Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
Li ou ouvi algures que o senhor ministro da Educação, Nuno Crato, disse que o ano lectivo se estava a iniciar com absoluta normalidade. Hoje a meio da tarde ficamos a saber que para a turma da minha filha na secundária do Bocage em Setúbal, o normal é que as aulas se vão iniciar sem que se saiba quem são os professores de Matemática, Geografia e Francês.
Para começar não consigo perceber como é que se marcam reuniões com os pais para um dia de semana às 3 da tarde, mas pronto, é sexta feira e se calhar até há muita gente a quem até dá jeito ter uma desculpa para se baldar ao trabalho...
Depois gostava de perceber se é a este tipo de coisas que o senhor ministro chama "absoluta normalidade". Como referi neste post, o ano passado a escola esteve dois meses a tentar contratar um professor de matemática e não conseguiu, o resultado foi que a turma não deu perto de um terço da matéria, mas claro que ficou prometido pela directora de turma que seria recuperado no inicio deste ano.
Para amostra começamos bem, apesar da mesma professora continuar na escola, alguém decidiu não lhe atribuir a turma, vá lá a gente perceber porquê... está-se mesmo a ver que para uma turma do nono ano que até vai fazer exame este ano e que já vem coxa do ano anterior, o melhor mesmo é começar o ano lectivo sem professor... e se forem tão expeditos a contratar como no ano passado, eles devem ter aulas lá para Dezembro..
Mas deve ser a este tipo de coisas que o senhor ministro chama "Normalidade"... gostava de perceber o que será o anormal...
Jorge Soares
Imagem de aqui
A noticia é do Correio da manhã, na versão online não merece mais que umas poucas palavras, as mesmas que são repetidas por um outro jornal online e diz o seguinte:
"Um menino de 10 anos era gozado na escola por causa das orelhas grandes e pôs termo à vida."
Ontem a Teresa no Energia a mais esclarecia um pouco mais:
"...tinha dez anos, andava no quinto ano
e para além de todas estas coincidências com o meu filhote, partilhava ainda a patologia - sofria também de PHDA....e dos «inevitáveis» problemas na escola....
que ninguém soube resolver, que ninguém conseguiu contornar!"
Foi há pouco mais de um ano que todos ouvimos falar do Leandro, o menino de Mirandela que farto de ser gozado e agredido pelos colegas, um dia saiu da escola e deitou-se ao rio.
Ontem foi o Leandro, hoje foi o Rafael, amanhã pode ser um dos meus filhos, ou os filhos de outra pessoa qualquer e a sensação com que fico é que nada muda, não há responsabilidades, não há culpa, não há culpados.
A semana passada o meu filho que anda no quinto ano na Secundária do Bocage, o ciclo de Setúbal, contava que a meio do dia um grupo de adolescentes entrou na escola munido de paus e correntes com o intuito de agredir um dos alunos, passeou-se alegremente até que o encontrou e espancou de tal forma que teve que ser levado para o hospital.
Como é que um grupo de estranhos consegue entrar numa escola pública e agredir um aluno?, fácil, pela porta principal, a mesma por onde depois saíram.
Nós entregámos os nossos filhos na escola todos os dias, eles passam lá a maior parte do dia, mas na realidade estão entregues a quem? está a escola obrigada a cuidar da sua segurança e bem estar enquanto eles lá estão?, há alguém que seja responsável e a quem pedir contas pelas coisas que lá se passam? É a escola responsável por garantir a segurança dos nossos filhos? Alguém me sabe responder? Quantas crianças tem de morrer para que alguém encontre respostas para todas estas perguntas?
Este é o estado actual do nosso sistema educativo, em tempos havia algo chamado escola segura, não sei se efectivamente servia para algo, mas a verdade é que pelo menos víamos os carros parados na porta da escola. Há dois anos que vou buscar os meus filhos à porta da Bocage, não me lembro de por lá ter visto um policia.
Toda esta situação é deveras preocupante, porque a ideia que fica é que existe uma total impunidade por parte dos agressores e uma total desresponsabilização por parte dos conselhos directivos das escolas e associações de pais..... desculpem lá, mas isto é assustador.
Update: Depois do comentário da DH investiguei melhor, o espancamento com paus e correias em Setúbal não foi dentro da escola, foi na porta da escola... não é muito diferente, porque se existisse vigilância nessa porta isto não acontecia...
Jorge Soares
Não sou pessoa que me impressione com a visão do Sangue, pelo menos com a visão do meu sangue, não me fez grande impressão estar acordado durante a operação e não me fez impressão nenhuma ver as duas cicatrizes uma de cada lado do tornozelo. Fez-me alguma espécie ver que em lugar dos comuns pontos que eu conhecia de quando tinha sido cozido em miúdo, haver duas filas de agrafos a segurar a pele.
Na passada Quarta-feira era dia de tirar os agrafos, por norma fico bem disposto e falador nestas alturas, faço piadas e brinco com as enfermeiras, imagino que seja uma forma como outra qualquer de espantar os nervos, mas a verdade é que para quem está de fora a imagem que passa é a de normalidade e boa disposição.
Cheguei cedo ao hospital e fui atendido rapidamente, era um enfermeiro, o mesmo que me tinha feito o penso na semana anterior. Não me senti lá muito falador, mas também não me sentia nervoso. Entrei, sentei-me na maca, o homem retirou as ligaduras e a tala e dispôs-se a retirar os agrafos. Começou por uma ponta e foi retirando um a um, a meio da coisa já eu suava em bica.. não estava calor nenhum, mas eu sentia grossas gotas de suor a descer pela minha cara. Ele ia retirando agrafos e eu comecei a sentir que o chão se estava a ir debaixo de mim. Não era a dor, na realidade quase não sentia nada, mas o suor aumentava e o mundo ia-se. Quando ele terminou com a primeira cicatriz achei por bem pedir água, ele olhou para mim e deve ter percebido pela minha cor o que se estava a passar. Mandou-me deitar e foi buscar a água, eu bebi, voltei a sentir o chão debaixo de mim e passei a suar menos.
Ele retirou os agrafos do outro lado com a mesma calma que os anteriores, disse-me que as cicatrizes estavam óptimas e perguntou se eu já estava melhor. Estava, fui directo ao bar, tomei um café e comi um bolo enorme.... mas quando cheguei à porta do hospital a recepcionista disse-me que eu estava branco...
Nunca na vida me tinha sentido assim, mas também nunca me tinham agrafado nem desagrafado um tornozelo.
Hoje é o dia de aniversario de Barbosa du Bocage, e é feriado em Setúbal, digam lá que o nascimento de um poeta não é um excelente motivo para um feriado municipal?
O Suspiro
Voai, brandos meninos tentadores,
Filhos de Vénus, deuses da ternura,
Adoçai-me a saudade amarga e dura,
Levai-me este suspiro aos meus amores:
Dizei-lhe que nasceu dos dissabores
Que influi nos corações a formosura;
Dizei-lhe que é penhor da fé mais pura,
Porção do mais leal dos amadores:
Se o fado para mim sempre mesquinho,
A outro of'rece o bem de que me afasta,
E em ais lhe envia Ulina o seu carinho:
Quando um deles soltar na esfera vasta,
Trazei-o a mim, torcendo-lhe o caminho;
Eu sou tão infeliz, que isso me basta.
Bocage
Jorge
PS:imagem reirada da internet