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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Feliz natal a todos os que alguma vez nos sentimos ouriço cacheiro e a todos os amigos que nos ajudaram a esconder os picos.
Jorge Soares
Imagem retirada da internet
O post de ontem deu muito que falar, pelos vistos um ateu é capaz de chatear muita gente (tanta intolerância) e gerar muitas opiniões, já que estamos numa de recordações, o texto seguinte é de 11 de Dezembro de 2008 (aqui).
A propósito do post sobre o natal que escrevi há dois dias, recebi o seguinte comentário por email:
"Espertinho o menino!... "como é o vosso natal, falem-me do vosso natal..." ;-)) Ora nega lá que o que esperas mesmo é ver aí a malta a dissertar sobre o primeiro parágrafo..."
O primeiro parágrafo falava sobre o facto de eu ser ateu e de "deus não existe, ponto final". A minha amiga Linda achou que o resto do post era para encher e que o verdadeiro motivo era este... pois não, a minha ideia era tentar perceber os sentimentos das pessoas sobre o natal... aquele parágrafo era só para explicar o contexto do meu sentimento sobre o natal.
Mas ela dizia mais, dizia o seguinte:
"Sabes que eu acho um nadinha pretensioso esse teu jeito de afirmar; "sou ateu, Deus não existe e ponto final"
Na minha modesta opinião, alguém que como tu, perentóriamente, se afirme assim, tem de provar que Deus não existe."
Qualquer tentativa de demonstração da existência ou não de deus é tempo perdido, porque algures vai esbarrar no "É uma questão de fé"... e isso é algo que não tem discussão. Sou sincero, eu não consigo perceber qualquer argumento que comece ou termine em, "é uma questão de fé", e portanto resta-me um só caminho, deus não existe, ponto final.
Fui batizado e educado na religião católica, catequese e comunhão solene incluida. Um dia dei por mim a pensar que aquilo não fazia sentido, primeiro deixou de fazer sentido tudo o que dizia respeito à igreja, a católica ou qualquer outra, aquele deus capaz de perdoar e de castigar, Jesus, a virgem, os santos, a criação, o pecado, nada fazia sentido. Com o tempo o próprio conceito de deus deixou de fazer sentido.
Dei por mim a pensar que as pessoas precisam de um deus porque se sentem sós, porque não conseguem encontrar carinho e apoio em quem os rodeia. O conceito de deus existe porque falhamos como seres humanos, porque não somos capazes de ajudar e apoiar as pessoas que estão à nossa volta. Muita gente se escuda na fé, vão à igreja, rezam, acreditam, mas não são capazes de dar um bocadinho de si para tornar mais leve e mais feliz a vida de quem os rodeia. Deus é tantas vezes a ultima esperança, porque já batemos a muitas portas e elas não se abriram, porque já apelamos a muitos sentimentos e só recebemos o vazio como resposta, ou porque já batemos tantas vezes com a cabeça na parede e não fomos capazes de aceitar a ajuda que se nos oferecia, que já não há quem seja capaz de nos ajudar.... nessa altura, deus é a resposta. Quando todas as pessoas à nossa volta nos falharam ou quando nós próprios falhamos, resta-nos a fé.
Devemos ter fé sim, mas é em nós, nas nossas capacidades e nas das pessoas de quem gostamos e devemos ter a humildade de suficiente para aceitar que somos simplesmente humanos e que por vezes precisamos de ajuda. A vida é dar e receber, mas é dar e receber de seres humanos como nós, não de um qualquer deus. Os primeiros humanos chamavam deus a tudo o que não conseguiam explicar, com o tempo tudo se foi explicando, agora, chamamos deus à nossa solidão.
Pronto, e agora podem dissertar à vontade.... sobre, deus não existe, ponto final!
Jorge Soares
Não é que fôssemos amigos de longa data. Conhecemo-nos apenas no último ano da escola. Desde esse momento estávamos juntos a qualquer hora. Há tanto tempo precisávamos de uma amigo que nada havia que não confiássemos um ao outro. Chegamos a um ponto de amizade que não podíamos mais guardar um pensamento: um telefonava logo ao outro, marcando encontro imediato. Depois da conversa, sentíamo-nos tão contentes como se nos tivéssemos presenteado a nós mesmos. Esse estado de comunicação contínua chegou a tal exaltação que, no dia em que nada tínhamos a nos confiar, procurávamos com alguma aflição um assunto. Só que o assunto havia de ser grave, pois em qualquer um não caberia a veemência de uma sinceridade pela primeira vez experimentada.
Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada tínhamos a nos dizer. Éramos muito jovens e não sabíamos ficar calados. De início, quando começou a faltar assunto, tentamos comentar as pessoas. Mas bem sabíamos que já estávamos adulterando o núcleo da amizade. Tentar falar sobre nossas mútuas namoradas também estava fora de cogitação, pois um homem não falava de seu amores. Experimentávamos ficar calados – mas tornávamo-nos inquietos logo depois de nos separarmos.
Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes.
Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo.
Foi quando, tendo minha família se mudado para São Paulo, e ele morando sozinho, pois sua família era do Piauí, foi quando o convidei a morar em nosso apartamento, que ficara sob a minha guarda. Que rebuliço de alma. Radiantes, arrumávamos nossos livros e discos, preparávamos um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto – eis-nos dentro de casa, de braços abanando, mudos, cheios apenas de amizade.
Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é matéria de salvação.
Clarice Lispector
Retirado de Conti Outra
Imagem de aqui
A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram."
Paul Valéry
A imagem acima, como muitas outras que mostram momentos de paz e amor entre israelitas e palestinianos andou o dia todo a circular pelo facebook e restantes redes sociais, por momentos parece que a guerra é só um assunto de políticos e militares, se pelos povos fosse não havia guerra.... é bonito sim senhor, mas estará sequer perto da realidade?
Em duas semanas chegou-se ao milhar de mortos, principalmente do lado palesteniano em que há todo um povo que para além de mais, não tem muito para onde fugir e que dificilmente poderá escapar à violência desatada.
A verdade é que os políticos, quem manda e faz a guerra, foram eleitos pelos mesmos povos que agora sofrem de um e outro lado as consequências do ódio e da raiva convertida em guerra sem quartel e sem tréguas.
Para muita gente o Hamas é só mais um grupo de terroristas, para uma grande parte dos palestinianos o Hamas é o depositário da última esperança de que alguma vez todo um povo possa voltar às suas casas e às suas terras de onde foram expulsos há três ou quatro gerações... há quem depois destes anos todos continue a guardar as chaves das suas casas há muito ocupadas ou destruidas pelos israelitas que agoram por lá vivem.
O governo de direita de Israel, liderado por Shimon Peres foi eleito democraticamente, nunca escondeu qual era a sua orientação com respeito aos territórios ocupados pelos palestinianos e esta politica terá sido mesmo um dos principais factores que o levou ao poder.
Há evidentemente quem queira a paz de um e de outro lado, mas duvido que alguma dessas pessoas admita uma paz com base na cedência de aquilo que para eles é um direito que nem admite discussão, muito menos a cedência nem que seja num milímetro.
Quem faz a guerra são os políticos e os militares, por trás deles há todo um mar de interesses instalados, mas por trás desta guerra há sem dúvida dois povos que de forma directa ou indirecta, também a escolheram... por muito que agora o tentem disfarçar por trás de bonitas e românticas imagens de amor e amizade.
Jorge Soares
EU SABIA QUE ELE PRECISAVA.
Na verdade, a necessidade que tínhamos não tinha nome, mas era nossa – não somente dele. Da parte dele talvez isso fosse um simples fato, só que da minha não. Foi ele quem me veio primeira vez falar da namorada, daquele problema que tiveram. Po r que ele achava que eu poderia ser o seu conselheiro, o seu guru? Acaso eu tenho lá cara de compadre Quelemém? Na verdade ninguém do compadre Quelemém soube a cara, mas dele o que sei apenas é a certeza, que hoje faço, de que “o diabo vige no homem”, nada mais.
E daí ele me veio. Não é que eu não queria que viesse, mas é que há muito tempo eu estava sem precisar daquilo tudo, a viver num rio de marasmo que desgostava, mas depois de tudo aquilo até passei a de alguma forma apreciar. No entanto, logo que chegou fiz a inferência um pouco falsa de que era algo que de algum modo precisava, daí ele ficou. Na vida tem coisas que nos vem. Há coisas que me vieram e eu não sei nem explicar porque as aceitei tão de bom grado como se fosse um grego recebendo um mendigo com a falsidade da espera de Hermes. E foi assim que ele me veio. E fui assim que eu de algum modo também se me fui a ele.
Estávamos naquele piquenique de família de final de semana. A mãe dele, dona Etelvina, parceira de décadas a fio de observatório da vida alheia com minha mãe. Não obstante, nunca havíamos nos visto, senão naquele dia em que descemos juntos do ônibus cheio suspirando, e caminhamos meio paralelamente até atravessarmos a mesma rua e entrarmos em portas paralelas. Olhamos um pro outro de relance com um olhar que de certo modo compreendia que alguma coisa em nossa vida um dia seria paralela. Mas o olhar que trocamos foi bem mais que paralelo e tenho a fraca, mas real impressão de que nosso olhar cansado de todo um dia de estudos longe de casa, e do suor, e do calor do Recife, e da umidade excessiva do ar, e de toda aquela loucura duma cidade que cresce como um adolescente sem a orientação de um adulto e fica assim desordenada, era um pouco do olhar do cão sem dono e vira-lata que vaga por aí meio que pedindo com a vista. Naquele dia entrei em casa com duas certezas que não eram certas, mas eram de algum modo certeiras em mim: finalmente eu conhecera o filho da vizinha e o olhar dele me pedia algo.
Naquela “excursão”, como meu pai fazia questão de anunciar, fomos meio que apertados como gado de corte nelore uns em cima dos outros e coube a nós dois ficarmos apertados pela tia Adalgiza que com sua gordura de anos a fio firmada no doce, ocupava dois lugares inteiros. Desculpa te apertar. Ele me disse. Sem problemas, cara. Eu respondi. Tia Adalgiza... – baixei a voz – tem certo medo de morrer de fome. Rimos. E foi aquilo, tínhamos sido amigos a vida toda e não nos dávamos conta. Por vezes descobrimos num amigo recém-achado, esse mistério místico do universo, de sentir nele alguém que já se conhecia há décadas – décadas que nunca foram.
Mario Filipe Cavalcanti
Retirado de Samizdat
Imagem minha do Momentos e Olhares
Mariana encolheu os ombros:
- Não sei.
João encolheu os seus:
- Eu também não.
Ficaram calados, os olhos fixos no horizonte de casas e carros, cada um deles perdido na sua imensidão de pensamentos.
- Podemos falar com ele.
- Para quê? Já falámos, ele nem ouve. Vai dizendo que sim, que sim e se lhe perguntares depois o que é que dissemos, ele não sabe responder. Nem ouve.
- Mas não podemos ficar sem fazer nada, ele vai acabar por se matar…
- Eu sei. Mas não sei o que fazer.
- Pois, eu também não.
Calaram-se novamente.
- E a mãe dele?
- Morreu o ano passado, não te lembras? Já era velhota.
- Caramba, ninguém devia ser filho único.
- Isso não interessa nada, olha a Paula: 3 irmãos e não se falam há milénios, detestam-se. E há mais exemplos, tu sabes. Além disso, que poderiam fazer? Ele não ouve.
- Pois, é verdade.
O silêncio, pesado de impotência, voltou.
- Achas que se ele estivesse 2 semanas inteiras sem beber, curava-se?
- Não sei… Mas ele não fica nem meia hora, quanto mais 2 semanas!
- Olha, eu posso tirar 2 semanas de férias, tu também tens férias, não tens?
- Tenho, acho que na próxima semana posso meter, mas qual é a tua ideia?
- Vamos lá para cima, os três. Tu sabes, a casa daqueles amigos do meu pai, no inverno nunca está lá ninguém. Montamos guarda ao Nené, ele não vai beber nem um pingo por muito que insista. Que é que achas?
- Não sei, Mariana… Ele até é capaz de ir com a gente mas chegando lá vai ser a chatice do costume!
- Eu sei mas aí nem que a gente tenha de o amarrar, ele não vai beber nem um pingo. Achas que dá? Temos de fazer alguma coisa!
- Não sei, tu já viste como é, até fica agressivo…
- Eu sei. Mas tu és maior do que ele e se não for isso, fazemos o quê?
- Não sei…
- Sei eu. Vamos meter as férias e falamos com ele. Eu arranjo a casa com o meu pai e na próxima terça-feira estamos lá. E olha que não estava a brincar, João, vou levar corda e aqueles atilhos de plástico – nós vamos ter de dormir de vez em quando.
...
Quando viu o pai de Mariana, o rapaz reconheceu-o e encolheu-se. O senhor aproximou-se e pôs-lhe a mão no ombro:
- Olha, a culpa não foi tua, está bem? Foi um acidente, um estúpido acidente. Quero que tu saibas que a culpa não foi tua, foi o camião que ficou sem travões e o condutor não conseguiu fazer nada, pobre diabo.
- A Mariana?...
- A Mariana morreu, Nené. O João também e o condutor do camião.
- Todos...?
- Sim, todos menos tu. E eu tinha de vir cá falar contigo, porque era preciso que tu soubesses que a culpa não foi tua, para não ficares para aí a pensar parvoíces e dar cabo da tua vida sem razão. A Mariana era muito tua amiga, devo-lhe isto.
O senhor passou-lhe a mão pela face, sorriu-lhe, virou-se e saiu do quarto com passos pesados de desgosto.
…
Anos e anos depois, o Nené ainda explicava nas reuniões dos AA como é que tinha sido recuperado para a vida em menos de cinco minutos pelo pai de Mariana.
MAC
Retirado de Samizdat
Imagem minha do Momentos e Olhares
Todos sabemos que não vai ser fácil, mas não se esqueçam de ser felizes, em 2013 ou em qualquer outro ano
Jorge Soares
Como para ficar a pensar....
Há coisas que estão ligadas à época em que vivemos, fazem parte dela e mesmo que há bem pouco tempo não existissem, dificilmente conseguimos imaginar como era a vida antes da sua existência.
As mensagens SMS (de short message service ou serviço de mensagens curtas) existem desde o inicio da telefonia móvel, inicialmente eram utilizadas para garantir a comunicação entre as antenas das redes, eram enviados pacotes de texto que ao serem sinalizados como recebidos, garantiam o funcionamento da rede. Durante muitos anos ninguém achou que pudessem ter muita mais utilidade além dessa, até porque as próprias empresas apostavam no negócio da voz e não estavam para desperdiçar recursos em algo que consideravam acessórios, só alguns anos depois alguém se lembrou de as disponibilizar ao público.
Aposto que nenhum de nós se lembra da primeira que enviou ou recebeu, mas de certeza que todos temos algumas dezenas delas nos nossos telemóveis... especialmente após o natal e o ano novo.
O ano passado após mais umas horas de conversa no MSN com a Cigana, (que saudades amiga!) decidi fazer um post com algumas mensagens engraçadas que fui encontrando na net, imediatamente o post As melhores mensagens de SMS se tornou o mais visitado do blog, sendo que durante o período entre o natal e o ano novo, tive perto de 10000 visitas.
Este ano não foi diferente, sendo que como podemos ver na imagem acima, no dia 31 tive quase 4200 visitas, recorde absoluto para qualquer post e que levou a que na ultima semana o blog estivesse entre os 50 mais lidos do país..., ...fantástico para um post que tem mais de um ano....
Parece que cada vez mais somos viciados em enviar mensagens, mas a maioria é pouco original, vai à internet procurar as palavras para os amigos, que imagino enviará depois em massa para todos .... eu não sei o que acham.. mas a mim parece-me que estamos cada vez mais frios e distantes... apesar de parecer que estamos mais próximos.
Por certo, enviei SMS de natal para algumas, poucas, pessoas, no ano novo liguei a algumas pessoas... mas não enviei mensagem nenhuma...
Jorge Soares