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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
Sempre me fez confusão que exista este tipo de jornalismo, jornais feitos de boatos, meias palavras, meias verdades, completas mentiras ... faz-me espécie que existam pessoas que façam deste tipo de escrita modo de vida, assim como me faz especie que existam pessoas que mesmo sabendo que na maior parte das vezes o que lá vem escrito não passa de mais um episódio da imaginação de um qualquer escriba de ocasião, as comprem.
O News Of the World era um jornal com 168 anos, não sei quantos haverá no mundo mais antigos, de certeza que serão poucos, também não sei desde quando enveredou por este tipo de jornalismo de sarjeta. Hoje foi a sua última edição, em qualquer outro caso seria de lamentar a morte de mais um jornal, e para mais um jornal com esta idade, neste caso, só podemos lamentar que tenha demorado tanto tempo.
O sucesso deste tipo de de jornalismo mostra como somos cada vez mais uma sociedade voyeur, uma sociedade que dá cada vez mais importância ao acessório, ao fútil, ao que não deveria interessar a ninguém. Num mundo em que os jornais sérios, os que vivem de vender informação e noticias, tem cada vez mais dificuldades em sobreviver, as revistas cor de rosa e este tipo de jornais florescem como cogumelos a seguir às chuvas do Outono.
Curiosamente há muito que eram conhecidos os métodos deste jornal, há muito que se sabia que se faziam noticias com base em métodos ilegais, até agora as vitimas era só famosos, imagino que até agora se partiu do principio que ser vitima destes senhores era parte do preço a pagar por ser ser rico e/ou famoso. O escândalo e o encerramento do jornal só chegaram quando se percebeu que os métodos ilegais afinal servem para todos, ninguém está livre, é pena, se tivessem tomado medidas logo na primeira vez, não se teria chegado tão longe.
Mas o News of the Worls não é o único a viver deste tipo de jornalismo, há mais, muitos mais, esperemos que tenham rápidamente o mesmo fim.
Jorge Soares
Os portugueses somos definitivamente um povo estranho, de repente parece que a crise, o orçamento, até o futebol, foram engolidos por uma ideia.... liberdade de expressão... na realidade foi tudo engolido por uma providência cautelar e umas edições de um jornal.... mas a malta faz de conta que todo este barulho é pela liberdade de expressão.
Para um país que viveu 40 anos a só ler, ouvir ou ver o que era permitido por uns senhores que utilizavam um lápis azul para decidir o que se passava ou não em Portugal e no mundo, esta conversa sobre liberdade de expressão é um pouco estranha mesmo.. e que o país quase pare por causa da divulgação contra toda a lógica e as leis, da transcrição de umas escutas telefónicas, é de pasmar.
Na blogosfera circulou uma petição em prol da liberdade de expressão e para grande espanto meu, foi convocada uma manifestação de bloguers para o dia da entrega das assinaturas. Está visto que os promotores da coisa não conhecem este mundo virtual. Pensar que os bloguers iriam abandonar a segurança que lhes dá o anonimato que é estar por trás de um computador, para ir para a praça publica fazer barulho é estar mesmo a leste deste mundo. Isto para já não falar de que possa partir da blogosfera, o meio que em si personifica a liberdade de expressão e a democracia da comunicação, uma iniciativa destas, um completo contra-senso.
Confesso que a mim o facto de que as escutas apareçam assim na comunicação social, ao sabor dos interesses do momento, já sejam estes do governo ou da oposição, de uma forma completamente impune e ao arrepio de qualquer lógica, me causa alguns escalafrios. Que justiça temos que permite que estas coisas aconteçam? Existe... bem, deveria existir, algo chamado segredo de justiça, e que algo se chama presunção de inocência, e o direito à preservação da intimidade, de um momento para o outro tudo isto é simplesmente esquecido e as escutas aparecem nos jornais, ou no Youtube e todos passamos de espectadores a juízes em causa alheia. Quem tem o azar de ter telefonado na hora errada para o número errado, passa a condenado na praça pública num piscar de olhos e sem direito a recurso.
Mas grave grave, é que eu vejo muita gente a pedir explicações e responsabilidades sobre o que aparece transcrito nos jornais... mas ainda não ouvi ninguém a tentar pedir explicações e investigações sobre como é que as escutas que estão em segredo de justiça vão parar aos jornais.
Jorge Soares