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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem de aqui
Farkhunda tinha 27 anos e pelos vistos cumpria escrupulosamente os conservadores preceitos da mulher afegã. Rosto e corpo totalmente cobertos, sempre. E seria assim que circulava no centro da capital do Afeganistão, no dia 19 de março.
A burka que usava não deixava ver a coragem de que era feita. Coragem que, pelos vistos, a levou, ao passar pela Mesquita, a dirigir-se o Imã que estava à porta e confrontá-lo com uma prática sua com a qual ela não concordava.
Consta que o Imã venderia amuletos aos pobres, iludindo-os sobre os poderes mágicos que teriam. Farkhunda, mulher coragem, naquele que é apontado por muitos como o mais perigoso país para as mulheres, atreveu-se a contestar um líder religioso na rua. E só uma mulher afegã sabe o que quer dizer afrontar um líder religioso, e logo no meio da rua.
Durante a discussão, com certeza por total ausência de argumentos, o Imã terá começado a gritar, dizendo que Farkhuna havia queimado o Corão, que não era uma verdadeira muçulmana, e que não respeitava o livro sagrado.
Em breve Farkhunda se vê cercada por homens que começam a apedrejá-la, agredi-la, pontapeá-la. Num ápice a barbárie: depois das várias agressões atam-na a um carro, arrastam-na pelas ruas da cidade, atiram-na para a beira do rio de Cabul e atiçam-lhe fogo.
A violência sobre as mulheres, em diferentes graus e origens e em vários pontos do mundo está, infelizmente, na ordem do dia. Mas a forma como a ela se vai reagindo, sobretudo em zonas do mundo onde os direitos das mulheres ainda não são devidamente reconhecidos, essa sim vai mudando. E o caso de Farkhunda vem demonstrar isso.
Pela primeira vez no Afeganistão (e segundo noticia o The Guardian no seu artigo sobre o assunto, talvez pela primeira vez em todo o mundo Islâmico), um morto foi carregado por mulheres para ser enterrado.
Esta é uma tarefa tradicionalmente atribuída aos homens, mas desta vez as corajosas mulheres afegãs não o permitiram. A coragem de Farkhunda inspirou um pequeno grupo de mulheres que se colocou em torno do seu corpo sem vida, impedindo os homens de lhe tocarem, dizendo-lhes: “Este corpo não é vosso. Farkhunda pertence a todas as mulheres de Cabul, do Afeganistão. O seu corpo pertence a todas as mães afegãs”.
Dias depois, milhares de pessoas – mulheres, homens, jovens e menos jovens – manifestavam-se em Cabul contra a barbárie e exigindo justiça. É aqui que está o único sinal de esperança, numa história a que precisamos dar voz, para que aconteça cada vez menos.
Falem disto, por favor.
Retirado de Sul Informação
Imagem do Público
Há coisas que não têm nome, estou para aqui às voltas à procura de um título para o post e não consigo, porque há coisas que simplesmente são tão difíceis sequer de imaginar que dificilmente há palavras que as possam explicar.
Gulnaz tem 21 anos e é Afegã, está presa desde os 19, tem uma filha de dois anos, a sua pena? adultério, sexo com um homem casado. Gulnaz estava um dia em sua casa, o marido de uma das suas primas entrou, fechou portas e janelas e violou-a. Dessa violação resultou uma gravidez, ela foi julgada e condenada a 12 anos por ter tido sexo com um homem casado... e é na prisão que ela e a sua filha vivem.
Para sair, só tem uma solução: casar-se com o seu agressor. A única forma de uma mulher afegã ultrapassar a desonra de ter sido violada, ou de ter incorrido em adultério, é casar-se com o seu atacante.
Por vezes temos a tendência a esquecer que existem muitos mundos no mundo em que vivemos, damos por garantidas tantas coisas que esquecemos que há quem viva noutros mundos, noutras realidades.
É difícil entender que em pleno século XXI existam realidades destas no mundo, mas a verdade é que elas existem mesmo, segundo a notícia do Público .... "casos como o de Gulnaz são comuns no Afeganistão mas este tornou-se notícia após uma disputa entre a UE e uma equipa de realizadores contratados pela própria União Europeia para levarem a cabo uma série de documentários sobre os direitos das mulheres no Afeganistão."
O Afeganistão é um país em guerra desde há muito tempo, um país onde a cultura e a religião relegam a mulher para um papel completamente secundário na sociedade e onde casos como estes são comuns..... porque neste país as mulheres não são pessoas, não são coisas, não são nada ...e nós desde aqui, desde a nossa zona de conforto onde damos tudo por adquirido e definitivo, continuamos a olhar para o lado.
Gulnaz vai aceitar o seu destino e casar-se com o homem que a violou.. porque essa é a única forma de que ela e a sua filha vivam juntas e em liberdade... dá que pensar sobre o significado da vida.
Jorge Soares
Imagem do Público
Há pouco via as noticias na RTP e não pude deixar de pensar no significado da expressão "exclusão aérea". Quando se fala em definir uma zona de exclusão aérea eu imagino aqueles aviões americanos que andam no ar a vigiar os céus, no caso de algum avião militar Líbio se atrever a levantar voo eles dão por ela de imediato e avisam os caças que se encarregam de colocar os líbios em sentido... isto era o que eu imaginava.
Na realidade zona de exclusão aérea significa um ataque em massa com mísseis Tomawhok que de forma cirúrgica destroem uma série de alvos por toda a Líbia, incluindo a casa de Khadafi em Trípoli, seguidos de raides aéreos que tentam destruir o que ficou de pé.
Não faço ideia se a zona de exclusão aérea inclui todo o país ou só a zona controlada pelos rebeldes, mas se o objectivo é proteger os civis dos ataques do regime líbio, para quê atacar Trípoli? para quê atacar a casa de Khadafi?
Olho para tudo isto e não resisto a fazer comparações, no Iraque começou-se uma guerra que não vai ter fim tão cedo porque supostamente haveria armas de destruição maciça, no Afeganistão há uma guerra que não terá fim e onde ainda é difícil saber quem são os inimigos, porque antes eram os amigos e amanhã quem sabe o que serão?
Na Líbia cria-se uma zona de exclusão aérea que é conseguida a tiro de canhão e deitando abaixo uma boa parte do país... e eu pergunto?, como vai terminar tudo isto?, numa nova guerra sem fim?
Kadafhi governa há 40 anos, era aceite por todos, ele e o seu petróleo, de um momento para o outro tornou-se o mau da fita e pelos vistos um alvo a abater. É claro que entre as nações árabes nada disto pode ser bem aceite... se até a mim me custa aceitar que seja assim que se cria uma zona de exclusão aérea.
Sabemos que o Petróleo é um bem muito cobiçado, principalmente pelos senhores da Europa, mas valerá mesmo a pena colocar mais umas achas para a a fogueira que alimenta o ódio de árabes por ocidentais?
Para onde vais Libía?
Jorge Soares