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Quando eu for grande...

por Jorge Soares, em 04.06.09

O tempo em que todos os sonhos eram permitidos

 

Há coisas na vida que nos marcam, já passaram mais de 20 anos, numa mesa do bar da faculdade de educação da Universidade Central da Venezuela, os mesmos de sempre discutíamos tudo e nada, quando temos 18 anos, liberdade e amizade, todos os sonhos são permitidos..e nós fartávamo-nos de sonhar. Não sei a propósito de quê, mas nesse dia discutíamos o facto de alguém ter necessitado de um documento e, como era normal por aqueles lados, ter untado as mãos a alguém para o conseguir mais rápido.

 

Como cada vez que a discussão ia para esse lado, eu era o único que defendia que isso estava errado, já nessa altura eu ia contra o mundo...já lá vai tanto tempo disso que já tive tempo de perceber que se calhar sou eu que estou errado... o mundo não pode estar errado. Como na maior parte das vezes, a conversa de amigos terminava em sim, eu estava cheio de razão, mas não era assim que as coisas funcionavam, portanto, era eu que estava errado... raio de sina a minha.

 

Ontem ao fim do dia dei comigo a lembrar-me desse grupo de amigos, isto a propósito de uma conversa que tive separadamente com duas pessoas de quem gosto muito. Foi a propósito do ultimo post, da menina Russa, do caso do Martim e das duas mães.  

 

Ambas as minhas amigas defendiam que a Alexandra não deveria ter sido entregue à mãe biológica e que o Martim deveria ser entregue à mãe, não é nada estranho, ontem à noite dei uma volta pela blogosfera e encontrei vários blogs com dois posts seguidos a defender estas mesmas posições. Como as minhas amigas reconheceram, isto é um contra-senso, mas quer uma quer a outra seguiram na sua, apesar do contra-senso. Confesso, eu não consigo perceber, e lá terminei outra vez a sentir que o mundo não pode estar errado... apesar de que o meu bom senso me diz que está.

 

Felizmente a Sandra veio em meu auxilio, ela diz o seguinte:

 

"Quando a situação / história é apresentada de uma perspectiva adultocêntrica (adulto vítima) as pessoas tomam uma posição. Quando a perspectiva apresentada é centrada na criança (vítima), as pessoas tomam outra posição. Mesmo que a situação de fundo e o perigo (ou não) a que a criança está sujeita sejam exactamente os mesmos. "

 

Quando perguntei às minhas amigas qual a diferença entre a Natacha, a mãe da Alexandra e a Ana a mãe do Martim, nenhuma das duas me conseguiu responder, mas nenhuma das duas mudou a sua opinião.

 

Passaram mais 20 anos.... e eu quero voltar a viver a época em que todos os sonhos são permitidos.... e  quando eu for grande, talvez, queira girar para o mesmo lado do mundo, é bem mais fácil.

 

Jorge

PS:Imagem minha retirada de Momentos e olhares

 

publicado às 21:51


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