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Ninguém disse que ter filhos é fácil, ou, Adopção, palavras de uma mãe II

 

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Tinha o assunto meio esquecido, passou algum tempo desde que coloquei no blog as palavras daquela mãe sobre os seus filhos.. ia dizer adoptados, mas isso iria contra o que eu penso, não há filhos adoptados, há filhos, ponto final. Há pouco, enquanto tentava, sem grande sucesso diga-se de passagem,  servir de árbitro na disputa eterna entre as duas mulheres mais crescidas cá de casa,  lembrei-me do assunto...

 

Quem tem filhos sabe que educar e formar não é tarefa fácil, à medida que eles vão crescendo vamos vendo como vão ganhando vida e sobretudo vontade próprias, vida e vontade próprias que normalmente os vão colocando cada vez mais longe dos sonhos e ideais que alguma vez tivemos para eles. 

 

De entre os comentários que a senhora me deixou no post, gostava de realçar o seguinte:

 

"eu adoptei uma fratria, a mais velha quase com seis, vocês adoptaram que idades? quantos foram acusados por simulação de maus tratos, ou foram afastados dos vossos círculos sociais e familiares por mentiras dos vossos filhos? QUANTOS JÁ TIVERAM PROBLEMAS COM A JUSTIÇA? a minha consciência está tranquila, o meu coração partido e a minha saúde mental em risco, já não sei porque vivo, respiro e trabalho por eles e para eles, para lhes dar o melhor, apesar dos roubos e de todos os problemas causados - não é esta a educação que lhes dou, nem o futuro que quero para eles. Não há rosas neste mar, só espinhos, e graças a Deus que para a maioria das pessoas não é assim."

 

É duro ler estas palavras,  mas quem lê o comentário original e os seguintes, fica a pensar que a culpa de tudo isto é de as crianças serem adoptadas, se em lugar de adoptar ela tivesse tido sucesso nos tratamentos de fertilidade não passaria por nada disto... é isto que se entende das palavras dela... mas será isto verdade?

 

É claro que não, há dois ou três dias alguém me contava sobre como tinha deixado a filha e uma amiga desta num centro comercial, quando voltou tinha a polícia à espera, a amiga da filha, filha biológica de alguém com educação e creio que sem grandes problemas, tinha sido apanhada a roubar numa loja... para ter problemas com os filhos não é necessário adoptar, basta ter filhos, de uma forma ou outra todos estamos sujeitos a isso e não são poucas as vezes em que as coisas correm mal.

 

É evidente que adoptar não é fácil, principalmente quando as crianças estão renitentes e tem esperança de que a família biológica as venha buscar, mas nunca ninguém disse que o era, de certeza que ninguém educa os seus filhos para que eles caiam no mundo da droga, mas de uma forma ou outra todos conhecemos casos em que isso acontece, e acontece com todos os filhos, sejam eles biológicos ou adoptados.

 

Cada vez que leio uma história destas fico mais convencido, nunca havería devoluções se as pessoas olhassem para as crianças adoptadas não como os parentes pobres da família, os coitadinhos que tiveram imensa sorte porque nós os encontramos e os retiramos da pobreza e do sofrimento, e sim como os seus filhos, aqueles que precisam e merecem ser amados, porque tal como qualquer outra criança, eles só conseguem amar se sentirem que o são.

 

O maior de todos os problemas é que a maioria das pessoas continua a falar de filhos biológicos e adoptados e a dar significados diferentes às duas coisas, quando na realidade só deveriam falar de filhos... porque é disso que se trata, de filhos.

 

Ninguém disse que ter filhos é fácil, eu sei do que falo, basta seguir a tag filhos aqui do blog para perceber que por cá também já tivemos a nossa dose, mas fomos nós que escolhemos ser pais, não foram eles que escolheram ter pais, e somos nós que devemos aprender a lidar com eles, as suas personalidades, as suas virtudes e os seus defeitos, se as coisas que esta mãe conta são motivo para devolver as crianças, alguém me explica para onde devolvo os meus...

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:04

Adopção:Crianças devolvidas, porquê?

por Jorge Soares, em 13.04.09

 

Adopção de crianças
 
Não me lembro quando foi a primeira vez que ouvi falar de crianças devolvidas por pais adoptivos, mas como devem imaginar é um assunto que me choca, se já é mau que uma criança seja abandonada, imaginem o que sentirá quando é abandonada uma segunda vez.  É difícil sequer imaginar o que possa sentir uma criança que por vezes está anos à espera, uma criança que muitas vezes anseia por uns pais que lhe dêem amor e carinho e que quando finalmente acha que os encontrou, é posta de lado como se de um brinquedo defeituoso se tratasse, conseguem imaginar o que se possa sentir?
 
Já ouvi umas 4 ou 5 histórias de devoluções de crianças, ontem um dos jornais falava de um casal que devolveu uma criança porque ela não se conseguiu entender com o cão da família. Acreditem ou não, este não foi o caso que mais me chocou. O caso de devolução que mais me chocou foi um em que o motivo para a devolução era... que a criança era carinhosa demais. A candidata a mãe (ia dizer mãe, mas há pessoas que não merecem esse nome) dizia que a criança se tinha apegado demais a ela, que só queria beijinhos e abraços e que nem no centro comercial desgrudava. Quando me contaram isto eu simplesmente não consegui acreditar.... 
 
Segundo  o mesmo jornal, no últimos 4 anos 80 crianças foram devolvidas aos centros de acolhimento, há uns meses o número era de 70, agora passou para 80, não faço ideia de onde tiraram a informação, mas eu entendo que mais que o número, o que interessa aqui é  perceber o que falhou, sim, porque é muito fácil deitar as culpas para quem devolve a criança, mas falta o resto, e o resto está evidentemente em quem avaliou e aprovou essas pessoas como candidatos a adoptar.
 
Os processos de adopção demoram pelo menos 6 meses, é necessário responder a questionários com muitas e complicadas questões, são necessárias entrevistas sociais e psicológicas.... o que falha?
 
Do meu ponto de vista falham muitas coisas, evidentemente que em primeiro lugar falham os candidatos, para a adopção é necessário ir com o coração, há muita gente que só vai para a adopção em ultimo recurso, quando já esgotaram todos os restantes recursos, pessoas que sonham e anseiam com um bebé, sangue do seu sangue...e que depois quando recebem uma criança que de bebé já não tem nada, quando lhes entra pela casa dentro um estranho com vontade própria e que muitas vezes tem uma historia de vida que não se recomenda a ninguém, simplesmente concluem que não são capazes.
 
Mas será que estas situações não deveriam ser detectadas pelas equipas de avaliação? Do meu ponto de vista é claro que sim, se a maioria dos processos até leva mais que os seis meses de lei, porque é que estas coisas acontecem, como é que uma psicóloga não detecta algo estranho numa mãe que depois devolve uma criança porque é carinhosa demais? 
 
Este é um tema muito complicado, mas termino como comecei, no meio de tudo isto quem sofre são as crianças, ser abandonado uma vez, ser colocado num centro de acolhimento onde muitas vezes não se passa de mais um numero, ser esquecido pela família e pelo estado e quando finalmente se pensa que se encontrou uma vida...ser abandonado de novo como se de uma peça defeituosa se tratasse..deve ser algo que marca para toda a vida...e nenhuma criança deveria ter de passar por isso.
 
Adoptar uma criança não é fácil, não tem nada a ver com passar-se 9 meses a ver crescer uma barriga, pensar nos nomes que iremos escolher, ver as fotografias das eco grafias, sonhar com a cor dos olhos, adoptar não é nada disso. Adoptar é receber nos nossos braços um ser humano que existe, um ser humano que já viveu e que muitas vezes tem opinião e maus hábitos. Adoptar  é receber em nossa casa um estranho que não nos diz nada e que de um dia para o outro veio para ficar.
 
A maioria dos candidatos cria expectativas, sonha com esse filho que tanto deseja, idealiza pessoas e situações, acreditem em mim, a probabilidade de que as coisas sejam como as idealizaram.. é muito pequena... mesmo muito pequena... e na maior parte dos casos, não é nada fácil, porque não podemos esquecer que estamos a falar de crianças que já foram marcadas pela vida muito antes de nos conhecerem. Por isso, adoptar tem que vir do coração.
 
Jorge
 
 

 

publicado às 22:06


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