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José Cid, Nuno Markl e a ditadura do Facebook

por Jorge Soares, em 31.05.16

josecid.jpeg

 

Imagem do HenriCartoon

 

“Essas pessoas do Portugal profundo já deveriam ter evoluído. Tenho discussões com pessoas que nunca viram o mar e nunca foram ao Pavilhão Atlântico… Pessoas assim, medonhas, feias, desdentadas…”

José Cid numa entrevista com Nuno Markl algures em 2010

Retirado de aqui

 

Algures em 2010 José Cid deu uma entrevista ao Nuno Markl, para além da frase (parva) copiada  acima, e muito ao seu estilo, Cid teceu alguns outro comentários ao mesmo nível sobre Trás os montes, os transmontanos e a música que se faz e ouve para lá do Marão. Markl  e quem estava no estúdio riu-se, presume-se que da estupidez das frases.

 

Não me lembro de na altura alguém ter dado pela entrevista e pela pouca sensatez do que foi dito por José Cid, passados seis anos o canal Q, não sei se com ou sem conhecimento do Nuno Markl, decide repor no ar a dita entrevista e em pouco tempo ficou o caldo entornado.

 

Como quem não se sente não é filho de boa gente, os transmontanos em peso tocaram a rebate e reagiram, foram cancelados concertos de José Cid em Alfândega da Fé, tanto Markl como o cantor se desdobraram em explicações e pedidos de desculpa, a conta do Facebook de José Cid teve que ser encerrada dada a avalanche de comentários, insultos e até ameaças de morte, e Nuno Markl cansado de lutar contra a maré enchente de comentários pouco abonatórios e ameaças, esteve a ponto de fazer o mesmo com a sua.

 

Como é que uma entrevista que em 2010 passou incólume levanta tanta poeira 6 anos depois? A razão chama-se Facebook. Em 2010 praticamente ninguém utilizava o Facebook, quem na altura viu a entrevista terá ficado mais ou menos indignado mas a coisa não passou de aí. 

 

Em 2016 existe a ditadura do Facebook, basta um transmontano ver a entrevista e fazer eco da mesma, para que nos minutos a seguir centenas tenham ouvido falar do assunto e em dois ou três dias a coisa virar assunto nacional e ser falada por todos os meios de comunicação.

 

Além disso, o facto de não se estar cara a cara faz com que até o mais tímido vire de um momento para o outro o mais valente dos indignados e a diferença entre a indignação e o insulto fácil e ameaçador é nestas alturas muito ténue.

 

José Cid e Nuno Markl são figuras públicas, deviam saber que na época em que vivemos tudo o que dizem ou fazem tem consequências, ser-se figura pública e viver-se de e com esse estatuto tem evidentemente vantagens e desvantagens. 

 

A entrevista foi feita há seis anos, numa altura em que não se vivia debaixo do big brother do Facebook e em que o eco e as consequências das palavras não tinham a dimensão que tem agora. Se  tivesse sido gravada em 2016 aquelas afirmações teriam sido feitas da mesma maneira? Não há como saber... mas aposto que a partir de agora o canal Q vai ter mais cuidado com o que repõe.

 

Vivemos na época da comunicação, a informação e o conhecimento estão ao alcance dos dedos de todos nós, mas por outro lado tudo o que fazemos, escrevemos ou dizemos, torna-se publico em segundos e não há como apagar ou esquecer. O Facebook e as redes sociais são a pior das ditaduras e ao contrário das  de antigamente, aqui não há clandestinidade ou asilo que nos valha... há sim que aprender a viver com isso.

 

Jorge Soares

PS: E sim, eu também acho que o José Cid estava a ser idiota quando decidiu falar assim de Trás os Montes e dos transmontanos... 

publicado às 23:04

Shame on you Angola

por Jorge Soares, em 20.10.15

luaty2.jpg

 

Imagem do Facebook  de Sofia Zambujo

 

Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade,

mas sim a verdade.

A liberdade não é um fim, mas uma consequência.

Leon Tolstoi

 

José Eduardo dos Santos, que está no Poder desde 1979 e as únicas eleições a que se submeteu, foram a origem de uma guerra civil que deixou milhares de mortos... não se sabe quando vão ser as eleições.....

 

Escrevi a frase acima algures em 2009 num post sobre o Hugo Chaves, já choveu bastante em Angola e na Venezuela desde então, entretanto  "el comandante" foi-se e deixou no seu lugar um senhor que recebe os seus recados através do canto dos passarinhos e para a desgraça ser completa, o petróleo passou dos 100 para os 50 dólares por barril.

 

Na Venezuela o que mudou foi para pior, Angola terá mudado muito neste período de tempo, os dólares do petróleo converteram Luanda na cidade mais cara do mundo e alguns angolanos nos melhores clientes das lojas de luxo de Lisboa. Infelizmente todo esse dinheiro e aparente prosperidade não chegaram a quem mais precisa e ao mesmo tempo que cresciam os edifícios na cidade, crescia também a miséria, a insegurança e as desigualdades.

 

Era contra essa miséria e desigualdades que  erguiam as suas vozes Luaty Beirão e outros 14 jovens activistas  que foram detidos durante uma acção de formação de intervenção cívica e política, com base no livro “Da Ditadura à Democracia”, de Gene Sharp.

 

Luaty e os outros 14 jovens estão presos à quase quatro meses  acusados de um crime político, segundo o governo angolano, os jovens estariam a preparar uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, mesmo que isto fosse verdade, este é  crime que admite liberdade condicional até ao julgamento, liberdade que tem sido negada aos jovens.

 

Luaty está em greve de fome há 29 dias em protesto por não ter sido libertado após o prazo máximo de prisão preventiva.

 

Tal como a Venezuela, Angola é um país com enormes recursos naturais, tal como na Venezuela toda essa riqueza parece que se desvanece em fumo por entre as mãos dos seus dirigentes e pouco ou nada chega a quem verdadeiramente precisa, o seu povo.

 

Luaty e os outras 14 jovens são a voz desse povo, não deixemos que os políticos calem essas vozes.

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:59

kliverroa.jpg

 

Imagem de aqui

 

O jovem da imagem chamava-se Kluiverth Roa, tinha 14 anos e há quem diga que nem se estava a manifestar, estava simplesmente por ali e cometeu o erro de gritar "parem com a repressão" aos polícias que de arma em punho tentavam silenciar os estudantes universitários que se manifestavam contra a inflação e a escassez de comida.

 

Kluiverth morreu de um disparo na cabeça, é o sexto estudante morto pelas forças policiais do estado desde o inicio das manifestações de estudantes há uma semana.

 

A situação social na Venezuela está a chegar a um estado de completa degradação, à insegurança, durante o ano 2014 foram assassinadas no país mais de 25000 pessoas, juntou-se uma inflação anual que está perto de atingir os 3 dígitos e a falta de bens de primeira necessidade.

 

O petróleo tornou-se na única fonte de recursos da Venezuela, com a descida dos preços para menos de 50 dólares por barril e o estado deplorável das infra-estruturas petrolíferas do país, levaram a uma descida abrupta da entrada de dinheiro.

 

A falta de dinheiro para a importação de matérias primas levou ao encerramento da maior parte das industrias nacionais e ao quase completo desabastecimento do mercado, para conseguir comprar qualquer produto de primeira necessidade, desde papel higiéncio a farinha, são necessárias horas e horas nas filas dos supermercados.

 

É contra este estado de coisas que se manifestam os jovens estudantes Venezuelanos, a resposta de Nicolás Maduro e do seu governo é enviar as forças militarizadas com armas de fogo para a rua, o que se traduz em forte repressão e em pelo menos seis estudantes mortos só numa semana.

 

Nicolás Maduro foi eleito em eleições democráticas, mas não é a forma como são eleitos os seus governantes que definem o tipo de governo de um país, em democracia o governo é eleito pelo povo e para o povo, neste momento o governo que foi eleito pelo povo parece estar no poder não para o povo mas sim contra o povo.

 

Durante o último ano foram utilizados todos os pretextos legais e ilegais para silenciar os protestos do povo, o principal dirigente da oposição está preso desde há mais de um ano porque pediu ao povo que se manifestasse contra a situação no país, durante o último ano foram presos para além de estudantes, políticos da oposição  e até o governador da Capital Caracas.

 

Enquanto o governo usa as forças policiais para reprimir os protestos do povo, há dirigentes do partido de governo que são acusados de dirigirem redes internacionais de tráfico de drogas e a corrupção faz desaparecer uma boa parte dos muitos milhões que entram no país.

 

Calcula-se que só em 2013 tenham entrado no país quase 140 000 milhões de Dólares proveniente da venda do petróleo, para onde foi todo este dinheiro? ninguém sabe.

 

Jorge Soares

publicado às 23:12

O Meu 25 de Abril

por Jorge Soares, em 26.04.14

25 de Abril

 

Antes. Para os brasileiros e mesmo para os meus compatriotas mais novos é praticamente impossível fornecer uma ideia clara de como se vivia em Portugal durante o Estado Novo – o regime que vigorou entre 1926 e 1974, sensivelmente com os mesmos valores: Deus, Pátria, Família. Ainda pensei fazer uma lista de situações que contextualizassem a vida de então, mas desisti de o fazer, tão descomunal me parece a tarefa.

 

Então, a 25 de abril de 1974, faz hoje 40 anos, na sequência de uma reivindicação corporativa, os oficiais menos graduados das Forças Armadas, capitães e majores, sobretudo, lideraram uma ação militar que derrubou o regime, ato que foi imediata, entusiástica e maciçamente apoiado pela população. Com tal unanimidade, durante os meses seguintes, nem o céu parecia o limite.

 

25 de abril, quinta-feira, 9 horas. O jovem atravessa o parque Eduardo VII em diagonal. Está dez minutos atrasado para o emprego, como habitualmente. À vista da rua onde trabalha percebe que o trânsito para o bairro está cortado por militares. Inquirido, um deles diz-lhe que não pode passar, sem mais explicações. O jovem volta para casa, conjeturando que tem uma boa desculpa para dar ao patrão, se ele o questionar nesse sentido. 

 

Pelas dez e meia ou onze, o jovem rejubila ao ouvir pela rádio que está em curso um movimento militar que parece querer derrubar o governo. O jovem lia frequentemente jornais que insinuavam, nas entrelinhas, mudanças políticas iminentes – um que vinha dos Açores impresso em papel cor-de-rosa e o Diário de Lisboa –, mas o governo representava para ele, sobretudo, a asfixiante ordem eterna, parada em conceitos desatualizados. Toda a gente dizia mal, numa impotência cómoda, porque havia a certeza de que o regime nunca mudaria. A prová-lo, estava o tosco “golpe das Caldas”, um mês antes. 

 

E da manhã, da tarde e da noite se faz o dia primeiro. Na tarde soalheira do dia 25 de Abril de 74, um casal estrangeiro, de língua inglesa, passeia pelo parque Eduardo VII, misturado com os outros passeantes portugueses que desfrutam o feriado inesperado. Dos lados da Baixa chegam, de quando em quando, sons de alvoroço popular. Não sei se o casal sabe o que se está a passar no país, mas o homem comenta, sorridente, para a mulher: “Deve ser por causa do Benfica!” Como está enganado!

 

No supermercado o jovem repara admirado que as pessoas estão a comprar quantidades anormais de víveres, sobretudo enlatados. Acha aquela atitude desproporcionada. Além de meia dúzia de polícias com cães, cosidos nos portais da António Augusto de Aguiar, com ar furtivo e preocupado, nada parece indicar qualquer ameaça de resposta da “situação”. 

 

À noite, na televisão, o jornalista apresenta a Junta de Salvação Nacional – uma mesa atestada de generais soturnos e mal-encarados.

 

Mas então? Onde estão os capitães de que falam as notícias? Não é que o jovem tenha, desde a tropa, uma grande consideração por capitães do quadro, mas generais? Spínola? Escreveu um livro crítico, e então? É do regime… Para que o poder “não caia na rua”, já vai ao beija-mão? 

E quem são os outros emproados? 

 

Alívio! As dificuldades do regime em conseguir quadros militares suficientes para sustentar a guerra do Ultramar obriga a certos estratagemas. Os oficiais milicianos que não tenham ido ao Ultramar, durante o tempo normal de tropa, podem ser novamente chamados, após alguns anos de dispensa. É-lhes dado um curso de capitães em Mafra e seguem para um dos teatros de guerra no Ultramar: Guiné, Angola ou Moçambique. Alguns preferem oferecer-se para ir a África durante o tempo normal e despacharem a questão, do que ficarem em risco de fazer tropa duas vezes. 

 

O jovem tinha feito três anos e três meses de tropa, mas sempre na Metrópole. Por duas vezes esteve prestes a ser mobilizado para o Ultramar. Sempre as circunstâncias o salvaram. Numa delas, outro se ofereceu para ir em seu lugar. Pelo 25 de abril, faltarão uns dois anos para ser eventualmente chamado de novo. De tempos a tempos, já tem sonhos onde se vê outra vez na tropa, o que não é muito agradável. Quando o discurso dos revoltosos de abril dá indicações de que a política ultramarina se irá alterar, o jovem sente um alívio enorme, enorme. [Vocês não veem, mas, apesar de o texto ser meu, ao relê-lo emociono-me.]

 

Comunistas. Antes do 25 de abril havia certos assuntos que se evitavam naturalmente. Um deles era comunismo. Os funcionários públicos tinham que jurar rejeitar a ideologia comunista. Sabia-se que o poder não gostava do conceito nem dos seus praticantes. A autocensura levou o jovem, certa vez, numa entrevista, a ficar atrapalhado por ter dito que gostava de ser útil à comunidade. Seria que isso poderia ser lido como proximidade de outras palavras com a mesma raiz? 

 

Três ou quatro dias depois do 25 de abril, as capas dos jornais anunciam a chegada de Álvaro Cunhal, líder máximo do Partido Comunista Português, nome que o jovem nunca tinha ouvido. O condicionamento fá-lo ter um momento de apreensão? O quê, os comunistas vêm aí, às claras, confiantes e aceites? Nesse momento, o jovem começa a tomar consciência de que estão a chegar tempos muito diferentes, não pelos comunistas em si, mas pela previsível abertura a múltiplas e variadas realidades até aí interditas. 

 

O primeiro 1º de Maio. O 1º de maio de 1974 é inesquecível. Ou antes, as manifestações. A manifestação de Lisboa começa na Baixa e dirige-se para o estádio do Inatel, já próximo do aeroporto. São muitos os milhares de pessoas a desfilar. Entre os primeiros a chegar e os últimos, talvez medeiem duas horas. Toda a tarde se desfila pela Almirante Reis acima. É um rio de gente a caminhar com um sentimento bom de reencontro, de partilha, de comunhão, de vitória sem raiva. Há um estado de graça nos sorrisos, no convite aos que estão pelos passeios, nas saudações a quem não se conhece. Não há ainda divisões. Estamos felizes. Estamos todos finalmente livres. Simplesmente. [Emoção.]

 

«Uma gaivota voava…» A sensação de liberdade, a convicção de que o destino de cada um passa agora pelas suas mãos, leva a que muitas pessoas quebrem as cadeias sociais ou rotineiras que as prendem. Há que levar a verdade não só ao político como ao social, à vida de cada um. Os divórcios saltam em flecha. A contestação nas empresas leva mais facilmente ao rompimento dos laços contratuais. A fuga de alguns empresários mais comprometidos, associada à convicção de que os patrões não têm função produtiva, logo são parasitas, leva a tentativas de controlo das empresas pelos trabalhadores. Pelo menos, tentar uma cogestão que devolva alguma verdade às relações de produção. O Estado é chamado a intervir em inúmeras situações, quer para legitimar a continuação da produção de empresas cujo proprietário fugira, quer para assegurar a gestão de empresas onde o conflito patrões/empregados ameaça paralisá-las. Desde grandes empresas até padarias, por exemplo. 

 

«… Como ela somos livres de voar.» A contestação, a reclamação de direitos nunca reconhecidos, faz surgir lutas nunca vistas. Uma que surge logo nas primeiras três semanas e que causa celeuma é uma luta das prostitutas, já não sei por que direito. A televisão – dois canais públicos a preto e branco – abre-se ao discurso popular, à queixa debitada pelo homem da rua. As pessoas têm finalmente acesso a divulgar os seus problemas. Os telejornais estão repletos de queixas, de afirmação de direitos, de cobertura das lutas laborais. Um dos programas mais populares trata de desmascarar práticas desonestas de comércio, com produtos fora de prazo, defeituosos, queixas de consumo, em suma. 

 

Tomar café na associação. A luta laboral vai levando a que o trabalho seja melhor pago, quanto mais penalizante seja para o trabalhador. O trabalho noturno pago por valores mais altos, leva a que a vida noturna da capital se altere, pelo menos ao nível das cervejarias e outro pequeno comércio de restauração. Algum deste comércio que fechava por vezes às 2 da manhã, passa a fechar muito mais cedo, devido aos novos valores do trabalho noturno, acho eu. A noite lisboeta fica mais triste, com menos oferta.

 

Os novos conceitos de “endinheirado igual a fascista”, levam a uma fachada contida e à retirada para núcleos mais restritos, uns, ou para os inúmeros núcleos associativos – cooperativas, sindicatos ou partidos –, outros. Aí são agora os novos locais de eleição para os encontros e os namoros. 

 

«O que se passa aqui, que tudo está tão diferente…?» De repente as coisas estão diferentes. Interessa mais o “ser” que o “ter”, há que ser solidário e não competitivo, há que participar ativamente nas tarefas que são de todos, a alfabetizar, a esclarecer, a ajudar em qualquer aspeto da vida coletiva da sociedade, nem que seja só colar cartazes, gerir a pequena associação cultural ou participar nas manifestações. 

 

De repente, o que se tinha aprendido está desatualizado. As relações políticas, sociais, familiares e até pessoais pautam-se por outras normas. Há a sensação de que é preciso desaprender tudo e aprender tudo de novo. Lê-se Engels, Lenine, Marx, Mao, Wilhelm Reich. Livros com títulos como “O que é a consciência de classe?”, “A conquista do pão” ou “A origem da família da propriedade e do Estado”, andam por algumas mesas-de-cabeceira. Aprender, aprender, recuperar o tempo perdido, é preciso. 

 

«A cantiga é uma arma.» Entretanto, os militares, cuja consciência política, na maioria, parece advir das mensagens emocionais contidas nas canções de intervenção, começam a absorver as ideologias dos partidos e a dividir-se. O ano que se segue é um carrocel de factos políticos, com os partidos a tentarem controlar as diversas tendências que os militares vão manifestando, em osmose de ideias políticas.

 

O jovem passa a noite a ler e a ouvir rádio – o horário de trabalho permite –, na esperança de notícias condizentes com as suas aspirações, mas sobretudo a absorver as mensagens e as emoções contidas nas inúmeras canções revolucionárias que vão surgindo em catadupa. Quando a luz do dia enche a rua, descansa finalmente.

 

Há duas tentativas falhadas de controlo do processo pela direita. A seguir, o bloco central pressiona a extrema-esquerda, que está muito aguerrida por ver fugir-lhe espaço de manobra. A 25 de novembro de 1975 é derrotada e o país inicia um processo de estabilização política em moldes tradicionais.

 

Adeus! O jovem sente que a cinza de novembro regressa. Ou pensa que sim. Não fora alfabetizar as populações do interior, não ocupara casas devolutas para famílias carenciadas, não participara em atividades das cooperativas agrícolas ou outras. Quase não “mexera uma palha”. Tivera uma adesão intelectual, pequeno-burguesa e romântica. Ainda assim, está muito abatido. Só lhe apetece emigrar. Mas, falta-lhe coragem.

 

Joaquim Bispo

 

Retirado de Samizdat

publicado às 21:30

Venezuela, pode o povo mudar o rumo de um país?

por Jorge Soares, em 24.02.14

SOS Venezuela

Imagem do El Universal

 

A atenção do mundo tem estado centrada na Ucrânia, entretanto no outro lado mundo, na Venezuela, os confrontos tem-se repetido todos os dias um pouco por todo o país. A contagem oficial dos mortos durante os protestos ia hoje em 16 ou 17, todos do mesmo lado, na sua maioria jovens estudantes já que tem sido estes que mais tem  estado na primeira linha dos protestos de rua.

 

A meio da tarde o meu amigo António escrevia o seguinte no Facebook:  "Só para lembrar, a propósito da Ucrânia, que afinal ainda é possível que o POVO faça uma revolução." 

 

É um pensamento que já me tinha ocorrido, mas olhando para situações paralelas, fico a pensar... terá sido mesmo o povo?

 

Disse há uns dias que na Ucrânia não havia uma luta pelo poder e sim uma luta de interesses. A Venezuela não tem nada  a ver com a Ucrânia, a Ucrânia é um país pobre e sem recursos, a Venezuela é um país pobre mas que tem todos os recursos e condições para ser um país rico... tudo menos governantes à altura da situação.

 

Há uns dias eu escrevi aqui que a Venezuela estava entre a Ditadura e a Guerra Civil, neste momento e apesar de que o povo teima em não desistir, parece evidente que a ditadura está a vencer a guerra das ruas. O principal dirigente da oposição está preso, há sedes de partidos e  casas de políticos da oposição invadidas pela polícia sem qualquer sem ordem judicial. Os meios de comunicação nacionais estão praticamente amordaçados e fazem autênticos malabarismos para informar sem chatear muito o governo, os internacionais ou já viram o seu sinal silenciado ou são todos os dias ameaçados de que lhes pode acontecer o mesmo. Todos os dias há registos de  jornalistas nacionais e internacionais, incluindo um português, agredidos e impedidos de fazer o seu trabalho.

 

Todos os dias há relatos de agressões, prisões injustificadas, mortes, tortura e nos últimos dias, até desaparecidos.

 

Entretanto o que faz o governo? Para além de tentarem esconder a realidade do mundo e fingir que nada está a acontecer, usam fórmulas que se utilizaram há décadas noutros lugares, deitam a culpa ao tio Sam, à Cia e aos restantes fantasmas que vem do norte, por tudo o que acontece.

 

Nicolás Maduro é cada vez mais uma pobre caricatura de um presidente da República, alguém que parece que mais de que por Chavez, aprendeu por uma cartilha de outros tempos já completamente ultrapassada e para quem o único que interessa é  mesmo o poder.

 

Só há uma coisa pior que um ditador, um fantoche com poder... e não há duvida que neste momento é isso que existe na presidência da Venezuela, um fantoche com poder.

 

Resta saber quanto conseguirá aguentar mais o povo e o que será necessário para que o mundo olhe para a o país e perceba que há ali muito em jogo, principalmente para quem tenta todos os dias sobreviver à delinquência e ao desgoverno....

 

Só mais um detalhe, portugueses de várias gerações, são perto de 500 mil.

 

Jorge Soares

publicado às 22:42

No tempo do Salazar também não havia greves

por Jorge Soares, em 20.06.13

No tempo do Salazar também não havia greves

Imagem do Pontos de Vista

 

Jardim propõe proibir greves na saúde, justiça, forças armadas e transportes

 

Para o presidente do Governo Regional da Madeira “é insustentável o direito à greve”. ... Já agora se calhar também dava jeito ter uns senhores com um lápis azul de modo a impedir que os jornalistas divulgassem as noticias sobre o buraco que não para de aumentar nas contas da madeira, ou sobre as visitas da policia judiciaria à sede do governo regional..... não?


Depois do que tenho lido e ouvido sobre a greve dos professores aos exames, sobre os sindicatos e sindicalistas, já nada me estranha. Se calhar convinha que João Jardim e muita gente neste país se detivesse a olhar com alguma atenção ao que se passa na Turquia e no Brasil, é que a alternativa à greve é um bocadinho pior... digo eu.

 

Jorge Soares

publicado às 21:46

O Egipto, nós e a crise

por Jorge Soares, em 31.01.11

Exército do Egipto diz que não lutará contra o povo

Imagem do Público

 

É curioso, hoje vinha no carro a ouvir as noticias na rádio e vinha a pensar naquele meu post de Domingo à noite com os seus mais de 100 comentários, a quantidade de gente que em Portugal vira as costas à Democracia, as pessoas que dizem que é necessário sair à rua e fazer uma revolução que corra com estes políticos que temos... ou naquele inquérito que diz que antes do 25 de Abril se vivia melhor que agora... e depois vemos as noticias e vemos todo um povo que sai à rua e desafia tudo e todos em nome da Democracia.. quanto dariam os Egípcios por poderem votar?, por poderem eleger os seus governantes? Quantas vidas estão dispostos a sacrificar em nome da Democracia que pelos vistos por cá há quem despreze?

 

Hoje o Petróleo chegou aos 100 Dólares por barril, daqui a dois ou três dias nós veremos as consequências disso cada vez que formos abastecer o carro. É pelo Egipto que passa o canal de Suez e é pelo canal que todos os dias passam mais de um milhão de barris de petróleo. Foi este petróleo que fez com que Mubarak se mantivesse no poder nos últimos 30 anos, o ocidente não prescinde do ouro Negro e entre apoiar o poder de um ditador ou correr o risco de com umas eleições livres o país pender para o lado árabe, o amigo americano e os seus seguidores apoiam o ditador.. No Futuro o Egipto pode ser uma nova Turquia, ou um novo Irão, na dúvida, o ocidente mantinha o amigo Mubarak.

 

Nós observamos de longe, mas joga-se muito do nosso futuro e da nossa crise por estes dias no Egipto.

 

Jorge Soares

publicado às 22:23

Para além de burros .. temos memória curta!

por Jorge Soares, em 19.01.11

Um país de burros com memória curta

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Ora, se apenas 6% de dos portugueses confia na classe politica e se 50% acha que se vive pior agora que antes do 25 de Abril, isto só pode significar que por um lado somos burros, pois continuamos a votar sempre nos mesmos, a eleger sempre os mesmos. Por outro lado, temos a memória curta.... ainda que também há hipótese de terem feito o inquérito  a pessoas com menos de 40 anos, que evidentemente não sabem do que estão a falar..... o que nos levaria de novo ao inicio, só um burro fala de aquilo que não sabe!

 

Jorge Soares

PS: Para quem ainda não sabe se vai ou não votar ... leiam o post de ontem

publicado às 13:33


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