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Usar a cabeça

Gamado do Café onde alguém o havia gamado do Tresgues 

 

Não tem nada de novo, é o mesmo ano após ano desde que começou a haver provas, esta ano os resultados dos exames foram os piores, para o ano será pior, podem ter a certeza. Se alguém acha que é um novo governo e um novo ministro que vai fazer o milagre, desengane-se, não vai mudar nada.

 

O ano passado cá em casa tivemos que travar uma guerra com os professores, com a escola, com o agrupamento, com meio mundo, porque nós pais decidimos que o nosso filho ia repetir o quarto ano, a nós só nos interessa que ele aprenda, que saiba o mínimo para poder seguir em frente.  Infelizmente parece que a mais ninguém lhe interessa se as crianças sabem ou não.

 

Não sou dos que acham que temos que voltar aos métodos e à escola de antigamente,  não me parece que a minha escola ou os meus professores fossem melhores que os actuais, bem pelo contrário. As escolas e as crianças portuguesas nunca tiveram tão boas condições, nem em casa nem na escola, nem professores tão bem preparados e com tanto apoio como tem hoje em dia.

 

Onde está o problema?, o problema está no paradigma, quando eu andava na escola o objectivo era que as crianças aprendessem, que saíssem de lá a saber o mínimo para enfrentar a vida. Neste momento o objectivo da escola em Portugal é contribuir para os números. As crianças devem estar na escola o maior tempo e até mais tarde possível, se pelo meio aprenderem alguma coisa, melhor, mas se não aprenderem, pelo menos contribuem para que o país esteja na média.... bom, na média de quase tudo, porque na média das notas de exame de certeza que não estamos.

 

A solução é muito simples, aproveitar as excelentes condições da grande maioria das escolas, o conhecimento e preparação dos professores e utilizá-los para aquilo que foram pensados, ensinar os nossos filhos... se pelo meio voltarmos a descer nas médias, paciência... antes um país abaixo da média que um país de analfabetos funcionais.

 

Jorge Soares

 

 

publicado às 21:32

chumbar.jpg

 

Imagem da internet

 

 

Foi quase há um ano atrás que escrevi aqui e aqui sobre a retenção das crianças no mesmo ano e sobre a forma como o nosso sistema de ensino é  cada vez mais permissivo quando os alunos não atingem os objectivos, foi nessa altura que escrevi o seguinte:

 

Já disse aqui que o meu filho N. tem Dislexia e défice de atenção, para além de muita falta de confiança e auto-estima, chegamos ao fim do ano escolar e eu e a P. ponderamos se não seria melhor para ele ficar retido, não é bom para ele ser sempre dos ultimos da turma, fazer sempre pior e mais devagar que os outros, achamos que se ficasse retido teria oportunidade para amadurecer um pouco mais e ao voltar a ver tudo de novo interiorizar os conceitos e melhorar.

 

Na altura terminamos por ceder à opinião da professora e ele seguiu para o 4º ano. Como seria de esperar este ano as coisas não melhoraram, mais de 80 % das fichas vem com insuficiente, ele raramente consegue concluir qualquer ficha no tempo determinado e em lugar de melhorar as coisas vão piorando, porque quanto mais matéria se dá na escola, mais evidentes se tornam as lacunas do passado, isto apesar de todo o apoio extra que lhe damos cá em casa, na escola e inclusivamente  no ATL.

 

Está claro que uma criança que tem insuficiente em quase todas as fichas e trabalhos do 4º Ano não conseguirá ter sucesso num 5º ano em que se tem 11 disciplinas e onde não há tempo para estar a resolver lacunas que vem desde muito atrás. Se a isto acrescentarmos a dislexia e o défice de atenção, temos todos os ingredientes para o insucesso garantido. Por estranho que pareça, a única que não consegue entender isto é a professora. Falamos com ela e apesar de todos os nossos argumentos, ela insistia em que não, que ele não ficava retido.

 

Há algo de muito errado na nossa educação quando uma professora primária insiste em que um aluno deve transitar para o ciclo seguinte quando todos reconhecem, a começar por ela que classifica de insuficiente quase tudo o que ele faz,  que ele não adquiriu as competências necessárias para poder ter sucesso.

 

Um dos argumentos que ela utilizou foi o da auto-estima... aliás, cada vez que surge este assunto as pessoas falam da auto-estima, mas eu pergunto-me, será que é benéfico para a auto-estima de alguém passar o ano inteiro a ter insuficiente nos trabalhos? Ser sempre o ultimo a terminar as fichas? O que vai acontecer com a auto-estima do meu filho quando ele simplesmente não conseguir acompanhar sequer o ritmo das aulas?

 

Será que há alguém que ache que um aluno que não consegue cumprir os objectivos do 4º ano tem alguma hipótese de sucesso no 5º? E o que vai acontecer com a auto-estima dele quando ao fim do primeiro mês a escola concluir que ele não está preparado para ser um aluno normal e o passar para um currículo alternativo que marcará definitivamente todo o seu futuro escolar? Por vezes as pessoas não tem a noção disto, mas o que está em jogo é o futuro de uma criança, porque no momento em que ela passa para um currículo alternativo não há volta atrás e isso pode marcar toda a sua vida.. quanto a mim é algo importante demais para se decidir com base no facto de que queremos a criança feliz porque passou de ano.

 

Um dos principais problemas do meu filho, é a falta de maturidade, eu quero acreditar que com mais um ano, com a repetição de conteúdos que ele já viu, com o apoio certo, ele vai conseguir superar as dificuldades e chegar a um nível mínimo que lhe permita alguma hipótese de sucesso quando ele avançar para o nível seguinte... até posso estar errado e mais um ano pode não resolver nada... mas acho que é a nós pais que nos compete decidir isso.

 

Para fazer com que a professora aceitasse que ele vai repetir o ano foi necessário pegar nas fichas do ano inteiro e com base no que ali estava perguntar-lhe se ela achava que ele ia ter alguma hipótese de sucesso no 5º ano... ante as evidências ela teve que dizer que não..e no fim, reconheceu que se fosse filho dela fazia o mesmo que nós estamos a fazer.... Uma afirmação triste, é a este tipo de pessoas que entregamos os nossos filhos, a pessoas que colocam os objectivos pessoais e da escola antes dos dos nossos filhos. Pelos vistos é mais importante ter uma folha imaculada sem alunos repetentes que o futuro das crianças ..e vale tudo para atingir objectivos.

 

Pois eu prefiro ter o meu filho com a auto-estima mais baixa durante uns tempos para depois poder ter a esperança que ela possa subir com ajuda e trabalho bem feito, a que a tenha alta durante o mês das férias e depois baixa durante 11 meses e quiçá para sempre.

 

Jorge Soares

publicado às 21:15


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