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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Gamado do Café onde alguém o havia gamado do Tresgues
Não tem nada de novo, é o mesmo ano após ano desde que começou a haver provas, esta ano os resultados dos exames foram os piores, para o ano será pior, podem ter a certeza. Se alguém acha que é um novo governo e um novo ministro que vai fazer o milagre, desengane-se, não vai mudar nada.
O ano passado cá em casa tivemos que travar uma guerra com os professores, com a escola, com o agrupamento, com meio mundo, porque nós pais decidimos que o nosso filho ia repetir o quarto ano, a nós só nos interessa que ele aprenda, que saiba o mínimo para poder seguir em frente. Infelizmente parece que a mais ninguém lhe interessa se as crianças sabem ou não.
Não sou dos que acham que temos que voltar aos métodos e à escola de antigamente, não me parece que a minha escola ou os meus professores fossem melhores que os actuais, bem pelo contrário. As escolas e as crianças portuguesas nunca tiveram tão boas condições, nem em casa nem na escola, nem professores tão bem preparados e com tanto apoio como tem hoje em dia.
Onde está o problema?, o problema está no paradigma, quando eu andava na escola o objectivo era que as crianças aprendessem, que saíssem de lá a saber o mínimo para enfrentar a vida. Neste momento o objectivo da escola em Portugal é contribuir para os números. As crianças devem estar na escola o maior tempo e até mais tarde possível, se pelo meio aprenderem alguma coisa, melhor, mas se não aprenderem, pelo menos contribuem para que o país esteja na média.... bom, na média de quase tudo, porque na média das notas de exame de certeza que não estamos.
A solução é muito simples, aproveitar as excelentes condições da grande maioria das escolas, o conhecimento e preparação dos professores e utilizá-los para aquilo que foram pensados, ensinar os nossos filhos... se pelo meio voltarmos a descer nas médias, paciência... antes um país abaixo da média que um país de analfabetos funcionais.
Jorge Soares
Ouvi a noticia no Sábado, estava a ver televisão com o N., ele mal ouviu falar do assunto saltou e foi contar à mãe, "Vão acabar com os chumbos", não percebo quem escolhe os timings para dizer estas coisas, mas uma ministra da educação a falar de um assunto destes no dia 1 de Agosto quando está tudo a pensar nas viagens de férias e o que há pela frente é um mês com o país a banhos.... a mim deixa-me a pensar.
Por muito que o N. possa pensar no assunto, esta é uma medida que já não o vai afectar, como contei neste post, deu muito trabalho. Primeiro foi preciso convencer a professora, depois a professora de apoio. Foram necessários relatórios da pedo-psiquiatra que segue a hiperactividade, da psicóloga do centro de apoio ao estudo e que ambas falassem com as professoras pessoalmente.
Mas convencer as professoras não é suficiente, foi necessário preencher inquéritos e pedidos especiais... e aceitar as ameaças da falta de horários, de turmas e até vagas nas escolas,.... foram necessárias muitas coisas até que finalmente convencemos a escola e o agrupamento. Tantas coisas que acredito que a maioria dos pais não teria capacidade psicológica e até financeira (pedo.psiquiatras e psicólogos fazem-se pagar caro) para conseguir o que nós conseguimos, que o N. ficasse retido.
A verdade é que este anúncio da ministra não faz o mínimo sentido, há muito que se acabaram os chumbos, porque os professores não estão para ter trabalho, os pais ficam mais felizes fingindo que têm uns filhos perfeitos, a ministra pode mostrar uns gráficos muito bonitos como se fossemos um modelo de educação... é claro que na verdade estamos cada vez mais a criar um país de analfabetos funcionais e de frustrados.. mas ficamos muito bonitinhos nas estatísticas.. que parece que é o que interessa.
Olhando para trás, e mesmo que o N. ainda tenha algumas dificuldades em aceitar o assunto, cada vez mais sinto que fizemos o mais correcto, ele não está preparado, não tem conhecimentos suficientes e ir nesta altura para o quinto ano era criar um enorme problema. Mas foi uma luta complicada, existiram momentos em que me senti atado de pés e mãos e com um enorme sentido de frustração, porque achava que a minha opinião de pai não servia para nada, era como se o futuro do meu filho estivesse completamente fora das minhas mãos ,.. acreditem, descobrir que as coisas possam ser assim é um sentimento para além de frustrante, bastante estranho.. e houve um dia em que dei por mim desesperado.. porque quando achava que a professora estava finalmente convencida, apareceu a professora de apoio a dizer que ele tinha cumprido os objectivos... ainda estou para perceber como é que uma criança que tem não satisfaz em mais de 80% das avaliações, pode ter cumprido algum objectivo... juro que pensei em enfrentar a senhora e exigir uma explicação.
Diz a senhora ministra que se vão substituir os chumbos com mais acompanhamento e atenção mais personalizada, bom, se o apoio extra for como o que o N. teve na escola nos dois últimos anos.... bem que pode a senhora ministra ficar sentada à espera que algo mude...
Antes de tomar decisões destas há que olhar para a realidade das nossas escolas, para as nossas crianças e os seus problemas e pensar. Nós não somos a Finlândia ou a Suécia, não vivemos como eles, não pensamos como eles, temos muito pouco a ver com eles, porque raio é que os modelos deles se haveriam de aplicar por cá?
Dito isto, acho esta medida de acabar com os chumbos um completo disparate, algo que não faz o mínimo sentido... chumbar não é desprestígio nenhum, por vezes temos que parar para pensar.... e isso é válido em qualquer altura na vida.. e se dúvidas houvesse que chumbar nem sempre é sinal de menos capacidade, basta ler este artigo do ionline
Jorge Soares