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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
.... há neste mundo mais medo de coisas más que coisas más propriamente ditas ....
Mia Couto
Alviães, Oliveira de Azemeis
Agosto de 2011
Jorge Soares
Imagem do Público
Infelizmente os anos passam e as coisas só pioram, o que se está a passar na Madeira, em Tavira e um pouco por todo o país é uma repetição do que se passou o ano passado, há dois anos, e básicamente em todos os anos anteriores, porque apesar de que todos os verões é a mesma coisa, a verdade é que não aprendemos nada de um ano para o outro e mal termina o calor e aparecem as primeiras chuvas em Setembro ou Outubro, simplesmente esquecemos os incêndios, a área ardida e as causas de tudo isto.
A propósito deste assunto, escrevi o seguinte neste post a 27 de Julho de 2010:
Há 15 dias fui passar o fim de semana aos meus pais, no Sábado à tarde peguei na máquina fotográfica e fui dar uma volta pelo lugar. Junto às ultimas casas e antes de entrarmos na densa floresta de pinheiros e eucaliptos, nos terrenos abandonados restam algumas árvores de frutos, uma figueira, pessegueiros, restos de uma enorme cerejeira e uma macieira coberta de frutos avermelhados que despontam por entre o enorme silvado que tomou conta de tudo. Do outro lado e a poucos metros das casas, por entre as árvores o mato que há muito não é limpo por ninguém, é bem mais alto que eu.
Hoje no telejornal (podem ver aqui) Hermínio Loureiro, Presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis, desde as margens do rio Caima em Ossela, falava de um incêndio que decorria a poucos metros da povoação e descrevia uma situação assustadora e caótica. Lembro-me de há 3 ou 4 anos passar naquele mesmo lugar, que fica a poucos Kms da casa dos meus pais, e ver toda a encosta junto ao rio completamente queimada. Não foi há muito que toda aquela floresta ardeu.. esse incêndio terá sido a ultima vez que aquele lugar foi limpo, sendo que desde então esteve a acumular combustível... para mais um incêndio.
A lei diz que a responsabilidade da limpeza das matas é dos seus proprietários, mas cabe ao estado, neste caso à Câmara Municipal, fiscalizar e notificar para que as limpezas sejam feitas. A realidade é que as matas não são limpas, ninguém fiscaliza e mal o tempo começa a aquecer os incêndios aparecem... e as imagens são as que infelizmente conhecemos de todos os anos.
Em toda a Europa a Biomassa é um negocio que movimenta muitos milhões de Euros e em crescimento constante, em Portugal a biomassa acumula nas matas até que é consumida pelos incêndios florestais. O dinheiro que não se ganha com o seu aproveitamento é gasto no aluguer de aviões e de helicópteros que são sempre em número insuficiente para acudir ao número cada vez maior de incêndios (notícia do Público).
É de louvar que nesta altura o Sr, Hermínio Loureiro apareça junto à população, mas era muito mais inteligente de sua parte aparecer por lá na Primavera junto com os fiscais da Câmara e garantir que no verão as matas estejam limpas e livres de biomassa, e a prevenir que estas coisas aconteçam. E quem diz Hermínio Loureiro, pode dizer qualquer outro responsável camarário das centenas de câmaras com área florestal no nosso país.
Hoje os locais e os protagonistas são outros, mas a realidade e os culpados são os mesmos
Jorge Soares
Imagem Minha do Momentos e Olhares
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa, "Cancioneiro"
Este é mesmo um sino da minha aldeia... está no portão da casa dos meus pais quase escondido pela enorme roseira que passa em arco por cima do portão... num fim de tarde de verão, ficou assim... a contraluz.
Alviães, Palmaz, Oliveira de Azeméis
Agosto de 2010
Jorge Soares
Imagem Minha do Momentos e Olhares
É dificil
Hoje acordei, e senti-me sozinho
Um barco sem vela, um corpo sem ritmo
Amanheci e vesti-me de preto
Um gesto cansado um olhar no deserto
Quando todos vão dormir
É mais fácil desistir
Quando a noite está a chegar
É difícil não chorar
Eu não quero ser
A luz que já não sou
Não quero ser primeiro
Sou o tempo que acabou
Eu não quero ser
As lágrimas que vês
Não quero ser primeiro
Sou um barco nas marés
Adormeci, sem te ter a meu lado
Um corpo sem alma, guitarra sem fado
Um sonho na noite e olhei-me ao espelho
Umas mãos de criança num rosto de velho
Quando todos vão dormir
É mais fácil desistir
Quando a noite está a chegar
É difícil não chorar
Eu não quero ser
A luz que já não sou
Não quero ser primeiro
Sou o tempo que acabou
Eu não quero ser
As lágrimas que vês
Não quero ser primeiro
Sou um barco nas marés
Pedro Abrunhosa
O Pôr do sol da minha infância... o tempo passa, tudo passa, a natureza continua ali...
Alviães, Palmaz, Oliveira de Azemeis, Aveiro
Agosto de 2010
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Imagem do Público
Há 15 dias fui passar o fim de semana aos meus pais, no Sábado à tarde peguei na máquina fotográfica e fui dar uma volta pelo lugar. Junto às ultimas casas e antes de entrarmos na densa floresta de pinheiros e eucaliptos, nos terrenos abandonados restam algumas árvores de frutos, uma figueira, pessegueiros, restos de uma enorme cerejeira e uma macieira coberta de frutos avermelhados que despontam por entre o enorme silvado que tomou conta de tudo. Do outro lado e a poucos metros das casas, por entre as árvores o mato que há muito não é limpo por ninguém, é bem mais alto que eu.
Hoje no telejornal (podem ver aqui) Hermínio Loureiro, Presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis, desde as margens do rio Caima em Ossela, falava de um incêndio que decorria a poucos metros da povoação e descrevia uma situação assustadora e caótica. Lembro-me de há 3 ou 4 anos passar naquele mesmo lugar, que fica a poucos Kms da casa dos meus pais, e ver toda a encosta junto ao rio completamente queimada. Não foi há muito que toda aquela floresta ardeu.. esse incêndio terá sido a ultima vez que aquele lugar foi limpo, sendo que desde então esteve a acumular combustível... para mais um incêndio.
A lei diz que a responsabilidade da limpeza das matas é dos seus proprietários, mas cabe ao estado, neste caso à Câmara Municipal, fiscalizar e notificar para que as limpezas sejam feitas. A realidade é que as matas não são limpas, ninguém fiscaliza e mal o tempo começa a aquecer os incêndios aparecem... e as imagens são as que infelizmente conhecemos de todos os anos.
Em toda a Europa a Biomassa é um negocio que movimenta muitos milhões de Euros e em crescimento constante, em Portugal a biomassa acumula nas matas até que é consumida pelos incêndios florestais. O dinheiro que não se ganha com o seu aproveitamento é gasto no aluguer de aviões e de helicópteros que são sempre em número insuficiente para acudir ao número cada vez maior de incêndios (notícia do Público).
É de louvar que nesta altura o Sr, Hermínio Loureiro apareça junto à população, mas era muito mais inteligente de sua parte aparecer por lá na Primavera junto com os fiscais da Câmara e garantir que no verão as matas estejam limpas e livres de biomassa, e a prevenir que estas coisas aconteçam. E quem diz Hermínio Loureiro, pode dizer qualquer outro responsável camarário das centenas de câmaras com área florestal no nosso país.
Jorge Soares
Na estrada que vai da Bemposta para Oliveira de Azemeis e que passa por Palmaz, antes de chegar ao cruzamento para Alviães, há uma quinta com castanheiros, disse há, porque ela ainda lá está, é um lugar de uma beleza rara com uma vista incrível sobre a Ria de Aveiro, que vai desde o farol da Barra até o Furadouro. Uns metros mais acima havia um terreno com dois castanheiros de melhor qualidade, as castanhas eram maiores, assim como o muro que era necessário subir para lá chegar.
Não consigo precisar que idade teria na altura, imagino que 7 ou 8 anos, a minha idade da liberdade. Tínhamos aulas de manhã e tirando uma ou outra ajuda no amanho dos campos, a tarde era por nossa conta, andávamos livres por ali. No Outono era certo e sabido que as incursões aos castanheiros eram obrigatórias.
O grupo era o do costume, o Quim Faianca, o meu primo Rogério e eu, a estratégia também era mais ou menos a do costume e já utilizada muitas vezes por outros reguilas de ocasião. Alguém levou os sacos plásticos no bolso, entramos pela parte de trás, onde está a capela do São Gonçalo, fizemos uma surtida pelos ouriços espalhados pelo chão e saímos pela parte da frente, directamente para a estrada, sacos na mão bem pesados das castanhas.
Correu bem a coisa, entramos e saímos sem que ninguém desse por nós. Já na estrada passamos pelos outros castanheiros, como a coisa estava a correr bem, decidimos brincar com a sorte, afinal ali as castanhas eram maiores.... com maior (eu) ou menor dificuldade (eles), lá subimos mais um muro e toca a apanhar mais castanhas.
Estávamos tão concentrados na apanha e nos ouriços que nem demos pela chegada do Mário dos pés tortos, o caseiro do terreno, que de repente desata a gritar connosco, larápios de ocasião. O homem tinha os pés tortos, mas ou porque estava muito perto, ou porque estávamos mesmo distraídos, quando demos por ele estava em cima de nós, arrancamos a correr..... eu sempre fui lento, e com o saco na mão ainda mais, parece que me estou a ver, quando achei que estava quase a ser caçado, larguei o saco e as castanhas e só parei em casa, nem me lembro como saltei o alto muro.
O homem ficou com as castanhas e passado um ou dois dias já a minha mãe sabia a historia, à custa de que as castanhas não eram todas dali lá me safei da coça... mas ainda hoje não posso ver o raio do homem dos pés tortos, que não tinha nada que ficar com as castanhas que eram da outra quinta.
Jorge
PS:Fotografia minha, vista do são Gonçalo para a Ria, do lado direito estão os castanheiros... que ainda existem
As couves para o jantar do natal são plantadas mais ou menos pelo São Martinho, a minha mãe semeava o leirão no fim de Setembro, se o ano fosse bom e a geada não as queimasse, para o São Martinho estavam em condições de serem colhidas e plantadas na horta. Ela semeava sempre um leirão a mais com a ideia de as ir vender.
De Alviães a Telhadela é mais ou menos uma hora de caminho a pé, por entre pinheiros e eucaliptos, o velho caminho de terra segue a encosta do rio Caima até que já à vista das primeiras casas o atravessa pela velha ponte.
Eu devia ter uns 5 anos, a minha mãe acordou-me de madrugada, muito antes do sol nascer, o velho cesto com as couves arrancadas à terra na tarde anterior estava pronto. Um pouco de agua para que arrebitassem, cesto à cabeça, e fizemos-nos ao caminho. Noite escura como breu por entre os montes, sem luz nem lanterna, lá fomos andando, sem medos que eram outros tempos.
A seguir à ponte e antes das primeiras casas havia um bosque de castanheiros, estávamos quase a chegar, de repente por entre o mato ouvimos um ruído, o meu coração acelerou mas não dei parte de fraco:
-Mãe, não tenhas medo, eu estou aqui contigo!
Chegamos às primeiras casas com a aurora, em menos de nada todas as couves estavam vendidas e um punhado de escudos estava bem guardado, quando voltamos a passar pelos castanheiros já o sol se levantara e as castanhas eram visíveis dentro dos ouriços. Nessa altura o cesto que havia sido das couves molhadas, passou a ser das castanhas para o magusto.
Agora ninguém vai a Telhadela a pé, imagino que o caminho terá sido invadido pelas silvas e o mato, já ninguém vende couves num cesto à cabeça e já não restam meninos valentes.
Jorge
PS:Imagem retirada da internet
No outro dia estava a partilhar umas fotografias com a Flor e quando ela viu esta, a conversa foi mais ou menos assim:
- E o que é esta coisa laranja? - Pergunta a Dona Flor.
-Uma cabaça
-Na na, uma cabaça é aquela que se seca para fazer de odre do vinho
-Sim, isso é uma cabaça, mas esta também é, de outro tipo, mas é cabaça.
-na na, cabaço, ou abóbora!
-Também, mas também é uma cabaça, nunca ouviste falar da Cabaça menina?
A conversa prolongou-se e a Flor até escreveu este post, onde há cabaças e chilas, e eu fiquei a pensar em como há palavras que ficam, porque apesar de eu ter saído há 30 anos da terrinha, há palavras que continuam comigo, palavras que só ouvi lá e que me trazem recordações de sabores, de cores, palavras que me fazem sentir de lá, palavras minhas.
Quando eu era pequeno mais ou menos nesta época depois das primeiras chuvas, ia aos tartulhos com o meu pai, que abríamos e assávamos na brasa de alguma borralheira.. era só juntar umas pedras de sal, uma delicia.
A minha mãe fazia o estrugido com o unto que ficava dos rejões e tapava a panela com o testo. O meu irmão gostava do pão trigo barrado com unto, mas eu preferia a trigamilha com pêssegos carecas, ou o pão de Ul com uvas maduras.
No natal a minha mãe fazia bilharacos de cabaça menina, são deliciosos com canela, mas eu prefiro as rabanadas de vinho tinto, feitas de cacetes duros que o padeiro traz na semana anterior.
Ainda hoje quando vou de visita à terrinha, gosto de beber o vinho americano por uma malga de caldo, mas dispenso sempre o caldo de couves que o meu pai prefere com arroz. O que não dispenso é a chouriça feita com a carne da matança do porco e que eu acompanho com a melhor broa de milho. E para sobremesa ou para o lanche, regueifa com marmelada e queijo.
Há uns anos, já eu namorava com a P., fomos a Braga e no bom Jesus havia um letreiro que dizia, "É proibido calcar a relva"... tive que ir buscar um dicionário para lhe mostrar que calcar existe mesmo...
É isso, há palavras que nos beijam...e nos deixam um aroma de frescura. Agora desculpem lá se nada disto faz sentido, mas apeteceu-me despejar as palavras, e atrás delas vieram as nostalgias, os aromas e os sabores... se não perceberam nada.... devem ser do Sul.
Se forem para os lados de Oliveira de Azeméis, não deixem de provar o pão de UL, a Regueifa e a chouriça.... com vinho americano.
Jorge
PS:Imagem minha.. é uma cabaça menina.
Tirei esta fotografia da varanda da casa dos meus pais, nos dias claros em que o vento do norte leva as brumas, podemos ver o sol a pôr-se no mar e o seu reflexo na ria de Aveiro. Nos dias de sol de Inverno em que o mar está revolto, conseguimos ver a espuma das ondas na distância. Ontem estava assim, o sol teimava em esconder-se por trás das nuvens pintadas de laranja e amarelo.
À tarde sai de casa sozinho e fui andar, refazer caminhos, procurar passos perdidos, fui directo ao monte com ideia de chegar ao rio.... descobri que com o tempo vamos perdendo as referências e que no monte os caminhos mudam, donde antes havia carreiros há agora aceiros largos, e donde antes havia caminhos há agora ténues rastos de passos perdidos donde cresceram tojos de espinhos afiados, silvas e pés de eucaliptos já várias vezes cortados.
De um modo ou outro lá cheguei ao rio, que alguma vez foi de águas cristalinas, agora... bom, agora já não é. Mas continua lá, e continuam lá as ruínas dos moinhos e as fontes donde bebia agua... noutros tempos.
Não sabia bem donde estava, mas era preciso voltar... descobri que já não consigo subir as encostas com a agilidade de antigamente, e que o rio fica muito mais longe e mais abaixo que aquilo que conseguia recordar, mas continuo com o meu sentido de orientação intacto, voltei ao ponto de partida, por outros caminhos ainda mais apagados no tempo, mas voltei ao sitio exacto... pena que já não se possa beber agua nas fontes... que continuam a correr.
Jorge