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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem de aqui
A conversa começou a propósito do Cristiano Ronaldo e do seu "aparecido" filho, a minha amiga acreditou na historia da barriga de aluguer e achava incrível que alguma mulher se submetesse a tal coisa.... estávamos no messenger a a coisa estendeu-se, a páginas tantas estava assim:
M. diz: pensei que se fazia por capricho..estilo..quero ter uma criança
Jorge diz: não, é claro que há homens solteiros que o fazem
M. diz:como se fosse a mesma coisa que querer um carro ou uma casa
Jorge diz: mas é porque acham que não vão ter com quem ter filhos
M. diz: são doidos..se não sabem relacionar-se com uma mulher, achas que vão saber fazê-lo com um filho?
Jorge diz: hahahahahahaha.. e achas que a vida é assim tão fácil?
M. diz: não é para ninguém, mas o melhor da vida são os desafios esses são comodistas...mas esquecem-se que os filhos crescem e também terão problemas com eles o melhor treino é viver com alguém
Jorge diz: mas nem sempre se consegue esse alguém e por vezes as pessoas escolhem viver sozinhos
M. diz: Se querem viver sozinhas também acho estranho quererem um filho, agora..se não encontraram ninguém, aí já é diferente
Jorge diz: são coisas diferentes
M. diz: conheço muita gente que optou por viver sozinha e nunca lhes passaria pela Cabeça terem um filho, são do género de não quererem chatices
Jorge diz: Pois eu conheço muita gente que vive sozinha e quis ter filhos e são excelentes pais
M. diz: pois...eu nunca conheci caso desses mas acredito que os haja, acho até que já li num comentário um homem sozinho com filhos..estou enganada?
Jorge diz: claro que há, eu conheço dois que adoptaram, um já adoptou dois, conheço mais que querem adoptar e estão à espera
Curiosamente no dia a seguir saiu um enorme artigo no DN em que se falava dos 43000 homens que são pais solteiros em Portugal, podem ler aqui uma parte.
Conheço a M. há relativamente pouco tempo, mas do pouco que vou conhecendo, não a tenho por preconceituosa, bem pelo contrário, é uma pessoa de mente aberta. Só posso concluir que esta visão pessimista sobre os pais sozinhos tenha a ver com os preconceitos que a sociedade ainda tem sobre este assunto.
Curiosamente os dois únicos pais solteiros que conheço são ambos por adopção, são-no portanto por verdadeira opção, eles escolheram ser pais e criar os seus filhos sozinhos. Sendo que no caso do que tem dois filhos, foi em processos separados, não só decidiu que queria ser pai solteiro, como depois de já ter o primeiro há uns anos, decidiu que queria ter outro....e acho que é um dos melhores pais de família que alguma vez conheci.
Os dois tem filhos rapazes, nunca me vou esquecer de um mail delicioso em que o Luís explicava o motivo pelo que tinha limitado a sua candidatura à adopção de um menino, ele tinha pensado em tudo... "Como é que um pai vai com a sua filha à casa de banho numa estação de serviço?" ... Ouvi dizer que o Luis também vai adoptar o segundo, vamos ver se ele consegue vencer os preconceitos de muita gente na segurança social... porque tenho a certeza que mais uma criança será muito feliz.
No nosso país a adopção singular é olhada de lado, ainda há pouco tempo uma candidata do Norte do País nos contava que a equipa de adopção lhe tinha dito que o facto de ser solteira a atirava directamente para o fundo da lista. Agora imaginem como serão tratados os candidatos homens.
Este facto faz com que os candidatos singulares terminem por adoptar as crianças que sobram, crianças com problemas de saúde, crianças mais velhas, crianças de outras etnias. As próprias equipas de adopção, utilizam o facto de estes serem os candidatos que para elas estão no fim da lista, para lhes propor os casos mais complicados, não será isto um contra-senso? Porque propor os casos mais difíceis precisamente aos candidatos que pela sua condição de solteiros, terão menor apoio?, não deveria ser ao contrário?
O sentimento de querer ser pai ou mãe é muito difícil de explicar, até porque varia de pessoa para pessoa, mas quem já passou por ele sabe que é real..e não amiga M., não é por capricho...
Gostei especialmente desta parte do artigo no jornal:
Mas será que existem diferenças na forma de educar dos homens e das mulheres? Sim. "Os pais tendem a ser mais descontraídos do que as mães", aponta Catarina Mexia. A especialista elogia também o "equilíbrio bastante bom" na forma de educar dos pais. "Sabem impor regras, e na hora de brincar são mais companheiros do que a mãe", ....
Quanto ao Cristiano Ronaldo e ao seu "filho"... quem sabe e um destes dias é assunto aqui neste mesmo canal
Jorge Soares
Imagem retirada do DN
Depois de toda a paranóia à volta da gripe A, depois das milhares de horas de informação na televisão, depois de páginas e páginas nos jornais, milhares de posts em blogs e em tudo o que é site na internet, o mínimo que se espera é que a sociedade esteja minimamente informada. Está bem, a sociedade portuguesa nesta altura quer é férias, futebol e telenovelas e no verão não vê as noticias nem lê jornais que não sejam desportivos... por isso se calhar não está assim tão informada, mas no meio disto tudo, espera-se que pelo menos os médicos e restantes profissionais de saúde estejam informados e não caiam no ridículo da mentalidade pequenina...certo?.... errado.
Tinha visto a noticia em rodapé na televisão e depois confirmei no Dn de Sábado, o pior é que esta é a segunda vez que vejo uma noticia parecida, noticias onde o comportamento dos médicos e pessoal de saúde deste país é no mínimo inadmissível, senão vejamos:
"o médico perguntou-me se a minha filha tinha mais algum sintoma, vómitos diarreia ou dores. Disse-lhe que não, mas ele ausentou-se de imediato e reapareceu equipado com máscara e vestes protectoras. A partir daí foi o inferno....!
Isto foi no centro de Saúde Boticas, em Vila Real, mas a descrição do que aconteceu no Hospital de São João no Porto, um dos hospitais de referência para o tratamento da doença em Portugal é assustador e digno da idade média, de novo copiando a noticia do DN
Apesar de a médica ter afastado a hipótese de gripe A, disse ser necessário fazer exames para ter a certeza, o que só veio a acontecer cerca das duas da manhã. " Entretanto a menina sentiu necessidade de novo de utilizar material sanitário. Saí da sala e recebi esta resposta de um funcionário: Não sai da sala, se a a menina quiser defecar que o faça no chão. Às três da manhã mandaram-nos para casa". O DN tentou contactar sem sucesso os responsáveis do S.João.
Diga-se de passagem que afinal a miúda estava apenas constipada, como disse antes, o Hospital de São João é um dos hospitais de referência para o tratamento da Gripe A em Portugal, e os profissionais de saúde deviam ter o mínimo de formação e informação, já para não falar em decência e bom senso, estamos no século XXI e a falar de uma gripe, não no século XVIII e da Lepra. Tratar as pessoas desta forma só mostra incompetência, falta de profissionalismo e de sensibilidade.. e esta é a situação quando temos umas dezenas de infectados, eu pergunto-me como será quando tivermos milhares ou milhões se realmente se cumprirem as piores previsões.
Incrível e lamentável.
Jorge Soares
Retirada de aqui
Recebi as perguntas por mail há bastante tempo, a publicação foi sendo adiada, saiu este Sábado na Revista Ns do DN e Jornal de Noticias, o link está aqui para quem quiser ler, como há sempre muito mais a dizer e eu disse muito mais, deixo aqui as perguntas que me foram enviadas pela jornalista e as minhas respostas.
Não gostei do titulo... mas também não tenho nada de gostar.
- No seu caso específico, que razões o levaram a abraçar esta problemática das adopções e do direito de todas as crianças a um lar de amor?
Sou pai adoptivo e biológico e neste momento candidato à adopção, o meu primeiro processo foi à mais de 10 anos e na altura sentimos muita falta de informação e de apoio. Um processo de adopção é sempre doloroso, a maior parte do tempo existe um enorme vazio e sentimos a falta de podermos partilhar com outras pessoas. Após a adopção o sentimento mudou, mas o vazio continuava ali, a necessidade de sentir apoio e de partilhar com outras pessoas que estivessem ou tivessem passado pelo mesmo que nós mantinha-se. Com o tempo criamos um grupo de discussão, o grupo nós adoptamos e foi como uma bola de neve que foi crescendo, fiz parte do grupo que organizou os dois primeiros encontros nacionais de adopção, ambos em Setúbal, e a proximidade com pais e candidatos fez com que interiorizasse a problemática da adopção nas suas várias vertentes.
- Sendo o acolhimento familiar de crianças uma medida que pressupõe o seu bem-estar e a vontade de ajudá-las em primeiro lugar, como se explica que haja tantos casos (e tão fortemente mediáticos) de disputas com os pais biológicos?
Na verdade não há assim tantos casos, não faço ideia quantas crianças existirão em acolhimento, mas dois ou três casos não são muitos casos, para mais que os dois mais mediáticos, o da Esmeralda e o da Alexandra, são casos que passaram ao lado da segurança social e não são casos de acolhimento. Passaram à margem da lei e por isso se tornaram casos judiciais e depois em casos mediáticos por força da cobertura jornalística a que foram sujeitos... e diga-se de passagem que eu acho que a comunicação social fez um péssimo trabalho em ambos os casos.
- O que funciona mal no sistema que permite que tais situações aconteçam?
Nestes casos o que funcionou mal foram as pessoas que subverteram todo o processo, se as crianças tivessem sido entregues à Protecção de Menores em lugar de a casais que não estavam habilitados para os receberem, nada disto tinha acontecido. O acolhimento familiar está legislado e funciona, o que acontece é que muitas vezes as pessoas utilizam esquemas para tentar abreviar os processos de adopção, e depois utilizam a comunicação social para chamarem a atenção para situações que nunca deveriam ter existido.
- Uma vez que os laços afectivos de quem acolhe pelas crianças são inevitáveis, faz sentido que a lei não abra caminho para a adopção por parte das famílias de acolhimento interessadas em ficar com a criança? Mesmo nos casos em que a alternativa é o regresso à instituição ou a uma família biológica que venha a revelar-se incapaz de tratar convenientemente d@ filh@?
É preciso entender que as crianças que vão para acolhimento são as que não tem como projecto de vida a adopção, se o objectivo final fosse a adopção, elas não passariam por famílias de acolhimento, iriam directamente para a adopção e para uma família que as desejasse e que estivesse disposta a dar amor e carinho. Se vão para acolhimento é porque o tribunal entende que não serão adoptadas, se tivermos em conta este princípio, a pergunta nem faz sentido. Por outro lado, as famílias de acolhimento são informadas desde o inicio qual a situação da criança e do facto que não a vão poder adoptar, as pessoas vão para o acolhimento conhecendo todos os factos. O que acontece é que há muita gente que tenta utilizar o acolhimento como um método rápido para a adopção, acham que todas as crianças que vão para acolhimento são crianças que foram abandonadas e maltratadas, evidentemente isto não é verdade, há muita gente que passa por dificuldades e prefere entregar os seus filhos ao estado a que estes passem necessidades.. e há quem refaça a sua vida.
Nos casos em que a família não consegue refazer a sua vida, as crianças vão para adopção e há muitíssimos candidatos disponíveis, pessoas que foram avaliadas e aprovadas como aptas, o que não aconteceu com as famílias de acolhimento.
- A legislação portuguesa relativa ao acolhimento familiar temporário está ao nível da de outros países com realidades semelhantes?
Eu não conheço a legislação dos outros países, mas não acho que a legislação portuguesa esteja errada, o que está errado é muitas vezes a mentalidade das pessoas, que tentam a todo custo subverter as leis em seu favor.
- O que precisava de mudar para garantir uma maior prática de acolhimento familiar (e por conseguinte uma menor institucionalização), uma preparação suficiente das famílias que recebem as crianças e um acompanhamento adequado de todos os casos?
Há muitas coisas a mudar, mas eu nem acho que o problema esteja no acolhimento familiar, em primeiro lugar haveria que mudar os juízes, a maioria dá uma clara primazia ao biológico, a tendência é dar oportunidades aos pais, espera-se sempre que estes recuperem, dão-se todas as oportunidades aos pais e à família biológica e nenhuma às crianças, entretanto estas esperam anos, vão crescendo em centros de acolhimento sem conhecer o carinho de uma família, sem amor. Quando finalmente alguém decide que não vai haver recuperação, a criança perdeu uma parte da sua vida e já tem 7 ou 8 anos, com essa idade já não há quem a queira. Por outro lado muitos centros de acolhimento não tem equipas capazes para encaminhar os processos, mesmo que as famílias não apareçam, as crianças não são sinalizadas, há centros de acolhimento em Portugal de onde nunca saiu uma criança para adopção, as crianças representam um rendimento mensal muito alto e nem sempre se pensa primeiro no bem estar delas.
Sou presidente e um dos fundadores da Missão Criança, uma associação que tem por objectivo precisamente a defesa destas crianças.
- E em relação à adopção: porque é que a maioria dos processos acaba por se revelar tão complicada em Portugal?
Na verdade os processos não são complicados, um processo de adopção é muito simples, basicamente respondemos a um questionário e participamos me 3 entrevistas, o problema é que em Portugal há muitos mais candidatos que crianças para adoptar, das 11000 crianças entregues ao estado só perto de mil tem como projecto de vida a adopção, logo, existem tempos de espera muito longos, porque há poucas crianças e muitos candidatos.
- Conhece algum caso específico em que a família de acolhimento temporário se dê bem com a biológica em nome do bem-estar primeiro da criança?
Não, conheço muitos famílias que adoptaram ou que pensam adoptar, mas não conheço famílias de acolhimento.
- Como é que se poderia, de forma efectiva e célere, garantir o delinear de um projecto de vida adequado para cada criança?
Teria que se pensar sempre em primeiro lugar na criança, e não na família biológica.
- No caso da Esmeralda a decisão do tribunal foi a mais acertada, tendo em conta o equilíbrio da menina e o facto de ter sido a família de acolhimento a criá-la nos primeiros cinco anos de vida (uma idade decisiva)? E no caso da pequena Alexandra, a menina russa?
No caso Esmeralda existiram muitas decisões dos tribunais, a primeira foi quando a criança tinha 8 meses, se em lugar de criar uma guerra na justiça, tivessem entregue a criança nessa altura, a sua pergunta nem se colocava. O problema é que aquela família tentou por todos os meios contrariar a lei e os tribunais, só eles são culpados de que a situação se tenha arrastado. Eles só ficaram com a criança até aos cinco anos porque nunca cumpriram a lei e as ordens do tribunal. É evidente que com 5 anos a criança sofreu, mas de quem foi a culpa?
No caso da Alexandra nunca existiu abandono, eu vi a entrevista que a família deu à RTP e o que foi dito ali mostrou que a mãe esteve sempre presente, as leis existem para defender as crianças.
Estes casos constituem precedentes que podem ser muito graves, porque podem dar a ideia de que basta arranjarmos alguém que nos dê uma criança para ela ser nossa e isto pode abrir caminho a muitos esquemas, inclusivamente ao tráfico de crianças, eu sou candidato à adopção, no primeiro processo esperei 3 anos, neste estou à espera há um ano, se alguém me disser que um caso como o da Esmeralda passa a ser legal, vou ali à esquina, levo um maço de notas e arranjo alguém que me dê uma criança, ou mando vir uma de uma favela do Brasil, ou arranjo uma prostituta Russa que tenha uma para mim... é muito mais fácil e mais rápido que aturar assistentes sociais e estar anos à espera que o telefone toque... é preciso ver que estes casos são muito perigosos para o futuro da adopção em Portugal... por isso sim, eu acho que em ambos os casos a justiça esteve bem.
Jorge Soares
Há muito que não falo aqui de sondagens ou inquéritos, este blog está a ficar muito sério, não pode ser.
Hoje, ao passar os olhos pelos titulos do DN chamou-me a atenção o seguinte titulo:
Portugueses são os mais tristes da Europa
A noticia que podem ler aqui, entre outras coisas diz o seguinte:
"De acordo com uma sondagem publicada, hoje, no jornal inglês The Economist, 92 por cento dos portugueses vêem a situação económica como má, 95 por cento estão deprimidos e mais de metade estão descontentes com a vida que levam."
Fiquei chocado, 95 por cento estão deprimidos!!!!!!, eu até percebo que os famosos 6 milhões de benfiquistas estejam tristes, a coisa não correu bem este ano, e que os Sportinguistas estejam pesarosos, mas 95% estão deprimidos???.. poupem-me.
Seremos assim tão tristes?... ou os ingleses não sabem fazer sondagens?
Jorge
PS:Imagem minha...