adopção.
Cabo Verde adoptou a convenção de Haia a 1 de Janeiro de 2010, o nosso processo entrou em tribunal a 29 de Dezembro e por aquilo que vou sabendo, terá sido a D. a última criança a vir para Portugal. Com a adopção da convenção de Haia as regras de adopção irão necessariamente mudar, sendo que em principio iriam ficar muito parecidas com as que estão em vigor por cá.
Evidentemente tudo isto implica uma enorme reorganização a nível burocrática e de estruturas, basta recordar que no país não existe uma rede de acolhimento de crianças. Neste momento ninguém sabe muito bem como irão ficar as coisas, sei que durante o último ano foram vários os processos de casais portugueses que foram enviados pela autoridade central da adopção para as autoridades de Cabo Verde, processos que estarão em espera.
Por conversas que tive com pessoas de equipas de adopção nacionais, sei que a segurança social não está consciente desta nova realidade, aliás, na sua maioria pouco sabem sobre a forma como se processa a adopção internacional em qualquer dos países.
De tudo isto, o meu conselho a quem pretende ir para a adopção internacional é, para além de contactarem a associação Meninos do Mundo, que pensem noutras alternativas, quando uma porta se fecha outras se abrem, esta semana podíamos ler no Sorriso sem cor um post sobre mais uma adopção na Guiné, e eu sei de pelo menos duas adopções muito recentes em São Tomé. Este país tem a vantagem de que é de imediato decretada a adopção plena. Há ainda a hipótese de através da Bem Me Queres se adoptar na Bulgária, ainda que neste caso não seja um processo nada barato.
Jorge Soares
Amanhã, 26 de Novembro, pelas 19 horas, será feita a apresentação do livro Meninos do Mundo – Adopção Internacional. A sessão de lançamento terá lugar no Hotel Roma (Sala Roma), em Lisboa, e contará com a presença do Dr. Carlos Jesus, que irá fazer a apresentação da obra, e do Dr. Laborinho Lúcio, autor do prefácio. Estarão, igualmente, presentes a Dra. Fernanda Salvaterra, a Dra. Mariana Negrão, ambas psicólogas, e a Dra. Sandra Cunha, socióloga, que colaboraram na obra com textos em que reflectem a sua experiência na área da adopção.
Espera-se, ainda, a presença de muitos dos que, com o seu testemunho, colaboraram com a Associação Meninos do Mundo para que o livro que agora se lança contemple as várias vertentes da realidade da adopção: adopção nacional e internacional, adopção por casal e adopção singular, a visão de quem foi adoptado, entre outras.
O livro é composto por um conjunto de textos escritos por pessoas que passaram pela adopção internacional com explicações de todos os processos vividos em países como Cabo Verde, Rússia, S.Tomé e Príncipe, Moçambique, Brasil, Índia, Bulgária, Lituânia, Tailândia e Macau e por depoimentos de crianças que dão assim a voz de quem um dia foi adotado.
A Associação Meninos do Mundo é uma organização não-governamental que tem como objetivos promover o conhecimento da adopção internacional em Portugal e no estrangeiro e desenvolver actividades de consciencialização da sociedade civil em relação à adoção internacional no país.
Quem estiver interessado pode encomendar o livro e assim contribuir para a associação e a causa da adopção internacional, basta enviar um email para: meninosdomundo@gmail.com
Porque uma criança é uma criança em qualquer parte do mundo!
Jorge Soares
Há bocado eu e a minha meia laranja decidimos aproveitar a verdadeira noite de verão que temos hoje e fomos a pé tomar café, levamos a D. connosco. Ela foi e veio a dançar e a cantarolar, esta criança é a alegria em pessoa .. é claro que de vez em quando faz uma ou outra birra, mas é consensual até na escolinha, que para além de uma gozona, ela é a imagem da boa disposição e da felicidade.
Dei por mim a pensar várias coisas, estes dias fez seis meses que ela nos foi entregue, no mesmo dia em que em Cabo Verde a conhecemos e a vimos pela primeira vez. Hoje olhamos para ela e dificilmente diríamos que alguma vez teve outra realidade de vida, que teve outros pais ou outra família. Não sei se haverá um exemplo perfeito adaptação de uma criança adoptada, mas se existe, ele está aqui. Sei que seis meses é muito pouco tempo, que no futuro e tal como aconteceu com o N., haverá outras fases, que haverá perguntas, reflexões, negações, tudo coisas pelas que já passamos e que de certeza estamos muito melhor preparados para enfrentar que da primeira vez. Mas tenho a certeza que a D. será sempre uma criança alegre e feliz, disso não me restam nenhumas dúvidas.
Mas os meus pensamentos levaram-me mais atrás no tempo, até às trocas de emails no grupo de discussão nos adoptamos em que se falava de adopção de crianças de outras raças. Centenas de emails com discussões muito mais que acaloradas em que se esgrimiam argumentos, se debatiam os prós e os contras, e invariavelmente se terminava a falar de racismo, com pessoas ofendidas e a abandonar o grupo.
Um dos argumentos que mais se debatia era o da adaptação a uns pais com uma cultura e um tom de pele diferente, uma dessas discussões deu origem a um dos posts mais discutidos e ainda hoje mais visitados neste blog, o das diferenças culturais.
Sempre achei que as crianças não querem saber de culturas ou de tons de pele, e a prova é que das dezenas de crianças que conheci até hoje e que vieram da adopção internacional, crianças que na sua grande maioria tem pais com cor de pele diferente e com uma cultura que pouco tem a ver com a sua origem, crianças que não passaram por períodos de adaptação e que em muitíssimos casos saíram dos braços dos pais biológicos para os dos pais adoptivos, não conheço um único caso que não tenha corrido bem, nunca ouvi falar de crianças inadaptadas, ou de casos dificieis.
Cada um retirará as suas conclusões, as minhas são, as crianças querem é ser felizes...e para que o sejam, basta que exista alguém disposto a abrir o seu coração e a dar felicidade, o resto vem por si só.
Jorge Soares
Nós por cá tudo bem, a D. continua uma menina comilona e bem disposta mas esta semana entrou na fase das birras, não gosta de ser contrariada e quando o é, lá mostra o seu mau feitiozinho... há por aí quem diga que é do nome, que há por aí outras D. que também são assim... não, não são teimosas, são persistentes... pontos de vista.
Uma das coisas que mais me tem perguntado é se ela estava numa instituição... não, não estava, em Cabo Verde há muito poucas instituições, e que eu tenha conhecimento, nenhuma das crianças que foram adoptadas por portugueses veio de uma instituição. A D. estava com uma família amiga.... amiga da família dela que não tinha condições para a ter.
As adopções em Cabo Verde tem muito pouco a ver com o que estamos habituados por cá, cá por norma as crianças estão institucionalizadas e é decretado um projecto de vida que passa pela adopção. Em Cabo Verde são as famílias que ante a impossibilidade de criar os filhos com um mínimo de dignidade e condições, decidem entregar as crianças para adopção.
Para isto dirigem-se ao tribunal e dizem que as querem entregar. E as crianças continuam a viver com a família até que ocorre a audiência e o juiz decide entregar a confiança judicial aos candidatos a adoptar. E são os pais, ou em casos como o da D., as pessoas que tratam das crianças, quem as entrega a quem as vai adoptar.
No outro dia falava com uma amiga que adoptou uma criança cá, por sinal uma menina com a idade da D. e também mulata, e ela dizia-me que não seria capaz de passar por uma situação destas. Acredito que não. A nós a D. foi-nos entregue no escritório da advogada, mas muitas vezes a entrega é feita pelos pais e ocorre em casa das crianças, com os irmãos, os amigos, os vizinhos, a presenciarem.
Não é uma situação fácil e muito menos quando as crianças já tem 4 ou 5 anos e já sabem o que se está a passar. Imaginem o que é retirar uma criança do seu ambiente natural, da sua família.. é difícil de imaginar, e muito mais quando sabemos que as crianças não são vitimas de maus tratos, nem de abandono... No fundo, é um acto de amor, a maior parte destas crianças vem de famílias com 8, 9, 10... já soube de um caso de uma mãe que entregou o seu vigésimo filho... mas as pessoas tem dignidade...e amor pelos filhos, não tem é efectivamente condições para os criarem.. e decidem que elas estarão melhor com alguém que tenha condições a amor para lhes dar.
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Nós por cá tudo bem.
Voltamos há pouco mais de uma semana de Cabo Verde, mas se não contarmos ninguém diria, a D. é uma criança bem disposta e que vai distribuindo charme pelo mundo, não há quem não fique imediatamente conquistado.
Hoje dou a palavra à minha meia laranja que escreveu o seguinte na lista de mail sobre adopção:
"o que eu já sei da minha filha...apos 15 dias!
Sei que é generosa...e com uma alegria sem limite...
Sei que gosta de correr pela casa...saltar em cima da cama dos pais.
Sei que é determinada e que não gosta nada de ser contrariada.
Sei que gosta muito de comer...e não é nada esquisita...mas prefere peixe, carne, arroz e massa a sopinha.
Sei que as comidas preferidas é banana e iogurtes.
Sei que adora bolas, balões e carrinhos pequeninos do mano Nuno.
Sei que gosta Barbies, mas não gosta nada de Nenucos, nem bonecos de peluche.
Sei que adora colares e ganchinhos para o cabelo.
Sei que gosta de construir torres com legos e fazer desenhos com lápis de cor.
Sei que gosta de dormir aconchegada a uma almofada, mas sem meias calçadas.
Sei que gosta de dançar e ouvir música.
Sei que tapa os olhos com as mãos quando está envergonhada, ou fez uma asneira.
Pois, todos os dias, são ainda dias de descoberta."
Uma das coisas que mais preocupa os candidatos à adopção é a adaptação das crianças, esta foi retirada do seu ambiente natural de um dia para o outro, em poucos dias mudou de família;de país;de cultura, passou do calor do verão para o gelo deste inverno em poucas horas, mas todas as pessoas que já a conheceram, desde as assistentes sociais até ao pediatra, acham incrível a forma como ela está adaptada e como é feliz.....
Jorge Soares
PS:Imagem minha, não é a D., são crianças de Cabo Verde
Tudo começou quando ela queria uma mana, na verdade tudo começou antes, mas até aquele dia eu não estava para aí virado, mas há apelos que são maiores que nós, apelos que são maiores que o coração, desde então passou mais de um ano e meio, passamos pela avaliação e neste blog falou-se muito sobre adopção...e o sonho foi crescendo, um sonho feito de alentos e desalentos, momentos altos e baixos.... agora o sonho cumpriu-se.
Chegamos no Domingo de Cabo Verde e connosco veio a D., uma menina linda e sorridente com uns olhos negros expressivos.
Cabo Verde é um país de pessoas simpáticas, um país de pessoas que sabem receber, mas é um país que está a muita distância dos padrões da vida ocidental que conhecemos e a que estamos habituados, um país em que as pessoas sobrevivem. Para terem uma ideia, o ordenado mínimo é de 9000 Escudos por mês, 90 Euros, mas dizia-me um dos taxistas que conhecia pessoas que viviam com metade disso.
Conheço várias pessoas que optaram pela adopção internacional e por Cabo Verde, já tinha ouvido várias histórias, mas nada nos prepara para a realidade que encontramos, há que passar pelas situações para as podermos sentir e entender... e acreditem, há coisas que são difíceis de enfrentar. Ver as condições em que a minha filha vivia tocou-me a alma e tocou-me muito mais saber que há muitíssimas mais crianças em piores condições.
Em Cabo verde os processos de adopção não funcionam como cá, não há segurança social que encaminhe as crianças, não há instituições onde elas estejam, na maior parte dos casos elas estão com a família, com os pais ou com familiares, ou com famílias que as ajudam, e vem directamente de uma família para a outra.
É evidente que em 99% dos casos não há registos de saúde, nunca há avaliações prévias, não há vacinas, não há nada, há uma enorme miséria, há crianças que chegam a Lisboa e vão directamente para o Hospital, tal era o estado em que se encontravam.
Felizmente a nossa D. é uma menina feliz e sorridente, que nos adoptou tão rápidamente como nós a ela, ela é a prova de que eu estava errado, afinal, os sonhos existem....e tornam-se realidades.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Ontem foi noticia o facto de haver portugueses a querer saber sobre a possibilidade de poderem adoptar crianças do Haiti, na verdade a noticia não me estranhou, sou sócio da Associação Meninos do Mundo e tinha ouvido sobre o assunto, além de que os logs aqui do jantar já me tinham mostrado algumas pessoas à procura de informação sobre o assunto. O que estranhei foi que os mesmos jornais que uns dias antes diziam que os portugueses só querem crianças brancas agora fazem noticias destas, afinal 99% da população do Haiti é negra, em que ficamos senhores jornalistas?
Para quem cá chega à procura de informação sobre adopções internacionais, o Haiti não é um país onde se possa adoptar, não se adoptam crianças do Haiti em Portugal, não se adoptavam antes e muito menos se irão adoptar agora, a adopção de crianças é um processo burocrático e jurídico, nas condições em que o Haiti se encontra neste momento, passarão anos até existirem estruturas capazes de assegurar qualquer processo legal. Há muitas outras formas de ajudar as crianças do Haiti, a adopção não será uma delas por muito tempo.
Já passou uma semana sobre a tragédia que se abateu sobre o país mais pobre do ocidente, e todos os dias há noticias que me deixam horrorizado, hoje no site do El Mundo lia-se o seguinte:
Elejam, a vida da criança ou as vossas, a noticia conta a historia de um grupo de resgate que encontrou uma criança e quando estava prestes a retira-la debaixo dos escombros, foi obrigado a sair dali, deixando a criança, porque as suas vidas corriam perigo às mãos de outros habitantes do Haiti....
No mesmo jornal havia noticias que falam de uma guerra entre associações humanitárias da França e dos Estados Unidos, que está a impedir que as operações decorram com a velocidade necessária. Enquanto os senhores discutem, os bens que poderiam salvar vidas acumulam-se num aeroporto que já não tem capacidade para armazenar mais... é triste ouvir e ler estas coisas.
Todos deveríamos tirar lições do que está a acontecer no Haiti, porque as pessoas não podem morrer a ver chegar os aviões com as coisas que supostamente as deveriam salvar, cada hora de atraso são muitas vidas perdidas, as pessoas não podem morrer com falta de material nos hospitais ao mesmo tempo que estes se acumulam num aeroporto com vista para a destruição.... há algo de muito errado neste mundo.
Jorge Soares
Em Novembro, no workshop sobre a adopção em que participei, a Sandra perguntou directamente às responsáveis da Segurança social, porque não se utilizava a adopção internacional como solução para as crianças para as que não há candidatos em Portugal, a resposta foi lapidar:
- Porque tal como em Portugal, não há candidatos na adopção internacional para estas crianças, os candidatos dos outros países, tal como os portugueses, querem bebés.
A Alexandra Borges é uma jornalista que sempre se preocupou com o tema da adopção, são muitas as reportagens que já fez sobre o assunto, é alguém que está por dentro, sabe o que se passa realmente, por isso, para mim a reportagem da TVI foi uma enorme desilusão, porque não esclareceu nada, porque não informou e pior do que isso, deixou uma ideia muito errada da situação da adopção em Portugal e ao nível da adopção internacional não esclareceu absolutamente nada.
Neste, como na maioria dos programas em que se fala de adopção, a ideia que ficou foi que há muitas crianças que esperam por uns pais e não os tem porque os candidatos são os maus da fita, que só querem bebes loiros e de olhos azuis e os processos são lentos por causa disso... uma tremenda mentira.
Eu sou candidato à adopção, quero uma criança até aos 6/7 anos, de qualquer raça ou etnia, estou disposto a aceitar algumas doenças que não sejam impeditivas do desenvolvimento, estou à espera há ano e meio e segundo me dizem na Segurança social de Setúbal, tenho que esperar mas dois ou três anos.... expliquem-me lá onde é que eu me encaixo, sou racista?, só quero bebés de olhos azuis?, onde estão essas crianças que saem dos parâmetros que todos querem?, não há uma para mim?
Mas há coisas mais graves, só entre as pessoas que eu conheço, há duas que foram adoptar a Cabo Verde, aceitavam portanto crianças de cor, porque na altura em que aquela menina da reportagem foi para adopção internacional porque supostamente não havia pais para ela em Portugal, foi-lhes dito que não havia crianças para elas. Alguém me explique, porque mandam a criança para outro país e os candidatos nacionais para a adopção internacional... ao mesmo tempo!!!! Porque é que a segurança social não entregou aquela criança aos candidatos nacionais que na altura a aceitavam?...
O programa deixou-me indignado, irritado, porque uma vez mais há muita gente, até do estrangeiro, a deitar as culpas para os candidatos, quando o problema está claramente no sistema. Aquele menino que foi para França foi abandonado aos seis meses, e só foi decretado que ia para adopção aos 5 anos, alguém se pergunta porquê? porque é que ele teve que estar 5 anos à espera? à espera de quê? A maioria dos candidatos que conheço aceitava aquela criança com 5 anos e com estrabismo, porque foi ele para adopção internacional?
O programa deixou muita gente com lágrimas nos olhos e vontade de adoptar, porque tem pena das pobres criancinhas que estão à espera, desenganem-se, há muito poucas criancinhas à espera de serem adoptadas, e as que há, estão lá por incúria de assistentes sociais, juízes, procuradores, comissões de defesa de menores, responsáveis de instituições de acolhimento e sobretudo, por culpa de pais irresponsáveis que durante anos tentam impedir que seja decretada a adopção.
Não há pior cego que o que não quer ver... não é Alexandra Borges?
Jorge Soares
PS:Para quem quiser ver o vídeo do programa, está aqui