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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
A Suíça costuma ser tema cá no blog principalmente devido aos muitos e variados referendos que por lá se vão fazendo, o sistema de governo Suíço está baseado na democracia directa e os suíços são consultados muitas vezes a propósito das mais variadas coisas.
Foi a propósito de um referendo em que saíram derrotadas as moções que pediam um aumento dos dias de férias e uma diminuição dos impostos que eu aqui disse que "nós nunca seremos suíços" e foi a propósito de um outro referendo em que os suíços decidiram fechar as suas fronteiras à comunidade europeia, que torci o nariz à democracia directa.
Hoje aconteceu um novo referendo, os suíços foram chamados às urnas a propósito de uma proposta dos sindicatos que sugeria um aumento do salário mínimo nacional. Por incrível que possa parecer a quem vive num país em que uma enorme franja da população ganha um salário mínimo de menos de 500 Euros, só 23 % dos votantes disseram sim a esse aumento, menos de um quarto dos eleitores.
Assim de repente parece dificil de entender, se olharmos com atenção não é assim tão estranho, vejamos:
A proposta dos sindicatos era de que o salário mínimo passasse a ser de 3200 Euros por mês, o mais alto do mundo. A proposta dos sindicatos tem por objectivo garantir que todos os trabalhadores tem um salário acima daquilo que, há falta de um valor legal para o salário mínimo, se considera um salário baixo, salário esse que está perto desse valor de 3200 Euros.
A percentagem de pessoas que estará abaixo desse limiar é de perto de 10% e pertence principalmente ao sector dos serviços pessoais (cabelereiros, cuidados corporais e de beleza, lavanderia,comércio, hotelaria e de restaurantes).
Ou seja, 90% dos trabalhadores suíços ganham muito acima desse valor e é portanto muito mais sensível aos argumentos dos partidos políticos que avisam para possíveis aumentos de preços nos serviços e do desemprego que viriam como consequência desse aumento de salário.
Por cá, onde cada vez há mais gente a ganhar verdadeiros salários de miséria, bastaria que quem ganha ou depende de alguém que ganha o salário mínimo ou pouco mais que isso, fosse votar, para que o referendo tivesse o sim assegurado, é a diferença entre um país rico como a Suíça e um país pobre como o nosso.
Diga-se de passagem que de cada vez que se fala num destes referendos e nos seus resultados, torço mais o nariz à democracia directa.
Jorge Soares