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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"

Ontem dei de caras com o texto acima publicado no Facebook pela minha filha mais velha, ainda não lhe perguntei mas imagino que terá sido algum dos colegas mais velhos a escrever e ela partilhou, mas o simples facto de ela o ter partilhado já me deixa feliz...
Curiosamente isto aconteceu numa altura em que no prazo de duas semanas a psicóloga do centro de estudos onde eles passam o tempo livre da escola, nos chamou duas vezes a atenção para o reivindicativos que são os nossos filhos.
Primeiro a propósito do comportamento do N. e depois sobre o da R.. Segundo a senhora, nós temos que ser menos reivindicativos cá em casa, falar menos do governo, reclamar menos nos restaurantes, na estrada... pelo menos em frente deles.
Quando a minha meia laranja me contou eu não pude deixar de sorrir, evidentemente a senhora não me disse isto a mim, ainda bem, porque acho que não ia gostar de ouvir a resposta.
Numa altura em que cada vez mais a juventude deste país se afasta da política e das decisões sobre o que os rodeia mais além do seu pequeno mundo, talvez atitudes como a desta senhora ajudem a explicar o porquê destes comportamentos.
Educar também é pelo exemplo e eu espero sinceramente que no futuro os meus filhos tenham consciência cívica e se possível politica, não é com jovens acéfalos e apolíticos que se constrói o futuro do país. Do que de mim dependa eles vão ter opinião e personalidade suficiente para poderem reivindicar e reclamar as vezes que for necessário... é claro que também é importante que percebam que há uma enorme diferença entre reivindicação e falta de respeito e educação... mas como é a mesma senhora que nos dá os parabéns porque para uma criança com hiperactividade e défice de atenção as coisas com o N. estão a correr muito bem... acho que estou a ir no bom caminho.
Jorge Soares

Imagem de aqui
Ao contrário dos nossos receios, a passagem da primária para o ciclo do N. está a correr de vento em popa, está completamente adaptado à nova escola, aos novos colegas, aos muitos professores e aos novos hábitos em geral. Não era necessário, mas tudo isto prova que a nossa insistência para que repetisse o 4º ano foi mesmo a melhor decisão, até agora o aproveitamento nas aulas tem sido bastante bom e até tivemos elogios da professora de matemática.
Mas é claro que todos sabemos que a hiperactividade, o défice de atenção e a dislexia, são doenças que o vão acompanhar para toda a vida, podemos tentar tratar e minimizar os problemas mas não há milagres. Esta semana tivemos um vislumbre de como é a realidade. Num dos dias houve um recado da directora de turma que queria falar com a mãe. Após um breve interrogatório, ficámos a saber que teria havido uma resposta mais ríspida a uma das professoras o que resultou numa falta disciplinar.
Aconteceu que nesse dia a mãe saiu de casa mais cedo e sem supervisão directa, o N. esqueceu-se de tomar o comprimido de Metilfenidato (Ritalina ou Concerta). Sem a medicação ele é uma criança irrequieta, teimoso, com tendência para a oposição, que não consegue estar quieto mais que dois ou 3 minutos. Mesmo para nós pais é difícil, durante as férias retirámos a medicação e acreditem, muitas vezes chegávamos ao fim do dia a maldizer a decisão. Para professores que tem que lidar com mais 20 crianças na sala de aulas, uma criança destas é um elemento de destabilização constante e nem todos tem a mesma sensibilidade para a questão.
Passados 4 ou 5 anos do inicio da medicação, para mim continua a ser complicado, eu estou consciente dos benefícios que esta traz para ele, e mesmo acreditando que não haverá efeitos secundários que deixem sequelas, há coisas que saltam à vista. No dia em que ele não tomou a medicação chegou a casa ao fim do dia e caiu na cama redondo de sono, nos outros dias, muitas vezes são duas ou três da manhã e ele ainda anda às voltas na cama. Acho que ninguém tem dúvidas sobre a importância do sono e do descanso para o correcto desenvolvimento de uma criança... a verdade é que as crianças medicadas com Metilfenidato não dormem o suficiente.
A maioria dos médicos combate esta falta de sono com mais químicos, como eles não tem sono dão-se medicamentos para o sono em doses que vão aumentando à medida que estes vão perdendo efeito.
O outro efeito evidente é a falta de apetite, principalmente ao almoço, o que resulta em crianças que não dormem o suficiente e se alimentam mal. Com tudo isto não é de admirar que um dos efeitos secundários comprovados, 1 em cada 10 doentes, são os atrasos no desenvolvimento, se eles não comem e não dormem....
Para mim está muito claro que a medicação é essencial para que o meu filho tenha uma vida mais ou menos equilibrada e para que possa minimizar os efeitos de problema, ele não é mal educado nem um diabinho mal formado, é uma criança com doenças reais que sabemos que o vão acompanhar para toda a vida.
Mas também é claro que os medicamentos não o vão curar, só minimizam os sintomas, o que significa que ele os terá que tomar a vida toda e que os riscos de entrar numa espiral de dependência são reais.
Felizmente para ele a directora de turma é uma pessoa experiente, ponderada e consciente da realidade dos problemas deste tipo de crianças e o episódio desta semana apesar de ter servido de aviso, não passou disso.
Jorge Soares