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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
Não tenho nada contra os exemplos que vem de fora, devemos sempre olhar para o que é bom e tirar ensinamentos, as boas ideias, aquilo que dá bons resultados... mesmo sabendo que muito do que tem sucesso lá fora por cá teria muita dificuldade em funcionar, nós não somos regrados como os finlandeses, não temos o sentido de estado dos noruegueses, o patriotismo dos americanos.. nem sequer a alegria dos espanhóis.
Tudo isto a propósito de um artigo do Público onde se diz que o governo se prepara para fazer uma revolução na educação com base nos modelos americanos e inglês, um modelo em que em lugar de financiar as escolas, passará a financiar as famílias que com o dinheiro na mão poderão escolher a escola que bem entenderem.
Curiosamente é uma ideia que já tinha passado cá por casa mais que uma vez, principalmente quando da polémica à volta do financiamento por parte do estado de uma serie de escolas privadas e/ou quando tivemos dificuldade em arranjar vagas para as nossas crianças nas escolas públicas aqui à volta.
À primeira vista a ideia parece simples, o estado gasta mais de cinco mil Euros por ano por cada um dos meus filhos em idade escolar, dinheiro mais que suficiente para pagar a quase qualquer escola, os livros e até os tempos livres. É claro que estamos a olhar para o contexto actual... mas será que num contexto em que todas as escolas seriam privadas a realidade seria essa?
Já aqui falei do difícil que é neste momento arranjar vaga em algumas das escolas públicas desta cidade, mesmo com as regras actuais em que é suposto a morada ser elemento preferencial para a colocação dos alunos, sabemos que o Liceu de Setúbal é o preferido de muitos meninos de Azeitão ou das zonas mais selectas de Palmela, enquanto muitas das crianças que moram na mesma rua do Liceu tem sérias dificuldades em lá ter lugar. Conseguem imaginar como seria num cenário em que o dinheiro e os interesses mandem?
Já me estou a ver a passar o ano novo à porta do Liceu quando a minha mais nova chegar à idade de para lá entrar, eu que tanto critico a gente bem que todos os anos faz isso em algumas das escolas mais caras de Lisboa.
Acho que estamos todos de acordo que o modelo actual está completamente ultrapassado em todos os sentidos, mas antes de dar um passo do tamanho do que se anuncia no artigo, convém que se pense bem no assunto, caso contrário tudo isto poderá resultar na criação de escolas de elite que só servirão para cavar ainda mais o fosso entre quem pode e tem algum poder e o resto do mundo... definitivamente o último que eu quero para os meus filhos é um sistema de escolas públicas que escolhem os alunos a dedo e tenham os mesmos vícios das privadas... é que o ranking nacional é muito bonito, mas quanto à qualidade do ensino,da escola e dos professores que por lá andam, diz muito pouco.
Jorge Soares
Imagem do Público
O nosso país é feito de contrastes, hoje no telejornal duas noticias que me deixaram a pensar, na primeira, um grupo de alunos de uma escola de Vila Real (Escola Camilo Castelo Branco) manifestam-se à porta da mesma com mantas e cobertores contra o frio que passam nas aulas... Na segunda um grupo de crianças num enorme pavilhão gimnodesportivo de um externato de Torres Vedras, com ar de quem está feliz por não estar nas aulas, fazem uma manifestação em prol do financiamento das escolas privadas por parte do estado.
As manifestações contra o frio à porta das escolas públicas não são nada de novo, repetem-se ano sim, ano também mal chega o Inverno a sério e mostram o muito que ainda falta fazer no que respeita às condições de muitas das nossas escolas. As manifestações a favor do financiamento de escolas privadas são uma novidade... mas pelos vistos vieram para ficar.... ou não!
Diz-se por aí que as crianças são obrigadas a alinhar, que quem não vai às manifestações tem falta, há quem esteja escandalizado porque puseram as crianças a carregar caixões com fotografias e flores, dizem-se muitas coisas... Um destes dias uma senhora entrevistada para a televisão dizia o seguinte:
"Eu estou a manifestar-me pelo direito à escolha, porque eu tenho direito a escolher a escola dos meus filhos"
Estou completamente de acordo, o que não sei é se a senhora tem direito a escolher a escola privada para os filhos dela que é paga com o dinheiro dos meus impostos, é que eu não tenho direito, os meus filhos vão para a escola que decide o agrupamento. Eu gostava de poder escolher a escola mais cara e conceituada de Setúbal para os meus filhos, mas para isso teria que poder pagar as mensalidades... e não posso, logo eles vão para a escola pública.
Acredito que existam zonas do país em que o número de escolas públicos ainda não seja suficiente e que aí se justifiquem as parcerias, mas será que isso é verdade em Torres Vedras, ou em Viseu, Lisboa, Porto?
Quanto a mim o estado deveria era acabar com todas estas parcerias, colégios e externatos são empresas privadas... e como tal devem conseguir financiar-se, o estado deveria pegar em todo este dinheiro e investir num enisno público de qualidade, em melhores escolas, investir para que as crianças de Vila Real não tenham que ir para a escola de manta e cobertor.
Jorge Soares