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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Por norma sei quando um tema é muito ou pouco tratado na internet pelos logs aqui do meu cantinho, há temas que desde o mesmo momento em que os toco, passam a ter visitas diárias, em alguns casos muitas visitas, foi assim com a Adopção em Portugal, e com as famílias de acolhimento, todos os dias há pessoas que chegam ao blog porque fizeram uma pesquisa no Google, são de longe os que trazem mais visitas, em ambos falei de temas que são pouco debatidos e sobre os que há pouca informação na internet.
Desde há dois dias reparei que há muita gente que vem parar ao post em que falei da hiperactividade, é outro tema do que pouco se fala, apesar de que há muita gente que tem opinião, principalmente a opinião que há muito de falta de educação e pouco de doença. Não deixa de ser verdade em muitos casos, mas também é doença em muitos outros.
Há mais de um ano escrevi um post que tinha como titulo Eu pai, confesso-me incapaz e que começava assim:
"6:55 da manhã, toca o despertador, é sexta feira, Jorge, cheira a queimado, não cheira nada, Jorge, cheira mesmo a queimado,!
-N. tu estás a queimar coisas?
-Não mamã!
O facto de ele a essa hora estar acordado, já é mau sinal, a P levanta-se e vai ver, de facto cheirava muito a queimado, ela grita qualquer coisa com ele... e é aí que eu me levanto, ela tinha encontrado uma daquelas caixas de fósforos de brinde na cama..... eu encontrei uma caixa de fósforos das grandes..... e depois disso, a tampa de uma caixa com restos de plásticos, de papel, de não sei quantas coisas queimadas e ainda quentes..... tudo isto na cama, debaixo de edredão, onde também tinha encontrado os fósforos."
Nesse dia eu interiorizei que tínhamos um problema, até ali eu achava que era uma questão de educação, eu achava que o meu rigor e mão dura iam fazer com o N. deixasse de fazer asneiras e traquinices umas atrás das outras, nesse dia, e ante o facto de que podíamos todos ter morrido queimados, eu aceitei que realmente era preciso mais, que sozinhos não íamos lá.
A hiperactividade vai muito mais além da falta de educação, é verdade que existe muita gente que se aproveita da palavrinha para explicar a falta de educação dos filhos, mas também é verdade que há muitos casos em que a doença existe mesmo.
Mas uma coisa certa, hiperactividade não é sinal de falta de educação, o N. é uma criança traquinas e que está sempre pronto a aprontar, mas é educado e sabe comportar-se em casa e na rua.
Vou deixar aqui o comentário da Anabela (obrigado), ela explica muito bem o que é a hiperactividade e o que sentimos os pais.
"Pois é... sou mãe de uma criança hiperactiva!
É verdade que há uma tendência geral em chamar hiperactivo a qualquer criança activa, irrequieta ou até mal-educada, uma forma de desculpar esta ou aquela atitude... é verdade, sim.
Mas contudo, a hiperactividade existe, é um distúrbio da aprendizagem e do comportamento muito difícil de viver, quer para o hiperactivo, quer para seus familiares.
E não é a dizer que não passa de uma desculpa para o desresponsabilizar que se vai resolver um problema tão complexo.
O distúrbio de défice de atenção com hiperactividade (DDAH) e que muitas vezes vem acompanhado de dislexia, dificulta muito a vida da criança que não pode, não consegue controlar os seus impulsos. Não é uma questão de educação, mas claro está, não impede de dar educação.
O meu filho tem imensas dificuldades, quer na escola, quer na sua vivência diária, mas não é mal educado. Não falta ao respeito a ninguém, o que também não quer dizer que não faça asneiras... Uma criança "hiperactiva" não é apenas mexida... tem outras dificuldades... Aprende com castigos como qualquer outra criança, mas o défice de atenção e a sua incapacidade em manter-se atento, leva a que não consiga "lembrar-se" que não pode fazer determinadas acções. A informação está lá e depois da asneira feita até é capaz de se lembrar, mas as acções são mais rápidas que o pensamento...
Saio com o meu filho e ele não se porta mal... foram anos de treino, de paciência, de explicações, de conversas meigas... porque as palmadas, os ralhetes... não resolvem nada nestas crianças, pelo contrário, porque são crianças com comportamentos compulsivos, por vezes até agressivos. Agressividade gere agressividade... não sabem medir consequências e se o exemplo que damos é que se pode dar palmadas, assim o fazem porque não têm capacidade para entender de outra forma. Não nada fácil lidar com crianças com DDAH, por muita teoria que se tenha, nem sempre temos a paciência necessária.
A medicação resolve o défice de atenção, permite ter mais concentração... não resolve nem cura a doenças. São normalmente crianças inteligentes mas com imensas dificuldades na aplicação dos conhecimentos. É como estar descansadamente no sofá a ver TV e mudar de canal com o comando, mas sem ele não sabe como fazê-lo. É este o problema do DDAH, não tem comando, os canais estão lá, mas não tem como mudá-los. E tem noção dessa limitação, o que, a cada dia que passa, lhe diminui a auto-estima.
Toda esta conversa é irritante para os pais de crianças realmente hiperactivas, os problemas destas crianças já são suficientes, não precisam de ser catalogadas de mal-educadas.
Não há nada que doa mais a uma mãe que ver o seu filho, à noite, na cama, antes de dormir, a chorar por não saber como parar, dizer que "se calhar sou burro, mas vale desistir... não sei fazer nada bem"
Muito mais há a dizer,.. fica para outro dia
Jorge Soares
PS:imagem retirada da internet
PS2:Bons feriados e bom fim de semana a todos, que aqui o senhor vai para o Alentejo, longe de blogs e computadores.