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A verdadeira imagem da emigração

por Jorge Soares, em 28.02.13

Emigração Portuguesa

Imagem de aqui

 

Ultimamente cá por casa fala-se muito da emigração, um destes dias após mais uma das reportagens num dos noticiários a R. perguntou:

 

-Nós também temos que emigrar?

-Esperemos que não, o teu pai já emigrou duas vezes e não me parece que tenha gostado lá muito.

 

A resposta da P. deixou-me a pensar, não tinha olhado para o assunto desta forma, para os meus pais foi emigrar e regressar, para mim foi mesmo emigrar duas vezes, e atrevo-me a dizer que a segunda vez, quando vim para Portugal, foi muito mais dolorosa que a primeira... e se houve alguma vez que me senti estrangeiro e fora de lugar foi quando cheguei a Lisboa.

 

Há pouco no programa Linha da frente no canal 1, mostraram os primeiros dias de um casal jovem que decidiu emigrar para Londres. Uma reportagem interessante sobre uma realidade que se calhar escapa a muita gente. 

 

Foi interessante ver como a abordagem inicial dos jovens passava por manter distância da comunidade portuguesa, eles queriam fazer amigos sim, mas não portugueses. No fim quando já começavam a desesperar porque atá as coisas mais básicas, como arranjar um local decente onde dormir, podem ser complicadas para quem cai de pára-quedas num sitio, foram precisamente os contactos portugueses quem lhes foi facilitando as coisas, e foi graças a dicas de outros portugueses que arranjaram casa e emprego.

 

A casa era um pequeno anexo sem casa de banho, sem janelas e sem televisão e  que mesmo assim custava mais ao mês que um apartamento grande por cá. Seria interessante ver quantos dos jovens que agora emigram aceitariam viver por cá  numa casa como aquela, ou arranjar um emprego qualquer a ganhar pouco mais de 7 Euros à hora... 

 

A meio da reportagem entrevistaram o responsável de uma agência de emprego, foi a primeira vez que ouvi de outra pessoa algo que eu já disse algumas vezes e que por norma irrita quem me ouve, "Se os portugueses aceitassem em Portugal os empregos que aceitam cá e a trabalhar as horas que trabalham cá, não precisavam de emigrar".

 

Toda a reportagem me fez lembrar a forma como vi chegar à Venezuela há 25 ou 30 anos muita gente, a imagem da emigração que eu guardo, desde os meus país a familiares e conhecidos é  esta. Por vezes ouço as pessoas falarem e fico a pensar que há muita gente que acha que a emigração é seguir o El Dorado,  que se chega a um sitio qualquer se mostra o titulo universitário e se abrem todas as portas... era bom que tivessem a noção de que a realidade é mais parecida com o que vimos hoje. A diferença que vemos no cartoon é a realidade à saída de Lisboa, em muitos casos não haverá assim tanta diferença à chegada ao destino e muita gente termina mesmo a fazer o que faziam os emigrantes de há umas décadas.

 

Link para a Reportagem

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:05

Honestidade


A honestidade, do termo latim honestĭtas, é a qualidade do que é honesto. Portanto, a palavra faz referência àquele que é decente, íntegro, recatado, reservado, razoável, justo, probo, recto ou honrado

Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.




Nos últimos dias tenho-me sentido mais ou menos extraterrestre, deve haver neste país umas três pessoas que acham que pedir facturas é positivo para o país, bom, eu sou uma delas. O resto do mundo já seja porque:


-tem raiva ao governo,

-não tem valor para enfrentar os comerciantes,

-acha que não lhe traz beneficio nenhum,

-acha que os impostos ficam melhor no bolso dos comerciantes que no Estado

-acha que com as facturas o governo vai invadir a sua privacidade

- etc...


Cada um inventa a desculpa que lhe dá mais jeito e há para todos os gostos.


Hoje à hora do almoço discutiu-se o assunto e no fim todos estávamos de acordo em que é tudo uma questão de honestidade, o problema é que o meu conceito de honestidade é ligeiramente diferente do do resto do mundo.


Para mim o facto de o governo não ser honesto não serve para me limpar a consciência, parece que para a maioria das pessoas isto não é tão claro. Parece que como o governo não sabe ou não quer aplicar o dinheiro da forma mais correcta, isto serve de desculpa para que o resto do mundo deixe de ser honesto. 

 

Para mim é muito simples, eu fui educado com regras, aprendi que as leis são para se cumprir, os impostos são para se pagar e o que é dos outros não é para se roubar.

 

Para mim quem não paga os seus impostos, quem vive de biscates sem nunca declarar nada ao estado, quem coloca o dinheiro na caixa sem o registar, quem é cúmplice e não pede facturas, está a roubar o estado... ou seja, está-me a roubar a mim e definitivamente, não está a ser honesto... mas isso é para mim, para os outros eu não sou honesto, sou parvo... é que como o governo não é honesto, ninguém tem que o ser.

 

Éramos uns seis à mesa e no fim fiquei com a sensação de que era o único ali que pensava assim.... ora, assim de repente percebi porque é que o país está assim...  e porque é que achando que os políticos não são honestos, a maioria continua a votar neles... a malta vota nos seus.

 

Como não consigo deixar de ser honesto, o melhor mesmo é pensar em mudar-me para outro sitio qualquer onde a maioria pense como eu.. e não em roubar ao estado.

 

Jorge Soares

 

PS: e não, cantar o Grândola Vila morena não nos torna melhores, na maior parte dos casos só nos torna mais hipócritas, porque na realidade não acreditamos naquilo que o Zeca dizia.

publicado às 22:35

A saudade é uma treta

por Jorge Soares, em 22.10.12

A saudade é uma treta

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

 

Os comentários àquele post da Mónica e do Pedro deixaram-me a pensar, talvez porque nunca me senti verdadeiramente de lado nenhum, como dizia há uns tempos, já vivi em tantos sítios que aprendi que as coisas e os lugares são bons enquanto lá estamos e o melhor que temos a fazer é aproveitar para viver porque quem sabe quanto tempo pode durar.

 

Saudade é uma palavra portuguesa que dificilmente tem tradução noutras línguas, de vez em quando dou por mim a pensar que é mesmo só isso, uma palavra,  e as palavras só existem na linguagem quando são necessárias para identificar algo... Ora, se saudade  não existe em mais nenhuma língua deve ser porque mais ninguém sentiu necessidade de a inventar.

 

Digo muitas vezes que só temos saudade do que já vivemos  e acrescentaria  também que só temos saudades do que nos preencheu, do que foi bom.... ter saudades não tem nada de mal, o problema está quando tudo isso em lugar de se tornar algo positivo, se torna numa âncora que nos prende ao passado e nos impede de avançar... e mau mesmo é quando ainda nem estamos a passar pelas coisas e já temos saudades do que ainda nem deixamos para trás... porque por norma isso faz com que nem demos o primeiro passo... e não caminho nenhum que se consiga percorrer se não se dá o primeiro passo.

 

Voltando aos comentários do post e a muitos outros comentários que li por aí, faz-me alguma confusão que as pessoas achem que jovens que estão a iniciar a sua vida possam preferir ficar em Portugal, mesmo que isso signifique muitas vezes ficar a 400 ou 500 Kms de casa e possivelmente desterrados numa qualquer pequena cidade do interior, a aproveitar uma oportunidade de ouro num outro país, onde poderão conhecer outra cultura, outras realidades e outras formas de viver e trabalhar e onde ainda por cima vão ter todas as vantagens e mais alguma a nível salarial e profissional.

 

Há quem argumente que é outro país, não o nosso.. sim, e isso é mau porquê? Qual é mesmo a vantagem de se ficar por cá? Aquele grupo de jovens era todo do norte, há quem argumente que pelo mesmo salário eles prefeririam ficar em Portugal mesmo que fosse longe da família.. A sério? E qual era a vantagem de a ganhar o mesmo ficarem num hospital em Bragança?, ou em Évora?, ou em Almada?, ou na Amadora?  Ou em Sagres, Ou em Vila Real de  Santo António? Qual seria o jovem inteligente que sabendo as condições em que se trabalha em Portugal preferiria ficar por cá a aproveitar uma oportunidade de ir viver noutro mundo?

 

Já sei, a saudade, o nosso país, a nossa gente... tretas, se há coisa que aprendi quando os meus pais emigraram e se fizeram à vida do outro lado do Atlântico é que o nosso país é aquele que nos dá uma hipótese de viver, o que nos deixa ganhar a vida com dignidade, o que nos dá hipótese de querer e de poder... o resto é folclore, uma coisa engraçada mas que dificilmente alimenta alguém.

 

Jorge Soares

publicado às 22:02

Pedro Marques, enfermeiro português de 22 anos, emigra quinta-feira de madrugada para o Reino Unido, mas antes despediu-se, por carta, do Presidente da República e pediu-lhe para não criar “um imposto” sobre as lágrimas e sobre a saudade.

Imagem do Público


"Em menos de 48 horas estarei a embarcar para o Reino Unido numa viagem só de ida. É curioso, creio eu, porque a minha família (inclusive o meu pai) foi emigrante em França (onde ainda conservo parte da minha família) e agora também eu o sou. Os motivos são outros, claro, mas o objetivo é mesmo: trabalhar, ter dinheiro, ter um futuro. Lamento não poder dar ao meu país o que ele me deu. Junto comigo levo mais 24 pessoas de vários pontos do país, de várias escolas de Enfermagem. Somos dos melhores do mundo, sabia? E não somos reconhecidos, não somos contratados, não somos respeitados. O respeito foi uma das palavras que mais habituado cresci a ouvir. A par dessa também a responsabilidade pelos meus atos, o assumir da consequência, boa ou má (não me considero, volto a dizer, perfeito)."


Não tinha lido a carta do Pedro para o presidente da República completa, só as poucas frases que a comunicação social mostrou, o original está aqui, e vale a pena ler, porque para além do que já se conhece há lá mensagens bem mais lúcidas e importantes...

 

Há pouco no telejornal na reportagem sobre a partida para Londres, ouvia o Pedro e a Mónica a falar e não pude deixar de pensar como há tantas formas diferentes de olhar para o mesmo assunto. 

 

Conheço a Mónica e a sua família graças a este blog, sei que a sua tristeza é genuína porque ela deixa para trás, para além da sua família, muitas outras coisas e alguns sonhos, mas quando na televisão a vi entrar para o aeroporto não pude deixar de pensar que aquela era a cara de quem estava a agarrar a oportunidade com ambas as mãos.

 

Será que se em lugar de em Londres lhes tivessem oferecido um emprego em Lisboa ou no Algarve a ganhar os mesmos dois mil euros eles teriam escolhido ficar por cá? duvido muito...

 

Tal como dizia esta tarde à Linda, a mãe da Mónica, na época em que vivemos é mais rápido e mais barato chegar de Londres ao Porto do que desde Lisboa, e para todos os efeitos a distância da família e dos amigos é a mesma.

 

Vivemos num mundo global em que cada vez mais pessoas tem acesso à educação, o que está a acontecer com os enfermeiros e com muitas outras classes profissionais, tem a ver com a crise mas também tem a ver com o facto de independentemente da situação económica, o nosso país não ter estruturas para absorver todas as pessoas que consegue formar.

 

Já existia excesso de enfermeiros antes da crise e já existia excesso de enfermeiros quando o Pedro e a Mónica entraram para a universidade, mesmo assim eles escolheram seguir os seus sonhos, agora está na altura de continuar esse sonho noutro sitio qualquer... felizmente ainda há lugares onde são necessários.

 

Quanto ao facto de acharem que o país não os está aproveitar, eles tem a vida toda pela frente, de certeza que o que aprenderam até agora lhes servirá de base para aprenderem muito mais no futuro e quem sabe um dia voltarem com muito mais para dar.

 

Pedro e Mónica, não olhem para isto como um castigo, como uma falha do país, o país deu-vos as ferramentas, agora é a vossa vez de as utilizarem em prol do vosso futuro, de certeza que o que é bom para vocês,será bom para o país.

 

Jorge Soares

publicado às 22:05

CARTA ABERTA AO SENHOR PRIMEIRO MINISTRO

por Myriam Zaluar a Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2011 às 12:35"


"Exmo Senhor Primeiro Ministro

 

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.

 

Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.

 

Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.

 

Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.

 

Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...

 

Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.

 

Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.

 

Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...

 

Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.

 

Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.

 

Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro

 

e como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus

 

Myriam Zaluar, 19/12/2011"

 

Recebido por email

publicado às 19:50

Então e bom senso senhor Passos Coelho?

por Jorge Soares, em 19.12.11

Imagem recebida via  Facebook 

 

Não é nada de novo, já tinha sido sugerido por um dos seus ministros, de resto nem o ministro nem Passos Coelho disseram nada de estranho, somos um povo que na hora dos apertos não hesita em pegar na trouxa, já seja a mala de  feita de cartão ou de marca conhecida, e ir procurar a vida onde ela esteja. 

 

Há sempre um motivo, os meus tios há quarenta ou cinquenta anos tiveram que fugir à pobreza digna de uma sardinha para três, os meus pais há 30 concluíram que a única forma de dar uma educação aos filhos que não passasse pelo abandono da escola após a obrigatória quarta classe, seria procurar a vida onde ela estivesse.

 

Nos dias de hoje são os recém licenciados que se querem um emprego decente em que se pague mais que a miséria do salário minimo, tem que o procurar noutras latitudes, já seja a no Norte Rico ou no Sul pobre mas emergente.

 

Na verdade o primeiro ministro não disse nada que não saibamos todos, o problema é a mensagem que os membros do governo estão a passar ao debitar frases como as agora proferidas, uma mensagem de falta de confiança no futuro e em última análise, na sua capacidade para mudar o rumo das coisas.

 

Ao dizer que o melhor que alguém pode fazer é ir porcurar o futuro noutro país, o primeiro ministro está-nos a dizer a todos que não há futuro por cá e que nem ele acredita nas medidas que está a tomar. 

 

A falta de bom senso do primeiro ministro não é nada de novo, todos recordamos que a 1 de Abril de este ano ele garantiu que nunca mexeria nos subsídios de natal e ano novo, mas ele já teve tempo de aprender que há coisas que mesmo que se pensem, um primeiro ministro não pode dizer... a menos que a estratégia para o futuro do país seja .... ter para governar um país sem povo.

 

Jorge Soares

 

 

publicado às 20:42


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