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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem da RR
Podia ser uma imagem de uma arruada ou de uma acção de campanha eleitoral da coligação Paf (CDS/PP), do PS ou de um outro partido qualquer, já vi imagens da campanha com menos pessoas, podia, mas não é.
A fotografia acima foi tirada hoje manhã cedo às portas de uma clínica da Amadora onde o estado paga para que se faça um exame médico, uma colonoscopia, com anestesia.
Como as marcações do exame só se fazem de dois em dois meses, o resultado é que no dia da marcação formam-se filas de centenas de pessoas, calcula-se que esta vez tenham sido perto de 400, sendo que algumas dessas pessoas a fim de garantirem vaga para o exame, passaram a noite na fila ao relento.
Segundo um dos utentes que passou lá a noite, as pessoas sujeitam-se a isto porque: “Não encontrava lugar nenhum onde fizessem com anestesia pela Segurança Social. Em clínicas particulares tinha que pagar tudo. Na Ordem Terceira tinha de pagar o exame - só a taxa moderadora - mas a anestesia tinha de ser à parte. E se fosse preciso alguma biopsia, teria de ser ainda outro preço”.
Há quem ache que Portugal é um país desenvolvido, há quem ache que a crise já passou e que o país está no bom caminho, alguém me explique qual é o país desenvolvido em que as pessoas tem que passar a noite ao relento para terem direito à saúde, qual é o país desenvolvido onde as pessoas tem que escolher entre fazer filas e esperar até dois meses ou fazerem um exame muito doloroso e desagradável, sem anestesia.
Pena que em nenhuma das noticias que vi e ouvi sobre o assunto, o jornalista os teve no sitio para perguntar a toda aquela gente se acham que o país está melhor que há quatro ou oito anos e se também acham que devem ganhar os mesmos que levaram o estado do sistema de saúde até este ponto... Imagino que quem quer colonoscopias com anestesia não é masoquista (ver post de ontem)
Cada vez mais este país (também) não é para doentes.
Jorge Soares
Imagem do Público
Há pouco na Antena 1, a presidente da associação portuguesa de gestores hospitalares dizia que neste momento e em nome da lei dos compromissos tudo se atrasa. Para poupar nas despesas, atrasam-se ou reduzem-se os exames, atrasam-se as consultas, atrasam-se ou reduzem-se as cirurgias.
Isto tudo a propósito da doente do hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) que esteve um ano à espera de uma consulta e outro ano à espera de um exame, uma colonoscopia até finalmente lhe foi detectado um cancro, com todo este tempo de espera, o cancro evoluiu de tal forma que já não é tratável.
Ou seja, no fim, os atrasos, ou a lei dos compromissos, ou a austeridade do estado, ou o ministério da saúde, ou o governo, ou a Troika e as medidas que impôs, ou todos juntos, condenaram a senhora à morte.
Agora foi aberto um inquérito, há quem tente dar explicações, e quem peça responsabilidades mas a verdade é que nada disto irá servir para que o tempo possa voltar para trás e nada disto irá servir de consolo a quem foi retirada a esperança de ter uma cura.
Ficou célebre aquela frase do Primeiro Ministro "Vamos cumprir as metas custe o que custar", este é só mais um exemplo do que senhor queria dizer.
A realidade é que o custe o que custar custou a vida a quem teve que esperar pelos atrasos dos hospitais, quantas outras vidas estará a custar todos os dias?
Há pessoas que esperam 24 horas para serem atendidas nas urgências dos hospitais públicos, há outras que passam dias seguidos nos corredores dos hospitais à espera de uma cama onde serem internados, é este o estado da saúde em Portugal... é este o verdadeiro significado daquele "custe o que custar"
Gostava de poder perguntar ao senhor ministro se ele é capaz de enfrentar esta doente e olhos nos olhos dizer a quem resta pouco tempo de vida que os sacrifícios valeram a pena.... valeram a pena para quê e para quem?
Para o estado parece que tudo pode esperar... senhor primeiro ministro, senhor ministro da saúde, infelizmente a morte não espera.
Jorge Soares