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Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Um destes dias chegou-me o seguinte via Facebook

 

"Hoje o dia foi complicado. O meu Pipoca chegou da escola muito triste. Depois de muita conversa lá me disse que a estudo do meio estão a falar de quando eram bebés e que tinham de levar fotos dessa altura e ele não tem. Mas ao mesmo tempo não queria dizer que era adoptado... Assim torna-se difícil para mim ajudar o pequeno. E depois de muito puxar por ele para saber o porquê de ele querer esconder uma coisa que sei que ele adora (ser adoptado), descobri que ele tem medo que ao dizer a verdade, alguém o tire de mim. Escusado será dizer que acabamos os dois abraçados a chorar depois de eu lhe prometer que ninguém me tira o meu filho ou eu não me chamo ......."

 

Curiosamente esta semana a professora da D. pediu uma reunião com a minha meia laranja, as coisas não tem estado fáceis cá por casa no que diz respeito às escolas, pelo que ficamos logo a pensar o que teria aprontado esta vez a teimosa e muito dona do seu nariz dona D.

 

Mas não, a mudança para a escola oficial está a fazer milagres e está a tudo correr muito bem... A professora pediu a reunião precisamente para saber como devia tratar na sala de aula o tema da adopção e fez todas aquelas perguntas que todos os professores deviam fazer mas que muito raramente fazem.

 

Casos como o que está contado acima acontecem muitas vezes, noo infantário e na escola primária, a nós já nos aconteceu com os dois adoptados cá de casa. Há educadores de infância e professores que pedem fotografias de quando eram bebés, professores que pedem às crianças para perguntarem  aos pais como foi o nascimento, há de tudo um pouco.

 

A sensação com que fiquei é que há muita gente que segue uma cartilha e tudo o que lá está escrito é para se levar à letra, sem importar se há ou não crianças adoptadas na sala, se há filhos de mães solteiras, se há órfãos que nunca conheceram os pais e até em alguns casos em que as crianças ainda estão institucionalizadas, qualquer família.

 

A grande maioria das crianças por volta dos cinco seis anos está na fase da descoberta da sua situação, no nosso caso os dois entraram em negação. O N. simplesmente desaparecia de ao pé de nós se por algum motivo a conversa entre nós ou com visitas era sobre adopção, a D. foge ao assunto e simplesmente fecha-se dentro de si. Imaginem agora como será para eles terem que enfrentar o assunto na escola perante os seus colegas e amiguinhos, quando educadores e/ou professores se esquecem que eles estão ali e que para além de serem diferentes, tem direito a essa diferença.

 

Atenção, eu não digo que o assunto não deve ser tratado na sala de aula, o que eu digo é que para que não aconteçam cenas como as que estão contadas no primeiro parágrafo devem ter-se em conta as diferenças de cada uma das crianças. Se há uma criança adoptada na sala de aula, o mais provável é que esta não tenha fotografias de quando era bebé, a maioria não tem mesmo e isso torna-se um problema para a criança, portanto vamos arranjar uma forma alternativa de falar naquele assunto.

 

Eu sei que há os objectivos e que o que está na cartilha tem que ser tudo tratado, mas não tem de certeza que ser tratado sempre da mesma forma, até porque cada criança é diferente e não temos que ser todos iguais e educados pela mesma cartilha.

 

Jorge Soares

publicado às 23:06

Conchita WurtzImagem do Público

 

Não vi o festival, das músicas que por lá passaram, para além da vencedora, ouvi a Espanhola, a da Susy e a da Holanda, que curiosamente ficou em segundo lugar, não sei se a vitória de Conchita Wurst é merecida ou não, mas quero acreditar que não foi uma vitória política nem uma vitória do politicamente correcto, e sim a vitória merecida de quem apesar da diferença se consegue impor pelo seu trabalho e pela qualidade naquilo que faz.

 

De resto não é a primeira vez que um travesti se apresenta no festival da Eurovisão nem  a primeira vez que consegue o triunfo, Dana Internacional representou Israel por duas vezes, em 1998 e 2011 sendo que em 1998 ganhou com a música Diva.

 

Não sendo original não deixa de ser um marco e a prova de que apesar dos pruridos e protestos levantados pela Rússia e alguns dos restantes países de leste, há na Europa uma enorme lufada de ar fresco no que respeita à aceitação das diferenças.

 

Não há muito tempo atrás, seria impensável que lhe fosse sequer permitido participar, hoje não só participa como consegue vencer o festival, o mundo é feito de diferenças, todos somos diferentes é bom saber que cada vez menos essas diferenças são impedimento de se conseguir lutar e vencer.

 

A vitória de Conchita Wurtz, a mulher com barba é a prova de que  a sociedade e o mundo são cada vez mais justos e de que se pode vencer apesar da diferença.

 

Para quem ainda não viu, deixo o vídeo:

 

 

Jorge Soares

publicado às 22:54

O simplesmente diferente

por Jorge Soares, em 21.03.12

A minha poetisa preferida

 

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

 

O simplesmente diferente

 

Não aguento,
não compreendo,
porquê julgar-me,
se só veem aquilo que não tenho culpa de ser,
porquê  odiar-me,
sem  sequer  tentar perceber-me

Estou cansada de procurar as parecenças
se o que nos torna especiais são as diferenças
Estou cansada de sofrer 
pelo que vocês me acusam de ser,
fatigada de me esforçar,
para me fazer aceitar,
se nunca me irão conhecer


Sou diferente
mas de alma contente

Não sou perfeita,
mas os outros poderão dizer que o são?
estou saturada de tentar ser,
o que odeio,
estou exausta de viver,
neste fútil mundo imperfeito,
onde o mais importante é desvalorizado
e o que não interessa é venerado.


Sou como sou,
e não quero  ser

o que os outros querem ver,

sou linda da única maneira que sei ser,

e quem isso não quiser  aceitar,

é quem tem que mudar
12 Anos

 

Hoje é o dia internacional da poesia, eu deixo a minha homenagem à minha poetisa preferida .....

 

Jorge Soares

publicado às 11:01

Hoje vou roubar as palavras e o título do post no Quinta da Ribeira

 

Fabian, o protagonista deste vídeo, vestiu uma roupa de urso carinhoso e foi para a rua tentar conseguir alguns abraços. O facto é que o Fabian, muitas das vezes que viaja de autocarro, tem o assento ao seu lado vazio. O vídeo foi feito pela ‘Pro Infirmis’ e tenta mostrar a verdadeira atitude das pessoas, perante as aparências.

 

Qual é o problema das pessoas? É preciso disfarce para aproximar as pessoas?

 

Veja o vídeo até ao fim... só assim entenderá!

 

 

 

O Vídeo fez-me recordar o Rafael, de que falei no post de segunda feira,  e os motivos que o fizeram terminar com a sua vida quando ela práticamente ainda nem tinha começado.

 

O Rafael morreu porque era diferente e porque o mundo à sua volta não soube aceitar e entender a sua diferença, quando me deparo com coisas destas fico sempre com um nó na garganta. Talvez porque também eu já senti o que é de um certo modo ser diferente, talvez porque tenho 3 filhos todos diferentes entre si e muito diferentes do mundo que os rodeia, talvez porque tenho consciência de que somos uma sociedade que não sabe respeitar as diferenças.

 

Olhamos para vídeo e no fim ficamos sempre com a dúvida, quantas daquelas pessoas seriam capazes de abraçar o Fabian se ele não tivesse o disfarce vestido? Quantos de nós o faríamos? Somos capazes de educar os nossos filhos para que o futuro da sociedade seja melhor e não sejam necessários disfarces?... atendendo à forma como o Rafael morreu, acho que não.

 

Qual é o problema das pessoas? É preciso  um disfarce para as aproximar?

 

Jorge Soares

publicado às 21:18

 Discriminação e preconceito

Imagem da internet

 

"O grande problema é que a maioria dos preconceitos têm por base a ignorância, o total desconhecimento do que verdadeiramente está por detrás de alguns estereótipos e acima de tudo uma grande falta de respeito pelo outro e total convencimento de que nós "os heterossexuais" é que somos os verdadeiros e merecedores de total respeito. E infelizmente isto não se passa apenas com a sexualidade! O que é diferente… é menor! Muitas pessoas só realmente entenderão algumas coisas se um dia tiverem alguém que amam verdadeiramente, por exemplo um filho, e este for alvo de preconceito, discriminação, ideias absolutamente estereotipadas… e cuidado… porque para ser alvo de tudo isto nem precisa ser homossexual, basta ser deficiente físico, mental… entre muitas outras coisas… 

 

 Infelizmente muitas pessoas continuam amarradas nos seus fantasmas (Uuuii que horror homossexual…. Ainda se pega!!!) que lhe foram incutidos socialmente e que nunca pararam para questionar e testar a validade dos mesmos. Mas enfim… ainda nos falta muito quando falamos de verdadeiro respeito pelo OUTRO!"

 

Telma Sousa no Blog Vila Forte

 

Como é bom de ver, este comentário foi feito a propósito da discussão sobre o casamento entre homossexuais, mas eu lembro-me de ter dito e/ou lido palavras muito parecidas com estas a propósito uma discussão muito diferente, mas que no fundo tratava do mesmo, discriminação. Foi há uns dois anos atrás quando no grupo de mail nós adoptamos se discutia o facto de haver muita gente que só quer adoptar crianças brancas e que se recusa sequer  a aceitar que uma criança é uma criança e todas merecem amor e carinho. Nessa altura senti que no fundo, era o meu filho que estavam a rejeitar, foi quando escrevi este post

 

Se há coisa que não suporto é a discriminação, seja ela do tipo que for, na altura fiquei irritado com o mundo, fora de mim. Toda esta discussão sobre família e casamentos já não me consegue irritar, hoje dei por mim a rir-me de alguns comentários no post do Vila forte, há argumentos que que só podem ser mesmo anedota, mas tudo isto me deixa muito triste, porque entre as parvoíces de uns e os argumentos mesquinhos de outros, pouco a pouco vou descobrindo que vivo num mundo muito mais conservador e virado para o seu umbigo que aquilo que eu podia imaginar e só me pergunto contra quê arremeterão a seguir.


Acho que foi Bretch que disse estas palavras:

 

Primeiro vieram buscar os Judeus,

não me importei, eu não sou Judeu

depois foram  os ciganos, 

não me importei, não sou cigano

Depois vieram buscar os comunistas 

Não me importei.

Não era comigo.

Quando vieram buscar os socialistas

Não me importei.

Não era comigo.

Quando vieram buscar, os padres, os homosexuais...

Não me importei.

Não era comigo.

Quando me vieram buscar a mim,

Já era tarde demais!, não restava ninguém para se importar!

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:21


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