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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Expresso
Foi noticia por cá e até pelo resto do mundo, esta semana nasceu em Portugal um bebé filho de uma mulher que estava em morte cerebral há 17 semanas.
Ao contrário do que se pode ler na capa de pelo menos um jornal (?), não nasceu um bebé de uma mãe morta, nasceu de uma mãe viva que se encontrava em morte cerebral, não, não é a mesma coisa. É evidente que se a mãe estivesse morta não poderia haver desenvolvimento do feto, o cérebro estava em morte cerebral, o corpo estava evidentemente vivo, o que ,aliádo aos cuidados que lhe foram prestados, permitiu o correcto desenvolvimento do feto até às 34 semanas, altura em que nasceu por cesariana..
O resto é o conhecimento e a qualidade de todos os profissionais de saúde que estiveram envolvidos e que permitiram o final feliz que todos conhecemos.
Vivemos numa época em que os avanços da ciência para além de nos permitirem viver cada vez mais tempo com uma razoável qualidade de vida, fazem possível este tipo de "milagres". O bebé chama-se Lourenço e nasceu saudável.
“Não foi um milagre, mas um avanço da ciência e da capacidade de multidisciplinaridade e eficácia de uma equipa. Não são só os médicos, mas os enfermeiros, os nutricionistas, os farmacêuticos e todos os profissionais que contribuíram para este êxito”
Doutora Ana Campos ao Jornal Expresso
Jorge Soares
Imagem Minha, criança de Cabo Verde
Sabem os que me costumam ler que sou contra os dias, especialmente contra aqueles dias que são completamente desvirtuados e se convertem no dia de São Comercio. Para a maioria das nossas crianças hoje foi o dia de mais um brinquedo, de mais um passeio, de mais uma festa na escola. Para a maioria o brinquedo será só mais um que estará lá por casa, algures esquecido num canto. As crianças hoje em dia têm tudo e mais alguma coisa, dezenas de brinquedos que na maior parte dos casos são abertos e esquecidos a seguir.... mas há sempre um pretexto para receberem mais um.
O dia internacional da criança foi uma iniciativa da Federação Democrática Internacional das Mulheres, que em 1950 e dadas as condições precárias que existiam em muitos países do mundo após o fim da segunda guerra mundial, propôs às Nações Unidas que se criasse um dia dedicado às crianças e donde se tentasse melhorar as suas condições de vida. E o dia foi comemorado logo no dia 1 de Junho desse ano...
Se eu pudesse propunha que no próximo dia da criança não se comprasse um único brinquedo, que em lugar disso utilizássemos todo esse dinheiro para tentarmos seguir o principio que deu origem a este dia e melhorar a vida dos milhões de crianças que pelo mundo fora, além de não terem brinquedos no dia da criança, também não têm que comer, nem neste nem na maior parte dos dias..... se conseguíssemos isso, eu voltaria a acreditar que o dia da criança faz sentido.
Por favor, não deixem de ver o vídeo seguinte e de reflectir.
Jorge Soares
O texto foi escrito por mim em 2011 aqui no Blog, desde então nada mudou.... quer dizer, para as milhares de crianças refugiadas muitas coisas pioraram todos os dias.
Imagem da Internet
O vídeo pretende mostrar como seria a história de Lily, uma jovem britânica, num mundo em que a Inglaterra está em guerra e ela tem que fugir para a Alemanha
Numa Londres em guerra e sem recursos, tem que enfrentar homens armados e predadores sexuais, chega um momento em que decide fugir, nessa fuga atravessa parte do continente europeu viajando das mais variadas formas e passando por campos de refugiados.
A história criada pela organização Save the Children dos Estados Unidos, é evidentemente ficcionada, mas foi baseada em casos reais relatados por vários refugiados Sirios.
A Save the children é uma organização americana que presta ajuda a crianças e famílias de refugiados na Síria e na Europa.
Para ver e reflectir.
Jorge Soares
Imagem do Expresso
"Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou o Estado português por violação dos Direitos Humanos no caso da cabo-verdiana Liliana Melo. A mãe, que viu os tribunais portugueses retirarem-lhe os sete filhos", é assim que começa a noticia do Expresso.
Neste caso o estado foi condenado pelo suposto excesso de zelo ao achar que esta mãe não tinha condições para manter e educar sete filhos , tendo estes sido retirados, institucionalizados e posteriormente encaminhados para a adopção.
Hoje, e sobre o caso da mãe que decidiu atirar-se ao Tejo juntamente com as suas duas filhas, o mesmo estado está a ser condenado por muita gente por ter tido a mão leve ao deixar as crianças, que estariam sinalizadas por supostamente terem sido vitimas de abuso sexual e maus tratos, a viver com a mãe. Mãe que seria ela própria vitima de violência familiar pela mesma pessoa que supostamente abusou das crianças e estaria a sofrer uma profunda depressão.
Quando há duas crianças mortas é fácil concluir que o estado deveria ter feito mais, há uma série de instituições que só existem para proteger e zelar pelo bem estar das crianças. Não sabemos a história toda, não sabemos que medidas protecção terão sido tomadas, não sabemos porque se tomou a decisão de deixar as crianças à guarda de uma mãe, que se sabe agora, não teria condições psicológicas para tal... mesmo assim é fácil concluir que algures alguém falhou.
No caso de Liliana Melo, de que na altura falei neste e neste post, é fácil condenar o estado, as crianças foram institucionalizadas, pelo menos o seu bem estar físico foi garantido, algumas terão ido para adopção e em principio terão famílias que lhes dão amor e carinho.... E alguém pode garantir que caso o estado não tivesse actuado estas crianças estariam todas bem? Estamos a falar de uma mãe com sete filhos, uma das quais até já estaria grávida também, que na altura não tinha emprego e que claramente não tinha condições económicas para os manter. Mesmo assim o estado foi na altura condenado na praça pública e agora nas instituições europeias, por ter feito o seu papel.
Faz sentido o estado ser condenado pelo seu suposto excesso de zelo ou fará sentido o estado vir a ser condenado pela morte das duas crianças desta semana? Ninguém tem dúvidas que neste caso o estado deveria ter feito muito mais... será que são os mesmos que acharam que no outro caso as crianças deveriam ter ficado com a mãe?
Será que devido à condenação publica do outro caso, não terão as instituições passado a ser menos zelosas e por isso estas crianças foram entregues à mãe?
A única coisa certa é que nestes casos o estado não tem por onde fugir, faça o que faça, vai sempre ser preso por ter cão e por não ter.
Jorge Soares
Retirado de Samizdat
Imagem de HenriCartoon
"O superior interesse da criança", não gosto desta expressão, por norma é utilizada não em defesa das crianças mas por quem ficou sem argumentos para defender uma ideia ou uma acção.
Como não podia deixar de ser Cavaco Silva, num ultimo arrufo de poder, utilizou para justificar a razão do seu veto às alterações às lei da co-adopção e da interrupção voluntária da gravidez.
Diz o ainda presidente que os temas não foram suficientemente discutidos pela sociedade, vejamos:
- A lei do aborto passou por dois referendos antes de ser aprovada, devem haver poucas leis que foram objecto de tantas discussões neste país.
- A lei que regula a co-adopção, já passou pelo parlamento pelo menos três vezes, de cada uma das vezes foi assunto durante semanas na comunicação social,
Quantas das leis aprovadas unicamente pelos votos da coligação PSD/CDS passaram por Cavaco Silva sem sequer um comentário do Presidente da República e sem terem sido minimamente discutidas pela sociedade portuguesa? Quantas delas gostaríamos de ter discutido e que nos tivessem pedido a opinião?
O veto de Cavaco Silva a estas leis não tem nada a ver com o superior interesse das crianças, tem sim a ver com o superior interesse do senhor em mostrar que ainda é ele quem manda. Quando é que no passado ele se interessou pelo que pensa a sociedade?
Será que o superior interesse das crianças que já vivem com duas mães ou dois pais é continuar a viver sem que exista um vinculo legal às pessoas que que amam e que os amam?
Será que o superior interesse das crianças é continuar a viver institucionalizadas sem o calor e a protecção de uma família ou será ser adoptadas?
Será quem é contra esta lei realmente pensa no superior interesse das crianças ou só pensa nos seus prejuízos e preconceitos? Terá Cavaco Silva pensado realmente no que é melhor para as crianças ou simplesmente deixou-se levar por aquilo que ele acha que é a moral e os bons costumes por muito arcaicos e ultrapassados que estes possam estar?
As pessoas falam dos preconceitos e do que vão sofrer as crianças na escola e na sociedade, mas o que será mais lógico? Será educar e mudar mentalidades ou vetar leis que permitam o avanço da sociedade para uma melhor e mais aberta?
Se o mundo todo pensasse como Cavaco Silva de certeza que viveríamos na idade da pedra e as mulheres seriam arrastadas pelos cabelos pelos seus donos.
Espero sinceramente que as leis sejam aprovadas na assembleia a tempo de o senhor ter que engolir mais uns sapos por ser obrigado a promulga-las.
Jorge Soares
PS:Para quem estiver interessado, O que é a co-adopção?
Imagem de aqui
Diego tinha 11 anos, deixou um recado junto à varanda da que se atirou ao vazio, "Vão ver no Lucho". Lucho era o seu boneco preferido, nela estava guardada a seguinte carta de despedida:
"Pai, mãe, estes 11 anos que estive convosco foram muito bons e eu nunca vos vou esquecer.
Pai, tu ensinaste-me a ser uma boa pessoa e a cumprir o prometido, além disso, brincaste muito comigo.
Mãe, tu protegeste-me muito e levaste-me a muitos sítios.
Os dois são incríveis e juntos são os melhores pais do mundo
Tata, tu aguentaste muitas coisas por mim e o meu pai, estou-te muito agradecido e gosto muito de ti.
Avô, tu sempre foste generoso comigo e sempre te preocupaste. Gosto muito de ti.
Lolo, tu ajudaste-me muito com os trabalhos de casa e trataste-me bem. Desejo-te muita sorte para que possas ver a Eli.
Digo-vos isto porque não aguento mais ir ao colégio e não há outra maneira de deixar de ir. Por favor espero que algum dia possam odiar-me menos.
Peço à mãe e ao pai que não se separem, eu só serei feliz se estiverem juntos.
Vou sentir saudades vossas e espero que algum dia nos encontremos no céu. Bem, despeço-me para sempre
Assinado, Diego.. outra coisa, Tata, espero que encontre trabalho rapidamente.
Diego González"
Diego atirou-se do quinto andar em Outubro passado, a noticia surgiu agora porque apesar da carta não há justiça nem culpados pelo que sucedeu. Tal como tantas vezes acontece nestes casos, a escola e a sociedade em geral negam-se a aceitar as evidências, procuram-se outras respostas, outras causas, ninguém quer pôr o dedo na ferida e atacar o verdadeiro problema.
Para mim que tenho filhos é dificil ler esta carta e aceitar que estas coisas possam acontecer, todos lamentamos a morte do Diego e de todos os outros Diegos que há por aí, mas a verdade é que pouco ou nada fazemos para proteger as nossas crianças do medo e dos abusos....
O que aconteceu ao Diego tem um nome, chama-se Bullying e enquanto não fizermos nada, todos: pais, escola, sociedade somos culpados, porque todos tinhamos obrigação de proteger Diego e ninguém fez nada.
Jorge Soares
A noticia do fim de semana foi a saída dos rankings das escolas, ranking que como é costume e normal, é dominado pelos mais finos e mais caros colégios de Lisboa e Porto, sendo que é necessário descer até ao lugar 23 para encontrar a primeira escola pública.
Tenho 3 filhos, já todos andaram na escola pública e na privada, apesar de algumas coisas que já aqui fui contando, ver a tag educação, tenho a melhor das impressões da escola pública e uma não tão boa opinião de alguns colégios que fui conhecendo.
Dito isto, em primeiro lugar não percebo para que servem os rankings, não sei qual o seu objectivo nem qual a finalidade para que foram criados.
Não percebo como pode existir um ranking que junta na mesma lista colégios privados das zonas finas das grandes cidades em que os alunos chegam de chofer, com escolas publicas que ficam em concelhos rurais onde por vezes os alunos para estarem a horas nas aulas saem de casa antes do sol nascer e chegam depois do sol posto
Como é que se pode ter no mesmo ranking e avaliar da mesma forma, os alunos dos melhores e mais caros colégios do país com escolas inseridas em bairros sociais?
Não é segredo nenhum que para chegar ao topo dos rankings os colégios escolhem a dedo os seus alunos, há colégios onde se fazem exames de admissão e outros onde quem não tem o aproveitamento e a atitude "certas" é de uma forma ou outra "convidado" a mudar de ares.
Os exames nacionais tornaram-se num excelente negocio para as editoras, os colégios, os ATL's , centros de explicações e milhares de explicadores. Em nome dos rankings todo o mundo lucra... bom, todos menos os alunos e os pais. Os primeiros porque em ano de exame nacional deixam de ter vida para terem treino intensivo para o exame, em ano de exame é certo e sabido que o tempo livre passa a ser para explicações e preparação para o mesmo... tudo isto evidentemente pago à parte, mesmo que seja dentro do colégio e no fim contribua para o ranking e correspondente boa publicidade de quem fica no topo da lista,
Tudo somado os rankings não passam de uma enorme mentira que avaliam não os verdadeiros conhecimentos mas a capacidade de ensinar a resolver exames e comparam realidades que dificilmente são comparáveis. A verdade é que apesar de estarem inseridos no mesmo sistema de educação, as escolas, os alunos e os pais não tem acesso às mesmas ferramentas portanto dificilmente podem ter os mesmos resultados.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Eu sou do tempo em que havia exame final na (então) 4ª classe, lembro-me perfeitamente do dia do exame, na mesma escola mas noutra sala e com outro professor, lembro-me de o ter achado muito fácil e da boa nota.
Curiosamente não me lembro de o facto de haver um exame final, para muitos dos meus colegas de escola era mesmo o final dos seus estudos, ter mudado o que quer que fosse nos meus hábitos de estudo, na altura não havia aulas de apoio, ATL ou explicações.
Não sou contra avaliações, sou profundamente contra o exame final do primeiro ciclo e contra tudo o que dele se fez nos últimos anos.
A escola é efectivamente para aprender e os alunos devem habituar-se a serem avaliados, pela vida fora, mesmo depois do percurso escolar, somos avaliados muitas vezes, o que não me parece é que porque há um exame final em lugar de ensinar se treine as crianças para que consigam passar num exame.
Não me parece que tenha alguma lógica que crianças de 9 e 10 anos, mesmo tendo aproveitamento no dia a dia cheguem ao 4º ano e passem a ter horas e horas de explicações de matemática e português só porque no fim do ano vai haver um exame.
O exame nacional tornou-se num excelente negocio para as editoras, alguns colégios, os ATL's , centros de explicações e milhares de explicadores.
As editoras publicam livros e manuais específicos para ensinar a resolver exames. Na Páscoa e durante os fins de semana, as crianças passaram a ficar encerradas em colégios e centros de estudo especificamente a aprender a resolver exames, que sentido é que isto faz?
O que é que se ganha ao tratar assim crianças de 9 e 10 anos que deveriam aproveitar os tempos livres para, em primeiro lugar, serem crianças?
Como disse no inicio sou a favor das avaliações, mas não me parece que no fim do primeiro ciclo faça algum sentido um exame nacional, a avaliação deve ser feita no dia a dia e com testes periódicos, mas testes que se adaptem à realidade de cada criança e ao ambiente escolar em que ela está inserida.
Que sentido faz avaliar da mesma forma os alunos de um colégio de Lisboa em que as crianças são levadas à escola pelo chofer, com os de uma aldeia qualquer do interior do país?
Como é que se pode ter no mesmo ranking e avaliar da mesma forma, os alunos dos melhores e mais caros colégios do país com escolas inseridas em bairros sociais?
Durante anos e anos não houve exames no fim do primeiro ciclo, curiosamente todo o mundo fala da geração mais preparada de sempre em Portugal, o exame fez-lhe falta para quê?
Além de mais, como diz ali no muro da fotografia, aprovar não é aprender!
Jorge Soares